"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sábado, 24 de novembro de 2012

Adaptação, superação e força



Sempre achei incrível a capacidade das pessoas de se adaptarem mesmo frente as piores situações e acontecimentos. O fato dos doentes terminais conseguirem continuar a sorrir, ou alguém que perdeu os braços em um acidente conseguir virar um ótimo pintor, segurando o pincel com a boca ou com os pés, ou então alguém que passou por uma extrema depressão e hoje consegue viver melhor que muita gente... Todos parecem estar constantemente superando seus obstáculos, não importa o quão grande eles sejam. E eu costumava pensar que não tinha essa habilidade, que nunca iria conseguir superar meus obstáculos e dificuldades. Não sei se um dia eu vou realmente conseguir superar tudo, mas de um tempo para cá venho notado algumas sutis e importantes mudanças.

No começo, quando meus sintomas começaram a aparecer, o mundo se tornou um lugar infinitamente mais estranho e assustador. Já hoje, nem tanto. Creio ter me acostumado com as mentiras que meus olhos contam, e mais importante do que isso, aprendi a vê-las como mentiras e separá-las da realidade. Hoje, quando minha visão se torna turva, objetos dançam ao meu redor e a realidade parece perigosamente líquida e instável... Eu não entro em pânico, eu respiro fundo e sigo em frente. Vai ficar tudo bem, as coisas sempre voltam ao normal. Demorei muito tempo para confiar na realidade e no fato de que ela sempre volta, mas acho que agora, finalmente, eu conseguir entender.

Acho que é isso que eles querem dizer com "não existe cura, mas existe tratamento". Eu sempre vou ser o que sou, nunca vou ficar totalmente livre dos sintomas e da possibilidade de uma nova crise, mas eu posso trabalhar para me tornar o mais funcional possível. Se eu conseguir me controlar para não entrar em pânico e conseguir seguir em frente, se eu tiver essa força, acho que finalmente vou conseguir sumir na multidão. Talvez não exista uma forma de eu me livrar das marcas nos meus braços e pernas, creio que estejam em torno de 250 cicatrizes, mas, vai ser com muito orgulho que eu vou responder (quando alguém me perguntar sobre elas), enfim, de forma totalmente sincera, que elas fazem parte do passado e não mais ditam o que eu sou.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Me olhe nos meus olhos



Você pode me olhar nos olhos como nunca olhou ninguém? Pode fazer eu me sentir única no mundo? Sei que sim... É fácil, muito mais fácil do que você imagina. E no entanto... Você me fez chorar. Tudo bem, as pessoas erram. Foi o que eu disse para você. É verdade, elas erram e você precisa aprender a perdoá-las. É assim que as coisas são... Mas a maioria das pessoas com quem conversei pareceu pouco inclinada a perdoar esse tipo de erro. Há coisas que nem o tempo cura, talvez fosse algo que eles dissessem. De um jeito ou de outro, houve uma pessoa, um amigo, que me disse que se você me faz tão feliz quanto eu digo que faz, então isso deve significar que você merece uma segunda chance e foda-se a opinião dos outros. Isso mexeu comigo. Eu acredito muito na filosofia "foda-se o mundo, vou seguir meu coração" (não, não é nada tão impulsivo e inconsequente quanto a frase sugere). E foi seguindo esse coração surdo, cego, mudo e manco que eu vivi os piores e os melhores momentos da minha vida. Confio nele independente de tudo, coloco nele todo o meu conforto e segurança a prova, na esperança de que na próxima esquina me espere mais um momento tão bom que apague todas as lágrimas que derrubei para chegar até ali.

E assim eu vou vivendo. Geralmente as coisas dão mais mais certas do que erradas. Apesar de tudo, eu me considero uma pessoa sortuda em muitos aspectos, então gosto de me arriscar. Afinal, o que eu tenho a perder? Então, sim, sim! Por que não? Meu corpo parece ter sido feito para se encaixar em seu abraço e isso sempre me pareceu ter algo de significativo. Dessa vez não fui eu quem caiu... Foi você. Você sempre esteve ao meu lado apesar de tudo. Eu vou provar para você que eu posso ser tão forte quanto você, vou permanecer ao seu lado, vamos levantar juntas, sacudir a poeira e seguir em frente. Vai ficar tudo bem, sei que vai. Eu te amo e em nenhum momento vou deixar de acreditar em você. Exatamente como sei que você me ama e acredita em mim. Posso ver em seus olhos, acho que todo mundo pode. Então, por favor, não abaixe a cabeça nunca, não importa se por vergonha, culpa ou medo, não importa, só me olhe nos olhos como você sempre faz e se orgulhe por me fazer tão feliz.

Cometer erros não torna uma pessoa melhor ou pior, boa ou ruim; a torna, simplesmente, humana.

domingo, 11 de novembro de 2012

Consequências de uma tal festa



Só mais uma noite aparentemente normal. Uma festa, álcool, maconha. Você destruiu minha fortaleza de areia. Mais de dois anos construindo... E uma única noite, um único minuto, para destruir tudo. Como se não fosse importante, como se eu não existisse. Como se eu fosse menos que ninguém para você. Ela é mais bonita? O que ela tem que me falta? Não consigo parar de me perguntar... Será que é mais feminina? Mais confiante? Será que conversa bem? Eu queria... Ser boa o bastante. Ela deve vestir saia e salto alto. Eu sou desajeitada e confusa. Me sinto a pior pessoa do mundo de novo, não consigo nem chorar mais, eu só quero é bater minha cabeça na parede até desmaiar, abrir cortes que sangrem por horas, essas coisas. Me desculpem, meu monstro está solto aqui dentro. Não sei o que fazer, o que pensar, o que sentir. Acho que morri no meio do caminho e não percebi, ou congelei no tempo e não me dei conta. Não sei.

Como... Como você lida com uma traição? Como você segue em frente? Alguém que você amava, confiava, alguém por quem você iria até o inferno para salvar... De repente te apunhala pelas costas. Tento olhar para o que restou da enorme fortaleza que construímos juntas e me pergunto onde eu errei, talvez alguma rachadura, talvez algum buraco, não sei. Me sinto vazia, mais vazia do que nunca. O buraco negro em meu peito sugou tudo o que eu sou. Sinto um bloqueio em minha mente também, não consigo pensar direito, meus pensamentos giram em torno de uma única coisa. Insistentemente. Queria conseguir chorar pelo menos, deixar essa escuridão sair por entre os soluços... Mas não. Eu guardo, guardo tudo... Há certas coisas que as lágrimas não curam, é preciso sangue. Ao menos é o que meu monstro sussurra em meu ouvido.

E agora? Eu não sei... Como você pode fazer isso? Você mesma me disse que nunca me perdoaria se eu fizesse isso com você. Isso não é um pouco injusto? Quero esquecer, deixar tudo para trás, fingir que nunca aconteceu... Mas não posso. Eu confiei em você, como posso confiar de novo? Estou com medo... De você, de mim, do futuro, do que vai acontecer. Eu não quero ser a idiota da relação, a que aguenta tudo calada e que é feita de gato e sapato. Não é isso que eu quero para mim.... Talvez eu já seja a idiota e não nem percebi. Aquele dia... Eu sabia que havia algo de errado, mas mesmo assim engoli meus medos e desconfianças e pensei... Pensei que te amava e que confiava em você e que sabia que você nunca faria nada para me machucar. Eu continuei sorrindo e tentando fazer você se sentir melhor. Eu deveria ter ouvido minha intuição... Mas não, eu sou paranoica de mais, desconfiada de mais, não posso dar ouvidos para meus pensamentos malucos.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Por que continuar a lutar?



As coisas estão bem de modo geral, tirando um dia ou outro que um resquício de algum sintoma vem me incomodar. Mas é relativamente fácil ficar bem quando eu estou afastada de tudo o que me faz mal. Tenho medo do próximo semestre, quando minha vida vai voltar ao normal. Me pergunto o tempo todo se vou aguentar. Tenho dificuldade de reconhecer meus limites, tenho a mania de me sobrecarregar e surtar por isso. É sempre assim, eu quero fazer tudo, do jeito mais perfeito possível. Não tenho base emocional para lidar com o estresse, então minha cabeça entra em parafuso. Por parafuso eu quero dizer: psicótica, impulsiva e autodestrutiva. Ai eu começo a me foder cada vez mais. Da última vez eu fui parar em uma clínica psiquiátrica por isso... Eu não quero ser internada de novo.

Há essa maldita fronteira entre a sanidade e a loucura. Eu preciso enxergar essa linha para conseguir me manter do lado certo. Mas eu não enxergo, ela é tênue de mais, frágil de mais. Qualquer coisinha idiota pode me jogar para o outro lado e estragar meses de trabalho intenso, eu me conheço, eu sei disso. Sei como posso passar do céu para o inferno em questão de segundos. Sei de tudo isso. Sei quantas vezes já caí e pensei em nunca mais levantar simplesmente porque sabia que a próxima brisa me derrubaria de novo. Mas eu levantei, de novo e de novo. Por que continuar a lutar? Era a pergunta que sempre me vinha em mente. Eu não faço a mínima ideia.

Minha doença não tem cura, não há esperança para mim, tratamentos incertos e muitas vezes ineficazes. Minha psicóloga me tirando do fundo do poço e me colocando em pé, como se eu fosse um bebê aprendendo a andar. Minhas pernas tremem de medo, as lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas quando olho para trás, lá está ela, e todas as pessoas que me amam, sorrindo para mim. Eu sei que vou cair de novo. Mas, por eles, eu dou um passo a frente. Eu sei que minha vida inteira será uma luta constante contra mim mesma. Mas por eles, eu levanto de novo. A única coisa que eu posso dizer com certeza é que, se hoje eu estou viva, é porque vocês existem. É por isso que eu continuo lutando.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Medos e inseguranças



Eu não entendo porque você faz isso. Eu não deveria pensar desse jeito, eu sei, eu sei. Mas lá vem você de novo. Parece provocar, parece ser de propósito, parece gostar. O que você quer? Quer que eu implore? Quer que eu grite para os quatro ventos? Eu faço o que você quiser. Só pare de bagunçar minha cabeça, de agitar meus sentimentos desse jeito. Eu sou um pouquinho mais frágil do que você imagina, um pouquinho mais sensível. Isso dói, aquilo também, e você não está nem ai. Há um universo inteiro e complexo aqui dentro e eu quero que você me entenda, mas tem sempre alguma coisa, tem sempre uma barreira. O que eu posso fazer? Sinto como se desse mil sinais o tempo todo de como entrar aqui dentro, mas nada adianta. E eu não posso falar com palavras como entrar em minha mente, me conhecer por completo, não é algo que se diz, é algo que se aprende. Você me observa, eu sei disso, isso é bom. Mas as vezes, de repente, tudo o que você parece saber sobre mim some e nos tornamos quase que estranhas, discutindo com as paredes.

Eu tenho medos e inseguranças, diversos. É uma luta falar quando alguém toca em algum desses medos ou inseguranças. É covardia, sei disso, mas é como as coisas funcionam comigo. Eu sou medrosa, estou sempre na defensiva e não tenho nenhuma pele emocional para me proteger. Mas são coisas aparentemente irrelevante aos olhos do mundo lá fora. Ninguém liga. Na verdade ninguém liga para ninguém, a não ser que você caia bem no meio do caminho de outra pessoa de uma forma que ela não possa passar por cima ou desviar do caminho. De qualquer jeito, talvez você se esqueça, talvez só esteja cansada. Tudo bem. A dor passa, cortes fecham, lágrimas secam. O importante é que o que realmente importe não seja destruído. E eu acredito que ele é forte o bastante para sobreviver a essas coisas chatas que vire e mexe vem atrapalhar nossas vidas.

Um dia... Um dia eu espero que você possa me entender por completo e eu espero também te entender por completo. Sei que é possível. Mas a gente é sempre meio egoísta, meio teimosa e cabeça dura. Não passa de uma questão de paciência e tempo. Está tudo bem.

20 anos - Os primeiros de muitos que ainda virão



Meu aniversário está chegando e eu ainda não me acostumei com a ideia de fazer 20 anos. Não me sinto como uma adulta de 20 anos. Me sinto como uma adolescente de 17. Pode parecer pouca a diferença, mas não é. É como se desde o aparecimento dos primeiros sintomas do meu transtorno eu tivesse parado de crescer, congelada no tempo para sempre. Quem me conhece desde aquela época costuma falar que eu amadureci muito, mas eu não me sinto madura. Acho que bem lá no fundo eu continuo a mesma adolescente desencaixada, confusa e instável que eu sempre fui. Talvez todo mundo, na realidade, nunca mude. De qualquer jeito, acho que ao menos aprendi a me controlar um pouco mais, aprendi a pensar um pouco mais antes de fazer alguma coisa. E isso faz toda a diferença. Meus amigos também, aprenderam a me manter longe do álcool, de objetos cortantes e das drogas em geral (menos do cigarro). Isso também faz toda a diferença.

Foi um ano muito difícil. Sei que há coisas pelas quais passei esse ano e coisas que ouvi que eu nunca mais vou conseguir esquecer. Meu psiquiatra falando para meus pais que se eu não estivesse em tratamento desde mais ou menos o começo da minha piora, muito provavelmente eu já teria me matado, a recepção agressiva por parte de um dos pacientes da clínica que eu fui internada, os gritos ali dentro, os choros, os momentos de desespero, a dor constante, os remédios, os xingamentos que eu não conseguia abafar tapando meus ouvidos com as mãos. Foi duro, os dias que antecederam a internação foram difíceis, mas a internação foi muito mais, muito mais do que eu jamais poderia imaginar. Mas tem uma coisa que é certa, eles salvaram a minha vida. Nem todos os dias foram lágrimas e quando foram, algo as recompensou. Os dias longos e intermináveis que eu passei na "casa dos artistas" me deram a força e esperança necessária para que eu pudesse seguir em frente. E ter vivido ao lado de pessoas como eu não só me fez amá-las, respeitá-las e entendê-las, como também fez com que eu olhasse dentro de mim mesma e passasse a ver meu monstro com mais humanidade.

Não há dúvida que o sofrimento de ter sua vida arrancada de suas mãos e ser jogada em uma espécie de prisão é imenso, mas pela primeira vez na vida eu sinto que fui recompensada, que valeu a pena. Posso dizer que esse ano aprendi muitas coisas, entre elas, aprendi que brincadeiras fazem bem para a alma mais do que qualquer crise de choro. E que não importa onde você esteja sempre vai existir alguém para te oferecer um abraço quando a dor estiver forte de mais. Aprendi, enfim, que heróis existem sim, e a única coisa que você precisa fazer é confiar na mão que eles te oferecem. Aprendi que, as vezes, as pessoas que são mais duras com você, são as que mais te querem bem. Aprendi que não tem nada de errado em pedir ajuda quando você precisa dela. Aprendi que ainda há muito para se aprender e que cada ser humano é um universo inteiro, complexo e maravilhoso e que não importa o quanto você se sente desencaixado no mundo, sempre vai existir um lugar que vai fazer você se sentir em casa, um lugar onde você vai ser amado e ninguém mais vai te julgar pelo que você é.

Eu nunca vou esquecer do meu último dia na clínica... Quando todos os outros pacientes correram em minha direção para me abraçar, um por um, antes que eu fosse embora. Obrigada por fazerem eu me sentir tão amada e aceita, obrigada por todo o carinho e apoio. Vocês sempre serão como pais, mães, irmãos e amigos para mim. Foi um bom ano, apesar de tudo... É incrível como as coisas mudam. Em julho eu poderia jurar que minha vida era uma merda e estava extremamente perto do seu fim, hoje me sinto um bebê dando, finalmente, meus primeiros passos. Os primeiros de muitos que ainda virão.