"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 24 de março de 2013

Realidade irreal




Meu peito dói e eu me pergunto se é o cigarro ou se é a angustia. Sou péssima em detectar sentimentos, só percebo que estou com raiva quando já estou voando no pescoço de alguém. E quando estou nervosa então? Na minha cabeça eu nunca estou nervosa, eu nunca preciso de um calmante. Eu só estou andando de um lado para o outro, pulando no mesmo lugar, falando extremamente acelerado, tremendo tudo... Mas não estou nervosa. E ai de quem diz que eu estou. Não estou e ponto. Não vou tomar a droga do calmante. É o único remédio que eu tenho o poder de decisão, vou ou não tomar, óbvio que minha primeira palavra sempre vai ser não. Infelizmente de um tempo para cá as coisas começaram a se complicar... E coisas que antes eram normais e fáceis para eu fazer, se tornaram extremamente assustadoras e difíceis. Me rendi ao calmante na esperança dele ajudar com o pânico. Infelizmente, parece que a única coisa que ele me faz é me deixar lerda. Estou eu lá, lerda, retardada e meu cérebro permanece em parafuso me dizendo que meu monstro vai sair do meu peito e me atacar. E eu lerda. Quero dizer, se acontecer nem lutar contra meu monstro eu vou conseguir.

Na última consulta com minha psicóloga ela tentou me convencer de que meu monstro não iria aparecer do nada e me fazer mal e eu juro que tentei de tudo para entender, mas ainda estou muito confusa. Quero dizer, o que é real? Real é tudo o que a gente vê e sente, certo? Se real é tudo o que a gente vê e sente, só o fato de eu sentir meu monstro dentro de mim já prova que, para mim, ele existe. Então, se eu o ver, ele vai se tornar mais real ainda e vai poder me machucar. Ai que minha psicóloga começou, ela disse que mesmo que eu visse ele, seria só mais uma alucinação, alucinações não machucam pessoas, alucinações não existem de verdade. Então eu fiquei confusa. Porque mesmo se para minha psicóloga meu monstro fosse uma alucinação, para mim ele ainda seria real e ainda seria extremamente perigoso. Faz sentido? Minha psicóloga não concordou e insistiu que alucinações não podem machucar ninguém. O que é uma alucinação? Algo que vemos e que não é real... Mas se estamos vendo, como podemos saber se é ou não real? Tenho sérias dificuldades em entender essas coisas. Há dias, geralmente quando eu estou com algum sintoma de despersonalização ou quando estou tendo as "pré-alucinações" em que eu fico me perguntando se as pessoas que passam por mim na rua são reais, se eu estou mesmo ali e seu todas aquelas coisas existem e estão acontecendo. Como eu posso ter certeza? Está tudo se mexendo de um jeito que não deveria, eu não estou mais dentro do meu próprio corpo e nada é certo. Nada. Como eu posso saber?

As coisas simplesmente são confusas de mais. Meus sintomas bagunçam minha cabeça. Há a questão da memória também que ajuda a tornar tudo muito incerto. Minha memória é horrível. Eu esqueço de tudo, tenho verdadeiros brancos. De repente passaram horas e eu não vi, ou dias, ou semanas. E eu olho para trás e não me lembro, não me lembro de nada do que fiz recentemente, se saí, se fiquei em casa, para onde fui, o que eu fiz, nada. A vida se torna algo de uma incerteza absurda. Você não sabe o que é real, se o que está acontecendo agora realmente está acontecendo e não sabe o que aconteceu ontem, e se o que aconteceu ontem realmente aconteceu. Suas lembranças são fragmentadas e desorganizadas. Chega a ser assustador. Às vezes tenho a impressão de estar desaparecendo. Sabe? Se eu não lembro das coisas então é como se elas não tivessem acontecido... E eu sinto, assim, minha vida sendo roubada de mim. Quero minha vida de volta. Quero conseguir lembrar das coisas boas que eu vivi, quero rir com meus amigos, quero poder olhar para trás e não só ver o monstro da minha infância e adolescência me assombrando, sempre. Quero o que é concreto, aqui na minha mão, e quero que ele permaneça comigo, sempre, para que eu saiba que eu estou aqui e que eu não vou desaparecer. E que vocês também estão aqui e não vão desaparecer. E que tudo isso é real e para que um dia eu possa contar nossa história.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, to aqui de nvo kkkk. Mas enfim, eu soh queria dizer que gostei muito do seu texto. Na vdd, eu queria fazer uma pergunta (vou ser curta e grossa), quantos anos vc tem?

Ana