Toca não é o que você vê em um primeiro momento, não se trata dos caminhos confusos e escuros como um formigueiro, as galerias espaçosas em contraste com o sufoco de não se ver um único raio de Sol. Toca não é a multidão de pés sujos ou o suor que escorre dos rostos cansados, não é o barulho de muitas pessoas caladas ou a indiferença fria dos olhares que não se cruzam.
Quem chega a essa cidade não vê nada além disso, passam-se muitos viajantes e nenhum chega realmente a conhecer Toca. Acredita-se que os lugares se resumem às suas plantas e mapas pendurados na parede, porém, poucos sabem que para se ver algum lugar é preciso se adentrar, se misturar aos corpos que vagueiam sem sentido até que o incompreensivo e estranho se transforme em normal. Mas poucos o fazem, quem arrisca pode se arrepender em um primeiro momento. Toca não parece bela, organizada ou nobre, ao contrário. Os caminhos se misturam em milhões de conexões e as vias se enxem de pessoas que vagueiam de um lado para o outro como que sem propósito. É difícil entender o funcionamento da cidade, é fácil se perder e se aborrecer com as pessoas lentas, quietas e desinteressadas. O barulho dos passos da multidão e os encontros ao acaso povoam a mente de todos, de modo que parecem se tornar surdos.
Porém, com o tempo, o barulho não se torna tão incômodo assim, o cheiro de suor e o calor das galerias parece mais ameno. Com o tempo você percebe que se prestar bastante atenção, em uma determinada hora do dia, consegue ouvir uma música suave ao longe, um canto puro e harmonioso. Se você seguir a multidão nesse momento, eles te levarão para a maior das galerias e ali, cada dia um grupo diferente de cidadões se apresentam aleatoriamente, sem que nada seja combinado ou ensaiado. Quem chega a Toca não a conhece ou entende em um primeiro momento, mas com o tempo é possível ver que existe uma harmonia no movimento dos trens e da multidão, é possível observar que as pessoas não se olham, porém tem algo entre elas que as une e a aparente indiferença não passa de um jeito de ser comum a todos. Não é por acaso que a cidade pareça um formigueiro, as formigas possuem uma sociedade complexa e organizada, difícil de ser entendida facilmente. As formigas não falam ou brigam entre si e assim o são os cidadões de Toca. o que pode parecer inumano para um estrangeiro, é na verdade marca de uma compreensão e harmonia completa. Os habitantes da cidade não andam sem sentido ou razão por entre os túneis, todos passam o dia indo em direção a maior das galerias para ouvir ou cantar a música que dá sentido às suas vidas.
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