"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Aos trancos e barrancos



A vontade que eu tenho é de pedir desculpas a cada segundo que eu existo, pedir licença para estar viva, para chorar, para o que quer que seja. Pedir desculpas por não conseguir suportar todo esse peso de viver, por não querer ninguém ao meu lado e ao mesmo tempo precisar de todo mundo ao meu lado. A vontade que eu tenho é de fugir, de fechar os olhos e desaparecer, a vontade que eu tenho é de ficar, de olhar em seus olhos e fazer com que você me enteda só por isso.

As coisas andam confusas, me sinto tão culpada, tão errada. Gostaria que as pessoas soubessem o quanto eu sinto por dar tanto trabalho, o quanto eu me esforço (em vão) para melhorar, o quanto eu gostaria de saber lidar com meus sentimentos, ser racional e conseguir me controlar.

Não é fácil, não é nada fácil. A cada pequeno passo para frente, outro para trás. Sinto como se nunca conseguisse sair do mesmo lugar. Meus sentimentos são tão confusos, as vezes vocês parecem tão perto e as vezes não consigo reconhecer seus rostos, as vezes eu amo tanto, as vezes eu despreso, as vezes tudo é tão engraçado, as vezes tudo é tão assustador, as vezes tenho certeza de tudo, as vezes desapareço... Quero que o mundo pare de mudar tanto! Estou tão cansada de mim mesma.

Não gritem comigo por favor, não gritem. Não falem nada, não se mexam... Esperem um pouco, não se preocupem tanto assim, não vale a pena, não se esforçem tanto, só estou um pouco fora de mim. Daqui a pouco eu volto. Vocês so precisam de um pouquinho de paciência. Me desculpem, gostaria de não ser assim, de não pensar assim, de não me sentir assim... Mas eu sou assim. Me desculpem.

domingo, 29 de maio de 2011

Autoestima.




Ela é linda, mas se acha feia. Tem um olhar tão profundo, um naris e uma boca tão delicados, uma pele clarinha e um jeitinho feminino, linda. Que chora de noite pensando que ninguém nunca vai amá-la, que ninguém a deseja, que ninguém nunca vai abraçá-la do jeito que ela quer e precisa. Linda, que sofre com pequenas críticas, perfeccionista, facilmente irritável.


Tão linda... Que se encanta tão fácil, que se emociona, que sente seu coração batendo calorosamente em seu peito por cada pequeno gesto de carinho que recebe. Tão linda e tão preocupada, tão ansiosa para ajudar, para viver, para amar.


Tão linda e perfeita. Perfeita não por ser perfeita, mas por ser exatamente quem é, assim, sem por nem tirar nada. Absolutamente linda.


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Marionetes - cortando as amarras




Todo ser humano que nasce nesse mundo já começa seus dias preso. Todos nós crescemos e vivemos aqui como lindas marionetes. Somos escravos de nossos pais, da religião que nos cerca, da nossa cultura, da região que vivemos, da nossa época, nosso gênero, etc... Somos na realidade escravos de todo um sistema ao nosso redor.



Se quisermos podemos nos libertar, porém não é tão simples assim. Para tudo há um lado bom e um lado ruim. Vocês sabem quem são as pessoas realmente livres? Sem nenhuma amarra? Vou lhes dizer... São os autistas, os psicóticos, internados em hospitais, institucionalizados, presos em hospícios, abandonados ou não.



Sempre que você pensa estar se livrando de uma amarra o que você na verdade está fazendo é tirar essa corda da mão que te controla e amarrando em outra marionete igual a você. Porque se você não tivesse a quem amarrá-la você enlouqueceria.


A sociedade é feita de seres humanos que se amarram entre si, mas isso de modo nenhum é ruim. O problema não é a quantos semelhantes você está ligado e si se estas novas amarras irão te controlar ou não.

domingo, 22 de maio de 2011

Cada ser humano. - conto 3




Meu nome é qualquer um. Tenho 18. Não consigo dizer o que aconteceu comigo porque se eu falar em voz alta aquilo vai se tornar real, enquanto o que aconteceu não é dito eu posso fingir que nunca aconteceu.

Cada ser humano. - conto 2





Meu nome também é qualquer um. Eu também fui abusada por meu pai e por alguns colegas do meu prédio. Acho que eu nasci com alguma coisa muito errada, por isso meu pai me tocava e fazia com que eu fizesse coisas, para me castigar. Depois que meu pai começou a fazer isso eu acho que fiquei marcada ou algo do tipo, então outras pessoas começaram a abusar de mim também. Eu sou bem tímida, eu nunca sorrio e quase nunca falo com qualquer pessoa, mas os meninos gostam de me ter por perto.


Eu tinha um amigo no meu prédio quando eu era pequena e um dia eu contei para ele que meu pai me abusava sexualmente. Esse meu amigo contou para os garotos mais velhos do prédio... Então um dia de noite eles me cercaram e fizeram sexo comigo. Eles falaram que eu já era mulher e que tinha que me acostumar com aquilo dali em diante. Eu tinha oito anos. Eram 5 meninos. Eu sangrei muito, vomitei e desmaiei logo em seguida. O meu amigo que tinha me traído me carregou para casa e falou para meus pais que não sabia o que tinha acontecido. Meus pais pensaram que tinha sido minha primeira menstruação. Desde aquele dia meu pai passou a usar camisinha comigo.


Esse meu amigo também transou comigo alguns meses mais tarde. Foi assim que uma espécie de rotina se estabeleceu. Todos os meninos que entravam para o grupo desses primeiros garotos que abusaram de mim tinham que fazer a mesma coisa que eles fizeram comigo. Se tivesse uma semana que eu não fosse de alguma forma abusada era um milagre.


Hoje eu tenho 18 anos. Ainda sofro abuso. Nunca fugi de casa, nunca contei a ninguém, nunca conseguir fazer nada para mudar isso. Já tentei me matar 5 vezes. Hoje não quero mais me matar, não choro mais, também não falo e parei de comer. Estou com 38 kilos. Não tenho amigos, nunca tive um pai nem uma mãe nem nada parecido. Sinto que não vou demorar muito mais para morrer, isso é bom, vou morrer devagar como deve ser, nada de tentar cortar os pulsos de novo ou tomar remédios. Vou só deixar a morte ir chegando. Estou feliz.


Prazer em conhecê-los.

Cada ser humano.




Sou uma garota de 18 anos e meu nome é qualquer um. Quando eu era bem pequena eu realmente acreditava que todas as pessoas no fundo eram boas, absolutamente todas. Mas essa crença durou pouco, fui abusada sexualmente por meu pai e por alguns garotos da minha rua durante minha infância e inicio da adolescência. Foi assim que eu descobri que, na verdade, no fundo todas as pessoas são más, absolutamente todas.


Eu tinha medo da rua, mas tinha mais medo ainda de pisar dentro de casa, por isso aos 13 anos eu fugi de casa e desde então eu venho morando por aí. Não confio em ninguém, não tenho amigos nem nada do tipo. Na verdade eu já tive uma amiga, ela sofria abusos do pai também quando menor, eu gostava dela, mas gostava mais ainda de machucá-la. Ela era frágil e chorona, eu a humilhava todo dia, roubava sua comida e dinheiro que ela conseguia vendendo seu corpo magricela. Foi uma boa época, nós tínhamos 15 anos. Aos 16 ela se matou na minha frente. Acho que foi um tipo de vingança, mas eu realmente não me importo muito. É só uma pena, pois agora não tenho uma vítima fixa como ela foi.

Eu também me vendo para os homens, mas eu não sou como essa minha amiga, chorona e fraca, eu os domino e quase sempre os roubo. Eles nunca me pegam, sou bem esperta. Não sinto que eles me usam, na verdade sou eu quem os usa. São todos uns retardados de pinto duro e só. Consigo bastante dinheiro fazendo isso, quando juntar o bastante vou comprar uma arma e voltar para matar meu pai.


Esse é meu maior sonho. Depois de matá-lo vou me matar também para finalmente poder dormir em paz.


Talvez eu encontre minha amiga. Na verdade eu gostava muito dela, mas não sei se ela algum dia soube. Se eu a encontrar preciso dizer isso. Mas eu sei que não vou conseguir... De qualquer jeito, imagino que isso não importe. Quando a gente gosta não precisa dizer, é o que eu acho, nossos olhos falam por nós.


Não foi nenhum prazer conhecê-los, mas obrigada por ouvirem minha história.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Relacionamentos - ciúmes e inseguranças


Óbvio que eu quero matar todas as pessoas que já te tocaram algum dia, que já experimentaram o gosto do teu lábio e roubaram seu calor. É óbvio que eu te quero só para mim e que me dói saber que o jeito como você me beija, fala comigo e me toca... Talvez seja o mesmo jeito que você toca e beija qualquer outra garota. Me dói saber que eu posso não ser única para você, quando você é tudo para mim.

Existem tantas outras garotas mais bonitas do que eu, mais inteligentes, menos problemáticas, menos carente, mais seguras de si mesmas. Por que você me escolheria? Por que qualquer pessoa me escolheria? Gostaria de ser uma pessoa melhor para você. Gostaria que existisse algo em mim que eu pudesse competir com todas essas garotas lindas e perfeitas, mas não existe.

Quero confiar no futuro, quero acreditar que essa época difícil vai passar e quando menos esperarmos estaremos morando juntas e felizes, montando uma família talvez. Mas então você me conta seus planos, viajar e fazer tantas coisas... E você nunca me inclui em nenhum deles. Pareço uma coisa a parte. Talvez um problema que você ainda não resolveu ou se livrou.

Tenho tanto medo de te perder... Nossas vidas estão tão distantes, não estão? Toda vez que conseguimos nos ver eu temo a hora de se despedir, temo não saber quando te verei de novo, se você vai continuar a mesma, me amando, da próxima vez ou não. Te amo tanto, você sabe que eu faria qualquer coisa por você, não sabe? Tudo o que estivesse ao meu alcance.

Só queria saber se você faria o mesmo por mim. Quem eu sou para você? O quanto eu sou importante? Que relacionamento é esse?

Não sou muito fã dessa confusão.

domingo, 15 de maio de 2011

Um pouco perdida




Está vindo, está vindo, está vindo. Não sei porquê, não sei para quê, não sei até onde irei dessa vez, não sei se conseguirei voltar, não sei se as luzes vão se acender de novo, e se forem, não sei quando. Um minuto, uma hora, um dia. Onde estou? Que horas são? Que dia é hoje? Quem sou eu? Quem é você mesmo?

Tenho vontade de rir e chorar ao mesmo tempo, maldosamente, me falta o ar, me falta o coração batendo, me falta luz. Estão rindo de mim, posso ouvir. Tem alguém bem ali, me encarando, tenho certeza, mas eu tenho medo de olhar. Querem me fazer mau, estão rindo de mim. Parem de rir, parem de rir, parem de rir por favor. Saiam todos daqui, me deixem em paz! Me deixem sozinha, me deixem sozinha. Não me toque, não me toque, NÃO ME TOQUE.

Isso não é real. É tudo uma mentira que um dia inventaram para me fazer sofrer. Esse mundo, essas pessoas, eu mesma... Nada disso existe. Tudo isso não passa de uma brincadeira de mau gosto de um deus que se diz bom.

Me sinto dona do mundo, vejo coisas que ninguém mais vê... Mas não tenho controle sobre meu próprio corpo. Eu sei o que se passa em suas cabeças, eu sei, sei como conquistá-los, sei como fazer que gostem de mim. Mas não sei me conquistar, não sei desvendar o labirinto quebradiço que é minha mente, não sei como gostar de mim mesma, não sei.

Não acredito... Não acredito em mim mesma. Não guardo nenhuma esperança. Não vejo nada em mim que eu não odeie.

Quando as luzes se apagam desse jeito, quando minha sanidade se perde... Tenho claro em minha mente qual vai ser meu futuro. Mas quando as luzes se acendem... Ora, eu fico cega. A chama da minha tênue esperança volta a brilhar e eu acredito que terei um futuro lindo. Quando as luzes se acendem eu sorriu como se elas nunca mais fossem se apagar de novo.

E por mais que tudo não passe de uma mentira, talvez o que realmente importe seja isso. Essa chama.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Graças a Deus




Depois de tantos anos sentindo o peso do julgamento desse tal "deus", depois de tantos anos acreditando que eu merecia ser punida, que eu seria punida não importa o que eu fizesse. Depois de tantos anos vivendo com medo, pedindo perdão por ter nascido, perdão por existir... É um alívio me ver livre.

É um presente enorme esse que recebi, depois de tantas lágrimas e sangue, de poder me olhar no espelho e ter certeza ao menos de uma pequena parte de mim. Ter certeza do que eu gosto e de onde está minha felicidade. É uma bênção não sentir mais culpa por existir. É uma bênção ter descoberto afinal o que é o amor, ou uma grande parte dele.

Pensando assim posso até acreditar que sou sortuda de certa forma.

sábado, 7 de maio de 2011

Pelo direito de casar - União Homoafetiva



No dia 5 de maio do ano de 2011 a união homoafetiva foi finalmente reconhecida no Brasil pelo Supremo Tribunal Federal.


Hoje no Brasil, a comunidade gay acaba de receber seus mais de 100 direitos negados por tanto tempo. Hoje, orgulhosos, damos mais um passo em direção a igualdade, ao respeito e ao direito a felicidade e liberdade de se estar com quem ama.


Hoje quem vence não é só a comunidade GLBTT mas sim o Brasil inteiro. Pouco a pouco avançamos em direção a um estado laico, justo e protetor de todos os setores da sociedade.

domingo, 1 de maio de 2011

Aceitação



Não é fácil se olhar no espelho, sorrindo para si mesma e entender o que você é, sem lágrimas, sem desespero, sem desejar a morte, sem se rebaixar. Não é nem um pouco fácil entender que as coisas sempre vão ser assim, que não haverá nem um dia na sua vida que você não vá precisar lutar contra você mesma, que essa instabilidade é parte de você, que antipsicóticos, antidepressivos, estabilizadores de humor, sempre farão parte da sua vida. Não é fácil entender que melhorar não significa ser curada... e sim um longo e duro caminho pelo qual você vai andar a vida inteira, com toda a ajuda disponível, tropeçando, caindo, mas seguindo em frente.


Mas com o tempo você aprende. Você aceita. Com o tempo você aprende que nem tudo depende do quanto você se esforça, mas com certeza quanto mais você se esforçar mais rápido você irá se recuperar de qualquer queda inevitável. Você aprende que os caminhos não levam a uma solução, mas a solução é o próprio caminho. Você aceita que a vida não é perfeita e que se você não pode ser ótima e saudável, seja o melhor possível. Ser borderline, bipolar ou esquizofrenico, não te impede de ser o borderline, bipolar ou esquizofrenico mais esforçado da face da terra.