"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 30 de outubro de 2011

Para que as larvas existem?


Era uma vez uma pequena larva, lerda e feia, que andava pelo mundo perdida e sem propósito. Para que as larvas existem? Ela perguntava para todos os que cruzavam seu caminho e ninguém sabia responder. Para que as larvas existem? Nenhuma resposta, só olhares desviados e afastar de corpos tamanha sua feiura. E dessa existência triste e solitária ela se cansava dia após dia. Para que as larvas existem? Ninguém sabia responder. Havia algo nas outras larvas que ela não conseguia entender e acompanhar, como se elas soubessem de algo que ela não soubesse, como se elas sim tivessem um propósito e não quisessem compartilhar com nossa pequena larva perdida. Tudo soava muito injusto.

Dizem que deus criou todas as criaturas, para a larvinha deus parecia um tanto quanto maldoso, ela não conseguia ver motivos para existir. Porque as coisas eram do jeito que eram? Porque ela tinha que ser tão feia e tão lerda? Para que ela existia? E havia os pássaros, famintos, rápidos e belos, tentando de todas as formas comer nossa larvinha. Tudo soava muito injusto. Os pássaros são tão bonitos, todo mundo ama pássaros, eles cantam e pulam daquele jeito bonitinho, eles voam lá no céu, vêem as paisagens mais bonitas, sentem o vendo passando por suas penas... Como deve ser bom ser um pássaro. Os pássaros existem para ser feliz. Para que as larvas existem? Para serem comidas pelos pássaros, é isso. Que existência triste. Elas são tão feias, tão lerdas e sem nenhuma qualidade. Tudo soava muito injusto.

Todos os dias a larva se cansava dessa existência sem sentido e dolorosa, até que em uma manhã ela decidiu não se mexer mais, esperar a morte talvez, deixar que os pássaros a comessem viva. E ficou lá parada, durante tanto tempo que nem se lembrava mais. Talvez eu já esteja morta, ela pensava consigo, talvez se eu abrir meus olhos agora eu vou estar no céu. Larvas vão para o céu? Talvez não... Só consigo imaginar criaturas bonitas no céu. De um jeito ou de outro nossa larva de repente se sentiu inquieta, abriu os olhos em meio a uma escuridão, tentou se mexer e viu que estava cercada por algo. Talvez eu esteja na barriga de um pássaro. Se mexeu com mais força e viu uma fenda se abrir no que quer que estivesse a sua volta, seus olhos se machucaram com a luz forte. Acho que realmente estou no céu. A larvinha alargou a fenda, saiu pela mesma e se sacudiu tentando exercitar seus músculos enferrujados depois de tanto tempo de desistência, foi quando ela percebeu algo errado. Ela agora tinha pernas! E mais do que isso, havia duas coisas grandes e desajeitadas nas suas costas, leves e frágeis. A larvinha as mexeu insegura. Eram asas! Eram asas! Ora, vejam só.

Nossa pequena larvinha saltou do galho que estava, feliz da vida, batendo suas novas asas e experimentando o vento pelo seu corpo, a beleza da altura, a sensação da velocidade. Eu descobri para que as larvas existem... As larvas existem para virarem borboletas. E foi em meio as piruetas no ar que o sorriso na nossa pequena borboleta voltou a se apagar. Para que as borboletas existem? Qual o sentido da beleza, das asas, da velocidade? Se não serem comidas por pássaros?

sábado, 29 de outubro de 2011

Talvez meu médico tenha razão


Tudo parece muito irreal nesse momento, como assistir um filme, ver tudo passando diante de seus olhos de um lugar distante e intocável. Não parece vida, não parece verdade, não parece nada e normalmente eu sinto o que vai acontecer, se eu vou melhorar ou se eu vou piorar, mas no momento não sinto absolutamente nada... E sentir nada não é paz, é vazio, é ausência. Eu não quero ser interrompida, eu não quero ter que pensar no que é melhor para mim, eu não quero olhares preocupados e questionadores, cérebros trabalhando incansavelmente em busca de respostas e soluções, não quero mãos estendidas, desistências, ameaças. Eu quero um quarto escuro, um campo aberto, um pouco de tinta para pintar meus demônios, livros para que eu possa esquecer quem eu sou, nenhuma pessoa por algum tempo, para que meu coração não dispare assustado, para que o buraco que eu tenho aqui dentro não doa. Eu me sinto estranha, mais estranha do que o normal, uma consciência de si diferente, diferente de todas as outras.

Eu realmente não sei o que fazer, apesar de ter uma lista em mãos do que devo fazer, eu não acredito na lista, não confio na lista, ela parece errada, as coisas não são tão simples assim. Talvez seja o começo de uma nova crise, uma crise nunca é igual a anterior, há sempre sintomas novos e novas intensidades, imagino que um dia não vá haver mais sintomas que eu não tenha passado por, então meu transtorno me dará trégua, e tudo ficará bem. Mas no momento, eu nunca tive tantas crises nervosas e ataques de pânico quanto agora, da mesma forma que em junho eu nunca havia tido tantas alucinações e sintomas de despersonalização. De um jeito ou de outro... Estou tendendo ao conformismo, como sempre acontece quando eu pioro, desistir, parar de me mexer, deixar a vida (ou morte) seguir seu curso normalmente e como sempre, eu não vou desistir porque o pior vai passar antes que eu atinja meu limite. E assim as coisas vão caminhando, como uma montanha russa.

Meu médico quer o equilíbrio, mas eu não consigo aprender o que isso significa. Cada vez mais eu acredito que tudo isso faz parte de quem eu sou, quer seja isso bom ou ruim. Estou realmente cansada de correr atrás da normalidade, desse tal de equilíbrio, da felicidade e todas essas coisas. Eu sei que dizer "eu sou assim e pronto" é uma desculpa infantil para não sair do lugar, para não tentar mudar, mas no momento meu cérebro está tão cansado que acreditar nisso está me conquistando. E ao mesmo tempo, estou cansada de "ser" assim, terrivelmente cansada, ser eu é doloroso de mais, pesado de mais, trabalhoso de mais, eu quero mudar, mas sair do lugar dói. Eu realmente não sei o que fazer, se não assistir a vida ir passando diante de meus olhos como um filme, onde eu não tenho controle ou participação. Talvez meu médico tenha razão.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Gay não é contagioso


Não deveria ser necessário encarar a sociedade para assumir sua sexualidade do jeito que isso acontece com os homossexuais. E muita gente ainda pensa que não é preciso, que os gays deveriam guardar sua sexualidade entre quatro paredes. Porém, quando eu homem segura a mão de uma mulher, isso é assumir sua sexualidade, quando esse homem a beija em público, isso é assumir sua sexualidade, quando um homem se casa com uma mulher, também, quando um homem e uma mulher se apresentam como um casal ou usam alianças, isso é assumir sua sexualidade.

Os heterossexuais passam a vida inteira afirmando sua sexualidade, por que, então, espera-se que os gays, lésbicas, travestis e assim por diante, o façam somente escondidos e em segredo? Por que é visto como uma afronta desnecessária dois homens de mãos dadas ou se apresentando como um casal?

Assumir a sexualidade não é algo que os gays inventaram para chocar, incomodar ou chamar atenção, mas sim algo completamente natural a qual os mesmos não viram motivos para não o fazerem. O desejo de ser tratado como igual faz com que eles procurem agir como qualquer outra pessoa.

Há casais homossexuais que gostam de chamar atenção, é verdade, assim como existem casais heterossexuais que gostam de se comer em público, mas quando você ver dois homens ou duas mulheres agindo como um casal, antes de pensar que eles estão fazendo de "propósito" pense que talvez, só talvez, eles estejam agindo como todas as pessoas normalmente agem e com isso buscam ser tratados como normalmente todas as pessoas são tratadas.

Não há motivo para tanto alarde, gay não é contagioso, te garanto.

Autoimagem


Existe a Sabrina e existe o Monstro e eu não sei ao certo qual deles eu sou. Existe o mundo inteiro e eu não sei qual deles eu sou. As vezes existem buracos negros nas paredes, as vezes eu não sei o que significa sentir. Decididamente sexo verbal não faz meu estilo. Tenho medo quando o telefone toca. Todas as pessoas me olham como se eu fosse um monstro, então eu acredito, meu sorriso não compensa as incontáveis cicatrizes em meus braços (e pernas). Meu coração é tão inconstante quanto um animalzinho de rua assustado. As pessoas que me faziam mau na infância, hoje são bonitas, sorridentes e sociáveis. Nada que vem volta, sofrer hoje nunca vai te fazer feliz amanhã, tudo não passa de consolo barato de esquina.

Sofrer também não te faz uma pessoa melhor, ter uma cabeça problemática não te faz especial, sensível ou sei lá o que, só te faz defeituoso mesmo. Chorar não alivia, gritar não alivia, bater não alivia, mas levar pontos por causa de uma gilete te dá uma boa sensação falsa de fuga, que passa assim que você é jogado para fora do hospital. Ser ameaçado as vezes funciona mais do que um carinho, ainda mais com pessoas que estão acostumada com palavras duras. Mas cuidado, corações inconstantes são imprevisíveis.

Pontes são inegavelmente atraentes, carros passando rápido, a altura, o vento, a beleza de um fim como consequência de um instante não pensado. A dor constante que você não sabe da onde vem mas se espalha pelo seu corpo de forma insuportável. Você só quer parar, sentar no chão, colocar a cabeça entre as pernas e se concentrar em sua respiração por eras. Mas a Terra continua a rodar sua valsa inútil e você precisa seguir em frente. Mais um calmante, mais um calmante, mais um calmante. Uma camisa de força nunca me pareceu tão convidativa.

As pessoas me olham como se eu fosse um monstro, as pessoas me acusam, as pessoas tem pena de mim. Me sinto um monstro, me sinto merecedora de pena. Não sinto nada! Não ligo para nada, não preciso de ninguém, não preciso de nada.

Por favor não me deixe. As vezes fica tudo tão escuro e eu não sei onde estou. Posso segurar sua mão?

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Defeitos e qualidade, quase sinônimos


É impossível falar de altruísmo sem falar de egoísmo, apesar do oposto não ser verdade, infelizmente. Não há ato no mundo que não possa ser encarado sob a ótica do ganho pessoal. A caridade, seja ela qual for, não se basta por si só. O fato das pessoas se sentirem bem ao fazê-la não está ligado de forma alguma a visão romântica que se costuma ter. O bem sentido está ligado as vantagens pessoais adquiridas por tabela, por assim dizer. "Eu" me torno uma pessoa melhor ao fazer o bem, "eu" adquiro mais valor, mais importância, "eu" sou mais bem visto, mais querido, mais elogiado. O que nos faz pensar que ao fazer o bem ao próximo, na verdade isso não passa de uma meio para se auto promover e criar uma imagem positiva de si mesmo. Não que isso seja inteiramente ruim, o egoísmo (ou pensar em si mesmo antes do próximo) é vital para todo o ser humano. É hipocrisia dizer que não. Nós TEMOS que pensar em nós mesmos antes de qualquer outra pessoa, afinal, ninguém vai fazer isso por nós.

Mas a questão é que ser egoísta, além de ser uma face do altruísmo, está profundamente lapidado ao que todos nós somos, tanto que chega a ser egoísmo acusar o outro de egoísta. Até porque, acusar alguém de egoísta é desejar que essa pessoa pense antes em VOCÊ do que nela mesma, o que em tese é ridículo e no mínimo egocêntrico.

De forma alguma estou tentando justificar o egoísmo ou defendê-lo. Estou só pensando que o conceito de qualidade e defeito, além de estarem presentes em absolutamente todas as pessoas em todas suas formas, me parece muitas vezes confuso e contraditório. Uma coisa pode ser facilmente interpretada como seu oposto e a distância entre o elogio e a crítica é muito menor do que parece, ao ponto de eu receber um elogio como uma facada as vezes.

E na verdade quem fala tem pouquíssimo controle sobre o significado do que é dito e quem ouve sempre ouve o que quer, da forma que quer, no sentido e tom que quer. É esse o grande medo e insegurança que eu tenho de abrir a boca ou receber um elogio. Não consigo me animar ou me acostumar muito com isso. Para mim parece que tudo vem da pior forma possível, no pior momento possível e assim por diante. Sou uma péssima ouvinte, sou uma péssima falante, sou uma péssima uma porção de coisas. E qualidade e defeitos são altamente confundíveis ao meu ver.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A condição - algo que eu venho me acostumando e me perturbando


É doloroso não ter controle sobre o próprio corpo e/ou mente. Se nem isso nos é certo como podemos nos sentir seguros quanto a qualquer outra coisa? Não só o futuro é confuso e sombrio, mas nós mesmos o somos. É difícil não entrar em pânico ou controlar o sentimento de impotência. Quem convive bem próximo a nós também se sente assim, mas pode ter certeza, há poucas coisas piores do que ser o vilão da história, o causador de dor e preocupação, o irreparável e sem solução.

É fácil dizer "não se odeie", mas aqui dentro só há lugar para esse sentimento quando eu vejo alguém que amo chorando. Não há quase nada tão puro quanto o ódio que sinto por mim mesma. Tenho vontade de pedir licença por existir, desculpas por respirar. Eu me sinto e sou tão errada e todos estão sempre tentando tanto me "curar", me tornar o mais normal possível, me consertar, que eu me sinto culpada pelo fracasso deles como se não estivesse dando meu melhor, como se tivesse escolhido ser assim, como se estivesse esquecendo de fazer alguma coisa. Mas o pior é que eu não estou, o pior é que eu faço tudo o que posso fazer e de nada adianta. Isso é loucura, as vezes me pergunto o que está havendo, para onde estou indo. Todos querem tanto me mudar, há algo de errado nisso, não? Se ninguém tem o poder de mudar ninguém, por que tentam comigo?

Por pior que eu seja, por mais errada e doente que eu seja, eu sou assim, não sou? Não há solução, simplesmente não há. Não importa muito quantos remédios eu tome, os sintomas sempre voltam, eles sempre voltam. Cada vez mais eu me acostumo com essa condição, cada vez mais eu me conheço (e me desconheço), apesar de sempre surgir um pequeno novo sintoma e isso no começo ser assustador e confuso, no fim eu sempre acabo aceitando, me acostumando. Não há muito mais a ser feito.

Cada vez mais eu entendo que uma melhora sempre vem acompanhada de uma piora e vice versa. Cada vez mais eu entendo que minha vida vai ser sempre extremamente delicada e complicada, que eu tenho tido realmente muita sorte, porque a qualquer momento eu posso perder tudo. E cada vez mais eu aprendo a deixar o máximo possível as pessoas a minha volta fora disso, cada vez mais eu aprendo a me esconder, fingir e fugir, mas aqui dentro, eu sei, eu sinto, eu sempre vou ser a mesma. Ou melhor! Eu nunca vou ser a mesma.

E não há certeza nenhuma na vida, a não ser que tudo pode piorar. Sempre piora. Que venha o inferno, vamos ver o quão forte será dessa vez. Os otimistas dizem que os problemas nos fazem forte, quem me dera. Eu sou a prova viva que não, com certeza não.

sábado, 22 de outubro de 2011

Ansiedade



As vezes meu coração simplesmente dispara, como se a qualquer momento algo terrível fosse acontecer, como se minha vida estivesse por um fio. Não só dispara como dói, a cada batida uma pontada, uma facada, tornando também a respiração difícil e incerta. Eu fico inquieta, assustada, tenho vontade de chorar, tenho medo, muito medo, minha musculatura fica tensa, minha mandíbula parece pesar toneladas, tantas que a pressão que meus dentes sofrem rangendo fazem minha cabeça latejar insuportavelmente. As vezes meus pensamentos ficam tão acelerados que o mundo inteiro parece estar em câmera lenta, as vezes minha cabeça sai de meu corpo e, de longe, me observa agindo sozinha. Essas coisas simplesmente acontecem, sem aviso ou motivo claro, de repente eu começo a tremer de medo, tentando controlar meu coração acelerado, esperando que ninguém a minha volta perceba. Provavelmente exista um motivo, um padrão, todos os comportamentos possuem padrões, mas eu realmente não quero desvendá-los no momento, só quero que a dor passe, que o mundo volte ao normal, só quero a porra do meu calmante para fazer de mim um fantoche, controlada, sedada, “normal”.

É isso que eu mais quero na vida, ser a porra de uma garota normal. Pare de tremer, pare, pare, pare, feche os olhos e respire fundo, segure as lágrimas, se acalme, se acalme, vai ficar tudo bem, você está bem aqui, continue aqui, não se perca, você sabe que vai passar, sempre passa, só tenha um pouco de paciência. Como é que minha psicóloga sempre me diz? Você não é mais aquela garotinha indefesa, agora você pode se defender, você DEVE se defender, não se esconda, não fuja, você consegue pensar em uma solução. Você não é mais aquela garotinha.

Eu sei bem que não sou mais aquela criança indefesa, eu sei. Eu sei que consigo me defender, sei que consigo continuar, sei que o mundo só vai me atingir se eu permitir, eu sei, eu sei, eu sei... É só que eu não consigo, é só que, de repente, minha cabeça entra em pane e nada mais faz sentido. Eu permaneço repetindo para mim mesma todos os raciocínios lógicos do mundo, todos os processos, todos os comportamentos adequados, todas as formas de pensar e interpretar, e por mais que tudo isso esteja certo, por mais que eu reconheça isso como certo, eu simplesmente não me mexo, eu simplesmente permaneço no mesmo lugar, absolutamente perdida, teimosa, em pânico. A irracionalidade do medo é incombatível, eu tenho medo, eu tenho muito medo. E para mim parece que ele vai e vem ao sabor do vento, independente de qualquer coisa.

Eu sei o que fazer doutora, mas eu não consigo. Um dia colocaram tijolos em meus pés, prenderam minhas mãos e vendaram meus olhos, você não está vendo? Por mais que eu me debata aqui eu não consigo ser livre, eu nunca vou conseguir... Estou sempre tão cansada de dar meu melhor, e por mais que eu tenha aprendido a comemorar até a vitória mais minúscula e insignificante, eu não posso deixar de me comparar com os outros e me sentir terrivelmente frustrada.

Eu não sou mais uma criança, mas volto sempre a me sentir como uma. Pequena, patética, burra e extremamente passiva. Tenho vontade de matá-la, essa criança dentro de mim, tenho vontade de protegê-la como ninguém. Tenho vontade de nunca ter nascido, tenho vontade de ser qualquer um, de chorar até vomitar, tenho vontade de não mexer um músculo se quer por meses, de bater nas pessoas na rua, de empurrá-las no vão do metro, de cortar cada centímetro de meu corpo, de me atirar de uma ponte.

As vezes viver é bom, mas a morte ainda me atrai insuportavelmente. Nesses momentos em que eu sou tudo menos eu, ou quando eu sou inteiramente eu mesma e o mundo não existe. Existir e não existir, tanto faz, tudo não passa de uma tortura que um deus entediado um dia inventou. E hoje se diverte me atirando de um extremo ao outro, é tudo muito engraçado, quanto tempo será que eu vou durar?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Medo e falta - E eu te amo


Eu tenho medo... Eu tenho muito medo de tudo isso, de ficar sozinha, de ficar para trás, de não ser amada, de não ser ouvida, de não ser entendida, de ser abandonada ou esquecida. É difícil não desejar todos os dias interromper o curso da vida e me mudar para aquele lugar calmo, confortável e carinhoso. É difícil não querer parar o tempo lá e pensar como as crianças, naqueles parasempres ingênuos. A cada pequena despedida nossa eu sinto como se tivesse abortando algo dentro de mim, é preciso manter a calma, mas o medo irracional de nunca mais te ver é incontrolável. É só que eu te sinto com uma intensidade tão grande, tão viva e pulsante, que me espanta as vezes você não perceber, você conseguir dizer tchau tão facilmente. Eu gostaria de ter a sua facilidade e naturalidade, eu permaneço sendo uma pessoa extremamente carente e solitária, aconteça o que acontecer.

Eu não sei dizer o que é o amor, não sei provar que isso é amor, eu não sei de nada dessas coisas (ninguém sabe na verdade), mas eu sei que meu coração pula quando eu te vejo, que viver faz mais sentido, que enquanto seus olhos estão nos meus, eu tenho toda a força necessária para aguentar o que quer que for. E toda essas baboseiras fazem tanto sentido para mim que é difícil imaginar como as coisas seriam caso você não existisse. Seja isso saudável eu não, é dessa forma que eu sinto e para mim isso não soa ruim. Como poderia soar ruim se faz eu me sentir tão bem? É quase a lógica dos drogados, que seja, eu os entendo.

É difícil lidar com sentimentos muito fortes. Imagino que para quem nunca se habituou muito com o amor ou o carinho, ou nunca permitiu se habituar, encontrar alguém e dar certo com esse alguém é toda uma situação capaz de mudar muito o rumo de uma vida e até a forma como se encarar o mundo. Não sei se estou exagerando, mas as coisas aconteceram assim comigo pelo menos, aos poucos tudo mudou violentamente, se é que faz sentido. Essa mudança me salvou, querendo ou não, foi um dos principais fatores que me salvaram, esse carinho, esse apoio, esse amor, essa paciência. E é por as coisas terem melhorado tanto para mim que eu tenho tanto medo. Quem conheceu o céu não quer voltar pro inferno. Eu não quero voltar para o inferno, não quero encarar meus traumas e problemas, não quero reviver nada, não quero todas aquelas sensações ruins de novo. Quero que o tempo pare naquela cidadezinha e nós possamos viver em paz.

Mas o tempo parando ou não, as coisas voltam, elas sempre voltam. Repetidamente, insistentemente. E estar no céu não me livra do inferno, ser salva não significa estar salva e viver em paz é algo quase tão utópico que não adianta perder tempo buscando isso. A verdade é que para onde quer que eu vá, minha vida, o que eu vivi e quem eu sou virá comigo. É impossível tirar férias de mim mesma, infelizmente. É impossível para mim a vida soar fácil e natural, sempre haverá um esforço, sempre haverá uma luta constante. A única diferença é que com você eu estou mais do que disposta a continuar nessa luta, com você eu estou mais do que disposta a dar o meu melhor me esforçando. E por mais que o tempo não possa parar, por mais que viver em paz é algo impalpável... Eu quero não viver em paz do seu lado, eu quero que o tempo continue, eu quero suportar os fins para conseguir os começos com você, eu quero que os problemas venham e que nós os resolvamos juntas. Eu quero ter um não "para sempre" com você. Porque eu prefiro arriscar sentir a dor de te perder um dia (sem sombra de dúvida destrutiva) do que nunca sentir tudo o que sentimos uma pela outra.

A questão toda é que eu te amo e sinto sua falta. Me perdoe toda a prolixidade.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Dois mundos - a mania da intromissão


Existem dois mundos, o seu e o do outro. O seu diz respeito a tudo o que pertence a você, o que você é e o que você faz (desde que não prejudique o próximo). O do outro diz respeito a tudo o que não pertence a você, o que o outro é e faz (desde que não te prejudique). Estes são conceitos básicos muito pouco respeitados pela grande maioria das pessoas, a meu ver. Parece que existe uma dificuldade em separar você do mundo ou o mundo de você. As pessoas se incomodam com a vida alheia, escolha alheia, opiniões alheia, quase como se a vida, a escolha e a opinião pertencessem a ela ou a prejudicassem. Tudo isso me soa um pouco como egocentrismo. A SUA opinião é a verdadeira e certa, as SUAS escolhas são as válidas, a SUA vida é melhor. O erro é do OUTRO, os defeitos são do OUTRO, etc.

Como já disse em outros posts, as pessoas se sentem bem em diminuir o próximo, em criticá-lo e apontar-lhe os erros. E se sentem melhor ainda se puderem fazer isso com a desculpa de que isso é para o próprio "bem" do outro, uma desculpa bastante utilizada, diga-se de passagem. É difícil para a grande maioria das pessoas, se não para todas, admitirem que grande parte do que acontece a sua volta não é controlado por elas. É desconcertante na verdade ver que não há muita coisa a ser feita quando algo foge ao esperado ou à sua vontade. É ai que entra a crítica, geralmente ácida e irracional, mesmo mascarada de racionalidade e milhões de motivos inventados. As pessoas por verem que nem tudo acontece segundo seu esperado ou nem todas as pessoas agem como elas acham que deveriam agir, criticam como única arma pobremente capaz de mudar alguma coisa para o que seria considerado para elas certo, digno ou qualquer outra palavra que na verdade quer dizer a mesma coisa. A desculpa que isso é para o bem do próximo entra sob a ótica de que a opinião da pessoa é a válida e dessa forma ela estaria fazendo um bem ao próximo mostrando-lhe o jeito certo de pensar e agir. Tudo se encaixa e se alimenta em um sistema cíclico. As coisas fogem do esperado, a pessoa se incomoda, critica, tenta voltar ao que era esperado, as coisas continuam fora do esperado, a pessoa continua incomodada, critica mais e assim por diante. Isso continua até que a pessoa perceba que de nada adianta todo esse movimento em prol do que ela julga certo ou então até o outro lado fazer ou agir da forma que a pessoa espera.

Tudo isso gira em torno da possessividade também. Pessoas controladoras e possessivas costumam tratas seus próximos como objetos, julgando-os como pertencentes a elas. Isso faz como que elas se sintam no direito de interferirem em suas ações, escolhas e pensamentos, exatamente como se aqueles fossem seus bonecos. Quando não conseguem o que querem costumam acusar os outros de seus próprios erros e defeitos. Isso, alias, acontece com todo mundo, é comum odiarmos os defeitos nos outros que temos em nós mesmos. Quem odeia pessoas falsas por exemplo, muito provavelmente tem medo de ser falsa ou é falsa e não admite para si mesmo. Acredito que a aversão de alguma característica no próximo está fortemente ligado ao que você tem aversão em si mesmo.

A incapacidade de distinção entre seu mundo e o do próximo levam as pessoas a comerem diversos erros, brigas e desentendimento. É preciso ficar claro para todos que ninguém pertence a ninguém, por mais óbvio que isso possa parecer, e que as pessoas são livres para fazerem suas escolhas e viverem suas vidas, desde que isso não prejudique o próximo, e que nem todos pensam como você, nem todos julgam da mesma forma que você e nem todos vão fazer o que você espera que eles façam. É um erro enorme criar expectativas em cima de qualquer pessoa, ninguém disse que ela é da forma que você imagina, ela não tem obrigação de ser, ninguém tem.

Quem disse? - As piores e a falta de autopercepção


As piores pessoas são as que mais se acham boas, são as que mais machucam alegando um motivo louvável, são as que destroem dizendo construir, são as traidoras fiéis, as boas almas caridosas egoístas, são as que mais falam, as mais lógicas ilógicas, são as mais sensatas quando se trata dos outros e as mais cegas quando se trata de si mesmo. As piores pessoas são as mais espertas burras, as mais insensíveis alegando sensibilidade.

As piores pessoas são as que tem certeza de suas qualidades e de seus pequenos defeitos genéricos e perdoáveis. Alias, as piores pessoas não sabem o que significa defeitos quando se trata delas mesmas. As piores pessoas são as mais críticas, daquelas que criticam gratuitamente, sem grandes motivos ou justificativas. As piores pessoas são as que mais se incomodam com a vida alheia, as mais insatisfeitas e insaciáveis. As piores pessoas nunca admitem estarem erradas e quando o fazem é só para tomarem para si a qualidade de boas e nobres.

Todos nós somos as piores pessoas, a única coisa que nos torna diferente é o grau de hipocrisia. Se sentir superior, se colocar em um lugar superior é o pior pecado que alguém pode cometer, é dele, como consequência, que todos os outros nascem. Se colocar a frente dos demais te dá o poder de fazer o que bem entende, falar o que bem entende e pensar o que bem entende (não que esse último seja proibido, dentro da sua cabeça você pode ser o quão escroto quiser, mas de preferência só dentro dela).

Falta em todos, em maior ou menos grau, a capacidade de autopercepção e o mínimo de empatia.

sábado, 15 de outubro de 2011

Futuro, pensamento a longo prazo e seis meses


O futuro é algo muito incerto para mim, quase inexistente. Não costumo funcionar pensando muito além do que daqui a um ano. Aprendi a pensar dessa forma quando planejava suicídio, daqui a seis meses, daqui a seis meses, eu pensava aliviada, sem nem desconfiar o quanto minha vida ainda iria rodar em meros seis meses. Seis meses passaram. E para passarem eu tive que aprender a pensar em um tempo menor que esse. Se daqui a seis meses eu vou me matar, de hoje até essa data o que eu vou fazer? Foi algo como ter uma sentença de morte, como aquelas brincadeiras do estilo "O que você faria se tivesse 24 horas para viver". Seis meses para viver.

Seis meses. O que eu quero fazer nesse tempo? Minha depressão me dizia para não fazer coisa alguma, só esperar o tempo passar. Mas se fosse só para esperar o tempo passar, porque eu não me matava no dia seguinte? Não sei responder... Na minha cabeça só fazia sentido me matar dali a seis meses, e assim ficou, sem que eu questionasse uma única vez. Hoje não deixo de pensar que seis meses poderia ser o prazo que meu cérebro estava dando para mim mesma para tentar me salvar. De qualquer jeito, com esse prazo estabelecido, meu coração se acalmou, como se finalmente eu tivesse descoberto a solução para tudo. A vida era fácil, a morte logo viria, estava tudo bem. Foi com essa calma, com essa certeza de que eu não duraria muito que eu pensei... Bom... Quero passar de ano, quero terminar a escola antes de morrer. Um grande objetivo dentro do prazo. Como é o terceiro ano, todo mundo vai estar prestando vestibular... Vou prestar também, não me importo muito em passar ou não, vou só prestar por prestar. Quero ser como todo mundo, quero uma vida normal... Nada mais normal do que prestar vestibular saindo da escola.

E assim as coisas foram acontecendo... Minha namorada surgiu na minha vida e eu não parava de repetir para mim mesma. Porque não? Porque não? Eu não tenho nada a perder, absolutamente nada. E as coisas foram acontecendo e acontecendo, descontroladamente. Eu nunca pensei que viveria tanto, estaria tão aberta e disponível para a vida pensando em me matar. Mas foi o que aconteceu. Não é algo muito normal imagino, não acontece nem de longe com todos os suicidas, pelo contrário alias.

Hoje ainda não consigo pensar a longo prazo. Parece que ainda existe uma barreira no tempo que não me permite pensar daqui a muito tempo, como se meu prazo ainda estivesse lá, só sendo adiado e adiado, porém firme e forte daqui a seis meses. O que eu quero da minha vida? Passar esse semestre na faculdade... Terminar minha iniciação científica. Só isso, quando isso estiver terminado, vou ter outro pequeno objetivo de vida, passar outro semestre na faculdade, terminar outro projeto ou o que quer que seja... E assim eu vou vivendo, literalmente um passo de cada vez, devagar, aos pouquinhos, meio que as cegas.

Visão de futuro é uma ótima qualidade, mas eu prefiro meus seis meses seguros e certos. Viver dói e se torna muito mais fácil de ser suportado quando parece não durar tanto.

Construtivo/Destrutivo


Há quem diga que não há nada no mundo que não possa ser perdoado. Eu acredito um pouco nisso, mas também não deixo de pensar que essa ideia não passa de papo furado. Há coisas imperdoáveis no mundo, dependendo de quem vê, umas ou outras, todas ou nenhuma.

Há quem não perdoe um tropeço, uma brincadeira, qualquer coisa sem importância, há quem não perdoe um assassino, matando-o, há quem não perdoe uma mentira, mas sorri sem estar feliz, há quem não perdoe uma palavra, um gesto, um olhar e não consiga ver sua própria palavra, seu gesto, seu olhar. Há muitas coisas imperdoáveis no mundo e tantas outras ignoradas pelo mundo. As pessoas se aborrecem o tempo inteiro, brigam, se desentendem, se afastam e tantas outras coisas... Tudo isso parece ser perdoável, porque querendo ou não, a grande maioria termina igual a antes de tudo acontecer. Porém eu acho que mais do que categorizar as coisas em perdoáveis ou não, é possível separá-las em destrutivas ou construtivas.

Tudo, absolutamente tudo, dependendo de quem vê, pode ser tanto destrutivo quando construtivo. A categoria não está no fato, e sim no que é feito daquele fato pela pessoa que o sofreu. Há coisas que começam como destrutivas e terminam como construtivas, porém há coisas que nunca deixam de ser destrutivas. Há memórias, acontecimentos, o que quer que for, que nos derrubam insistentemente sempre que voltam a mente. Você pode perdoar a pessoa responsável por isso, mas perdoar não necessariamente transforma o ocorrido em algo construtivo. Dessa forma, por mais que você perdoe alguém, esse alguém jamais será visto com bons olhos por você, pouco provavelmente será confiável, uma boa companhia, etc.

Acredito que mais importante do que perdoar alguém, é conseguir transformar o que há dentro de você em algo mais bonito. O perdão não passa de uma pequena consequência.

sábado, 8 de outubro de 2011

A personalidade limítrofe


É algo como não saber ao certo o que é certo e errado. Não, é pior, é não fazer nem idéia do que é certo e errado. É algo como não existir, é como amar o outro como a si mesmo (o pior erro que alguém já disse se tratar de virtude), é odiar a si mesmo como se você não fosse. É algo como andar perdido em uma floresta de espinhos, onde cada movimento resulta em um corte, onde cada corte resulta em milhões de perdas e você não sabe se permanece parado e morre ali mesmo de inanição ou corre em busca de uma saída e se mata lutando. É algo como escolher algo que não está entre as opições, é interpretar o não-interpretável e não entender nem um pouco o óbvio. É como ser extremamente inteligente e lamentavelmente burro. É como nunca pensar em coisa alguma, desenvolvendo raciocínios complexos para isso.

É como ser órfão de pais vivos no quarto do lado, é como estar sozinho cercado de amigos, é como ser surdo e querer cantar, é como correr no meio da rua de olhos fechados, é como se recursar a comer por ser magro de mais. É algo como entender o raciocínio lógico mais complexo e não compreender que entre dois polos existe o equilíbrio, o meio, nem mais nem menos. É algo como explicar as cores para um cego ou os sons para um surdo, é complicado, senão impossível. É como ser todas as vítimas do mundo em uma pessoa só, e todos os carrascos também. É o amor personificado de forma hedionda, é o ódio personificado de forma carinhosa. É e não é, tudo e nada, sim e não, oito ou oitenta, quente ou frio. Nada de morno, mais ou menos, ou tudo o que pareça remotamente com o equilíbrio. É como ter um furacão no lugar de um cérebro. É sentir de mais sem saber o que isso significa.

É como ser acusado de tudo o que os outros chamam de qualidades nas pessoas normais. É como morrer de amor ou matar de amor, não faz sentido, não é se sabe dizer se é lindo ou horrível. É conquistar mil amigos, odiar todos eles e não suportar ficar longe de nenhum. É como confundir um soco com um abraço, um carinho com uma facada, um beijo com uma mordida e vice versa. É algo como ter todos os sentimentos do mundo concentrados e guardados em potes dentro de si, quebrar todos eles e deixar escorrer descontroladamente. É como chorar quando se deve rir e rir quando se deve chorar. É um buraco negro de estimação. É ser uma criança atrasada, um adulto escondido, um velho adiantado.

É algo como esquecer que um curativo é um curativo e não uma faca, é algo como não saber o que é dor e senti-la todos os dias, todos os minutos, todos os segundos. É algo como morrer. É algo como viver como ninguém. É algo como querer morrer, chamando pela vida. É algo como querer viver, implorando a morte. É como não saber pensar, não saber sentir, não saber mover se quer seu próprio braço. É como saber fazer tudo isso tão perfeitamente a ponto de enganar o próprio cérebro. É algo como compreender a realidade no meio de uma alucinação. É algo como não entender nada da realidade em um dia totalmente comum. É dizer a verdade mentindo. É falar de mais sem dizer nada, é falar nada, dizendo tudo.

Viver com um limítrofe é questão de convivência, de preservação, de capacidade de separar o caos da racionalidade, é questão de paciência e habilidade. E sorte.

Obrigada a todos que continuaram ao meu lado apesar de tudo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

"O mundo conspira contra mim"


As vezes o mundo é injusto, mas as vezes nós somos injustos com o mundo. E ninguém parece se importar que o mundo sente, que o mundo chora, que o mundo se sente sozinho também. Não, ninguém se importa com o mundo. O mundo é duro e as coisas nunca acontecem como desejamos. E então você se revolta e o deseja mau, ou então desiste e se recusa a se mexer. O mundo te olha preocupado, tenta se aproximar ou pensar em algo que faça com vocês façam as pazes, mas você é impassível. O mundo está errado, é sempre culpa dele, você não quer mais saber de história.

O pobre mundo não sabe o que fazer, permanece rondando por perto, esperando que você volte ao normal e o aceite e entenda, mas você continua insistindo que ele está errado. Você sabe o que faz, você está certo, você é que esta sendo injustiçado, você é a vítima, o mundo conspira contra você, você sabe, você é mais velho e mais maduro, você isso, você aquilo. O mundo suspira cansado, lamentando a infantilidade das pessoas de se recusarem a ver a verdade ou de admitirem seus erros. São tantas as acusações contra ele que as vezes fica difícil não acabar se sentindo culpado... Não tem coisa pior do que alguém te culpar por algo que você não fez, e continuar arranjando desculpas para continuar te culpando enquanto o mau estar de estar errado durar.

E mesmo assim é o que mais as pessoas fazem. Ninguém se importa de culpar quem eles quiserem culpar, quando a maioria das coisas que acontecem na nossa vida é em função de alguma ação nossa, ou a falta da mesma.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Empatia?


Eu não sei ao certo o que acontece, porque as coisas tomam o rumo que tomam ou os motivos que levam o mundo a agir da forma que age. A única coisa que sei é que hoje eu chorei, não sei ao certo se por você ou por mim. Talvez pelas duas coisas talvez por nenhuma. A única coisa que sei é que de repente dói, de repente a sensação de que tudo vai mau invade meu corpo e eu tenho uma vontade enorme de fugir ou de te dizer para que corra. Corra para bem longe, vou correr para o outro lado, quem sabe assim despistamos a loucura que nos assombra. Ah... Mas nada é desculpa para nada. Minha psicóloga me disse que preciso entender, mas que também preciso me preservar. As duas palavras soam como incompatíveis ao meus ouvidos. O que houve? Alguém me explique.

Acho que chorei mais por mim do que por você. Chorei porque sinto que passarei pelo que você está passando ainda muitas vezes na minha vida. Chorei porque te entendo e mesmo assim me sinto obrigada a esconder minhas mãos. Chorei porque você nem ao menos parece perceber o que está havendo. Chorei porque não aguento, não aguento mais... Chorei porque compreendo o quanto machuquei as pessoas a minha volta e o quanto elas tiveram paciência comigo.

Eu não sei ao certo o que está havendo... A não ser que eu estou terrivelmente cansada. Tanto que está difícil raciocinar, difícil perceber o que é certo e o que é errado. Minha vontade é de fugir, ou mandar você correr. Vai dar tudo certo, não é mesmo? Alguém me diz que vai ficar tudo bem por favor... Alguém me diz. É tudo tão frágil, tudo tão incerto, tão solitário e irreversível. Eu preciso de um chão, todos precisamos. E eu não estou conseguindo deixar tudo perfeito, é frustrante. Não consigo estudar, não consigo pensar, não consigo me sentir bem, não consigo porra nenhuma. Está tão difícil permanecer assim, aparentemente controlada, aparentemente bem.

O que houve? Por que as pessoas fazem o que fazem? Não entendo, não acho respostas racionais. Talvez, afinal, a errada seja eu. Talvez eu devesse ter feito ou dito algo que não fiz ou deixei de dizer. Não sei. Por que simplesmente não podemos esquecer tudo? E deixar as coisas como devem ser. O que houve? Não consigo entender. O que aconteceu? Como faço para voltar atrás?

Hoje quis que você me deixasse em paz, que você voltasse a reclamar que na sua vida não acontece nada. Porque o tédio é melhor que a instabilidade descontrolada. Houve quis permanecer longe porque me dói te ver, hoje quis que você não existisse, que tudo fosse mais fácil, que você parasse com essa história toda. Não sei ao certo o que houve, algo ruim ronda sua cabeça, muito ruim. E você parece não perceber, parece pensar que está tudo certo, que você está certa, que as coisas que você diz e faz fazem sentido. Mas não é verdade. Nada está fazendo sentido, nada tem lógica alguma. Por que não consegue ver?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A agressividade, a dificuldade de comunicação e a passividade



Quem disse que o mundo é como você você acha que ele é? Quem disse que eu sou quem você diz que eu sou, que o mundo gira ao seu redor, que as pessoas fazem o que você acha que elas fazem, que as coisas acontecem sempre segundo sua interpretação, que o problema está no mundo, que tudo é injusto, que personalidades são formas de te desafiar? Quem disse, quem disse?

Menos que uma pessoa eu me sinto um caminho, um objeto, talvez uma arma na mão de alguém, um escudo vivo, tudo menos alguém. Eu me anulo e por me anular dou liberdade para que os outros façam o mesmo, meu silêncio se vira contra mim tanto quanto minhas poucas palavras. Houve um tempo em que eu choraria, houve um tempo em que eu prometeria para mim mesma nunca mais falar, quer seja verdade, quer seja mentira, tudo o que fazemos, dizemos ou deixamos de dizer, na mão de alguém que se concede o poder, se torna uma arma capaz de te destruir terrivelmente fácil. Não confio nas pessoas é verdade, admito, não confio. Houve um tempo em que abaixaria a cabeça, hoje em dia a única coisa que acontece é que minhas teorias cada vez mais se confirmam.

A vida da voltas e mais voltas, eu mudo, eu melhoro, eu pioro, e as pessoas continuam jogando as mesmas coisas na minha cara, aqui, ali, em todo o lugar. A imagem que se cria de mim parece sempre ser tão equivocada que eu acabo duvidando de mim mesma. É muito difícil não concordar com isso ou aquilo que eu recebo no meu colo. Fraca, sem opinião, facilmente influenciável, ingênua, burra, cachorrinha, pau mandado, sem personalidade... E tantas outras coisas que no fundo dizem a mesma coisa: passiva.

Eu prefiro o silêncio à palavra, sempre preferi. Eu prefiro me preservar e não expor minha opinião do que gerar brigas ou desentendimentos. Eu prefiro a ponderação e a racionalidade quando se trata dos outros (já que não consigo ser ponderada nem racional comigo mesma), eu prefiro a distância segura do que a proximidade que machuca, eu prefiro a desconfiança do que a confiança cega. É mais fácil odiar que amar. Eu prefiro perder um amigo do que me destruir inutilmente por ele. Hoje eu penso assim.

A minha vida inteira foi uma pilha de decepções com todas as pessoas que passaram por mim, eu estou muito acostumada, a minha vida inteira também foi uma pilha de decepções comigo mesma, é verdade. Tenho uma tendência enorme a desistir das pessoas, de mim mesma, de tudo. Estou sempre cansada de mais, sempre me esforçando de mais para sempre colher as mesmas derrotas. Nem por isso eu deixo de acreditar que tenho muita sorte, eu tenho muita noção da sorte que eu tenho, de todas as pessoas maravilhosas, de todas as oportunidades, de todas as vezes que fui perdoada, salva e arrancada desse inferno. Eu agradeço todos os dias pela sorte que tenho, e é só por conseguir ter essa noção que consigo seguir em frente. Quando um amigo de verdade me abraça, quando alguém sensível percebe meu olhar triste e pergunta se está tudo bem... Eu sinto que existo, existo para alguém. Essas pequenas coisas me dão forças.

Não preciso de elogios, não... De qualquer jeito não acredito neles. Eu preciso só dessas pequenas provas de um certo amor, se é que posso chamar assim, ou melhor, consideração, empatia, carinho. Eu preciso disso. Mas não só isso... Preciso de amor próprio, o que me falta terrivelmente. Preciso acreditar em mim, preciso me defender, preciso parar de ser carrasca de meu corpo, preciso parar de buscar a perfeição como forma de auto-aceitação. Preciso falar, principalmente, preciso falar...

As pessoas se esquecem de mim, se esquecem que eu tenho opinião, que eu penso também, que eu sinto, que eu me machuco... As pessoas passam por cima de mim como se eu fosse nada, é muito fácil para elas, muitíssimo fácil e confortável. Afinal, o ser humano possui um prazer enorme em machucar alguém mais “fraco”... Sentir o gostinho de poder, de controle sobre a situação, de superioridade. Eu sei muito bem, eu entendo muito bem... Quantas pessoas já se aproveitaram de mim? Quantas já me jogaram para baixo só porque estavam mau, irritadas ou sem nada para fazer? Quantas pessoas eu já vi se viciando em me machucar (até mesmo eu mesma)? O poder é uma droga... Quando alguém tem acesso a ele de alguma forma, acaba se viciando. Acontece, acontece muito. Eu eu não faço nada, é onde se encontra o problema, eu permito que isso se torne um círculo vicioso. As pessoas criam o hábito de me machucar para se sentirem melhor, o fato delas se sentirem mau e descontarem em mim faz com que eu imagine e acredite que a culpa é minha, o que me cala e vai reforçando o comportamente até níveis absurdos. Eu conheço todo o mecanismo.

E por mais que eu melhore, minha dificuldade de se comunicar me acompanha fazendo com que fantasmas voltem o tempo inteiro. As pessoas sempre são muito espertas, sempre me surpreendo com a facilidade e rapidez com que elas reconhecem um alvo fácil, uma vítima em potencial, ou melhor, um culpado em potencial (porque a desculpa para se agredir alguém é fazê-la como culpada de algo, qualquer coisa, mesmo que absurda). Eu preciso falar, eu preciso muito falar... Porém meu silêncio contínuo durante anos invalida minhas palavras de agora. Pelo menos é o que parece, pelas coisas que escuto, pela forma como me vêem.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Meu herói vai me salvar - Ninguém viu, ninguém ouviu


Ninguém a ouviu chorar, ninguém deu ouvido a seus gritos, seu silêncio, sua solidão. Sem mãe, sem pai, sem irmãos ela cresceu e aprendeu a se virar sozinha, sem nada, sem ninguém. Ela ouviu tudo, viu tudo, viveu tudo, acreditou em tudo... Tanto que hoje não acredita em mais nada. Alguém roubou sua infância, seu carinho, sua vida. Ninguém viu, ninguém ouviu. Errando pelas ruas com seus sapatos furados e roupas sujas ela sorria, na inocência de não conhecer vida melhor da que a que vivia. Ninguém viu, ninguém ouviu. Seus gritos desesperados durante a noite nos becos escuros e casas desconhecidas. Suas manhãs tristes, doloridas, confusas e inexistentes.

Cada dia em uma cama diferente com um papai diferente. Ela segurava com força a mão de todos, sem saber se queria arrancá-las de ódio ou se a agarrava em busca de um amor que sempre sonhou e nunca conheceu. Seu olhar vazio e sorriso passional, o tremor involuntário em seu pescoço, o andar manco e carinha de anjo. Tão linda, diziam. Venha passar a noite na minha casa, uma criança linda dessas não pode dormir na rua sozinha, o bicho papão pode passar e te levar. Ela concordava com a cabeça e se deixava levar. As vezes ganhava comida e leite quente, em troca tinha que ficar sem roupa e fazer exatamente o que o papai daquela noite queria que ela fizesse. De noite sonhava com monstros enormes com dentes afiados que a comiam viva. Como se isso não acontecesse sempre quando ela estava acordada.

Ninguém viu, ninguém ouviu. Ela passa pelas ruas sem destino, estendendo a mão em busca de outra que a segure e em vez disso recebe moedas. As vezes fica irritada, pega as moedas sem sentido no bolso e as bate no asfalto até esfolar todos os dedos, as vezes rasga a mão de propósito em coisas afiadas, ela prefere ver o sangue escorrendo das mãos e dos braços do que do meio das pernas. Seu pequeno coração bate com tanta força em seu peito que ela tem certeza que um dia ele vai pular pela sua boca e sair andando, as vezes dói tanto que ela se sente obrigada a parar, com o corpo inteiro tremendo e mãozinha incerta no peito, lágrimas nos olhos e uma sensação de que já morreu.

Ela a muito não lembra mais do caminho de volta para a casa. Todos os dias imagina que uma família linda e perfeita a espera e que ela só se perdeu em um dia de chuva, logo vão achá-la e salvá-la de todos esses monstros. E a pequena menininha vira todas as esquinas com a esperança que na próxima encontrará sua mamãe e papai de braços abertos. Por um motivo ou outro ela não se lembra ou não quer se lembrar, que quem a ensinou a ser boazinha e fazer tudo o que os adultos pedem foi seu próprio pai. Não... Os pais de verdade são heróis, um amiguinho um dia havia lhe dito, ela concordou e pintou em sua mente como tudo deveria ser, a ponto de acreditar.

Uma menininha linda dessas não pode dormir sozinha na rua.

Meu papai de verdade já já vem me salvar.

domingo, 2 de outubro de 2011

Um conto sobre muros, povos e religiões


Havia um muro naquela cidade, um muro alto, sem portas, portões ou passagens de quaisquer espécie. Ele estava lá há tanto tempo que ninguém mais questionava sua existência. Todos acreditavam que do outro lado habitava o mau, o inimigo e o muro existia para protegê-los, todos se sentiam seguros com algo daquele porte rodeando-os. Há muitas coisas ruins do outro lado, ninguém deve se arriscar a sair daqui, eles diziam. Mães contavam para seus filhos desde pequenos coisas horríveis que aconteciam com os que desobedeciam essa lei, crianças mais velhas jogavam pedras para o outro lado, imaginando mil e um monstros que eles poderiam acertar. Todos acreditavam que o muro havia sido uma bênção do céu, que a vida daquele povo só havia melhorado depois daquele acontecimento.

Havia um muro em uma parte daquele cidade, que rodeava algo desconhecido. Um muro alto, sem portas, portões ou passagens de quaisquer espécie. Ele estava lá a tanto tempo que ninguém mais questionava sua existência. O povo da cidade sabia que dentro daquela círculo delimitado pelo muro haviam pessoas que moravam ali desde os tempos mais remotos. O povo da cidade não sabia muito bem quem eram, ou porque estavam ali, mas imaginavam que para que esse muro existisse deveria haver um bom motivo, hipótese essa comprovada sempre que daquele lugar voavam pedras que muitas vezes acabavam por atingir pessoas inocentes. Os cidadãos agradeciam aos céus pela existência daquele muro, tremiam de medo só de imaginar se aquele muro não existisse.

Havia um muro naquele lugar, há tanto tempo que ninguém mais se perguntava o porquê. Ele, por prender um povo ao seu redor, os transformava em bichos, que imaginavam estarem protegidos de outros bichos que habitavam do outro lado. Do outro lado, o muro transformava as pessoas em bichos, por não conseguirem reconhecer nas pessoas do outro lado, serem humanos exatamente como eles. Havia um muro naquele lugar, muito alto, sem portas, portões ou passagens de quaisquer espécie. E dois povos irmãos estavam presos pela sua existência, separados para sempre, incompreensíveis e cegos. E ninguém mais questionava qualquer coisa.