"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

segunda-feira, 25 de março de 2013

Conversa entre reflexos



Você sempre fala comigo, mas eu nunca falo com você. Quando você sussurra coisas horríveis em meus ouvidos, eu só abaixo a cabeça e concordo. Quando você diz que eu mereço ser punida, eu só abaixo a cabeça e me corto até você ficar satisfeito. Quando você quer beber, eu bebo, quando você quer fumar, eu fumo. Quando você está com raiva, eu desconto em mim mesma ou nas pessoas a minha volta. Quando você quer assumir o controle, meu corpo se torna seu corpo e eu me anulo. Mas eu nunca conversei com você, nunca tentei entendê-lo... Eu só procurei jeitos para te destruir. E você, de me destruir. Você apareceu para mim e se nomeou de Monstro, e eu não questionei esse nome. Você se tornou meu monstro como seu nome previa. E eu sempre tentei te ignorar na esperança que você desaparecesse da mesma forma que surgiu... Mas hoje eu resolvi olhar para você. Por que não?

Há grades a sua volta. São os remédios tentando te controlar. Posso sentir seu olhar de ódio na minha direção. Você me odeia. Por que? Talvez eu tenha te decepcionado, talvez você me culpe pelo que você se tornou... Você nem sempre foi um monstro, não é mesmo? Mas agora a única coisa que você consegue sentir é ódio e raiva. Você nem ao menos me escuta, de tão envolto por isso que você está, você só está interessado em se livrar dessas grades para poder me destruir. E há uma coisa engraçada que eu percebi agora, olhando para você. Você é uma menina, mesmo eu te tratando por "ele". E você é parecido comigo. Coincidência. É como quando eu olho no espelho e você usa meu rosto para sorrir para mim. É meu rosto, mas não é. Aquele seu sorriso assustador, como quem diz: eu estou bem aqui e eu vou te pegar.

É engraçado, mas hoje, olhando assim de repente para você, eu não estou com medo. Eu sei pelo que você passou, não posso te culpar por você ser quem você é. De repente é você quem parece pequeno e não eu. E eu sinto uma vontade estranha de te abraçar, porque você parece tão pequeno e indefeso atrás dessas grades. Você me olha indiferente e eu sei que você me mataria tão fácil quanto mataria um inseto. Eu entendo... Só queria que você soubesse que eu não te odeio, não hoje, não agora. Não, eu não te odeio.

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