"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A troca - Sobre dividir sentimentos, vidas, problemas


Tenho medo da troca. O que te faz bem, sempre te faz mau e o que te faz mau, te faz mais mau ainda. E eu tenho medo de amarrar minha linha a de qualquer pessoa, de criar vínculos, de me aproximar, de abaixar minhas muralhas, me cansa, me dói. Sangra sem parar. As vezes me sinto mais calma quando penso que no mundo só existe eu, as vezes entro em pânico ao me olhar no espelho, mas de um jeito ou de outro as pessoas me assustam, me intrigam, me irritam, eu as quero só para mim, eu as quero o mais distante possível. Elas me decepcionam a medida que eu decepciono a mim mesma, porém transfiro a decepção que tenho do mundo para mim mesma e em mim afogo qualquer dor, qualquer choro, qualquer raiva. E assim, contribuo cada vez mais para que no mundo, eu só enxergue a mim mesma, ou enxergue todos menos eu mesma, no fundo as duas coisas são a mesma coisa.

Eu reclamo da minha inexistência, da morte lenta e torturante que é minha vida, mas a coisa que eu mais sinto no universo é meu coração batendo, meus sentimentos descontrolado e desregulados. Estou morta ou viva de mais? Não sei... Só sei que o contato com o outro me causa estranhamento, quem são essas pessoas, o que querem, o que pensam, para onde vão? Eu as quero descobrir, eu quero conhecer seus piores segredos e seus maiores medos, assim fujo de mim, e me encontro logo ali. Em todos eles, em todas as histórias, em todos os sentimentos, estou logo ali. E eu viro as costas e vou para o outro lado, fugindo de todos na esperança de me esquecer em algum deles, inutilmente. Quem sou, o que quero, o que penso, para onde vou?

Fica difícil identificar se estou falando comigo mesma ou com alguém, se odeio alguém ou o que lembra a mim mesma nesse alguém, se eu amo alguém ou amo nesse alguém o que eu queria ser. Fica difícil saber se quer se existo, se quando olho no espelho vejo a mim mesma ou a outra pessoa, estranha, desconhecida. Eu não sei. As pessoas me assustam porque vejo nelas algo que existe dentro de mim, é natural, mas assustador. Fecho os olhos e finjo que não existo, que minha vida é linda. Mas quando os abro, há sempre alguém para me lembrar da realidade. Com suas próprias histórias, problemas e lágrimas... Que me lembram as minhas, e que não quero lembrar, não quero sentir, não quero voltar, não quero chorar.

Que fique longe de mim qualquer um, que os problemas se mantenham distantes e irreais, que ninguém me mostre nada do mundo, que eu durma e nunca mais acorde. Mas não me exponha com sua dor, não me denuncie, não me faça abrir os olhos. Não, não... Ser egoísta é a essência dos que conseguem sobreviver. Eu quero sobreviver.

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