"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Espinhos - A menina e a flor


Existe uma flor em algum lugar no mundo que possui muitos espinhos, tantos que quando ela desabrocha suas próprias pétalas se machucam e se rasgam na floresta pontiaguda. É uma pena, as pessoas pensam, uma flor tão bonita que peca no desespero de se defender, machucando a si mesma. Quem olha de longe sente vontade de se aproximar na mesma medida que tem medo, ela parece tão delicada e tão agressiva, tão maravilhosa e tão terrível. Pobre flor.

Um dia, meio que ao acaso, uma garota passou pela flor e esta lhe chamou atenção. Como será a flor sem todos esses espinhos a trespassá-la? Talvez seja muito mais bonita, talvez ela consiga viver muito melhor sem tudo isso impedindo que ela respire. Pobre flor. Mas como afastar esses terríveis espinhos? Como impedir que eles cresçam? A menina se agachou e ficou ali, olhando as pétalas machucadas da florzinha, e pensando. Ninguém nunca tinha tido a coragem se quer de encostar naqueles terríveis espinhos, porém a menina arriscou, imaginando que valia a pena se machucar pela pequena flor. Qual foi sua surpresa quando descobriu que os espinhos eram quase tão frágeis quando a própria flor! Ora.. Mas isso não fazia sentido. Por que a plantinha se esforçaria tanto para criar tantos espinhos, por que poria em risco a própria vida para criar algo que não a defendia de nada?

A garota, intrigada, retirou facilmente todos os espinhos que machucavam as delicadas pétalas da flor e ela ficou ali, meio murcha, muito rasgada e arranhada. A menina sorriu vitoriosa, agora a florzinha podia respirar. Logo ficaria grande e bonita, talvez crescesse o suficiente para sair do meio dos espinhos, ficar a cima deles e não ser nunca mais sufocada.

No dia seguinte, quando a garota passou novamente pela plantinha, não havia mais flor. Ela não soube entender o que havia acontecido, durante muito tempo continuou voltando ali na esperança de ver a pequena flor novamente, porém ela nunca voltou a crescer. Agora não restava mais nada a não ser o amontoado de espinhos sem sentido.

Se a flor pudesse falar ela explicaria que os espinhos serviam para mantê-la em pé, que os cortes e machucados em suas pétalas eram para ela um mau necessário. Mas ninguém soube compreender, as pessoas acreditavam que os espinhos eram um erro, que tornavam a flor feia, eles não entendiam, eles não sabiam ver que essa era a forma que a pequena flor encontrou para viver, que eles não eram para assustar os outros, muito menos para machucá-los. Não passavam de muletas para a fragil flor, não era intenção dela que suas pétalas fossem perfuradas ou que isso afastasse as pessoas. Eram só uma vontade enorme de poder existir. E a pequena flor nunca mais cresceu.

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