O futuro é algo muito incerto para mim, quase inexistente. Não costumo funcionar pensando muito além do que daqui a um ano. Aprendi a pensar dessa forma quando planejava suicídio, daqui a seis meses, daqui a seis meses, eu pensava aliviada, sem nem desconfiar o quanto minha vida ainda iria rodar em meros seis meses. Seis meses passaram. E para passarem eu tive que aprender a pensar em um tempo menor que esse. Se daqui a seis meses eu vou me matar, de hoje até essa data o que eu vou fazer? Foi algo como ter uma sentença de morte, como aquelas brincadeiras do estilo "O que você faria se tivesse 24 horas para viver". Seis meses para viver.
Seis meses. O que eu quero fazer nesse tempo? Minha depressão me dizia para não fazer coisa alguma, só esperar o tempo passar. Mas se fosse só para esperar o tempo passar, porque eu não me matava no dia seguinte? Não sei responder... Na minha cabeça só fazia sentido me matar dali a seis meses, e assim ficou, sem que eu questionasse uma única vez. Hoje não deixo de pensar que seis meses poderia ser o prazo que meu cérebro estava dando para mim mesma para tentar me salvar. De qualquer jeito, com esse prazo estabelecido, meu coração se acalmou, como se finalmente eu tivesse descoberto a solução para tudo. A vida era fácil, a morte logo viria, estava tudo bem. Foi com essa calma, com essa certeza de que eu não duraria muito que eu pensei... Bom... Quero passar de ano, quero terminar a escola antes de morrer. Um grande objetivo dentro do prazo. Como é o terceiro ano, todo mundo vai estar prestando vestibular... Vou prestar também, não me importo muito em passar ou não, vou só prestar por prestar. Quero ser como todo mundo, quero uma vida normal... Nada mais normal do que prestar vestibular saindo da escola.
E assim as coisas foram acontecendo... Minha namorada surgiu na minha vida e eu não parava de repetir para mim mesma. Porque não? Porque não? Eu não tenho nada a perder, absolutamente nada. E as coisas foram acontecendo e acontecendo, descontroladamente. Eu nunca pensei que viveria tanto, estaria tão aberta e disponível para a vida pensando em me matar. Mas foi o que aconteceu. Não é algo muito normal imagino, não acontece nem de longe com todos os suicidas, pelo contrário alias.
Hoje ainda não consigo pensar a longo prazo. Parece que ainda existe uma barreira no tempo que não me permite pensar daqui a muito tempo, como se meu prazo ainda estivesse lá, só sendo adiado e adiado, porém firme e forte daqui a seis meses. O que eu quero da minha vida? Passar esse semestre na faculdade... Terminar minha iniciação científica. Só isso, quando isso estiver terminado, vou ter outro pequeno objetivo de vida, passar outro semestre na faculdade, terminar outro projeto ou o que quer que seja... E assim eu vou vivendo, literalmente um passo de cada vez, devagar, aos pouquinhos, meio que as cegas.
Visão de futuro é uma ótima qualidade, mas eu prefiro meus seis meses seguros e certos. Viver dói e se torna muito mais fácil de ser suportado quando parece não durar tanto.
2 comentários:
Esse post só nos faz ver como você é uma pessoa comum, Sabrina. Pensar a curto prazo é o que todos fazemos.
Aqueles que planejaram grandes mudanças futuras, a longo prazo, eram gênios e não pessoas comuns.
UHEUEHUEHEUHEUHEUHEUHEUH aeeee fala isso pra quem me cobra objetivos de vida
Postar um comentário