"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A coisa


Sua mente é como uma casa bagunçada, e bem no meio dessa casa há algo grande, feio e pesado. Durante muito tempo você tentou ignorar essa coisa, tentou jogar muitas coisas em cima para esconder ou disfarçar, para parecer menos feio. Mas agora você percebeu que não pode mais deixar isso no meio da sua casa, atrapalhando a passagem, tornando o ambiente inteiro horrível e pesado. Fingir que aquilo não existe não vai fazer com que ele desapareça. Não adianta jogar fora também, faz parte da sua casa, por mais feio que isso seja, não seria a sua casa se isso não estivesse ali.

De qualquer jeito, você percebeu que não pode mais ignorar isso, então você ergue essa coisa grande e pesada para tentar achar um lugar onde você possa guardá-la e esquecer que isso existe, tirar do meio do caminho, impedir que isso a atrapalhe de novo. Mas ao erguer esse algo você percebe o quão pesado isto é. Você pode cair, ou sentir suas pernas fraquejarem, você vai ter medo, vai pensar que nunca vai conseguir tirar isso dali. Mas então... Você dá um passo e fica tudo bem, você dá outro e outro. Quanto mais você anda com isso com você, mais leve ele parece ficar, ou então mais forte você fica. Ultrapassado esse problema, vem o desespero de não saber onde guardar isso, você anda de um lado para o outro teimosamente, não se pode largar uma coisa dessas em qualquer lugar, qual o lugar certo? Onde caberia algo tão grande quanto isso?

A verdade é que hoje me dei ao luxo de acreditar que vai ficar tudo bem, que eu vou achar esse lugar, que tudo vai se encaixar e como em um passe de mágica meus problemas vão se resolver. Meus sentimentos parecem não ter sentido as vezes, em um dia perfeito eu posso me sentir tão triste e em um dia com tudo para eu ficar mau, eu estranhamente fico bem, indiferente a tudo e todos. Minha mente vai e volta, em um momento o mundo é tão claro que chega a assustar, faz tanto sentido que eu desconfio que seja real, em outro nada existe a não ser essa dor. Em um momento tudo é tão estranho, coisas que não deveriam se mexer, se mexem, coisas sólidas se tornam liquidas e o mundo parece se desfazer em meus olhos, no outro minha consciência de estar viva é tão grande que pareço estar em todos os lugares, não só limitada a esse corpo. Estar viva não é só doloroso, é confuso como um jogo de vídeo game que não se sabe o que fazer para passar de fase.

Já encontrei pessoas que me odiaram, que cuspiram na minha cara o quão horrível eu era, que me chamaram de muitas coisas, já encontrei muitas pessoas que desistiram muitas vezes de mim, mas também já encontrei gente que sempre me amou, gente que me abraçou sem nem me conhecer direito e me disse que por alguma motivo desconhecido, eu era especial. Não sou nem uma coisa nem outra. A verdade é que sou uma estranha para mim mesma, a verdade é que talvez eu não exista, a verdade é que talvez eu seja um espelho.

Gosto do meu mundo de pesadelos, apesar de tudo é o lar que eu criei, gosto de me encolher em minha dor. Gosto de roubar sentimentos alheios e tentar impedir que os outros o sintam. Gosto de chorar pelos outros, mais do que chorar por mim mesma. Gosto de ficar quieta em meu lugar, mas mesmo assim sorrio e falo com todo mundo (porque preciso ser amada). Gosto que gostem de mim. Odeio brigas mas adoro brigar. Tenho tendência em buscar o que me faz mau, como um vício. Gosto das coisas erradas, do proibido, do feio, do mau. Quando sou um monstro, gosto de olhar nos olhos das pessoas e ver seu desespero enquanto eu sorrio, gosto de assustá-las, de ameaçar, de brincar com seus sentimentos. Porque eu aprendi muito bem a ser má. Infelizmente minha bondade, minha carência, meu amor, meu coração necessitado, minha preocupação e minha sensibilidade, enfim, meu eu, me impedem de ser assim.

Gosto de crianças e sinto um ódio profundo pelos adultos que as levam pela mão. Gosto das mulheres e sinto um ódio profundo pelos homens que as acompanham. Gosto da criança que eu não fui e tenho medo de crescer. Sinto como se já tivesse vivido muitos e muitos anos, quando tenho só 18 anos. Sinto como se não tivesse vivido nada, nada de bom.

E eu carrego agora de um lado para o outro essa coisa pesada e feia, se tudo não estivesse tão bagunçado talvez eu achasse esse lugar logo, mas não... Minha casa parece que nunca foi nem um pingo arrumada.

Nenhum comentário: