"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

segunda-feira, 25 de março de 2013

Mundo estranho e compulsividade



Fechar os olhos é sempre um pouco perigoso de mais. Meu universo líquido desaparece nos instantes de uma piscada e reaparece logo em seguida. O que real nunca é real o bastante para mim. Tenho medo. Tenho medo de fechar os olhos e um buraco se abrir sob meus pés. Tenho medo de fechar os olhos e meu monstro se desprender de mim, voar em direção ao meu pescoço e acabar com tudo. Engraçado, não? Não temo a morte, até a desejo muitas vezes, mas temo essa forma de desaparecer, de se desfazer em fumaça, de tudo o que é real se revelar irreal e fantasioso. Fechar os olhos é abrir a cabeça para uma nova possibilidade, para uma outra existência que eu não sei até onde é verdadeira ou falsa. Sonhos? Talvez. Alucinações? Às vezes. Onde estou? Quem sou? Não existe resposta para o mundo, não para o meu pelo menos. Tudo é um grande mistério, um grande jogo, às vezes estou ganhando, às vezes estou perdendo. Incertezas. Caos. Tenho medo de fechar os olhos e medo de mantê-los abertos. Os dois mundos são assustadores de formas diferentes. Para onde estou indo?

Às vezes fecho os olhos e não consigo abrí-los por um bom tempo, porque em minha cabeça o mundo a minha volta já se transformou, já deixou de ser o que era e eu tenho medo, do novo, do desconhecido. Besteiras. Quando finalmente consigo me livrar desses medos e abro meus olhos, tudo está igual. Mas tudo está igual de um jeito estranho. Como se alguém tivesse passado por ali enquanto eu mantinha meus olhos fechados. Aquela presença ainda está no ar, apesar de parecer que nada mudou. Algo mudou. E isso alimenta meu medo. As sensações alimentam meus pensamentos, sentimentos e atos. Eu vivo tento sensações estranhas, sensações que me obrigam a fazer coisas mais estranhas ainda. Como quando eu tenho a sensação de que meu cérebro não está funcionando direito e eu bato em minha cabeça ou bato minha cabeça contra a parede, ou a sensação de que não estou viva, que faz eu me cortar porque isso me monstra que eu estou viva (meu sangue escorrendo e a dor do corte), ou quando eu tenho a sensação de que estou saindo do meu corpo e eu preciso tocar nas coisas a minha volta para provar para mim mesma que eu ainda estou aqui dentro, ou quando meu cérebro está tão acelerado que eu preciso fazer as coisas em câmera lenta se não eu vou perder o controle... Enfim, são diversas situações que eu respondo de um jeito estranho, não tenho escolha.

Hoje estava discutindo com minha psicóloga minha obsessão por números. O número 3 em particular e seus múltiplos. Eu sempre me corto três vezes, três cortes paralelos, ou 6, ou 9, etc. Sempre aperto três vezes o lugar do sabão na hora de lavar as mãos, esfrego minhas mãos contanto até 30 e puxo a toalha três vezes para secá-las. Fazer isso me acalma. Mas minha psicóloga não gosta dessas coisas irracionais que eu faço para me sentir melhor. Eu não entendo porque... Sei que pode soar estranho todas as coisas que eu faço, incluindo me cortar e bater a cabeça na parede, mas tudo faz sentido aqui dentro, eu faço essas coisas por um motivo. Eu realmente preciso fazer essas coisas. Elas fazem eu me sentir mais segura no meu universo tão incerto. É irracional, sei que é. Mas para mim faz sentido. Me perdoem por ser estranha, o mundo é estranho de mais aos meus olhos para que eu consiga ser normal.

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