"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

segunda-feira, 25 de julho de 2011

De onde veem os monstros



Eu acreditava que monstros se construíam em meio a violência e dor. Pensei que pessoas ruins, eram ruins por terem sofrido muito na vida, pensei que se aprende ser um monstro com outro monstro... Crença que faz com que muitos passem a mão na cabeça de um criminoso, tenham pena dele... Afinal, coitado! Deve ter tido uma vida horrível.

Ah... Nem sempre, nem sempre! Leiam Lolita de Vladimir Nabokov e vocês entenderão... Que a perversão nem sempre tem como causa uma infância terrível, nem sempre. Foi com uma raiva e ódio indescritível que eu li que a infância do personagem perverso foi muito feliz e tranquila... E mesmo assim, quando adulto procurava crianças prostituídas para satisfazer seus desejos, pois só tinha prazer com garotinhas... Dos oito aos 12 anos ele dizia. Em uma tentativa patética de se desculpar, dizia que em outras culturas crianças com 10 anos casavam com homens de meia idade, entre outras coisas. Monstro... (é um livro ótimo, recomendo... Gosto de livros que mexem comigo)

É um erro ter pena de um monstro. Não... Eles não merecem nenhuma pena, nenhuma compaixão... E mesmo assim, continuamos a conviver com eles, como se estivesse tudo certo, como se nada nunca tivesse acontecido. É assim... Nós crescemos, não somos mais crianças, podemos nos defender agora, apesar de poucas vezes o fazermos.... É assim. É assim que as coisas são. É assim que as coisas sempre foram.

Eu não quero ir para casa, eu não quero ir para casa, eu não quero ir para casa.

Olá doce inferno. A liberdade nunca dura o suficiente, nem a alegria, nem a festa. A realidade bate na porta e você se pega olhando para o espelho, com uma vontade enorme de socá-lo e quebrar a imagem patética que te olha de volta com os olhos úmidos. Você é tão feia, tão feia, tão feia. Você pensa que um dia será livre, mas esse dia nunca chegará. É ridículo. Você passa a lâmina pelos pulsos e pensa em morrer, no dia seguinte você sorri com seus amigos como se o dia não fosse terminar, só para chegar em casa e levar um soco na cara, ao ver que não... você não é feliz. Você chora e faz com que as pessoas sintam pena de você. Para que? Você se tornou seu próprio carcereiro, seu próprio monstro. O culpado se confunde entre eles e você. Independente do que houve, do que você passou... A culpa em seus ombros te esmaga, você pensa em destruir aqueles que te fizeram mau... Mas a única pessoa que você consegue destruir... É você mesma.

Porque? Porque? Porque? O que eu fiz de errado?

Eu não sei... Só sei que hoje você está toda errada. Só sei que hoje, parece que você está morrendo aos poucos, será que não? Não, não... Não estou! Por favor, não desistam de mim, por favor! Mais uma chance, mais uma chance, por favor. Por mais que eu me esforce... Eu não melhoro, eu não melhoro! Porque eu não melhoro? Por favor, eu não sou um caso perdido, eu não sou... Por favor, não me joguem em um canto qualquer, por favor... Não desistam. Eu sou tão nova, não sou? Ainda tenho uma vida inteira pela frente, vocês me dizem.

As vezes penso em desistir de você, é verdade. Você me dá trabalho, me preocupa, me desespera, me pesa. Suas lágrimas, sua dor... Não aguento! Não aguento... Fique você com sua dor, porque eu tenho que suportá-la? Porque eu tenho que te carregar? Eu tenho minha vida... Tenho meu futuro lindo pela frente. Ao contrário de você, eu sou normal. Você é problemática e quebrada. Faz mau ficar perto de pessoas como você. Vão te internar um dia, você sabe... É uma pena, mas você está perdida. Porque eu lutaria por você? É injusto comigo sabe... Não é nada pessoal... É só que não quero ter esse problema a mais na minha vida.

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Esse último parágrafo é o que pessoas como eu vão ouvir sempre ao longo da vida. É difícil não se sentir culpada quando as pessoas ao nosso caminho jogam em nossa cara que não nos querem por perto... Como se a culpa fosse nossa por sermos assim, como se não lutássemos todo o dia contra nós mesmos para sermos o melhor possível.

Sabe... Eu mesma dou conselhos para as pessoas que veem falar comigo, para ficarem longe de pessoas problemáticas... O que me dói extremamente...

É verdade... Fique longe...

Por mais que por dentro eu implore por uma chance, em nome de todos que sofrem com suas próprias mentes, eu imploro. Uma chance... Duas, três, quatro, cinco chances... Mil chances, sete mil chances. Vamos... Respire fundo, tenha paciência e aprenda a lidar com sua pessoa complicada, se você julgar que vale a pena. Pelo menos da minha parte, eu sou e sempre serei eternamente grata as pessoas incríveis que não desistiram de mim.

Eu posso ser um monstro para mim mesma, mas não sou para os outros. Isso é bom imagino, pensando por esse lado.

Monstro podem ser criados em ambientes de violência e dor, mas não necessariamente monstro nasçam daí, também não necessariamente pessoas que passam por isso se tornem monstros. Eu admiro muito pessoas que conseguem não se quebrarem frente as piores situações, apesar de nunca ter conhecido alguém assim... Mas ouvi falar que é possível, gostaria de conhecê-los. Eu perguntaria como conseguem, de onde tiram forças. E descobriria que eles na verdade são sortudos que tinham a quem recorrer, muito provavelmente, que de alguma forma tinham um ombro onde chorar e um ouvido que os estava escutando. É assim que as coisas são.

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