A verdade é que você não acredita em mim, nem ao menos deve gostar de mim, é só seu trabalho... Que diferença faz eu morrer ou viver? Não sei porque eu confio em você... O maior problema da minha vida é que eu acabo confiando nas pessoas. Não sei porque ainda faço isso. Seria tão mais fácil se eu estivesse mentindo não é? Se tudo não passasse de algo que minha cabeça inventou. Minha vida inteira foi uma mentira, posso mentir agora se é isso que você quer, e dizer que está tudo bem, que minha vida sempre foi linda e maravilhosa, que eu faço terapia duas vezes por semana porque eu sou idiota, que eu tomo todos esses remédio porque eu sou idiota também. Posso dizer se você quiser que eu sou muito feliz, que eu me corto para chamar atenção, que eu choro baixinho para ninguém ouvir porque... sei lá, porque eu gosto da sensação das lágrimas escorrendo pelo meu rosto e o desespero lento de não saber o que fazer. É isso que você quer ouvir? Posso entrar sorrindo na sua sala e sair sorrindo, e você nunca mais vai ter acesso a esse buraco na minha alma, posso fazer você acreditar que está tudo bem quando não está, posso facilmente planejar minha morte enquanto faço você acreditar que eu estou melhorando. Mas eu decidi ser sincera. Decidi que não mentiria para você, decidi que deixaria você me ajudar.
Não sei porque fiz isso... As pessoas durante a minha vida inteira me enxergaram mais como monstro do que como vítima. A Sabrina é egoísta e nojenta, não confie nela, ela sorri e abaixa a cabeça, faz todo mundo acreditar que ela faria de tudo para ser amada, mas no fundo existe tanto ódio ali dentro. Você é um montro, você é um montro, você é um monstro. Porque você chora? Pensa que assim você vai conseguir fazer alguém ter pena de você? Não vai... Você pede por isso. Você merece isso. A Sabrina é tão feia, tão patética, é legal rir dela e ver como ela se encolhe contra a parede. É legal puxar seu cabelo, falar sobre sexo e obrigá-la a fazer coisas, o desespero de seus olhos da lugar a uma indiferença fria, ela parece não se importar, parece estar desligada, mas então, de repente, um fluxo de energia faz com que ela saia correndo, todo mundo ri, as vezes saem correndo atrás dela, as vezes a deixam em paz, para depois a pegarem de novo, outro dia, outra hora. E ela não desiste. Continua saindo de casa, continua tentando fazer amigos, continua tentando se agarrar desesperada a sua infância já a muito perdida. Aos 15 anos ainda quer brincar de esconde-esconde, de boneca, de bola... Tem medo dos garotos, quanto mais velhos, piores. Mas ela gosta deles, apesar de tudo, ela quer se encaixar, quer desesperadamente ser como eles, mas não consegue.
Ela é tão estranha... Ouviram ela chorando aquele dia? Parecia que ia morrer sufocada. Porque? Porque? Porque? É esquisito o jeito como ela continua indo nos mesmos lugares e encontrando com as mesmas pessoas... Tão auto-destrutiva. Porque ela faz isso? Parece pedir pela dor. Ninguém sabia que ela havia escolhido o inferno fora de casa ao invez do inferno dentro de casa. A verdade é que não existe lugar no mundo para ela. Onde quer que ela vá isso a persegue. Ela é tão estranha... Chora por nada, grita com todo mundo, não divide nada com ninguém, não confia em ninguém, não reage...
Você está bem? Estou. Mesmo? Sim. Não, nada está bem. Mas desde cedo eu aprendi a sorrir apesar de tudo, porque parecer bem é milhões de vezes mais importante do que realmente estar bem. O primeiro sorriso que um bebê dá é imitando um adulto que lhe sorrir... Então, se um adulto lhe sorrir mesmo estando fazendo a maior atrocidade do mundo, o bebê aprende a sorrir e continua sorrindo durante o resto da vida. Se tem uma coisa que eu aprendi muito bem a fazer ao longo da vida é sorrir. Hoje, quando as pessoas elogiam meu sorriso, eu me sinto a pessoa mais falsa da face da terra.
Não... Eu nunca estive bem. Mas quem acreditaria na garotinha egoísta, que briga com os amiguinhos, não divide nada e gosta de brincar sozinha? Criança adora inventar coisas, besteira, ela é exagerada, chora por nada. É só mais uma criança mimada.
As pessoas se tornam quem são pelas suas vivências ao longo da vida, mas algumas acreditam que o que aconteceu de ruim a elas era uma punição por elas serem quem são. Eu sou egoísta e má, por isso fazem isso comigo. Quando o certo é: fizeram isso comigo por isso sou "egoísta e má". Esse pensamento errado gera uma culpa sem tamanho nas vítimas, elas deixam de culpar seus agressores para culparem a si mesmas, muitas podem até desenvolver compaixão por quem as agride, como se essa pessoa estivesse fazendo isso para o próprio bem da vítima, para ensiná-la a ser uma pessoa melhor. Criá-se um relacionamento doentio entre a vítima e o agressor, onde quem agride não se sente culpado e quem é agredido toma a culpa para si. Por isso é tão difícil para uma vítima quebrar o silêncio do que acontece com ela, o sentimento de vergonha e culpa é tamanho que prefere-se manter as coisas como estão. Quando essa pessoa sente-se encorajada o suficiente para se abrir é importante que ela seja ouvida, mas muitas vezes o que ela diz é tão inimaginável e cruel que se pergunta se aquilo realmente aconteceu, a própria vítima se pergunta isso. Como pode acontecer? Como? Como alguém é capaz disso?
As memórias são confusas e doloridas e não sei se eu quero revivê-las. Mas como eu disse, se você preferir, se para você assim for mais fácil. Eu digo que nunca aconteceu nada, que eu sou feliz, que está tudo bem, talvez assim as pessoas a minha volta possam se sentir melhor. Seria mais fácil, não é? Odeio dar problemas para as outras pessoas, odeio ser um peso, odeio ser egoísta. Eu realmente deveria calar a boca, me manter sempre fechada aqui no meu mundinho, assim eu não dou trabalho nem nada. Odeio ser egoísta, odeio.
3 comentários:
oooi? Vejo seu blog todos os dias*-*
mt bom
li tudo nossa ;o
olá! ^^ obrigada por lerem! Fico muito feliz!
Voltem sempre que quiserem.
bjos!
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