"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Psicose



Continuei andando, mesmo sem sentir estes pés como sendo meus e o mundo estando, aos meus olhos, turvo e irreal. Está tudo bem, repito para mim mesma. Tenho vontade de estender os braços e tatear meu caminho a frente, como uma cega, isso faria eu me sentir um pouco mais segura, não sei direito porque. Mas eu me seguro para não fazer isso, não quero que as pessoas na rua me olhem como se eu fosse louca. Eu não sou louca, eu tenho uma doença, é diferente, certo? Tento não ter medo. Vai ficar tudo bem. Sinto vontade de chorar às vezes. Vai ficar tudo bem... Eu só queria alguém que visse e sentisse o mundo como eu agora, só para eu não me sentir tão sozinha. Vai ficar tudo bem, eu só não posso entrar em pânico. O mundo vai voltar ao normal, não vai? Eu sei que vai.

Tento não olhar para meu próprio corpo, se eu olhar eu sei que minha mente vai se desligar mais ainda do mesmo. Tento me concentrar em objetos a minha volta, me distrair de alguma forma de todas essas sensações, mas os objetos dançam ao meu redor, sutilmente, de um lado para o outro, para cima e para baixo, se aproximam e se afastam. Me sinto Alice no País das Maravilhas, em um sonho bizarro ou em algo do tipo. Nem fechar os olhos para encontrar refúgio eu posso, porque a cada vez que eu pisco, minha consciência ameaça se apagar. E eu não sei por quanto tempo ela ficaria desse jeito caso acontecesse, como já aconteceu. Pareço tão perto de perder o controle...

Nada do que eu vejo é o que é, nada do que eu sinto é o que é e talvez, um dia, nada do que eu ouço também. Quem pode me garantir o contrário? Tento não ter medo, e seguir em frente. O mundo desmanchando bem diante de meus olhos. Vai ficar tudo bem. É só que, às vezes, eu tenho vontade de chorar. Eu só queria ter controle sobre meu próprio corpo, ou ao menos sentir que ele me pertence e que eu estou segura aqui dentro. Mas não estou. O mundo é estranho e hostil, não tenho certeza de nada, a não ser que existem monstros lá fora. E aqui dentro.

Saudade



Sinto sua falta, eu acho. Não uma saudade normal, algo dilacerante, algo destrutivo, sei lá. Queria que seus olhos só vissem a mim, isso é um pouco louco? Talvez... Eu preciso parar com essa coisa meio simbiótica, essa tendência a me agarrar e não largar nunca mais. O que posso fazer? Sinto sua falta. Não, não, digo para mim mesma, está tudo bem, ela continua ao seu lado mesmo que não fisicamente. Por que tanta dor então? Por que esse vazio? Não entendo. Sinto sua falta. Às vezes você parece tão distante que os momentos em que estávamos tão perto já parecem fazer parte do passado. Isso é verdade? O desespero se aproxima e eu preciso te ter de novo, só para saber, só para ter certeza, só para eu poder respirar em paz novamente. Acho que acabei por me tornar meio que vítima da sua insegurança e inconstância, e mesmo que você tenha mudado (eu realmente acredito que você mudou muito nos últimos dois anos), eu ainda temo pela volta da pessoa que eu conhecia antes de tudo acontecer.

Você vai continuar ao meu lado? Te observo de longe... Aonde quer que você vá você é o centro das atenções, sociável, falante, engraçada e inteligente. Eu sumo em meu canto, não converso com ninguém, não sou engraçada nem sei falar nada inteligente. Nós somos tão diferentes, por que estamos juntas? Eu não sei, só sei que a cada dia eu te quero mais e mais. Gostaria de congelar alguns momentos, gostaria que o tempo não os estragasse... Sinto sua falta. O que posso fazer? É só que às vezes você parece tão distante... Queria ler por trás de seus olhos, entender seus sentimentos, sonhos e medos. Me deixe entrar, quero sussurrar em seu ouvido, mas as palavras morrem antes que possam se formar em minha boca. Eu te amo. Isso eu posso dizer e eu torço para que seja o bastante, para que diga tudo o que eu quero te dizer. Você diz que me ama também, eu te abraço e o mundo está justamente como deveria estar.

Por favor, nunca vá embora.

sábado, 8 de setembro de 2012

O passado que te persegue



O passado está logo ali, na esquina, no amanhecer, no entardecer, no presente e no futuro. Ele quer comandar a sua vida, limitar suas escolhas, destruir suas certezas. Ele não vai desistir. Dia após dia, não há escapatória, não há alternativa. Ele virá. Ele sempre vem. E você precisa enfrentá-lo, sim, enfrentá-lo todos os dias. Você não pode mais tapar os olhos e fingir que ele não existe, que não está destruindo sua vida aos poucos, porque ele está. E vai continuar caso você não faça nada. Por outro lado você não sabe ao certo o que fazer, como lidar com tudo aquilo, você se sente impotente porque o que vem lá de trás, vem com tudo, com todas as armas, te cerca por todos os lados e faz você se sentir como uma criança indefesa como há muitos anos atrás. É para isso que ele ainda está vivo, para te destruir, para te deixar para baixo e te impedir de pensar no presente e no futuro.

Você precisa se mexer, você sabe disso, há um bom tempo você sabe disso. Os anos de fuga e negação acabaram, a verdade bate a porta, te soca bem no peito, abre seus olhos à força. As lágrimas escorrem pelo seu rosto e não há ninguém no mundo que pode te ajudar. Solidão, dor, escuridão. Você pode gritar, chorar, reclamar, não importa, o passado vai continuar bem ali e você precisa aprender a lidar com ele de alguma forma, seja ela qual for. E é nesse momento que algumas pessoas se perdem. Há diversas formas de se lidar com algo difícil, infinitas, de verdade. Álcool, drogas, automutilação, enfim, vícios em geral. Você pode se perder muito, muito mesmo, mas há outras alternativas, sempre há, por mais que as vezes essas sejam as mais difíceis de serem vistas no pequeno horizonte proporcionado pelo passado.

Você pode nunca vê-las, você pode seguir direto para as mesmas sem nem pensar no que sempre parece o caminho mais fácil e prazeroso. O que faz o caminho de uma pessoa ser tão diferente da de outra? Não sei. O acaso, personalidade, vivências, quem pode dizer? Tudo isso, nada disso. De qualquer jeito, somos todos sobreviventes, ao menos enquanto continuamos de pé frente a tamanha dor. Não acredito que alguns são mais fortes que outros, não... Diferentes, sim, não melhores ou piores. Cada cérebro encontra seu jeito de se lidar com o que quer que te assombre no passado, seja esse jeito saudável ou não. Não acho que isso defina força emocional, uma pessoa viciada em crack, com a vida arruinada pode ser extremamente forte e alguém que nunca colocou sequer um gole de álcool na boca, pode ser extremamente fraco. Cada um é cada um e por mais que as experiências pelas quais você passa ajudam a definir quem você é, as mesmas não funcionam necessariamente como sentenças de que você será isso ou aquilo, ou passará a vida sofrendo ou o que quer que seja. É importante saber a vida é feita, acima de tudo, de escolhas e que sempre há outra alternativa, por mais que você não a esteja vendo.

Tédio e expectativas para esse semestre atípico



Os dias passam lentamente, um exatamente igual ao outro. Me sinto paralisada no tempo e espaço, enfurnada em meu pequeno quarto quente e sufocante. Impossível não bocejar, difícil sair da cama de manhã. A gente sofre com o muito, mas se esquece que o pouco é quase tão nocivo quanto ele. De vez enquanto alguém interrompe minha pseudo-paz, ou tédio, escancarando a porta do meu quarto por alguns momentos, geralmente para dizer alguma besteira qualquer. Meu coração dispara como se um ladrão estivesse mirando com sua arma em minha cabeça. Um fluxo de pensamentos repetitivos toma minha mente. Não, não, não, não, não. Tenho sérios problemas com contato social. Estou muito melhor do que estava antes da internação mas continuo sendo um macaco no que diz respeito as relações sociais. Tenho medo de gente, não posso evitar. Tenho medo especialmente de lugares com muitas pessoas, me sinto intimidada, julgada, observada, é assustador.

De um jeito ou de outro eu preciso fazer algo da minha vida. Não é saudável, de forma alguma, ficar tanto tempo sem fazer nada. Foram só duas semanas fora da clínica sem fazer nada especificamente e eu já sinto uma dificuldade enorme para começar qualquer coisa. O desânimo toma conta de tudo e então você percebe que passou os últimos dias fazendo absolutamente nada, a não ser coisas inúteis na internet. Me sinto mal só de pensar em quanto tempo eu estou perdendo por causa dos meus problemas psiquiátricos. Eu já costumava me sentir atrasada na escola por ser um ano mais velha do que meus colegas na mesma turma, agora então...

Vai ser um semestre inteiro só de atividades extra-curriculares, quase passa-tempos se comparados a faculdade em si. Cursos e mais cursos onde a exigência é mínima ou inexistente, vai ser um semestre bem estranho, quer dizer, já está sendo. Justo para alguém como eu que adorava se sobrecarregar de coisas para fazer, e responsabilidades e etceteras... Bom, a gente tem que se adaptar com o que a vida nos dá. Hoje, minha faculdade está trancada e eu não tenho como voltar até o semestre que vem, então vou fazer o que antes não restava tempo para. Preciso me concentrar no meu tratamento também, também não, principalmente. Ah! Sim, as pessoas... Tenho medo de salas de aula, ou classes. Odeio aquele momento definitivo em que você precisa abrir a porta da sala e entrar e todos os outros alunos já estão lá dentro, ou seja, TODOS vão olhar para você. Só de pensar me dá arrepios, quase desisti de vários cursos só por causa desse maldito momento. Sim, o tratamento. Preciso perder todos esses medos idiotas e essa falta de vontade de enfrentá-los. Bom, tenho um semestre inteiro pela frente.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Medos



Quando se começa algo novo é natural termos medos. O medo é natural, se render à ele não. Tenho muitos medos... Medo do que as pessoas vão pensar quando descobrirem que sou quem sou e passei pelo que passei, medo de não me encaixar em qualquer ambiente ou grupo de pessoas, medo de nunca conseguir falar o que quero, penso ou sinto, medo de olhar nos olhos, de ser julgada injustamente. Tenho medo da injustiça, claro, tenho medo de pessoas más, de homens, principalmente. Medo de lugares muito cheios e lugares muito vazios, medo de dormir de noite quando todo mundo já foi dormir, tenho medo de não ser levada a sério, de gente gritando perto de mim ou comigo, tenho medo de pegar metrô, ônibus e táxi, tenho medo de pessoas perto de mais ou do toque de um estranho. Tenho medo das coisas que vejo e que não deveria ver, tenho medo das lembranças, tenho medo de qualquer coisa que possa me lembrar coisas ruins, tenho medo de certos tipos de olhares e formas de falar. Tenho medo de viver, de perder alguém importante, de ser abandonada ou me sentir abandonada em qualquer momento.

E no entanto a gente precisa continuar de alguma forma. Eu fujo das pessoas, fujo de muitas situações que me fazem tremer de nervosismo só de pensar, mas mesmo assim, nunca me rendi a uma cama 24 horas por dia... Imagino que isso seja bom. Mas preciso de mais coragem. Coragem e mais coragem... e força, muita força. É difícil, fico repetindo o tempo todo que é difícil, mas mesmo assim sinto que as pessoas a minha volta não entendem. Talvez elas não devam entender mesmo. Ontem pensei que nunca mais iria conseguir sair do banheiro porque o medo me tomou de tal forma que eu pensei que iria morrer ali mesmo. É algo inexplicável que te tira quase todas as alternativas a não ser aquelas consideradas autodestrutivas. Você PRECISA bater a cabeça na parede porque se não aqueles pensamentos nunca vão te deixar em paz, você PRECISA se arranhar, se bater e se cortar. Lutar contra essa "necessidade", quando sua mente se torna um caos incontrolável, é muito difícil.

Mas as pessoas não entendem. Elas pensam que você só precisa se esforçar mais um pouquinho, pensam que você não está fazendo o bastante, que é sim possível controlar isso ou aquilo. Não é assim que as coisas funcionam, mas te dizem tanto isso que para não criar mais atritos você abaixa a cabeça e concorda que vai se esforçar melhor da próxima vez. Fazer o que? Sim, sim, prometo que vou me esforçar. A raiva queimando em sua garganta. Prometo, prometo. Vamos mudar de assunto agora, vamos?

Diga a um daltônico que basta ele se esforçar para ver as cores certas, diga a um diabético que basta ele se esforçar que seu organismo vai conseguir lidar com o açúcar... É um absurdo. É assim. Entendem? Você não pode pedir para um bipolar se esforçar para controlar seus picos de humor, você não pode esperar que um depressivo saia da cama só pelo seu esforço ou mandar um esquizofrênico sair de um surto psicótico porque ele quer. Não é assim que as coisas funcionam.

domingo, 2 de setembro de 2012

2 anos




Já faz dois anos desde aquele dia em que você me beijou de repente e mudou minha vida. Eu te amo, mais do que nunca amei pessoa alguma. Eu realmente não sei onde estaria sem todo o seu amor, carinho e apoio. Obrigada por existir e estar em minha vida, por me aguentar nesses dois anos e não me abandonar nem em meio a minha pior crise. Estar com você é como viver em um mundo onde os problemas se tornam menores e superáveis, não importa o quão grandes inicialmente eles parecessem ser. Não! Estar ao seu lado é ter forças para suportar o pior problema do mundo, a pior dor, o pior sofrimento, e não torná-los menor, mas conseguir resolvê-los, mesmo que essa "resolução" seja só, inicialmente, temporária.

Quero passar todos os dias da minha vida ao seu lado, não me importo se isso possa parecer um pouco precipitado. Eu senti isso desde a primeira vez que seus lábios tocaram os meus, foi como se algo finalmente se encaixasse, como se minha vida tivesse começado a fazer sentido. Você sentiu algo parecido? Sempre me pergunto... Sabe? Que aquele momento foi especial? De um jeito ou de outro, queria me desculpar por não ser a melhor namorada do mundo, por não poder ser tão forte o tempo todo. Você que me apoia tanto... E eu sempre precisando cada vez mais de apoio. O que eu mais queria era poder ser um pouquinho mais como você, mais forte, mais independente... Queria ser a melhor namorada do mundo, só para você.

Eu espero que um dia eu possa te fazer feliz como você me faz. Te amo muito. Feliz dois anos de namoro.