"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sábado, 9 de julho de 2011

A vida é aquilo que você faz, daquilo que te fizeram.




É uma sala cheia de crianças, cada uma com seu monte de peças de lego. Muito concentradas ou não elas constroem o que elas querem construir (não importa exatamente o quê, o que importa é construir). Há crianças de todos os tipo e jeitos, as mais sociáveis sentadas em círculo, conversando entre elas enquanto constroem, as mais tímidas espalhadas, quietas, focadas ou distraídas, mas todas construindo. Todas leves e confortáveis em suas tarefas, como se estivessem nascido para isso (e elas realmente nasceram para isso).



Tudo não passa de uma brincadeira. É divertido construir. Todas são perfeitas em seus defeitos e qualidades... A não ser por uma... Há uma criança que não constrói. Se você parar para observá-la vai ver que ela fica rodando sua pilha de lego sem saber o que fazer. Ela olha para os lados, tenta imitar seus colegas, mas não consegue, de repente em um explosão de raiva ela bate com força as peças no chão, tentando quebrá-las, mas não consegue, depois, uma explosão de choro inútil, esfrega os olhos inchados, olha para os lados de novo curiosa, estende a mão como se quisesse tocar a pilha do colega, mas muda de idéia, olha para o outro colega e acha a pilha dele mais bonita, caminha até ele, abandonando sua própria pilha, se agacha e fica vendo seu amigo construir, se balança para frente e para trás, estende a mão, seu colega grita um não sonoro, ela se volta assustada, se balança mais rapidamente para frente e para trás, bate na própria cabeça, cada vez mais forte, até começar a chorar de novo, volta para sua pilha, começa a circulá-la de novo, sem saber o que fazer.



É estranho... A criança tem todas as peças para montar, tem duas mãos, coordenação motora perfeita... E mesmo assim permanece no zero, não avança, não progride, não constrói nada com o que lhe é dado. Ao invés de se sentar e construir algo bonito com o que lhe foi dado, não... Ela olha para os lados, se compara, tenta ser tão boa quanto os outros (ao invés de tentar ser o melhor que pode ser), se frustra por não ser igual, por não conseguir ser tão boa quanto um ou outro, de desmotiva, repete para si mesma que nunca vai conseguir, se culpa por não se mexer e não se mexe porque se culpar, em um terrível círculo vicioso a criança se prende, se limita, se fecha. Eu nunca vou ser boa o bastante, nunca vou conseguir fazer isso, nunca, nunca, nunca.



Como é horrível essa palavra nunca, tão pesada e condenativa. Palavra que não deixa saídas, que não permite ser mudada, que faz tudo perder o sentido.



As vezes você vê uma pessoa e julga que ela tem todas as ferramentas na mão para construir algo bonito (talvez ela tenha mesmo) e mesmo assim faz nada. Porém... Não julgue por incompetência esse comportamento infantil. Minha psicóloga disse que por trás de um comportamento há sempre um porquê e algo esteja reforçando esse modo de agir. Há um porquê dessa criança não conseguir construir nada com o que lhe é dado e fazendo isso ela ganha algo, por isso continua a agir dessa forma, mesmo que o "ganhar" seja só, por exemplo, não correr o risco de ter o seu "algo" construído criticado. Não se muda um comportamento simplesmente mandando que a pessoa pare de agir desse modo, não... É preciso ir mais fundo, é preciso caçar os fantasmas que atormentam essa pequena alma, é preciso caçá-los e descobrir uma forma da própria pessoa conseguir torná-los insignificantes. Só assim ela conseguirá respirar aliviada e enxergar novas alternativas, tirar o peso de suas costas, olhar sua pilha de peças com novos olhos e finalmente construir algo, crescer.



Sobre a frase no topo do meu blog: "A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram", há um quê de crítica, como se falasse, não importa muito o que você passou ou viveu, e sim o que você fez com essas vivências. Não é uma frase tão bonita assim, pelo menos não para quem ainda não conseguiu fazer nada de bom com "aquilo que te fizeram", mas eu gosto dela. Me ajuda a lembrar que é sim possível fazer algo bom isso, não importa muito o quê. Nós só precisamos parar de olhar tanto para os lados, segurar um pouco as lágrimas, respirar fundo e olhar para as peças que temos nas mãos. É possível, o primeiro passo é sempre o mais difícil, mas depois que ele é dado, os outros começam a vim quase que naturalmente. Vamos, vamos! Você consegue.

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