"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 13 de janeiro de 2013

O que nos é tomado



Eu costumava ser uma garotinha qualquer. Eu costumava esperar ansiosamente as segundas-feiras e os elogios pela minha suposta inteligência. Eu costumava ignorar o fato de eu estar atrasada na escola e ser um ano mais velha do que meus colegas e que isso era um pouco incoerente com os elogios que eu recebia. E tudo estava bem. Ou ao menos tudo parecia bem. Se algo estava errado, não sabia dizer onde. Talvez um probleminha aqui ou ali. Um irmão ciumento que me espancava um pouco de mais, que ria de mim e aos poucos ia contribuindo para destruir minha autoestima. Nada de especial. Quem nunca brigou com seus irmãos? Eu costumava amá-lo apesar de tudo. Talvez pais um pouco ocupados de mais com seus próprios universos para tentarem entrar ou se interessarem pelo meu. Tudo bem. Quem nunca sentiu falta de alguém? Eu costumava amá-los apesar de tudo. Quem sabe amigos abusivos, que riam, que criticavam maldosamente tudo o que você era ou pensava ser, amigos que precisavam te diminuir para se sentirem bem com eles mesmos. Mas tudo bem. Quem nunca se sentiu injustiçado? Ou sozinho, com medo, confuso, deprimido.

Quem nunca pensou em se matar?

O que eu deveria fazer? Quem eu deveria ser? Minhas escolhas, escolhas erradas. Erradas? O que é certo? Não havia ninguém ali, nunca houve. Sempre estivesse tão sozinha. Como podem esperar que isso desse certo? Me olho no espelho, sempre espelhos, sinto meu monstro se contorcendo de prazer dentro de mim enquanto tudo o que eu sou chora de dor. Minha culpa. Minha culpa. Minha culpa. Meu monstro tem sede de vingança, de justiça, afinal qual a diferença? Eu preciso pousar minhas mãos em meu peito porque tenho medo que ele saia de dentro de mim e, enfim, me destrua de vez. Eu preciso segurar minha cabeça entre as mãos, porque dói, e o mundo está se desmanchando bem diante de meus olhos. Está tudo sempre tão errado. Vocês não percebem? As coisas nunca são como deveriam ser, tudo o que eu encontro em meu caminho são mentiras. Mentiras que me manteram vivas até hoje, mas que agora queimam aqui dentro e eu preciso desvendá-las. Eu preciso. Está tudo errado de mais. Eu só quero que tudo isso acabe, eu só quero um fim, uma solução, um milagre, qualquer coisa.

Eu costumava ser só uma garotinha. E por que a vida tirou isso de mim? Por que eu não pude crescer normalmente e saudável? Por que algo deu tão errado no meio desse processo? Há tantas pessoas, tantas coisas ruins, e nem por isso elas deixam de se tornar pessoas perfeitas, perfeitamente normal. Eu não. Eu quebrei. Eu dei errado. Eu sou um fracasso. Um projeto de pessoa que nunca irá se realizar. E só. Eu costumava ser feliz, ou ao menos costumava acreditar ser feliz. A vida era simples e bonita. E ao longo dos anos tudo passou a ser cada vez mais escuridão, dor e raiva. Onde está? Onde está aquela garotinha? Não consigo sentí-la, não consigo... Eu olho para dentro de mim e tudo o que eu vejo é esse maldito monstro. E ele me olha de volta. Seus olhos brilham. Ele não vai embora. Eu sei disso, ele sabe disso, todo mundo sabe disso.

Sabe, eu costumava ser alguém. Inteira e única. Agora o que me resta são fragmentos, migalhas e só.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Uma lutadora de pensamentos



Pensamentos. É tudo uma questão de treinar sua mente, é o que eles dizem. Diga para si mesmo, diga em alto e em bom som, o quão bom você é, o quão bom você pode ser, o quão longe você já chegou e ainda pode chegar, essas coisas. Eu posso. Eu consigo. E treinar e treinar. Dizem que uma verdade é só uma mentira dita um número suficiente de vezes para que as pessoas passem a acreditar nela. Então se você repetir para você mesmo coisas boas por tempo suficiente, talvez elas se tornem reais para você. Talvez você realmente acredite que é alguém, que é útil, que faz a diferença de alguma forma. Talvez. Eu não acredito nessas coisas, não consigo acreditar, eu gosto da minha sinceridade destrutiva, da minha realidade deprimente. Não gosto de mentiras, e gosto menos ainda quando elas se tornam verdades. Mas é difícil. É difícil viver sem acreditar em si mesmo, é difícil dar um passo a frente quando você sabe a probabilidade das coisas darem errado, é difícil quando você não sonha, quando você não se deixa levar por esperanças bobas.

Quem pensa de mais, quem sabe de mais, faz de menos. E a vida é mais feita por atitudes e ações do que por pensamentos. Mas são os pensamentos que nos movem, não? São eles que dão ou tiram nossas esperanças, são eles que ponderam os caminhos e tomam as decisões. Precisamos deles, mas eles não podem se tornar nossas amarras, eles precisam ser o que nos empurra para frente, para crescer, para evoluir. Infelizmente muitas vezes eles nunca deixam de ser nossas amarras. Nos colocando para baixo, nos confundindo e enchendo de dúvidas. É preciso treiná-los, para que não mintam nem para cima nem para baixo, para que digam realmente a verdade. Sem exageros para nenhum dos lados. O equilíbrio é sempre o lado mais difícil. Todo mundo sabe disso. Eu estou muito longe de alcançar o equilíbrio. Minha mente é quase totalmente incapaz de se sentir bem comigo mesma. Odeio minha aparência, odeio meu jeito, odeio meus defeitos, odeio meu reflexo no espelho, odeio ficar sozinha, odeio meu descontrole, minha impulsividade destrutiva, odeio meu vazio, odeio machucar as pessoas a minha volta.

Minha mente é o tempo todo povoada por pensamentos dos mais negativos possíveis. É uma guerra diária manter o bom humor, tentar ignorar as vozes que me julgam o tempo todo. Há dias que eu simplesmente já acordo chorando e permaneço assim por um bom tempo, porque há coisas erradas de mais em mim mesma e eu gostaria de poder acabar com tudo do jeito mais fácil. Mas eu não posso. Ninguém pode (apesar de muita gente fazer). A vida não é fácil para ninguém, e desistir nunca é uma opção. Então eu tento enxugar as lágrimas e não fazer nenhuma besteira, me afasto dos espelhos e me escondo em minha cama, ou em roupas largas. As vezes passa com o tempo, as vezes não e o dia inteiro é um inferno. Mas eu estou sobrevivendo. Não tento dizer para mim mesma que eu sou uma boa pessoa e tudo o mais, não tento ficar repetindo isso até que se torne uma "verdade" para mim e eu passe a me enganar. Mas as vezes, quando o dia está muito ruim, eu tento pensar em mim como uma lutadora. Tento reprimir a Sabrina vítima e me viro para meu monstro como uma lutadora. Eu sou uma lutadora, digo para ele. E é verdade, porque eu estou lutando, ele também está lutando. É uma guerra. E permanecemos assim, até que ele volte para seu lugar ou até que ele me derrube e assuma o controle.

Mentirinhas verdadeiras, verdades de mentira



O que é a verdade? Se não uma mentira acreditada. Fecho meus olhos e nesse universo incerto, tudo pode ser certo. Quem liga? Abro os olhos, busco um chão. Realidade? Oh, realidade, não me deixe, não me deixe. O país das maravilhas não é tão maravilhoso assim. Não tem graça. Fecho os olhos. Rezo para um deus que não acredito, rezo para a terra, para o ar, para a vida, que seja. Me tirem daqui. Meus ouvidos sangram de mentiras, minhas mãos tremem, não suportam o peso da realidade. Onde estou? Cores e luzes. Estou em um túnel, em um carro, em alta velocidade. O vento bagunça meus cabelos e nesses pequenos instantes eu me sinto dona do mundo. E está tudo bem. Porque o vento é bom e a velocidade da a sensação tão desejada de fuga. A fuga. Abro os olhos e percebo meus punhos cerrados. Cada vez mais cerrados. Seguro meu celular em uma das mãos e tenho a impressão que ele vai se quebrar no meio se eu continuar fazendo toda aquela força. O problema é que um vulcão acabou de entrar em erupção aqui dentro. E ninguém entende, ninguém vê, ninguém sente o cheiro de fuligem e a fumaça que irrita meus olhos. Irrita. Estou irritada. Muito, muito irritada. Eu avisei para eles que não sei lidar com a raiva, avisei para todo mundo. Agora estou em cima do meu irmão, socando-o em todos os lugares que alcanço.

Eu avisei.

Eles me seguram, não sei quem, não sei como. Me livro de todo mundo, saio correndo. Fecho os olhos. Há lágrimas para todo o lado. Quando os abro de novo minha cabeça esta sendo arremessada na parede do meu quarto pelo meu monstro, diversas vezes. O suficiente para me deixar muito tonta, sentindo muita dor. Eu mereci. De novo eu só paro quando me seguram. Quando enfiam um calmante goela a baixo. Eu mereci. E eu deveria ter feito mais, sussurra o monstro dentro de mim, muito mais. Sinto uma ameaça ainda muito presente, mais que vai ficar para depois, para mais tarde. Quando o efeito do calmante passar, quando a poeira abaixar, quando todo mundo pensar que já está tudo bem. É assim que meu monstro trabalha. Não está tudo bem. Tenho medo de mim mesma, tenho medo do meu monstro. Tenho medo mais do que pode ser verdade do que é verdade de fato. Não consigo deixar de pensar que se minha mente acredita, então existe, e eu posso ver e eu posso sentir, então como convencer minha mente que isso é uma mentira, se for realmente mentira? É impossível. Por que eu vejo, eu sinto, e é essa a definição para realidade. A verdade me confunde. Não consigo enxergar suas delimitações, onde ela opera, onde trata-se só se uma brincadeira da minha mente. E mesmo as brincadeiras da minha mente, são reais! Não são? Ao menos para mim, quero dizer. Mentiras?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Quando o Sol se põe



A noite tudo fica um pouco mais complicado... O que é uma pena porque eu sempre amei a escuridão. Lembro, quando era criança, de passar horas acordada de madrugada olhando para o céu, em busca de uma estrela que nunca existiu. Hoje o encantamento da noite ameaça ser extinto. A paranoia. Cada som, por  mais bobo ou insignificante que seja, adquire um significado. E pode apostar, não é um significado dos bons. Os sons ou a ausência dele (que pode ser muito mais assustador) são sempre os gatilhos, imagino. O resto meu cérebro se encarrega de fazer tudo sozinho. Tem alguém atrás de mim. Tem alguém atrás de mim. Não é só um pensamento, não é só uma sensação, é uma certeza. Quase posso ouvir sua respiração, ver sua mão se erguendo para tocar meu ombro. Viro abruptamente para trás afim de pegar quem me persegue. Ninguém. Mas eu sei que quando me virar, ele vai voltar e de novo eu terei a sensação de ouvir sua respiração, e sentir sua mão. Não demora muito para eu ficar olhando para trás a cada 5 segundos, não importa onde eu esteja. Me sinto uma idiota enquanto o pânico só cresce dentro de mim.

Mas isso só acontece quando eu estou em casa. Quando eu estou fora de casa a tortura é um pouco pior. Estou eu lá, conversando com alguém. E a sensação vem. Tem alguém atrás de mim. Tem alguém atrás de mim. Tem alguém atrás de mim. Mas eu não posso virar para checar, porque não quero que ninguém perceba que eu tenho essas paranoias ridículas. Então me forço a continuar a olhar para frente, esperando a pessoa atrás de mim tocar meu ombro (ou me matar). Meu olhar se perde rapidamente e é fácil deixar de prestar atenção no que minha companhia esta falando. Só consigo pensar na pessoa atrás de mim. Por que ela está atrás de mim e o que vai fazer. E quando vai fazer. E eu preciso estar preparada, mas tenho que continuar fingindo que estou ouvindo e que está tudo bem, quando não está. E o pânico fecha minha garganta e faz meu peito doer.

Eu costumava ter muito isso no metro. Sentia que todas as pessoas estavam olhando para mim, e pensando coisas ruins de mim e querendo fazer coisas ruins comigo. É, talvez eu seja um pouco egocêntrica mesmo. Agora a noite me assusta e me deixa paranoica. Nunca tive medo do escuro, isso é ridículo. Tem outros lugares também que me deixam especialmente nervosa. Como banheiros por exemplo. Banheiros são sempre assustadores, sem discussão. Lembram psicopatas e monstros. Toda vez que vou tomar banho minha mente é bombardeada com monstros que eu tenho certeza que vão aparecer assim que eu fechar os olhos para enxaguar o shampoo do cabelo. É desesperador. Ai quando eu abro os olhos e vejo que não tem nenhum monstro, minha mente não se convence não, e me obriga a chegar em todos os cantos do banheiro para ver se ele não está escondido, esperando eu fechar os olhos de novo. Deprimente. Essas coisas fariam sentido se eu tivesse 4 anos de idade, não 20.