"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 25 de setembro de 2011

Toca


(Texto escrito para um trabalho de Lingua Portuguesa, baseado na obra Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino)

Toca não é o que você vê em um primeiro momento, não se trata dos caminhos confusos e escuros como um formigueiro, as galerias espaçosas em contraste com o sufoco de não se ver um único raio de Sol. Toca não é a multidão de pés sujos ou o suor que escorre dos rostos cansados, não é o barulho de muitas pessoas caladas ou a indiferença fria dos olhares que não se cruzam.

Quem chega a essa cidade não vê nada além disso, passam-se muitos viajantes e nenhum chega realmente a conhecer Toca. Acredita-se que os lugares se resumem às suas plantas e mapas pendurados na parede, porém, poucos sabem que para se ver algum lugar é preciso se adentrar, se misturar aos corpos que vagueiam sem sentido até que o incompreensivo e estranho se transforme em normal. Mas poucos o fazem, quem arrisca pode se arrepender em um primeiro momento. Toca não parece bela, organizada ou nobre, ao contrário. Os caminhos se misturam em milhões de conexões e as vias se enxem de pessoas que vagueiam de um lado para o outro como que sem propósito. É difícil entender o funcionamento da cidade, é fácil se perder e se aborrecer com as pessoas lentas, quietas e desinteressadas. O barulho dos passos da multidão e os encontros ao acaso povoam a mente de todos, de modo que parecem se tornar surdos.

Porém, com o tempo, o barulho não se torna tão incômodo assim, o cheiro de suor e o calor das galerias parece mais ameno. Com o tempo você percebe que se prestar bastante atenção, em uma determinada hora do dia, consegue ouvir uma música suave ao longe, um canto puro e harmonioso. Se você seguir a multidão nesse momento, eles te levarão para a maior das galerias e ali, cada dia um grupo diferente de cidadões se apresentam aleatoriamente, sem que nada seja combinado ou ensaiado. Quem chega a Toca não a conhece ou entende em um primeiro momento, mas com o tempo é possível ver que existe uma harmonia no movimento dos trens e da multidão, é possível observar que as pessoas não se olham, porém tem algo entre elas que as une e a aparente indiferença não passa de um jeito de ser comum a todos. Não é por acaso que a cidade pareça um formigueiro, as formigas possuem uma sociedade complexa e organizada, difícil de ser entendida facilmente. As formigas não falam ou brigam entre si e assim o são os cidadões de Toca. o que pode parecer inumano para um estrangeiro, é na verdade marca de uma compreensão e harmonia completa. Os habitantes da cidade não andam sem sentido ou razão por entre os túneis, todos passam o dia indo em direção a maior das galerias para ouvir ou cantar a música que dá sentido às suas vidas.

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