As palavras se derramam no papel e eu não tenho como não me lembrar do sangue em meus braços. São as duas coisas mais certas em minha vida, tanto quanto dois e dois são quatro. Tudo bem escrever, tudo bem, você não machuca ninguém, nem você mesma. Mentira. Minhas palavras rasgam tanto quanto a navalha que eu uso em meus braços. Sei disso. Adoro isso. Imagino que assim as pessoas possam ao menos ter uma tênue ideia de como eu me sinto. Todos os dias. Tudo é caos a minha volta. Apesar das pessoas que me olham de fora só verem uma garota desajeitada com cicatrizes de mais, fumando de mais, sozinha de mais. Nada muito revelador. O país das maravilhas está dentro de mim e diante de meus olhos. E você não vai acreditar, mas ele não é nada maravilhoso. As palavras continuam, se não no papel, em minha mente, junto com enxurradas de sentimentos confusos. E eu vou contar uma coisa para vocês, até hoje eu tenho dificuldade de nomeá-los, os sentimentos, digo. Mas tudo bem. Continuo alheia a tudo, balançando meus pés e fumando meu cigarro. Às vezes ouvindo uma conversa alheia, me aborrecendo com a chatice alheia. Tudo bem, tudo normal.
Às vezes penso ouvir coisas, sons estranhos, chamados, vozes distantes tentando falar comigo, mas logo passa e eu penso é que só uma impressão. Só uma impressão, só uma impressão. É importante repetir isso para mim mesma um número de vezes suficiente para eu me acalmar. Quanto aos meus olhos, já estou acostumada. Vejo coisas se mexendo, se distorcendo, etc. Às vezes só ignoro, às vezes não consigo ignorar e meus olhos se perdem nesse universo volátil. Talvez você já tenha me pego com os olhos inquietos, talvez não, espero que não. Gosto de parecer o mais normal possível. Sou indiscreta de nascença, mas discreta de criação. Aprendi a não chamar atenção e aprendi muito bem, acredito, espero. Então se não fosse meus braços você não diria nada de mais de mim. Imagina? Eu? Esquizofrênica? Borderline? Internada? Eu ficaria surpresa, muito surpresa. Continuem surpresos. Eu e qualquer um com qualquer problema psiquiátrico somos iguais vocês. Só tomamos alguns remédios a mais e fazermos terapia. O que tem de mais nisso? E se temos crises... Oras, ninguém é de ferro. Em algum momento da sua vida, você também vai explodir, guarde o que eu estou te dizendo. E então você vai entender como é a nossa vida, e como é lutar contra isso diariamente.
As palavras, as palavras... Há tanto que eu quero dizer. Uma pessoa me disse para eu tomar cuidado com o que escrevo aqui, acho que não foi a primeira que me disse isso. Disse que eu me exponho de mais, que isso pode ser negativo para mim, pode trazer consequências ruins. Sim, eu me exponho de mais. Estou nua aqui para vocês, façam o que quiserem. E é assim que eu quero estar para o mundo. Como ele me ensinou a ser. Sincera, cruel, fria e direta.
4 comentários:
na minha opinião, a "preocupação" dessas pessoas com sua "exposição" é falsa. provavelmente elas têm algo a esconder e por isso criticam a nudez alheia. não se vista de hipocrisia. nunca.
Não irei me vestir =] não se preocupe.
Essa sua exposição é uma oportunidade das pessoas tentarem entender o que você sente, coisas que elas não têm coragem de te perguntar. E se escrever em seu blog te traz um alívio, mesmo que momentâneo, continue escrevendo! O que importa é você se sentir bem, não?
Sim, concordo... Gosto muito desse blog e de escrever aqui. E eu gosto da sensação de ser "ouvida" também, ter leitores, é como desabafar mesmo.
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