"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 30 de outubro de 2011

Para que as larvas existem?


Era uma vez uma pequena larva, lerda e feia, que andava pelo mundo perdida e sem propósito. Para que as larvas existem? Ela perguntava para todos os que cruzavam seu caminho e ninguém sabia responder. Para que as larvas existem? Nenhuma resposta, só olhares desviados e afastar de corpos tamanha sua feiura. E dessa existência triste e solitária ela se cansava dia após dia. Para que as larvas existem? Ninguém sabia responder. Havia algo nas outras larvas que ela não conseguia entender e acompanhar, como se elas soubessem de algo que ela não soubesse, como se elas sim tivessem um propósito e não quisessem compartilhar com nossa pequena larva perdida. Tudo soava muito injusto.

Dizem que deus criou todas as criaturas, para a larvinha deus parecia um tanto quanto maldoso, ela não conseguia ver motivos para existir. Porque as coisas eram do jeito que eram? Porque ela tinha que ser tão feia e tão lerda? Para que ela existia? E havia os pássaros, famintos, rápidos e belos, tentando de todas as formas comer nossa larvinha. Tudo soava muito injusto. Os pássaros são tão bonitos, todo mundo ama pássaros, eles cantam e pulam daquele jeito bonitinho, eles voam lá no céu, vêem as paisagens mais bonitas, sentem o vendo passando por suas penas... Como deve ser bom ser um pássaro. Os pássaros existem para ser feliz. Para que as larvas existem? Para serem comidas pelos pássaros, é isso. Que existência triste. Elas são tão feias, tão lerdas e sem nenhuma qualidade. Tudo soava muito injusto.

Todos os dias a larva se cansava dessa existência sem sentido e dolorosa, até que em uma manhã ela decidiu não se mexer mais, esperar a morte talvez, deixar que os pássaros a comessem viva. E ficou lá parada, durante tanto tempo que nem se lembrava mais. Talvez eu já esteja morta, ela pensava consigo, talvez se eu abrir meus olhos agora eu vou estar no céu. Larvas vão para o céu? Talvez não... Só consigo imaginar criaturas bonitas no céu. De um jeito ou de outro nossa larva de repente se sentiu inquieta, abriu os olhos em meio a uma escuridão, tentou se mexer e viu que estava cercada por algo. Talvez eu esteja na barriga de um pássaro. Se mexeu com mais força e viu uma fenda se abrir no que quer que estivesse a sua volta, seus olhos se machucaram com a luz forte. Acho que realmente estou no céu. A larvinha alargou a fenda, saiu pela mesma e se sacudiu tentando exercitar seus músculos enferrujados depois de tanto tempo de desistência, foi quando ela percebeu algo errado. Ela agora tinha pernas! E mais do que isso, havia duas coisas grandes e desajeitadas nas suas costas, leves e frágeis. A larvinha as mexeu insegura. Eram asas! Eram asas! Ora, vejam só.

Nossa pequena larvinha saltou do galho que estava, feliz da vida, batendo suas novas asas e experimentando o vento pelo seu corpo, a beleza da altura, a sensação da velocidade. Eu descobri para que as larvas existem... As larvas existem para virarem borboletas. E foi em meio as piruetas no ar que o sorriso na nossa pequena borboleta voltou a se apagar. Para que as borboletas existem? Qual o sentido da beleza, das asas, da velocidade? Se não serem comidas por pássaros?

Nenhum comentário: