"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Sobre ser normal




Eu tento ser normal, mas algo simplesmente insiste em escorrer pelos meus dedos. E as pessoas vivem a perguntar: O que há de errado? Que cara é essa? Eu só estou cansada de não saber responder. O que eu sinto, o que eu sou, é tudo tão assustador e confuso. Eu não sei o que há de errado comigo, dia após dia, tudo é tão perfeito que chega a doer. Eu tenho tudo o que quero e preciso. Eu tenho uma família, amigos, médicos, minha psicóloga, tenho comida na mesa, tenho meus remédios, tenho uma boa clínica para ficar internada quando surto, tenho uma namorada... Eu tenho tudo. O que mais eu poderia querer? E no entanto... Que cara é essa? Sabrina, olha para mim, o que há de errado? Eu não sei, eu não sei. Me desculpem, por favor, me desculpem. Eu sou tão ingrata, como posso ter uma mente tão doentia cercada de coisas tão boas? Eu juro que tento ser boa também, pensar em coisas boas, me manter pura, gentil e agradável, eu realmente me esforço muito para ser assim... Ninguém pode saber como eu sou por dentro, ninguém pode saber as coisas horríveis que eu penso, as coisas horríveis que eu faria caso não me controlasse todos os segundos da minha vida...

O que há de errado? Está tudo errado. Se você olhar por cima não verá muita coisa errada, uma garota, gay, um pouco desajustada por isso e só. Mas se você chegar perto... E ver meu histórico de internações, as cicatrizes em meus braços, cada vez maiores, cada vez mais constantes, você vai sacar que tem algo de muito errado acontecendo dentro da cabeça daquela garota. E eu não sei como consertar isso. Minha cabeça simplesmente não consegue parar de pensar em como e quando vai ser a próxima vez que eu vou cortar meus braços. Para mim soa como um fato. Eu não vou parar, não há escolha. Meu monstro se mexe satisfeito dentro de mim. É isso que ele quer. Ver meu sangue escorrendo pelos meus pulsos, minha vida esvaindo. Colocar o ponto final na minha curta e dolorosa história.

E tudo o que eu quero é só ter uma vida normal. Uma vida onde as pessoas não me olhem como se eu fosse uma aberração, ou não me tratem como se eu fosse uma retardada, e muito menos que tenham pena de mim. Eu quero ser igual a qualquer um de vocês, quero que as cicatrizes em meus braços não sejam um carimbo em minha testa que diz "louca" para qualquer um ler. Eu só quero poder parar de pensar um pouco em lâminas e giletes e começar a pensar no futuro, um futuro bom e que pode acontecer sim, não um futuro sombrio onde eu me mato no final (porque isso sempre foi a minha visão de futuro até então). É possível?

sábado, 18 de janeiro de 2014

A prova



De um tempo para cá venho sentindo uma dificuldade enorme para escrever. O que eu posso fazer? É difícil escrever quando sua vida está estagnada. Há um bom tempo nada acontece. E todos a minha volta comemoram porque parece que finalmente meus remédios estão fazendo efeito, mas vocês querem a verdade? Eu estou odiando isso. Estou odiando esse nada, esse não sentir, essa estagnação, esse controle absurdo que me transformou em quase uma máquina, esse tédio, essa estranha que eu me tornei tão... fria e calculista, tão calma e racional. Eu não sou assim. Eu sou um furacão de sentimentos desenfreados, sou o calor da emoção pura, sou uma doida sentimental. Essa sou eu. Agora não mais... Eu estou confusa, eles dizem que isso não era eu, que isso era a minha doença, mas quem sou eu sem a minha doença? Ela faz parte do que eu sou. Não deveria existir uma Sabrina sã e uma Sabrina louca, deveria existir a Sabrina e ponto, algo entre essas duas. E quem eu sou hoje, decididamente não é esse equilíbrio. Eu detesto esses remédios cada vez mais, eu entendo que preciso deles, mas o preço que eles cobram é caro demais. Sinto como se eles estivessem tirando tudo o que eu tinha de bom, minha espontaneidade, minha segurança, minha coragem, meus sentimentos, meu dom para escrever, tudo, enfim. Sinto como se estivesse aos poucos retrocedendo, ou virando um robôzinho.

Não que eu seja contra a utilização de remédios no tratamento para doenças mentais, longe disso, sou super a favor, estou só contando como me sinto, o que não quer dizer que eles (os remédios) não funcionem maravilhosamente bem com outras pessoas. O problema comigo é que para mim as coisas nunca estão boas o bastante, esse é que é o problema. Tem sempre alguma coisa, alguma coisa que falta, que não se conserta, que sei lá o que. Eu não estou infeliz, eu SOU infeliz. E por que? Por nada, por tudo, não sei porque. Não é uma escolha, é algo que me pega desprevenida nas tardes de quarta feira e faz meu peito doer como se alguém estivesse me esfaqueando, é algo que faz minhas mãos tremerem e minhas pernas se encolherem junto ao corpo, é algo que me faz chorar sem motivo algum, assim, de repente. Eu não tenho escolha, tudo a minha volta é cinza e dolorido demais, é por isso. O que eu posso fazer? Eu só rezo para que essas crises passem logo, é tudo o que eu posso fazer, eu só rezo para ter forças, forças para não rasgar minha pele mais uma vez em busca de um pouco de alivio momentâneo, eu só rezo para que eles não me tranquem de novo em uma clínica, eu só rezo para não ficar louca para sempre.

Às vezes eu só queria que minha maior preocupação fosse com a prova para entrar em uma faculdade que eu tenho que fazer segunda feira, a verdade é que eu estou pouco me fudendo para essa prova. Estou mais preocupada com minha vida, se eu vou sobreviver a ela, por quanto tempo eu vou suportá-la.