Eu não reconheci minha voz quando fui comprar aquele estilete. Soou... masculina, forte, decidida. Não era eu. Era meu monstro, eu sei disso, mas a moça que me vendeu aquele estilete não sabia. Isso fez meu monstro sorrir para si mesmo. Ninguém pode nos impedir, não é ótimo? Ninguém pode ver o que se passa aqui dentro, ninguém. Podemos nos destruir... Não há ninguém mais que possa segurar nossas mãos, mudar nosso pensamento e salvar nossas vidas. Foi o que ele pensou. Um segundo, uma imagem, uma palavra e pronto. Tudo desaba, ele assume o controle e você pode esquecer. Ainda me sinto estranha, um pouco desconectada, um pouco alheia a tudo. Às vezes minha visão se afasta de meu corpo e eu vejo tudo de cima, de longe. Quem é aquela menina estranha mesmo? Não me lembro mais. Há todas essas sensações e esse corpo que não é meu, essas mãos que não são minhas, essa voz, esse jeito de ser, toda essa personalidade complexa extremamente diferente do que eu sou ou conheço. E não tem muito que eu possa fazer. Continuo observando de longe, enquanto aquela voz estranha compra um estilete, enquanto ela se tranca em um banheiro e rasga minha pele. Quem deu o poder para ele fazer isso? Quem ele pensa que é? O que é isso que está sempre comigo, sempre nos piores momentos e nos melhores também, me lembrando que as coisas logo vão voltar a piorar? Meu lado "racional" entende meu monstro como sendo uma parte de mim, uma parte que eu não consigo aceitar como sendo minha. Meu lado emocional grita que ele não sou eu e ponto. Não sou, não sou, não sou.
Acho que é a terceira vez no último mês que minha psicóloga ameaça me internar. Do jeito que eu estou indo não quero nem pensar onde eu vou estar daqui um tempo. De volta para a casa dos artistas. Deprimente. Não consigo nem passar alguns poucos meses sem minhas oscilações estratosféricas, sem pensar em me matar, me cortar e me perder na complexidade do "eu". Eu deveria estar triste, por tudo que me aconteceu nos últimos dias, mas estou extremamente hiperativa e insensível. Meu monstro está me influenciando. Não estou com medo de ser internada no momento, nem com raiva, nem nada. Estou, pura e simplesmente, foda-se. Foda-se. Eu não quero mais todos esses remédios idiotas, não aguento mais o que eles fizeram de mim, em quem eu me tornei por causa deles. Não quero mais tentar parar de fumar porque isso "faz mal", foda-se. Não quero mais copos de bebidas alcoólicas sendo afastados de mim. Não quero todas essas regras idiotas de que a Sabrina precisa ser assim ou assado. A Sabrina é quem ela é. Sem diagnósticos, sem normas ou padrões, sem remédios. Tão complexa quanto ela possa ser, tão problemática o quanto ela possa ser.
E qual o problema nisso? Isso sim me irrita mesmo em um momento como este. Qual o problema? Esse monstro existe, eu existo e nós, agora sim me junto com toda a boa vontade do mundo com meu aparente inimigo, porque nós estamos sempre tão errados? Precisamos tanto ser concertados? Estou cansada de tentar enxergar o mundo do jeito que todo mundo o enxerga. Por que o mundo não tenta ao menos uma vez na vida enxergar o mundo do jeito que eu enxergo? Do jeito que meu monstro enxerga? Não é justo. Não, eu não estou errada. Sim, eu tenho o direito de fazer o que eu quiser ou precisar com a minha vida. Não vou pedir desculpas. Está na hora de eu ditar as regras.
2 comentários:
Onde vc consegue essas fotos?
Ana
Ps: Oii *--* <3
UEHEUHEUHEUHEUHEUHEUEHUEH no google imagens, gasto um tempão procurando.
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