"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A cegueira e as condições para se suportar a vida


As vezes me pergunto qual o sentido do mundo existir, me pergunto, se é que deus existe, o que ele tinha na cabeça quando inventou tudo isso, o que ele ganhou com isso, qual seu objetivo, onde ele quer chegar com uma coisa dessa. Não faz sentido. Quanto mais eu penso, menos acredito que algo deliberadamente tenha criado o mundo e se algo criou o mundo, esse algo, necessariamente, tem algo de cruel e sádico. Quando olhado de perto, o mundo não é nada bonito, nada maravilhoso ou milagroso. Não... É muito fácil achar o mundo bonito, é muito fácil acreditar que tudo tem um porquê e que estamos aqui para comprirmos uma “missão”. Difícil é abrir os olhos e perceber que nada é bonito, que não existe um porquê, que a justiça não passa de algo ineficiente e ilógico criado pelo homem e que nascemos sem propósito nenhum e morreremos da mesma forma.

Não existe nada nos protegendo, nada que nos recompensará pela nossa dor e sofrimento, não existe outra vida depois dessa, não existe castigo eterno para seus inimigos, nem recompensa eterna para quem você julga bom. Tudo não passa de idéias egoístas criadas para nos consolar. É muito fácil se colocar no lugar da vítima, da santa, da que vai ser recompensada, da que deus ama e proteje, da justa, boa e caridosa, da que nasceu para fazer algo de importante no mundo e fazer a diferença. É muito fácil e por mais que essas idéias quase que infantis faça bem para a grande maioria das pessoas (tanto que a incidência de doenças como a depressão sejam menores entre os religiosos), eu a acho ridícula. Quando eu costumava ir na igreja e tentava acreditar nessas coisas, eu sempre me perguntava porque aquelas pessoas dentro da igreja mereciam o céu e não as pessoas de fora, me perguntava o que as tornava melhores, e mais, o que as fazia acreditar que eram melhores, que eram mais puras e santas, mais boas. Por que? Porque usavam saias? Porque oravam? Porque não falavam palavrão e não faziam sexo antes do casamento? Isso as tornava melhores? Porque deus julgaria alguém tatuado como pior e menos merecedor da “felicidade” eterna que um não tatuado? Aliás... Porque deus julgaria qualquer pessoa? Se todos possuem o céu e o inferno dentro de si, admitindo e reconhecendo ou não.

Quem julga afinal? Quem segrega? Quem acredita ser melhor? Será que deus diz isso ou será que são os homens que o fazem? Acho essa idéia arcaica tão... humana, tão errônea e contradizente para ser de algo dito divino e perfeito. Se você abrir um pouquinho os olhos você vai perceber o quão iguais são todos os seres humanos, o quão patéticos e vaidosos, cheios dos mesmos defeitos. Como algo seria capaz de julgar qualquer pessoa melhor ou pior, se bem lá no fundo pensamos e sentimos as mesmas coisas. Existe toda uma diferença complexa em ser e parecer ser. Só porque alguns parecem mais bons do que outros, não quer dizer que realmente o sejam. Conheça alguém, qualquer pessoa, bem a fundo que você perceberá como todos possuem os mesmos “defeitos”, que eu prefiro nem chamar de defeito, mas caracteristicas inerentes ao ser humano. Ou melhor! Conheça você mesmo bem a fundo, com sinceridade verdadeira, que você vai perceber que não é muito melhor do que qualquer assassino, enganador ou ladrão. Não, você não é.

Eu sei que é difícil de enxergar, as pessoas possuem a mania de verem só seus lados, de justificarem seus próprios atos com as mais diversas desculpas e ao mesmo tempo não aceitar qualquer desculpa do próximo, de julgá-lo sem nem um pingo de preocupação com a investigação de sua natureza, passado ou razões. Eu não suporto pessoas apontando para outras como se elas fossem santas e não errassem exatamente da mesma forma. O que muda é só o contexto, a forma particular de cada um de fazer a mesma bosta. E ninguém percebe, é incrível. As pessoas são tão éticas e justas quando se trata dos outros e tão cegas quando se trata delas mesmas.

As pessoas me perguntam porque eu me coloco para baixo, porque eu me julgo má e sou incapaz de culpar meus malfeitores. Ora... Como posso julgar qualquer erro de qualquer pessoa se sei que se estivesse no lugar deles muito provavelmente faria a mesma coisa? É questão de ser realista, de abrir os olhos. Se condene antes de apontar o dedo para os outros, seja ele quem for, seja o crime que for, não importa. Eu sei que vocês não vão conseguir, porque mesmo os que se culpam, se culpam em busca de alguém que diga “a culpa não é sua”, alguém que afague sua cabeça e diga que você não fez nada de errado. É difícil fugir da vaidade de se colocar em um lugar favorável. Eu também faço isso, o tempo todo, mas me orgulho de não buscar consolo em idéias fantasiosas e toscas, nem em acreditar que sou melhor do que os outros (porque quer você adimita ou não, você acredita SIM que é melhor do que os outros).

Mas talvez eu esteja errada. Eu sou doente, minha visão é a minoria e é a maioria que sempre tem razão. Por mais que a minoria se orgulhe de ser minoria e se ache superior por isso também (ou seja, eles fazem a mesma coisa que a maioria, só que com opiniões diferentes). Talvez o certo seja as pessoas acreditarem que são boas de mais, que são especiais e diferentes, que o mundo vai sentir falta delas quando elas morrerem, que elas serão compensadas de tão justas e certas que são. Talvez sem isso o ser humano enlouqueça, como eu. Talvez sem isso todos se matem, talvez ninguém aguente encarar a dura realidade de que eles são ninguém, de que são exatamente iguais a todos e que nunca irão se destacar, que nunca ninguém dará a mínima para eles. Talvez ser cego seja uma defesa criada pela natureza para que os homens suportem a vida.

Nenhum comentário: