"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Comparações, preconceito e superação




Quando falamos sobre problemas, traumas e medos, uma hora ou outra alguém vai lhe dizer que você ao menos está melhor do que alguém que não tem uma perna, um braço, é cego, surdo, etc. Se uma pessoa com deficiência física consegue se superar, espera-se que você, com deficiências que não podem ser vistas, também se supere. É verdade que pessoas que não andam, não falam ou o que quer que seja sofrem muito... Mas não acho que se possa comparar uma coisa com a outra. Alias é impossível comparar a dor de uma pessoa, seja ela qual for, com a dor de outra pessoa, simplesmente porque elas são diferentes.


Um deficiente físico não é um doente. Ele simplesmente é diferente, ninguém olha para ele e diz: "Deixe de frescura! Faça sua perna crescer de novo!". Agora, quem tem uma deficiência psiquiátrica é doente, precisa de tratamento, remédios, etc, etc e etc... Geralmente tratamentos para a vida toda, como um diabético, não tem cura. E mesmo assim, insitentemente, as pessoas olham para esses doentes e insistem que eles podem se curar. É só se esforçar! É só querer! Como um milagre. Pensa-se que o doente mental é fraco, preguiçoso, fresco, exagerado.


Acho engraçado como as pessoas tratam alguém que possui um transtorno psiquiátrico. Mais uma vez, não vejo ninguém falando para um diabético para ele deixar de frescura, para ele parar de tomar seus remédios porque é "besteira". O fato de nossa doença não aparecer em um exame de sangue ou em um raio-x não a torna menos cruel e assustadoramente real. É um erro alguém saudável pensar que entende alguém doente. Ao se comparar com alguém doente, a pessoa saudável comete o equívoco de achar que é possível melhorar por si mesmo, que as coisas não são tão ruins assim... Logo, ao ver que o doente não consegue simplesmente se curar, diminuí-se essa pessoa, ela passa a ser vista como fraca, preguiçosa... Afinal, a pessoa saudável conseguiria facilmente melhorar sozinha! Ninguém para pra pensar que é justamente por isso que o saudável é saudável e o doente é doente.


Mais uma vez... Não é prepotência, não é querendo diminuir a capacidade alheia de compaixão... Mas é fato que nenhuma pessoa é capaz de dizer que entende a dor do outro, o fato do outro ser diferente e ter vivido fatos diferentes dos que você viveu já torna impossível você ter sentido o mesmo que essa pessoa e por isso entendê-la. Se entre duas pessoas saudáveis e parecidas isso é impossível, então entre um saudável e um doente existe um abismo intransponível. Eu diria que é perigoso se comparar aos outros, quase sempre em uma comparação há um quê de preconceito, um quê de "eu sou melhor".


A verdade, que eu mesma tenho dificuldade de aceitar, é que não existem fracos e fortes, não existe pessoas melhores que outras... O que existe é pessoas diferentes, que lidam diferentes com diferentes fatos da vida.

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