"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A justiça existiria se o mundo não precisasse de justiça.


Se eu acreditasse em justiça, as vezes acharia injusto tudo isso... Vocês tem tanta sorte, são tão felizes, tão perfeitos... É tão fácil para vocês chorarem junto comigo agora e logo virarem as costas, simplesmente esquecerem, voltarem a suas vidas exatamente como antes. Tenho inveja. Queria poder virar as costas também e ir embora... para um lugar mais bonito, mais fácil, mais calmo. Mas eu não posso. Dentre tudo o que eu carrego aqui dentro, nenhum é a solução para meus problemas. Não é simples assim. Esse peso, essa dor, essa culpa... Não vai passar. Eu posso me enganar, posso pensar que se eu mudar de casa, bairro, cidade, país, mundo... Eu vá esquecer, mas eu não vou. Isso irá comigo aonde quer que eu vá.


Vocês pensam que eu sou uma espécie de herói? Vocês pensam que eu sou forte? Quem me dera que problemas fosse sinônimo de força... Não é. Não sou forte, não tenho a solução, não sei para onde ir ou o que fazer. E se vocês olharem aqui bem de perto, não verão um herói... Não verão nada de bom, só destruição, dor, decepção e confusão. Tenho vergonha do que eu me tornei ou de quem eu sempre fui, não sei ao certo. Esse inferno... Como eu agüentei durante tanto tempo sem enlouquecer? Talvez eu não tenha agüentado, talvez eu tenha simplesmente deixado o tempo correr pelos meus dedos, esperando o momento em que algo seria destruído para sempre.


Porque eu nasci? As vezes me pergunto... Como Deus, se ele existe como tantos dizem, pode ignorar meus pedidos desesperados para morrer? Como ele pode permitir que tantas vidas se tornem um inferno? Como isso pode estar certo? Como? Vocês falam em justiça... A humanidade adora falar em justiça. A justiça não existe, simples assim. Não existe e nunca existiu. O mundo, a vida, as pessoas, tudo é injusto. Nascer é injusto, morrer é injusto, desde uma criança chorando até um assassinato é injusto. A "justiça" é injusta. O prazer da vingança, que é o que todos chamam de justiça, é bom para esfriar a cabeça dos estressadinhos, mas não serve para mais nada além disso. Que nobreza há em matar um assassino? Que lição foi aprendida? Nenhuma. Nada pode fazer o tempo voltar, nada pode consertar o que se perdeu, nada pode mudar o que aconteceu... Nada.


E a única coisa que eu quero é exatamente isso... Voltar no tempo, mudar tudo. Como um assustador castelo de cartas, tenho medo de tocar qualquer peça... Não posso deixar que nada saia do lugar. Porque se uma peça saí do lugar, tudo se desfaz... E quando estiver tudo desfeito, quem terá forças para construir tudo de volta de um jeito mais bonito?


Eu é que não vou ser, e eu sei que mais ninguém também.

Odeio ser egoísta




A verdade é que você não acredita em mim, nem ao menos deve gostar de mim, é só seu trabalho... Que diferença faz eu morrer ou viver? Não sei porque eu confio em você... O maior problema da minha vida é que eu acabo confiando nas pessoas. Não sei porque ainda faço isso. Seria tão mais fácil se eu estivesse mentindo não é? Se tudo não passasse de algo que minha cabeça inventou. Minha vida inteira foi uma mentira, posso mentir agora se é isso que você quer, e dizer que está tudo bem, que minha vida sempre foi linda e maravilhosa, que eu faço terapia duas vezes por semana porque eu sou idiota, que eu tomo todos esses remédio porque eu sou idiota também. Posso dizer se você quiser que eu sou muito feliz, que eu me corto para chamar atenção, que eu choro baixinho para ninguém ouvir porque... sei lá, porque eu gosto da sensação das lágrimas escorrendo pelo meu rosto e o desespero lento de não saber o que fazer. É isso que você quer ouvir? Posso entrar sorrindo na sua sala e sair sorrindo, e você nunca mais vai ter acesso a esse buraco na minha alma, posso fazer você acreditar que está tudo bem quando não está, posso facilmente planejar minha morte enquanto faço você acreditar que eu estou melhorando. Mas eu decidi ser sincera. Decidi que não mentiria para você, decidi que deixaria você me ajudar.


Não sei porque fiz isso... As pessoas durante a minha vida inteira me enxergaram mais como monstro do que como vítima. A Sabrina é egoísta e nojenta, não confie nela, ela sorri e abaixa a cabeça, faz todo mundo acreditar que ela faria de tudo para ser amada, mas no fundo existe tanto ódio ali dentro. Você é um montro, você é um montro, você é um monstro. Porque você chora? Pensa que assim você vai conseguir fazer alguém ter pena de você? Não vai... Você pede por isso. Você merece isso. A Sabrina é tão feia, tão patética, é legal rir dela e ver como ela se encolhe contra a parede. É legal puxar seu cabelo, falar sobre sexo e obrigá-la a fazer coisas, o desespero de seus olhos da lugar a uma indiferença fria, ela parece não se importar, parece estar desligada, mas então, de repente, um fluxo de energia faz com que ela saia correndo, todo mundo ri, as vezes saem correndo atrás dela, as vezes a deixam em paz, para depois a pegarem de novo, outro dia, outra hora. E ela não desiste. Continua saindo de casa, continua tentando fazer amigos, continua tentando se agarrar desesperada a sua infância já a muito perdida. Aos 15 anos ainda quer brincar de esconde-esconde, de boneca, de bola... Tem medo dos garotos, quanto mais velhos, piores. Mas ela gosta deles, apesar de tudo, ela quer se encaixar, quer desesperadamente ser como eles, mas não consegue.


Ela é tão estranha... Ouviram ela chorando aquele dia? Parecia que ia morrer sufocada. Porque? Porque? Porque? É esquisito o jeito como ela continua indo nos mesmos lugares e encontrando com as mesmas pessoas... Tão auto-destrutiva. Porque ela faz isso? Parece pedir pela dor. Ninguém sabia que ela havia escolhido o inferno fora de casa ao invez do inferno dentro de casa. A verdade é que não existe lugar no mundo para ela. Onde quer que ela vá isso a persegue. Ela é tão estranha... Chora por nada, grita com todo mundo, não divide nada com ninguém, não confia em ninguém, não reage...


Você está bem? Estou. Mesmo? Sim. Não, nada está bem. Mas desde cedo eu aprendi a sorrir apesar de tudo, porque parecer bem é milhões de vezes mais importante do que realmente estar bem. O primeiro sorriso que um bebê dá é imitando um adulto que lhe sorrir... Então, se um adulto lhe sorrir mesmo estando fazendo a maior atrocidade do mundo, o bebê aprende a sorrir e continua sorrindo durante o resto da vida. Se tem uma coisa que eu aprendi muito bem a fazer ao longo da vida é sorrir. Hoje, quando as pessoas elogiam meu sorriso, eu me sinto a pessoa mais falsa da face da terra.


Não... Eu nunca estive bem. Mas quem acreditaria na garotinha egoísta, que briga com os amiguinhos, não divide nada e gosta de brincar sozinha? Criança adora inventar coisas, besteira, ela é exagerada, chora por nada. É só mais uma criança mimada.


As pessoas se tornam quem são pelas suas vivências ao longo da vida, mas algumas acreditam que o que aconteceu de ruim a elas era uma punição por elas serem quem são. Eu sou egoísta e má, por isso fazem isso comigo. Quando o certo é: fizeram isso comigo por isso sou "egoísta e má". Esse pensamento errado gera uma culpa sem tamanho nas vítimas, elas deixam de culpar seus agressores para culparem a si mesmas, muitas podem até desenvolver compaixão por quem as agride, como se essa pessoa estivesse fazendo isso para o próprio bem da vítima, para ensiná-la a ser uma pessoa melhor. Criá-se um relacionamento doentio entre a vítima e o agressor, onde quem agride não se sente culpado e quem é agredido toma a culpa para si. Por isso é tão difícil para uma vítima quebrar o silêncio do que acontece com ela, o sentimento de vergonha e culpa é tamanho que prefere-se manter as coisas como estão. Quando essa pessoa sente-se encorajada o suficiente para se abrir é importante que ela seja ouvida, mas muitas vezes o que ela diz é tão inimaginável e cruel que se pergunta se aquilo realmente aconteceu, a própria vítima se pergunta isso. Como pode acontecer? Como? Como alguém é capaz disso?


As memórias são confusas e doloridas e não sei se eu quero revivê-las. Mas como eu disse, se você preferir, se para você assim for mais fácil. Eu digo que nunca aconteceu nada, que eu sou feliz, que está tudo bem, talvez assim as pessoas a minha volta possam se sentir melhor. Seria mais fácil, não é? Odeio dar problemas para as outras pessoas, odeio ser um peso, odeio ser egoísta. Eu realmente deveria calar a boca, me manter sempre fechada aqui no meu mundinho, assim eu não dou trabalho nem nada. Odeio ser egoísta, odeio.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O outro lado





Sabrina é inteligente... Ela se orgulha disso, faz com que ela se sinta menos inútil. Eu quase sempre a atrapalho, mas mesmo assim, mesmo o mundo estando desabando a sua volta ela consegue ir bem na escola (e agora na faculdade). É engraçado porque eu tenho certeza que ela não vai conseguir terminar seu curso, mas mesmo assim ela vive me enfrentando, as vezes penso que ela está aprendendo a ser forte comigo, o que não é verdade. Sabrina é uma menina extremamente fraca, indefesa e sensível, quando alguém nos machuca, ela chora enquanto eu planejo vinganças cruéis, ela chora mais quando escuta meus planos, as vezes ela se corta para me punir, ela diz que não podemos ser maus. Ela não quer ser uma menina má, ela sempre quer ser perfeita, ela acredita que se for perfeita as pessoas vão amá-la. Ela é muito inocente... Apesar da sua inteligência para coisas racionais ela tem a maturidade de um bebê em se tratando de inteligência emocional. Ela não consegue enfrentar as dificuldades mais simples, não sabe lidar com criticas nem absolutamente nada.


Eu não... Eu sou diferente. Não sou dependente como a Sabrina, não choro quando alguém me machuca, não choro quando alguém me abandona, não sofro pelo que os outros pensam de mim. Não... Eu destruo essas pessoas, as mato em minha mente e pronto. Sou extremamente vingativa e cruel. As vezes obrigo a Sabrina a se cortar para ela deixar de ser idiota, o que não adianta muito, como eu disse ela é muito burra emocionalmente. Tanto eu quanto a Sabrina sofremos com os sintomas do nosso transtorno, o único momento que deixamos de brigar uma com a outra é quando as coisas começam a fugir do controle. Nos unimos e fazemos um acordo, eu permito que a Sabrina, por ser fraca, se encolha dentro da mim para que eu possa assumir o comando. Quando eu assumo o controle a responsabilidade de fazer com que a Sabrina melhore é enorme, eu posso fazer qualquer coisa para isso. Desde me machucar o suficiente para que o fluxo de energia reviva a pequena e quebrada alma dela, até machucar as pessoas a minha volta.


Eu a odeio tanto quanto a amo, ela é meu oposto. Eu odeio seu jeito infantil e frágil, odeio o fato dela não conseguir se mexer para nada, o jeito como ela chora sozinha de noite, ou como pensa que todos a odeiam, odeio a dor que ela sente, como um buraco negro em seu peito. Mas ao mesmo tempo... Amo protege-la, não sou exatamente a pessoa ideal para fazer isso, também tenho uma inteligência emocional baixíssima, também sofri as mesmas coisas que ela. Mas ao menos sou mais forte, ao menos sou capaz de machucar as outras pessoas, enquanto a Sabrina não teria coragem de fazer mau a uma mosca. Para mim só existe duas pessoas no mundo, eu e ela. Para ela não, ela não se contenta só comigo, na verdade ela me odeia, tem medo de mim, ela quer que eu vá embora, mas sabe que não sobreviveria sem mim. Eu sou um mau necessário. Sem mim a pequena Sabrina muito provavelmente já estaria morta a um bom tempo... Ela é tão inteligente... Mas simplesmente não nasceu com força suficiente para enfrentar a vida, ela não sabe, não consegue. Toda a vez que ela cai sou eu quem a faz levantar, sou eu quem a revive a cada tombo mais feio, sou eu quem a empurra para seguir em frente.


E lá vai ela, tropeçando, se perdendo, caindo, se arranhando, rastejando. Pobre garota... O que seria dela sem mim?

domingo, 26 de junho de 2011

Hoje eu sou Alice



Aqui vai mais um vídeo produzido por mim. Dessa vez falando um pouquinho sobre o abuso sexual infantil. As informações e citações foram retiradas de um dos melhores livros que eu já li, chamado Hoje eu sou Alice, de Alice Jamieson.


O livro trata de uma história verdadeira, nele a autora conta sua vida como sendo vítima do transtorno de personalidade múltipla, uma doença rara, que ela desenvolveu como mecanismo de defesa durante uma infância extremamente cruel. Alice durante toda a infância e boa parte da adolescência foi repetidamente estuprada por seu pai e amigos dele e é só na vida adulta que ela começa a sofrer as piores consequências desse fato. A história é de uma sensibilidade chocante na minha opnião, extremamente forte e sincera. Eu recomendo se você for uma pessoa forte, porque Alice não ameniza em momento nenhum o que aconteceu com ela. E nem deveria de modo algum.


Como ela mesma diz, o abuso sexual é a pior coisa que pode acontecer a uma criança e só quem foi vítima disso é que sabe o tamanho da dor e destruição que algo dessa dimensão causa a uma pessoa. Alice diz também que espera que divulgando sua história outras crianças que tenham passado por coisas parecidas se sintam encorajadas a falarem, digo o mesmo. Espero que o vídeo seja útil.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Minha trilha sonora



É uma sensação difícil de descrever... Sinto minha cabeça pesada e dolorida, meus olhos se arregalam sem que eu queira e eu me surpreendo olhando o mundo como um recém-nascido. Meus sentidos ficam extremamente aguçados, a música enxe meus ouvidos mas mesmo assim consigo ouvir as pessoas falando a minha volta, tenho impressão que de estão falando de mim, estão rindo de mim... Acho que alguém está me seguindo, escuto o som de passos atrás de mim, mas então percebo que o som vem de meus próprios pés. Não! Não vem dos meus pés, esses pés não são meus, nem essas mãos. Onde estou? Bem aqui... Não sei dizer se estou dentro ou fora daquela garota, mas tenho certeza de que não sou aquela garota. Dou um passo após outro como se o chão fosse se abrir sobre mim a qualquer momento, o impacto dos meus pés sobre o chão parece muito mais forte do que o normal.


Me sinto como se estivesse dentro de um grande jogo em primeira pessoa, só falta minha arma. Meus pés me levam para longe das outras pessoas na rua, não gosto delas, elas riem de mim. Antes uma crise dessa me deixaria desesperada, mas agora eu não me desespero mais, acho que estou ficando acostumada. Continuo meu caminho, aumento o volume do meu Ipod e deixo que ele dite meu humor. Com minha sensibilidade a flor da pele eu gosto de deixar a música tomar conta da minha mente... Não demora muito para que Placebo começe a tocar, sorrio, não poderia ter música mais perfeita do que essa para o momento. "You are one of God's mistakes. You crying, tragic waste of skin...". Sou um dos erros de Deus. As vezes penso que a missão nobre de quem faz música é traduzir os sentimentos dos outros em suas próprias palavras.


Eu sorrio com a próxima música. The pills won't help you know, Chemical Brothers. Meu Ipod deve ter minha sensibilidade e meu temperamento forte. Marilyn Manson, This is the new shit. Aos poucos os sintomas diminuem, mas não passam por completo, fico em um estado meio sonhando meio acordada... O que é real? Quem sou eu? O que está acontecendo? O que aconteceu? Eu não sei. Tenho essa sensação de que tudo a minha volta não passa de uma mentira que um dia me contaram. A família feliz e perfeita, as crianças com suas "brincadeiras", os amigos líquidos, as dores de cabeça dia após dia, a garotinha que não sabe se é tímida ou se é falante, o irmão hiperativo, a ansiedade por ser amada, o abraço nunca dado, as palavras rudes, as críticas e elogios vazios, o medo. Onde eu fui parar em meio a tudo isso?


Me perdi... E não há lugar nenhum onde eu possa ser achada. (Breathe me - Sia)

Eu acredito


(Minha resposta para o projeto Acredite Universitários - No que você acredita?)


Eu não acredito em deus, não acredito em vida após a morte, não acredito em milagres, não acredito em segundas chances, não acredito em paz mundial nem em fome zero.


Não acredito que para tudo há uma solução, mas acredito que sempre é possível lutar. Não acredito que um dia o amor, seja ele como for, deixe de ser visto com preconceito, mas acredito que duas mãos dadas têm mais força do que uma fechada. Não acredito que um dia as crianças deixem de ter medo do escuro, mas acredito que em meio a tantos monstros, há heróis. Não acredito que a fome acabe no mundo, mas acredito no poder das pessoas de se ajudarem em meio as piores situações. Não acredito que um dia pessoas parem de matar pessoas, mas acredito que por trás de um assassino pode existir uma criança assustada, que muitos ignoram a existência. Também não acredito que as pessoas parem de se matar um dia, mas acredito ser possível mostrar a elas que elas não estão sozinhas. Não acredito na cura milagrosa do câncer, da AIDS ou qualquer outra doença, mas acredito nos médicos, na luta para sobreviver a cada dia e na força das famílias.


Mas principalmente... Acredito no amanhã, não como algo lindo a frente, não como uma vida mais fácil... Mas como uma seduzente situação nova, um futuro que eu quero estar lá para vê, uma dificuldade que eu quero estar lá para vencer, um direito que eu quero estar lá para lutar. Não acredito que pessoas possam mudar o mundo, mas acredito que cada mundinho pessoal possa ser mudado e assim... Mudar o rumo das coisas para sempre.


É nisso que eu acredito.

Comparações, preconceito e superação




Quando falamos sobre problemas, traumas e medos, uma hora ou outra alguém vai lhe dizer que você ao menos está melhor do que alguém que não tem uma perna, um braço, é cego, surdo, etc. Se uma pessoa com deficiência física consegue se superar, espera-se que você, com deficiências que não podem ser vistas, também se supere. É verdade que pessoas que não andam, não falam ou o que quer que seja sofrem muito... Mas não acho que se possa comparar uma coisa com a outra. Alias é impossível comparar a dor de uma pessoa, seja ela qual for, com a dor de outra pessoa, simplesmente porque elas são diferentes.


Um deficiente físico não é um doente. Ele simplesmente é diferente, ninguém olha para ele e diz: "Deixe de frescura! Faça sua perna crescer de novo!". Agora, quem tem uma deficiência psiquiátrica é doente, precisa de tratamento, remédios, etc, etc e etc... Geralmente tratamentos para a vida toda, como um diabético, não tem cura. E mesmo assim, insitentemente, as pessoas olham para esses doentes e insistem que eles podem se curar. É só se esforçar! É só querer! Como um milagre. Pensa-se que o doente mental é fraco, preguiçoso, fresco, exagerado.


Acho engraçado como as pessoas tratam alguém que possui um transtorno psiquiátrico. Mais uma vez, não vejo ninguém falando para um diabético para ele deixar de frescura, para ele parar de tomar seus remédios porque é "besteira". O fato de nossa doença não aparecer em um exame de sangue ou em um raio-x não a torna menos cruel e assustadoramente real. É um erro alguém saudável pensar que entende alguém doente. Ao se comparar com alguém doente, a pessoa saudável comete o equívoco de achar que é possível melhorar por si mesmo, que as coisas não são tão ruins assim... Logo, ao ver que o doente não consegue simplesmente se curar, diminuí-se essa pessoa, ela passa a ser vista como fraca, preguiçosa... Afinal, a pessoa saudável conseguiria facilmente melhorar sozinha! Ninguém para pra pensar que é justamente por isso que o saudável é saudável e o doente é doente.


Mais uma vez... Não é prepotência, não é querendo diminuir a capacidade alheia de compaixão... Mas é fato que nenhuma pessoa é capaz de dizer que entende a dor do outro, o fato do outro ser diferente e ter vivido fatos diferentes dos que você viveu já torna impossível você ter sentido o mesmo que essa pessoa e por isso entendê-la. Se entre duas pessoas saudáveis e parecidas isso é impossível, então entre um saudável e um doente existe um abismo intransponível. Eu diria que é perigoso se comparar aos outros, quase sempre em uma comparação há um quê de preconceito, um quê de "eu sou melhor".


A verdade, que eu mesma tenho dificuldade de aceitar, é que não existem fracos e fortes, não existe pessoas melhores que outras... O que existe é pessoas diferentes, que lidam diferentes com diferentes fatos da vida.

Crianças marcadas




Algumas pessoas possuem orelhas grandes de mais, cabelos volumosos de mais ou lisos de mais, são altas de mais ou baixas de mais, algumas usam óculos, aparelho nos dentes, possuem espinhas no rosto ou sardas. Não há nada de errado com elas. Mas as outras pessoas pensam que há.


Há uma pergunta a qual eu procuro a resposta minha vida inteira. Porque algumas pessoas são "escolhidas" como alvos de abuso sexual, físico e psicológico? O que as faz diferentes para que elas sejam perseguidas durantes suas vidas e outras não? Não... Não é só por causa do óculos, do aparelho, das espinhas ou do cabelo. Porque mesmo uma pessoa "feia" pode ser a agressora e uma pessoa "bonita" a agredida, apesar de muitas vezes coincidir o contrário. Não é só por isso. Tampouco é só por que o alvo é tímido, inseguro e retraído.


Sempre imaginei porque algumas pessoas nascem marcadas. Busco um padrão, mas ele não existe. Todos os tipos de pessoas, algumas menos outras mais, podem ser alvos, mas mesmo assim a pergunta ainda queima em minha mente. Em um grupo de 10 garotinhas, por exemplo, porque justo aquela foi escolhida? Azar? Não acredito. O que há em seu olhar que chama a atenção de um abusador? Inocência? Pureza? Ou ao contrário? Malícia? Maldade?


Minha psicóloga diz que cada pessoa é diferente, que não existem pessoas marcadas. Não há um motivo para se escolher uma pessoa e não outra. Faz sentido o que ela fala... Mas a pergunta de tempo em tempo volta martelando em minha mente. Porque eu? Porque eu? Porque eu?


É difícil não se sentir culpada. Deve haver algo de errado com você para que tenham te escolhido e não outra pessoa. Porque eu?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A gaiola - Presa e voando, voando presa.



A gaiola é pequena, e eu me sinto sozinha e indefesa. Há outros pássaros aqui dentro, mas mesmo assim a solidão é minha melhor amiga. Os pássaros livres as vezes passam por aqui e nos contam histórias assustadoras do mundo lá fora... Mas aqui dentro da gaiola coisas horríveis acontecem, coisas piores do que as coisas do mundo lá fora, e ninguém sabe. Ninguém sabe como é viver dentro da gaiola.


Meu maior sonho sempre foi voar livre por aí. Não tenho medo do mundo... Para minha sorte ou azar, um dia a porta da gaiola foi milagrosamente aberta e eu saí. Sou um pássaro livre, eu pensei, finalmente vou poder ser feliz.


Não, eu não sou um pássaro livre. A cada tentativa de vôo eu caio. Nunca me ensinaram a voar! Eu percebo chocada. Não acho comida, não sei me virar, caio em todas as armadilhas, me machuco na vida, indo ao chão de novo e de novo após algumas batidas de asas frenéticas. Estou tão perdida. Alguns pássaros têm pena de mim, param e tentam me ajudar, mas logo precisam seguir suas vidas novamente e eu volto a estaca zero. Eu não sei o que é pior, apodrecer na gaiola ou morrer todos os dias do lado de fora. Aos poucos vou me rendendo, talvez o sonho de voar livre por aí seja só isso: um sonho.


Alguns diriam que eu sou uma fracassada... Mas de certa forma me sinto bem olhando para trás e reconhecendo minha coragem de ter tentado por tanto tempo. E mesmo pensando em desistir... Ainda assim encontro forças para uma última batida de asas.


Cada pessoa enfrenta a vida com as armas que lhes foram dadas, eu acredito. Minhas armas são escassas e defeituosas... Mas nem por isso eu tenho deixado de tentar.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Desmoronando



A raiva toma conta do meu peito sem motivo justificável, meu cérebro não funciona como antes. Esse mundo não é real, tenho certeza que se eu socar aquele homem ele vai se evaporar diante de mim, quero tanto bater naquele homem. Tenho uma vontade tão grande de destruir algo bonito. O mundo desmorona a minha volta, vejo coisas, escuto coisas, imagino coisas... Está tudo tão errado. Mas eu continuo caminhado... Não me importo mais.

sábado, 18 de junho de 2011

Infância - De novo, de novo e de novo




Andei voltando repetidamente para minha infância, quase como uma tortura. Estou tão instável esses dias que cinco minutos depois de sorrir para uma criança eu sinto uma voltade enorme de empurrar um adulto para morrer nos trilhos do metrô. E o mundo não parece real, o mundo nunca parece real. Na confusão desenfreada da minha mente eu me pergunto se tenho 5 anos de novo ou se continuo tendo 18. Tenho tantas sensações e sentimentos dentro de mim, mas não consigo conectar os sentimentos com todas as lembranças, há hiatos enormes ainda. As coisas que acontecem, que eu escuto ou vivo hoje em dia me fazem voltar a sentir o que eu sentia quando era uma garotinha, mas a lembranças são disconectas, fragmentadas, poucas são as que eu lembro do começo ao fim. Isso me incomoda... Sinto tanta vontade de vomitar toda essa dor de um vez, mas ainda não consigo... Preciso ficar voltando toda hora, me questionando, revivendo. As lembranças começam a ficar claras aos poucos... Mas uma parte de mim ainda luta para que elas não fiquem claras. Eu quero saber e não quero saber. Meu monstro quer saber, precisa saber, e a Sabrina não quer saber, a Sabrina quer abraçar seu ursinho e se fechar em seu mundinho, dormir e nunca mais acordar. O monstro quer saber... E matar os adultos, todos os adultos ruins.




Eu não sei o que fazer... Lembro da pequena Sabrina, sempre se escondendo, tanto que as vezes tenho a impressão que minha vida foi um grande esconde-esconde. Lembro de chorar muito, muito mesmo, lembro que se as coisas não fossem perfeitas, eu tinha ataques de raiva ou choro, lembro de brigar muito, de gritar... E ao mesmo tempo lembro do quão silenciosa eu era, tão fechada, tão indiferente ao mundo a volta. É como se desde sempre eu fosse duas pessoas diferentes... A Sabrina retraida em casa e a Sabrina irritadiça, perfeccionista e falante na escola. Sempre foi assim, as personalidades se misturavam, obviamente, mas eu sempre tive a impressão de não saber quem era, sempre dissimulando e fingindo. Agora as coisas fazem mais sentido, é como se tivessem limpado minha visão... Os acontecimentos se conectam aos poucos e eu consigo entender como ao longo da vida fui desenvolvendo meu transtono.




Agora eu entendo meu medo absurdo de ser abandonada, agora eu entendo minha desconfiança para com as pessoas (Eu quase nunca acredito nelas... Por mais que diga que sim. No primeiro sinal provavelmente imaginado por mim eu tenho certeza absoluta que serei abandonada), entendo também minha instabilidade, minha confusão, a angustia crônica, a despersonalização, o pânico, os surtos de automutilação. Tudo faz sentido afinal...




Isso de certa forma me alivia, afinal eu não sou tão louca assim de nascença. Essa é a vida que eu conheço, como já disse em outros posts, foi dessa forma que eu aprendi a lidar com o mundo. Apesar de tudo começar a se encaixar agora... Eu nunca me senti tão quebrada, tão doente, tão perdida. A vida continua, eu saio, eu sorrio como antes... Porém aqui dentro... Eu me sinto tão irremediavelmente perdida. Não sei mais o que fazer, para onde ir, como me sentir ou o que quer que seja... Me sinto devolta os meus 5 anos, tendo minha vida roubada. Chorar não faz mais sentido, nem me fazer de vítima, nem o ódio, nem nada. Sinto como se poucas coisas pudessem me salvar e uma delas é me cortar. Se tem uma coisa que não sai da minha cabeça, além das lembranças se repetindo como filme, é a gilette.




Mas eu tenho que lutar... Se as pessoas não verem meu braço marcado, as cicatrizes, cortes recentes e os pontos, ela nunca saberão o quão mau eu estou. É como se me cortar também fosse uma forma de pedir ajuda (porque eu não consigo falar... por mais que eu queira). Mas eu não posso fazer isso... A automutilação, ironicamente, machuca mais as pessoas a minha volta do que a mim mesma. Então eu preciso ter autocontrole... Preciso de muito autocontrole. Enquanto meu mundo desaba por completo, não posso me esquecer das pessoas que se importam comigo. É até estranho pensar nisso... As vezes me pergunto se as pessoas pedem para que eu fique bem por elas mesmas ou por mim. Talvez seja pelas duas coisas, eu não sei.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Em resposta:



Você as vezes é tão parecida comigo... Você diz que você me ama de forma doentia, eu também te amo dessa forma. Você sabe que eu morreria se você morresse... Você sabe que minha vida deixaria de fazer sentido, que meus motivos para lutar se reduziriam de forma alarmante.


Eu preciso tanto de você... Sabe, você nunca me viu em uma crise de verdade e acho que nunca vai ver, por que sempre que você me abraça... Eu sinto que viver vale a pena, sinto que as coisas vão ficar bem, que eu realmente posso melhorar e que podemos viver felizes juntas... Cada vez que você me envolve ou segura minha mão, a vida é tão bonita e certa.


Não vou negar de que você é meu porto seguro, que você é a luz que me guia na escuridão ou o calor que aquece meu coração quando eu penso que ele já não existe. Você é. Você me salva todos os dias... Você não sabe o que é estar a beira da loucura, sem enxergar mais nada a sua volta e sentir você me puxando de volta para a realidade... Já esteve a beira da morte e foi salva? É assim que me sinto. E se você diz que esta comigo para que eu salve sua alma... Então acho que deveríamos nos dar as mãos e lutarmos juntas. Não te acho egoísta, não acho errado.


Você tem tanto medo que eu morra... Que as vezes sinto você falando como se isso já tivesse acontecido. Não me mate com suas palavras! Eu estou bem aqui, bem viva. Quantas vezes eu já te disse que não iria me matar, por mais que eu desejasse? Confie em mim ao menos quanto a isso... Por favor. Não vou te deixar.


Tenho medo de te pedir para não me abandonar.... Mas, por favor, não me deixe, pelo menos enquanto me amar. Não pense que precisamos nos separar para ficarmos bem, isso não faz sentido nenhum... Ao menos para mim não faz. Se estarmos juntas é tão bom, porque pensar em acabar com isso? Não consigo entender... Quero tanto passar a vida ao teu lado... Porque isso seria ruim?


Vamos descomplicar um pouco as coisas. Eu te amo, você me ama. Pronto.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Perdida



Meu corpo dói... mas dessa dor eu gosto, dor que não se compara a dor que eu sinto aqui dentro, dor que alivia, que me lembra que estou viva. Acho que as coisas não fazem mais sentido. Me pergunto porque estou fazendo faculdade se é muito mais provável que eu nunca consiga terminar, porque estou me esforçando se não vou conseguir nunca trabalhar, porque tenho amigos, porque tenho um amor... Se a qualquer momento uma crise mais forte pode vim.


Pela primeira vez hoje, considerei a hipótese de me internar... Cuidar um pouco de mim. Acho que ficar um tempo longe de casa me faria bem, eu odeio essa casa. Sei lá... Mas tenho medo... Tenho medo da vida continuar aqui do lado de fora enquanto eu fico para trás, tenho medo das pessoas esquecerem de mim, de desistirem de mim. Mas ao mesmo tempo... Eu quero desesperadamente me desligar do mundo, quero deitar e não levantar nunca mais, quero fazer minhas coisas, quero me sentar em frente ao meu quebra-cabeça enorma e só levantar quando tiver resolvido tudo, quero sentar na frente de uma tela branca e pintar todos esses sentimentos que eu risco em meus braços. Preciso tanto disso... Mas a vida corre pelos meus dedos sem que eu me dê conta, e é em meio a uma crise de pânico que eu percebo que não estou vivendo para mim, mas para todo mundo a minha volta. Onde eu fui parar? Esse meu eu inteiro... Ele já existiu algum dia? Ou é só um sonho daqueles impossíveis?


Estou cansada, perdida e confusa. Alguém pare o tempo por um momento... me deixe fechar os olhos e respirar fundo, preciso arrumar tanta coisa que eu nem sei por onde começar. Eu poderia nascer de novo. Nascer mais certa dessa vez. Eu simplesmente não sei o que fazer... Não sei como parar de me sentir assim. Cada vez mais eu me descontrolo por completo ao me cortar, cada vez fica mais difícil não fazer isso, cada vez mais eu sinto que as pessoas não me amam o suficiente, cada vez mas eu tenho medo de ser abandonada. Não estou conseguindo avançar... As pessoas, minha psicóloga e meus amigos, sempre pedem para que eu ligue pedindo ajuda quando me sentir mau... Mas nem isso eu consigo fazer. Não consigo pedir ajuda, não consigo falar como estou me sentindo, não consigo dizer os motivos... Tampouco consigo chorar...


As vezes eu penso que existem dores que não podem ser expressas de outra forma se não com sangue, mas provavelmente estou errada. Minha forma de me expressar e de me aliviar é só minha... E de algumas outras pessoas erradas como eu.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Doce inferno




Guardei durante tanto tempo essa dor aqui dentro, tão lá no fundo, tão intocável... Agora alguém abriu a ferida mau fechada, e o sangue está transbordando, posso ver minha carne aberta, o sangue escorrendo sem parar me assusta e me acalma ao mesmo tempo. Acho que vou morrer... Mas me sinto tão viva. Acho que vou viver, mas me sinto tão morta. Eu gosto dessa cor vermelha, escandalosa, gritante, pesada. Acho que eu esqueci como se chora, esqueci como se sente... Eu sorrio maldosamente, sou um monstro, tão suja, tão errada. Eu deveria morrer. Eu não me pergunto o porquê, não busco razões ou desculpas, não procuro entender... A minha vida sempre foi assim, essa é a vida que eu conheço, por mais errada que ela esteja. Me sinto de volta para meu doce inferno, o lugar que foi o meu lar durante tanto tempo. É tão confortável deitar minha cabeça e esquecer do mundo a minha volta, o inferno queima minha pele, destrói minha alma, mas não ligo... Eu não luto, não choro, não grito. Só me abandono. Esse pedaço de carne que eu sou não vale muita coisa para eu me importar. Está tudo bem.



Deus, mate essa garotinha... Antes que ela se mate, por favor. Ela não quer ir para o inferno, ela não pode se matar, mas também não quer viver. Você precisa fazer isso por ela. Deus destrua ela. Acabe com a dor por favor. Ela quer ser uma boa menina mas não consegue... Ela faz tudo errado. Todo mundo odeia ela. Ela não tem lugar no mundo... Você não vê? Todos os dias ela chora tanto... E ninguém escuta, ninguém a abraça, ninguém fala que vai ficar tudo bem, ninguém.



Tudo bem, sempre foi assim. Esse é seu doce inferno, ela esta acostumada.

domingo, 12 de junho de 2011

Feliz dia dos namorados




Então... Hoje é nosso dia. Hoje tanto eu quanto você gostaríamos de estar abraçadas, sem se preocupar com o tempo ou com os outros, só nós duas. Hoje nós poderíamos passear por ai, eu poderia te comprar uma rosa e dizer o quanto de amo, poderíamos assistir um filme besta de amor, rir dos olhares de estranheza a nossa volta... Hoje o dia deveria ser perfeito, não? Hoje está no nosso direito falar aquelas frases tão bestas e melosas de gente apaixonada (que eu tanto amo).


Mas você não está aqui. Hoje não vou passar o dia contigo, não vou te abraçar, não vou poder sussurrar no seu ouvido que te amo, que eu te acho a pessoa mais linda e perfeita da face da Terra, que te ver feliz ilumina meu mundo, que escutar sua voz e sentir seu calor extingue todo meu medo. Mas sabe... Não estar com você fisicamente é o de menos, imagino. Por mais que doa, por mais que eu chore e sinta um aperto enorme em meu coração toda vez que você tem que partir, o que eu sinto por você aqui dentro nunca muda. Esteja eu chateada, feliz, triste, irritada, excitada, não importa. Eu te amo.


Você me pergunta porque eu te amo, como eu sei que te amo, o que é o amor... Não quero saber o que dizem do amor, não quero saber se dizem que amor é mais do que querer passar a vida ao lado de alguém, não quero saber se acham o amor egoísta ou não, não quero saber se dizem que amar não é depender de forma alguma da pessoa amada. Que se foda. Que se foda o que dizem, que se foda o que pensam, que se foda se acham que o que eu sinto não é amor, é dependência.


O que eu sinto, só eu sinto, só eu posso dizer o que é.


Amor para mim é o que eu sinto por você. Amor para mim é esse calor e conforto que eu tenho ao deitar a cabeça em seu ombro, essa cumplicidade, essa confiança, essa sensação de estar completa, essa certeza de que se eu morresse agora, morreria feliz. Amor para mim é ver seu sorriso e sentir vontade de chorar de tanta alegria, me sentir sufocada de tanto sentimento, de tanta vontade de te abraçar e não soltar nunca mais, de te fazer feliz para sempre.


É linda sua preocupação em fazer eu me sentir bem... E que sou muito feliz ao teu lado. Mas e você? Você é feliz ao meu lado? Quero dizer... Mesmo com tudo de ruim que eu tenho? Espero que sim. Talvez eu não consiga expressar muito bem, mas eu me preocupo muito com você, me preocupo muito por não ser tão boa para você como você é para mim. Me desculpe por tudo o que eu já te fiz sofrer, me desculpe por cada lágrima que você já derrubou por mim, por cada decepção e frustração, por cada noite mau dormida, cada disparar de coração ao ouvir o telefone tocar, por cada vez que você já rezou por mim e desejou que tudo ficasse bem. Me desculpe. Saiba que eu luto todo dia para ser uma pessoa melhor para você, para nunca mais te causar dor... Me desculpe por não conseguir sempre.


Feliz dia dos namorados meu amor.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Não faça isso


Quando eu era pequena, em uma época que eu não lembro, eu era inteira. Mas então a vida bateu a porta e eu fui vivendo, sorrindo distante enquanto me fechava em meu mundinho, lindo e seguro.

Estar viva não é fácil. Cada vez que alguma coisa ruim acontecia comigo, pequena e indefesa, algo se quebrava aqui dentro. E eu fui quebrando e quebrando... Eu era uma criança tão sensível, ainda sou, e ao mesmo tempo tão fria. Tão autruísta e tão egoísta. Tão silenciosa, tão calma e tão inquieta, tão irritadiça. Eu costumava ser tão perfeccionista, tão chorona, tão nervosa. Desde tão cedo meu mundo foi se tornando tão errado. Tão errado...

E hoje, hoje que eu já estou quebrada, hoje que o vazio aqui dentro nunca me abandona, hoje que eu não acredito que exista mais como... Você quer me consertar. Você quer mexer no meu passado, quer abrir mais minha ferida, quer entrar na minha escuridão.

Minha memória é quebrada... E eu não quero descobrir o que está por trás daquelas lembranças, não quero descobrir o que está por trás daqueles olhos, não quero saber o que aconteceu, não quero saber, não quero lembrar, não quero, não quero. Não me fale disso, não me fale de nada que passe perto desse assunto, você não entende. Essas memórias, eu não quero para mim, tudo bem? Não quero. Apague tudo, nunca aconteceu, nunca aconteceu. Tudo não passa de sonhos ruins, todo mundo tem sonhos ruins.

Eu entendo o que você está tentando fazer, sei que você só quer me ajudar. Mas eu não quero. Não quero... Por favor, não me faça lembrar, por favor... não me faça viver isso de novo. Você não entende. Eu não vou aguentar.

Sabe... Eu não acredito que o que se quebrou possa ser consertado. Não acho que alguém um dia vá conserguir curar esse buraco dentro de mim... Não acredito que eu possa melhorar. Eu só não quero piorar... Eu só não quero ter que me cortar de novo para aguentar levantar no dia seguinte, todos os dias... Eu só não quero mais aquela certeza de que logo morrerei, aquela calma entorpecente de se destruir. Não me faça voltar, por favor... Não quero mais só me sentir feliz enquanto faço planos para me matar. Você entende? Assim do jeito que estou... Não está perfeito, não está fácil, não está nada fácil... Mas eu estou conseguindo, não estou? Estou melhor as vezes, as vezes consigo acreditar que tudo vai dar certo, as vezes quando estou sozinha eu consigo cantar de alegria, as vezes o medo não se torna tão grande assim, as vezes consigo me controlar. Eu quase não me corto mais, quase não quero morrer, quase fico feliz de estar viva. Me deixe assim... Estou caminhando bem... Tenho tanto medo de piorar, tanto medo de perder tudo o que conquistei.

Outra visão. - Hoje não achei o mundo bonito




As vezes você acorda e percebe que não é feliz. Você abre os olhos e enxerga um mundo ao qual você não pertence, vivendo uma vida que não é sua, sendo alguém que você não conhece. Mas o que é ser feliz se não viver só de alguns momentos felizes? Poucos momentos, raros momentos. Momentos que não são o suficiente.


Talvez a felicidade não exista, talvez a vida não tenha um sentido, talvez tudo isso não passe de uma ilusão. Não acredito que o ser humano seja algo a mais do que uma pobre criatura caminhando perdida pelo mundo, desperdiçando tempo com sua futilidade e solidão. Não acredito que o ser humano mereça algo o mais do que viver assim e morrer do mesmo jeito.


Nesse momento nem tampouco acredito no amor. Esse suposto sentimento idealizado por nós, criaturas egoístas. Não acredito que seja possível amar alguém, acredito que o que chamamos de amor seja o prazer em reconhecer no outro você mesmo, ou o que você queria ser ou o que você já foi. O amor é a prepotência de achar que o outro lhe pertence e pode satisfazer seu vazio de sentido, só isso. Tudo gira ao nosso redor.


Até quem se culpa por tudo é egoísta em querer pegar a responsabilidade do mundo para si. Até quem diz poder morrer por alguém ou por alguma coisa é prepotente ao se colocar no lugar de um herói. As pessoas que mais se dizem boas são, no fundo, as piores, as que se dizem más ao menos são sinceras, sinceridade falsa pois no fundo todo mundo se acha bom e nobre de alguma forma, e quem não se vê dessa forma, quem realmente é sincero, é doente. Ironicamente.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Fora da sociedade - Sobre a loucura




A loucura ainda é tratada como um assunto muito delicado em nossa sociedade, pouquíssimas pessoas sabem algo a respeito e o preconceito e a discriminação são grandes. As doenças mentais são tratadas como piada, como motivo de riso... Riso este que só traduz o nervosismo que as pessoas sentem ao se depararem com alguém doente.


Não acho engraçado um mendigo sofrendo alucinações, não acho engraçado uma menina se jogar do terceiro andar (mesmo ela tendo sobrevivido), não acho engraçado uma pessoa que sofre de TOC, não acho engraçado um depressivo chorando. Quantas vezes você já parou para pensar e se imaginou no lugar daquela pessoa? Quantas vezes você já se perguntou o quanto aquela pessoa sofre?


As pessoas sentem medo, desviam o olhar, riem, saem de perto. A loucura não é bonita. Tenho vontade de bater em quem diz sorrindo "sou meio louco". Não, você não é. Até um tempo atrás os hospitais psiquiátricos ficavam longe dos centros urbanos porque as pessoas tinham medo de ter esse tipo de pessoa por perto, como se essas doenças fossem contagiosas. Não há lugar na sociedade para pessoas que fogem no padrão, ou aquelas que não conseguem se encaixar nesse padrão... Ou talvez nessas pessoas não tenha lugar para a sociedade, dentro delas. Não sei dizer.

Video de divulgação - brincando no Movie Maker




Fiz esse video para aprender a mexer no movie maker e achei útil para divulgar meu blog. Espero que gostem. Me desculpem a falta de experiência!

domingo, 5 de junho de 2011

Prejuízo




Andei voltando no tempo, lendo posts antigos, lembrando tudo o que eu vivi e algo me incomodou... Já tinha notado uma ligeira dificuldade na minha capacidade de raciocínio lógico a algum tempo porém isso se tornou preocupantemente concreto lendo meus textos antigos. Onde foi parar aquela minha capacidade de desenvolver e defender uma idéia baseada na lógica? Onde foi parar aquela capacidade de escrever textos enormes com uma continuidade perfeita e raciocínio impecável? Pode ser que eu esteja sendo muito auto-crítica mas parece que meu cérebro retrocedeu. Meus textos complexos deram lugar a textos simples, curtos, poéticos pela falta de habilidade com as palavras.



Não gosto disso, sinto falta da forma como os argumentos choviam em minha cabeça, como defender alguma coisa que eu acredito iluminava minhas idéias. Agora essa lentidão toda me irrita, essa dificuldade para falar, para escrever, para me expressar... Essa mania de se repetir e se atrapalhar por não conseguir acompanhar a lógica. Agora mesmo, enquanto escrevo esse texto sinto minhas idéias travadas... As palavras não fluem mais pelos meus dedos inquietos que digitam como antes. Preciso voltar, ler de novo o que eu escrevi, parar, pensar, voltar de novo, corrigir... Antes não, antes eu derramava as palavras no papel com uma facilidade e fluência admirável, como se eu não tivesse nascido para mais nada a não ser escrever.



Isso me irrita, parece que não consigo escrever sobre mais nada a não ser como eu me sinto em relação a isso ou aquilo. Não criei um blog para que ele seja meu diário, não criei um blog para relatar sobre meus problemas psiquiátricos nem para contar minha história. De vez em quando tudo bem um post pessoal... Mas esse não era para ser o foco, gostaria de escrever coisas que tenham algo a acrescentar para as pessoas que me lêem.



Vou tentar devolver um pouco de lógica ao turbilhão de sentimentos ilógicos que eu sou. Será bom.

Reduzida




É fácil reduzir alguém a um diagnóstico. É muito fácil encaixar tudo o que alguém faz, sente e vive na doença que ele tem. Também é fácil para o doente se conformar com sua doença, se sentir doente e incapaz.



Depois de se aceitar o problema há dois caminhos que alguém pode seguir: desistir ou continuar lutando. Desistir é um caminho sedutor, fácil e simples, quase uma libertação, deixar que sua doença tome todo seu ser, te transforme no monstro que você odeia, destrua sua vida, seus amigos, sua família, você mesma. Quanto a lutar.... Lutar é um caminho sofrido, extremamente tortuoso e cheio de obstáculos, admitir seu problema é saber que essa luta será desigual e que por isso você terá que se esforçar muito mais, admitir é saber que você por vezes tropeçará nos obstáculos e cairá, mas que isso não significa que a luta está perdida, lutar é dar uma chance a si mesma, continuar lutando é uma forma de tentar mostrar as pessoas ao seu lado o quanto elas são importantes, por que você quer ser uma pessoa melhor para elas.



Sua luta começa quando você reconhece seu problema, porém é perigoso admitir que se é doente, você pode esquecer que ainda existe uma parte saudável dentro de você, você pode esquecer como as coisas costumavam ser quando você não precisava tomar tantos remédios e se esforçar tanto para sobreviver, por assim dizer, a coisas tão pequenas. Você pode esquecer quem você é, você pode começar a acreditar que realmente é um monstro. É perigoso. É perigoso também quando as pessoas ao seu lado reconhecem que você é doente, elas também podem esquecer que você ainda tem um lado saudável, elas podem acreditar que você realmente não tem jeito e que não vale a pena lutar por você, elas podem pensar que tudo o que você é e sente, é em função da sua doença.... E então elas te diminuem, desvalorizam seus sentimentos e culpam sua doença por tudo. Isso dói.



Uma pessoa é muito mais do que um diagnóstico, palavras em um livro ou site. Uma pessoa é muito mais do que o que dizem dela, muito mais do que ela própria mostra ou o que você vê.



O que eu sinto é real.

Não aguento mais - Sobre a amizade



"Não agüento mais", "Ninguém suporta você", "Estou cansada de você", "Prefiro me manter distante", "Não posso ficar perto de você", "Não quero mais estar ao seu lado"....


Você diz que amigos de verdade não falam isso... Linda, você vai viver um bom tempo ao meu lado e um dia você também me dirá algo do tipo. Não é fácil viver comigo.Você sempre vai se perguntar porque eu faço o que eu faço, você sempre vai brigar comigo pensando que isso irá adiantar, você sempre pensará que eu não confio em ninguém ou que não me importo com ninguém, você nunca entenderá de verdade.


Não acho que amigos de verdade nunca dizem isso, acho que os amigos de verdade são os que continuam seu amigo mesmo depois de chegar ao ponto de dizer isso.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Se eu fosse um garoto...



Se eu fosse um garoto... Você saberia o que é um homem de verdade. Eu te faria a mulher mais feliz do mundo, te levaria para assistir um filme ou fazer qualquer outra coisa e te envolveria em meus braços, quando fizesse frio eu te daria minha blusa e te abraçaria pela cintura para te esquentar. Se eu fosse um garoto você poderia me apresentar para seus pais, eles iriam gostar de mim e tudo seria perfeito. Se eu fosse um garoto eu poderia andar de mãos dadas com você sem que as pessoas olhassem feio, poderia te beijar e te abraçar em público e as senhoras que passassem por nós nos elogiariam por sermos um casal lindo.


Se eu fosse um garoto outros garotos finalmente parariam de olhar para mim (a não ser os gays, mas eu gosto dos gays então tudo bem). Se eu fosse um garoto as garotas olhariam para mim do jeito que eu olho para elas, elas iriam me querer, eu não teria inveja dos outros meninos por terem toda a atenção das meninas, também não ficaria com raiva quando visse um garoto tratando mau uma garota, eu simplesmente iria até ela e a trataria bem como toda a mulher merece. Se eu fosse um garoto eu poderia elogiar todas as meninas sem que elas me olhassem estranho por eu ser uma menina, poderia abraçá-las e ser carinhosa, elas não teriam medo da minha proximidade.


Se eu fosse um garoto eu escutaria você como garoto nenhum consegue, eu te entenderia e te abraçaria quando você se sentisse insegura, eu nunca te trocaria por meus amigos quando você estivesse precisando de mim, não te deixaria em segundo plano, nunca te forçaria a fazer absolutamente nada que você não quisesse. Se eu fosse um garoto meu prazer seria te dar prazer, minha felicidade, te fazer feliz.


Eu quero fazer tudo... E eu posso fazer tudo isso. Mas eu sou só uma garota.