"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Uma suposta perfeição



Todo o dia Maria e Carla acordam juntas com o barulho da mamãe preparando o café da manhã. Juntas elas se levantam, se trocam bem rápido e correm para a cozinha, as duas ficam atrás da mãe, abraçando suas pernas e disputando atenção. Ansiosas para ajudar, carregam os pratos para a mesa, colocam os talheres, a comida e o café, tudo perfeito para o papai. Papai chega e todas ficam bem quietinhas e comportadas, ele passa pelas garotas acariciando suas cabeças e se senta em seu lugar, mamãe se senta de frente para ele, as crianças se sentam no chão aos pés do pai e esperam eles terminarem de comer. Tudo é perfeito. Em silêncio seus pais se levantam e vão para o trabalho. Juntas, Maria e Carla, fingem comer o que sobrou e retiram a mesa. Elas não gostam muito de comer. Deixam tudo perfeito e limpo antes de irem para a escola.


Maria e Carla andam de mãos dadas o tempo inteiro, não gostam das outras crianças, menos ainda dos outros adultos. Na escola, brincam sozinhas, as vezes roubam um bichinho de pelucia e escondidas (porque precisa ser segredo) elas fingem ser papai do bichinho e fazem coisas que papais fazem com ele. Maria e Carla nunca brigam, passam a maior parte do tempo em silêncio, mas mesmo sem nunca falarem parecem se entender muito bem.


Na hora do almoço elas voltam para a casa bem rápido e preparam o almoço com suas pequenas mãozinhas, queimaduras e cortes são comuns, mas elas não choram quando isso acontece, na verdade elas nunca choram. Elas tem uma vovó, vovó diz que elas são corajosas e independentes, elas gostam da vovó, ela dá doces para elas.


Elas deixam sempre tudo perfeito. Papai vai para a casa na hora do almoço, mamãe almoça no trabalho porque ela trabalha longe, papai sempre elogia a comida das meninas. Papai gosta de levar elas para o quarto depois do almoço e brincar com elas, ele faz minha-mãe-mandou e escolhe uma delas, papai senta a perdedora no chão e diz para ela prestar muita atenção, então levanta a sortuda escolhida e a deita na cama, faz cócegas e beija seus lábios, pois tira sua roupinha e brinca com os dedos entre suas pernas, a menina escolhida sorri, ela gosta do seu papai, gosta quando ele fica feliz. Quando a escolhida é Maria, papai coloca seu pipi na sua perereca, quando a escolhida é Carla, ele coloca no seu bumbum. Papai também gosta de colocar na boca das duas.


Maria e Carla possuem olhares muito profundos e sem brilho. Elas gostam de arrumar tudo de forma simétrica e perfeitamente alinhado, elas tomam banho juntas e se esfregam até a pele ficar vermelha e irritada, elas escovam os dentes 14 vezes por dia e lavam as mãos 24 vezes por dia. De noite, elas tem pesadelos, as vezes gritam, mas sempre que uma delas grita papai vai visitá-las de noite em suas caminhas então elas tem um acordo, elas dormem na mesma cama e quando uma começa a se mexer de mais a outra tapa sua boca para que ela não grite. Geralmente Carla tinha sonhos mais agitados, Maria colocava sua delicada mãozinha em sua boca e ela abria os olhos ofegantes. E assim, se olhando, cumplices, irmãs, iguais... Elas deixavam que as lágrimas rolasse pelos seus rostos. Assim... Se olhando, encostando uma cabeça na outra, elas tinham certeza que algo ia muito errado na perfeição que era suas vidas, algo que elas não sabiam, não entendiam.

Um comentário:

Gikka disse...

Sá, eu pedi pra vc ñ ler Alice, né?
É muito triste, mas ao mesmo tempo corajoso...
Nem sei o que falar...