"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quinta-feira, 31 de março de 2011

Meu nome é Michelle

"Quantos anos você tem hein Michelle?" "18... Mas meu nome é Sabrina." "18! Uma criança ainda... Mas me conte Michelle! Como você se sente sendo costurada??" "É uma sensação engraçada." "Sabia que eu já operei milhares de pessoas mas nunca levei um pontinho se quer?? Não faço idéia como é... Alias eu tenho medo de agulhas." "Sério??!" "Sério Michelle... Não conta pro doutor Alexandre." "Mas meu nome é Sabrina..." "Você sabe que eu não vou conseguir te chamar de outra coisa a não ser Michelle, não é?" "É... Acho que sim... De qualquer jeito estou começando a gostar desse nome." Meu monstro talvez se chame Michelle... Tive essa sensação. Mas dar um nome a ele vai torna-lo mais humano, mais aceitável. Não quero aceitá-lo... As vezes gosto dele, mas não confio muito não, não sou sua amiga.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Recaídas


Recaídas? Acontecem... Nem sempre você vai conseguir se controlar, nem sempre toda a força do mundo vai ser o suficiente, nem sempre seu suor vai ser bem sucedido, nem sempre uma palavra amiga vai te deter... As vezes você simplesmente tropeça. E torçe para que o tombo não seja muito feio. As vezes o tombo é leve, facilmente reversível, as vezes não... As vezes dói um pouco mais que o normal, as vezes o buraco que aparece na sua frente é um pouco maior do que você pensava.


As vezes você deveria levar um pouco mais a sério os sinais que seu corpo e cérebro estavam dando.


Mas sabe... Recaídas acontecem. Mas é você, e só você, que vai decidir continuar a lutar ou não.


É incrível como, não importa o quão horrível e irreal seja o inferno que você está passando, algumas pessoas chegam até você. Simplesmente chegam. Quebram todas as barreiras e quando você vê... O tremor descontrolado passou, o coração batendo forte e colorosamente em seu peito se acalmou, o medo de olhar para as próprias mãos se foi, as lágrimas secaram... E você se pega sorrindo, para aquele anjo na terra. Essas pessoas que te vêem no seu pior dia, sangrando e chorando, e não se abatem, não sentem medo, não se afastam... Ao contrário! Não desistem de sorrir para você, brincar e cuidar... Com tanto amor e carinho que você se pega pensando: Quem é essa pessoa?


Queria agradecer a vocês... Duas, três pessoas nesse mundo inteiro. Cara... Vocês salvam vidas diariamente. Não sei se vocês sabem. Pouquissimas pessoas já me viram naquele estado... Normalmente eu estou muito melhor e sou tratada muito pior pelas pessoas poraí. Que dom é esse de abraçar alguém quando vocês poderiam só julgar e falar um "bem feito"? Que dom é esse de ver a pessoa, que tem sentimentos, medos e sonhos como qualquer um, por trás do problema? Que dom é esse de se envolver sem medo? De ouvir, de brincar com as piores situações contagiando qualquer um com seu sorriso? Obrigada. De verdade.


Vou continuar lutando. Não se preocupe, sou mais forte do que eu penso e acredito, sei disso.

domingo, 27 de março de 2011

Aquela velha incerteza - Quem sou eu?


Aquela sensação que aparece timidamente e vai crescendo com o passar dos dias... De que eu não vou conseguir. De que você vai me abandonar a qualquer instante. De que um novo surto está me rondando. De que esse ano vai ser como o anterior, de que alguém ainda vai me pegar em um dia ruim e me internar, acabar com minha vida, minha chance de ser normal. O medo. A vontade doida de provocar a vida, de me atirar na frente de um caminhão, de experimentar todas as drogas, de socar alguém, de humilhar e destruir outro alguém... Só para sentir, sentir qualquer merda, sentir a culpa me invadindo deliciosamente, meu monstro tomando as rédeas da minha vida, abrindo caminhos de sangue pela minha pele, como se me castigasse e me desse um prêmio ao mesmo tempo. Essa vontade doida... de sair correndo, de fugir, de abandonar tudo, jogar tudo pro alto... Antes que eles me abandonem. Sim, abandonar antes de ser abandonada. Faz sentido?


Esses novos amigos... São tantas pessoas, tenho que ser boa com todos eles, tenho que parecer normal, tenho que manter o sorriso no meu rosto para que eles não me julguem pelas minhas cicatrizes. Estou cansada... Quero chorar quando sentir vontade e gritar quando precisar... Como a criança que eu era. Quero... Que alguém me abraçe e diga que vai ficar tudo bem, que tudo isso vai valer a pena. Mas ninguém vai fazer isso... Ninguém deve fazer isso. Preciso crescer, não é mesmo? Me tornar forte por mim mesma.


Mas eu não vou conseguir... Não acho que eu vá conseguir. Você sente eu me perdendo de novo aos pouquinhos? Você vê? Você nota os sinais? Eu noto... Eu anoto mentalmente todos meus sintomas, absolutamente todos, posso até esquecer depois, eu esqueço muita coisa... Mas na hora eu sempre percebo. Quase de forma paranóica. Estou perdendo minha cabeça? O que está acontecendo comigo?


As pessoas sentem o que eu sinto? Se sentem... Como aguentam sem enlouquecer? O que elas tem que eu não tenho? O que é normal? Não faço idéia. Isso é real? Minha cabeça está inventando tudo? Não sei... Será que isso realmente aconteceu? Isso está certo? Onde eu estou? O que estou fazendo aqui mesmo? Quanto tempo se passou desde que eu perdi a noção de tudo a minha volta? Será que as pessoas percebem? Eu sorrio e finjo que nada aconteceu. Está tudo bem, estou bem... Ainda não está tão grave assim. Sou quase normal.


Minha psicóloga diz que meu monstro na verdade sou eu, eu sei que sou eu, mas no fundo... eu tenho certeza que não sou eu. Concordo com ela, mas continuo afirmando com certeza que não sou eu. Para mim faz sentido, mas eu sei que é totalmente incoerente para o resto do mundo. Tenho conciencia do que deveria ser a realidade, por isso sei que a minha está errada... Mas a minha não deixa de ser real. Conseguem entender? Acho que não... Deixa para lá. Se eu falo de mais começo a parecer paranóica. Não gosto de parecer isso.

quinta-feira, 24 de março de 2011

A uma alma que está se perdendo


Você começa a agir de todos os jeitos, ser tudo... menos você mesma. Você rejeita seus antigos amigos por saberem verdades que você quer esconder, como se eles tivessem culpa. Você exibe falsos sorrisos e procura agradar o tipo de pessoa que você mais odeia... Na verdade você se torna o tipo de pessoa que você mais odeia. Você está perdida, querendo ser aceita do jeito que você é, mas você simplesmente não sabe de que jeito você é! Isso te frusta. Tem algo errado, você sente, você sabe. Você senta em seu quarto sozinha e percebe o quão falsa você é. O quão grande é a mentira que você está vivendo. Mas o problema é que isso não passa concientemente em sua cabeça, não, você se recusa a ver sua mentira, você acredita com todas suas forças que quem você é e o que você está vivendo é de verdade. Mas seu peito dói... Essa sensação de que algo está terrivelmente errado nunca passa.

É duro o caminho que temos que percorrer para nos descobrir... E alguns nunca chegar a se encontrar. Somos juízes de nós mesmos, nos julgamos do pior e mais injusto jeito possível. Criamos metas e damos sentenças a nós mesmos sem que isso passe percebido por nós. Você não pode ser quem é, isso seria decepcionar todos a sua volta, ou as vezes você mesma. Então você muda e continua mudando, se perdendo cada vez mais, pensando estar se encontrando.

Talvez você não saiba, talvez você nunca leia isso... Mas esse texto é para você. Eu me vejo em você... Posso descrever qual vai ser seu próximo passo se você continuar agindo assim e exatamente o que você vai sentir quando as coisas ruins começarem a acontecer. Por favor, não se deixe chegar ao fundo do poço para perceber quem você é e qual caminho vai te fazer feliz. Pense em você mesma, de verdade... Que se foda o mundo, que se foda seus pais ou qualquer pessoa em seu caminho, vai por mim, vale a pena ser sincera consigo mesma. Você não faz idéia o quão maravilhosa é essa liberdade de poder viver em paz. É verdade que os problemas sempre vão existir, os dias ruins também. Mas é verdade também que a maioria dos dias vão ser lindos. Você vai se encontrar como nunca na vida e não tem nada que possa substituir isso, você vai achar seu lugar no mundo, seu caminho.

Por favor, pare um pouco de se preocupar com quem as pessoas pensam que você é. Pare de fazer as coisas tentando provar algo que é mentira. Pare de fazer merda negando sua natureza, pelo amor de deus, só para os outros verem e pensarem que você é isso ou aquilo. Mudar de amigos não vai mudar quem você é. Mudar de atitude também não. Talvez mude o jeito como as pessoas te vêem, mas você sabe (ah você sabe muito bem) que lá no fundo... a verdade pulsa, sufocada. E nada nunca vai mudar isso. Não faça isso consigo mesma, por favor. Não se proíba de ser feliz. Você merece ser a pessoa mais feliz do mundo, todo mundo merece. Não seja injusta consigo mesma. Por favor, não faça isso. As consequências são duras de mais, pense... Grite por ajuda se for preciso, fale comigo se você quiser e ler isso. Farei tudo o que puder para te ajudar.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Terça qualquer - Garota qualquer

às 23hs:

Pensei em me cortar. Estava estudando... olhei para meu braço e de repente comecei a chorar. Não sei dizer o que estou sentindo, parece um nada, sem sentido e sufocante eu acho. Mas as lágrimas escorrem do meu rosto como se eu estivesse sofrendo ou lembrando de algo ruim. O problema é que miha cabeça está vazia.
Sinto falta de uma gilete. Eu sei que mais tarde minha cabeça vai voltar a funcionar e eu vou lembrar que me cortar não me leva a nada. Mas agora... Agora eu quero me atirar de cara no abismo. Estou cansada de viver agarrada às bordas, sempre com medo de cair.
Minha vida não passa dessa batalha doida contra mim mesma.
As pessoas dizem "Seja você mesma!". Parece que elas estão zombando da minha cara. Não sei quem eu sou, não faço a mínima idéia. Tenho medo de quem eu possa ser. E se o monstro dentro de mim na verdade for eu? E se for ele que estiver escrevendo isso agora? Como eu posso ter certeza? Eu nunca sei o que ele, ou eu, não sei, pode acabar fazendo.
De um tempo para cá ando muito impulsiva, vou a um lugar planejando fazer ou comprar algo e saio com outra coisa completamente diferente. Sem nunca pensar absolutamente nada.
Se eu estou com fome, morrendo de vontade de comprar um pão de queijo por exemplo... Qual o sentido de eu sair de lá com uma coca?
Pessoas normais fazem isso? Sempre tenho medo de estar sendo paranóica.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Tão você


A vontade que eu tenho é de morder esses seus lábios e te levar pra casa. De te abraçar e não soltar. E esse computador entre nós... Esses 'alguns' kilometros... Essa sua faculdade que deu de ser longe, esses seus pais que deram de me odiar...
A um tempo atrás eu pensaria que o mundo está conspirando contra nós. Hoje penso ao contrário. O mundo conspira ao nosso favor amor, não tem como ser outra coisa, não com isso que eu sinto em meu peito. Dificuldades existem... Para que a vitória no final seja mais gostosa.

Perguntaram porque eu prefiro...


Sabe porque eu odeio me fantasiar de mulher? Porque se eu saio na rua parecendo uma mulher os homens viram o rosto e olham para mim exatamente como eu olho para as outras mulheres. Isso é nojento e errado. Estão me confudindo.
Gosto de me vestir mais como menino, porque ai quando eu passo eles me deixam em paz e me ignoram. É uma liberdade absurda.
Só por isso.

Agarre sua chance! Eu agarrei a minha.


Bom, leitores... Tenho uma notícia que talvez não seja tão legal para vocês ou para meu blog, mas com certeza é ótima para mim e minha carreira que está começando lindamente no momento. Aconteceu o seguinte... Na minha faculdade um dos meus professores ofereceu a possibilidade de trabalhar com ele e alguns outros alunos em um projeto de pesquisa. O assunto é o consumo de investimentos da classe C, e uma das empresas que vão nos apoiar é a JWT (http://www.jwt.com.br/). Bom, é uma oportunidade única. A JWT é uma agencia de publicidade absurdamente incrível. E eu agarrei essa oportunidade.
Dentro desse projeto, fui convidada junto com mais dois alunos a cobrir o trabalho que estamos fazendo, postando semanalmente um texto sobre nosso avanço nas pesquisas e discussões no blog de tendências da nossa faculdade. O newrônio! Então... Apartir da semana que vem vou estar uma vez por semana aqui http://newronio.espm.br/. Por isso estarei ocupada até mais ou menos o fim desse semestre e consequentemente vou postar com menos frequência. Mas espero que continuem acompanhando meu blog! Se quiserem acompanhar o newronio também, fiquem a vontade, é um blog interessante para quem pretende seguir para a área de marketing e publicidade.
Bom, é isso. Obrigada a todos que lêem meus textos! É motivador saber que pelo menos uma pessoa ou outra no mundo parou por alguns minutinhos para me ouvir. De verdade, muito obrigada.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Homossexuais na TV



É sempre assim, começa uma novela nova na Globo e qual é o burburinho? "Você viu?? Vai ter um gay na novela! Noooossa!" Como se fossemos tipo... Uma coisa bizarra, uma aberração esquisita, etc. Como se um gay não pudesse ser só... absolutamente normal! Caralho... Somos pessoas como vocês! Enfim. Todos ficam absolutamente chocados. Como uma emissora nacional que possui confiança na maioria dos lares brasileiros pode divulgar esse tipo de pessoa?? E a comunidade GLBTs olha desconfiada. Será que finalmente vão divulgar uma imagem decente de nós? Será que finalmente vai rolar um beijinho? Será a novela vai finalmente ser usada como um instrumento esclarecedor a nosso respeito?



Óbvio que não. Gay na TV aberta brasileira quase sempre só está lá para ser a piada da novela. Ou então eles fazem o que fizeram com a pessoa mais lésbica que eu já vi na TV, essa coisa linda e perfeita que é a Nathalie Jourdan (alguma dúvida de que ela não é sapatão? Alguém com gaydar quebrado? Não? Ok então). O que acontece com a Nathalie... Bem, ela entrou na malhação e o brejo foi a loucura. Uma lésbica na Malhação! Que orgulho! Quando ela vai se assumir?? Ela era perfeita... Não estava ali para ser uma piada nem uma tragédia e sim para ser uma personagem normal como todas as outras. E o que nossa querida globo fez?? Para o desespero e frustração profunda de toda nossa comunidade... A transformou em hétero.

Ora, porque não né? Vamos fazer ela beijar um garoto, se tornar modelo... No final talvez transformá-la em uma garotinha viada cor-de-rosa.

Cara. Não se faz uma coisa dessas.

E é isso ai... A mídia poderia ser uma alida poderosa a nós, poderia ir entrando de fininho dentro as casas brasileiras e nos mostrar como realmente somos. A mídia poderia começar a nos tratar como trata qualquer pessoa e mostrar para todo mundo que não a nada de tão anormal assim em nós. Imagina? Dentro de... o que? Uns 10 anos no máximo? A homossexualidade, exaustivamente mostrada, deixaria de ser tabu e motivo para discussão. Se transformaria em algo absolutamente normal.

Não, não acho que isso vá acontecer. Não acho que os héteros vão parar de pensar em nós como esteriótipos assim tão fácil. Não podemos exigir que eles mudem se nós não mudarmos antes. Um garoto da minha classe disse um dia, em uma discussão uma coisa que eu achei bem interessante, ele disse: "Os gays precisam parar de brincar de parada gay e começar a lutar por respeito de verdade. Aquilo não é lutar por respeito, é ao contrário."

Concordo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Você é perfeita. (Isso é uma irônia)


E o remédio começa a pifar. Lá estou eu lentamente caindo de volta no inferno das oscilações de humor, do desligamento, da confusão a respeito da indentidade, das crises, das paranóias e alucinações.
É estranho... Queria um tempo para descansar, para poder dormir, pintar e escrever... Enfim, respirar e poder ter certeza que vai ficar tudo bem. Mas não posso tirar um tempo, preciso de atividades, preciso de distrações, precisos de objetivos claros e possíveis, preciso de minha agenda com todas as atividades que eu vou fazer no dia perfeitamente marcadas em seus horários certinhos. Simplesmente não posso parar, olhar em volta, e não saber mais o que fazer, não ter mais nada o que fazer. Entro em pânico.
Passei minha vida inteira tentando ser perfeita... Por incrível que possa parecer (porque eu sou a pessoa mais longe da perfeição que eu conheço). Passei minha vida inteira preocupada se as pessoas a minha volta iriam gostar de mim e me aceitar como eu sou. Irônico, porque procurando aceitação eu me tornei tudo menos eu mesma. Busquei tanto isso... Até que não suportei mais e tive que mudar, minha mente não aguentou. Foi obrigada a me aceitar como eu sou, porque ou era isso ou eu me matava. E então as coisas começam a melhorar depois de um tempo, depois de muito suor... Hoje eu até que gosto de mim mesma, em partes, diria que me respeito... O mínimo possível (apesar de o amor-próprio ainda deixa a desejar). Mas é bastante irônico. Passei tanto tempo preocupada em ser amada pelas pessoas a minha volta, que esqueci de me amar, rejeitei meu amor, como se não fosse importante... Por isso passei a me odiar, por causa dessa minha prepotência de me rejeitar, esse pouco caso. Eu esqueço que sou importante. Para mim mesma quero dizer. Minimamente... Quero dizer, dividimos o mesmo corpo, se eu entro em guerra comigo mesma tudo para de funcionar. Precisamos trabalhar em equipe.
Eu e meu monstro.

domingo, 13 de março de 2011

Sobre errar


Eu deveria morrer as vezes. Porque não acho justo ninguém na terra sofrer por qualquer idiotisse que eu tenha feito. Não acho justo que chorem por mim... Não, não é justo. Eu deveria morrer. Assim ninguém mais sofreria com meus erros.
Sou só uma idiota. Juro que tento... Fazer as coisas certas, seguir em frente, ser forte... Mas eu deveria morrer, sei disso. Se eu ao menos tivesse coragem e força para me cortar um pouquinho mais fundo, só mais um pouquinho...
Preciso acabar comigo mesma antes que acabe com as pessoas a minha volta... Só isso. É questão de sobrevivencia.

sábado, 12 de março de 2011

Estou cansada.




Estou um pouco cansada... De sorrir, de mander a razão no comando, de ser gentil com todos, de tentar animar todas as pessoas a minha volta, de fazê-las sorrir. Estou cansada de dar apoio, de ouvir e ser compreensiva. Estou cansada de parar e pensar, de analisar outras possibilidades, de buscar saídas e não permitir a mim mesma a tristeza e a decepção de não ter o que eu quero. Estou cansada de segurar o choro, de me fazer de forte, de fingir que não preciso de um abraço todo dia.

Estou cansada de tentar manter minha cabeça ocupada. Quero chorar... Mas não consigo. Eu esqueci como se chora. Uma lágrima ou outra caem, solitárias... Mas o choro preso dentro de mim não vem a tona, eu não consigo. Não sei como chorar essa dor. Estou tão confusa.
Não sei porque de repente me sinto tão esgotada. Só quero que alguém me envolva em seus braços e me diga que vai ficar tudo bem, quero que alguém me prometa que vai ficar tudo bem e que eu não vou ficar sozinha. Só isso. Estou com medo também.

Não quero brigar, não quero discussões. Não quero saber o que eu fiz de errado ou deixei de fazer. Não quero pedir desculpas... Ninguém nunca pede desculpas para mim.

As pessoas sempre se importam, mas nunca estão prontas para admitir seus erros. As pessoas ficam preocupadas, mas nunca perguntam a si mesmas se a causa daquela dor foi algo que ela fez. Quero dizer... Na verdade algumas se sentem culpadas por tudo e outras por nada. O certo seria cada um olhar para si mesmo com a mesma justiça que julga os outros, coisa que nunca acontece.

Comigo acontece o seguinte... Estou cansada de me sentir culpada por tudo. De ser sempre a errada, tudo bem?

Escrever sobre a solidão?



A solidão. Esse sentimento que te toma nas tardes chuvosas ou ensolaradas, dentro do ônibus, voltando para casa com a sensação que você vai abrir a porta da sala e não vai encontrar ninguém para te receber com um abraço. Esse sentimento que aparece quando você está trancada em seu quarto, ouvindo uma música atrás da outra, todas com tantos segnificados que acabam ficando pesadas e angustiantes de se ouvir. Essa coisa que te pega de surpresa em uma festa, com seus amigos, em meio a uma multidão, não importa... E então você olha para os lados. Tantas pessoas... E nenhuma que te dê um sorriso diferente. Nenhuma que vai te abraçar quando você precisar, nenhuma que olhe realmente preocupada para você. São tantas pessoas. E você não é especial para nenhuma delas.

E é ai que eu entro. Talvez aí onde você esteja ninguém te dê meu sorriso, talvez ninguém te abrace como eu ou olhe para você como eu olho. Talvez ninguém chore quando você for embora. Talvez ninguém deite, no escuro e no silêncio da noite e sorrie ao pensar em você. Talvez ninguém sinta sua falta. Talvez ninguém fique nervosa como eu pensando que talvez você esteja sofrendo. Talvez ninguém acredite tanto em você quanto eu. Aí onde você está. É natural que você se sinta sozinha.

Mas quando você se sentir assim... Ei, sorria. Eu, onde quer que eu esteja, vou estar pensando em você. E desejando de todo o coração que alguém te abrace por mim, e enxugue suas lágrimas enquanto eu não puder estar ao seu lado. E um dia... Um dia você nunca mais vai se sentir assim. Um dia, sempre que você abrir a porta de casa eu vou estar te esperando para me atirar em seu pescoço e expulsar esse vázio dentro de você. Um dia, sempre que a solidão ameaçar vir, você vai olhar para os lados e vai me ver. Bem ali, ao seu lado, distraída e feliz.

Eu te amo. Para mim no momento você é a pessoa mais importante da terra. Você não está sozinha.

sexta-feira, 11 de março de 2011

O "eu" secreto.


Era uma vez um garotinho que nasceu errado. Seus pais deram o nome de Michele para ele. Ele odiava esse nome, odiava quando alguém o pronunciava dessa forma nojenta e feminina, como se ele fosse uma garotinha mimada e irritante. O nome dele era Michel. Ele gritava para todo mundo. Me chamem de Michel!
Michel nunca entendeu o que deu na cabeça de seus pais para darem um nome de garota para ele. Também não entendia porque riam dele quando dizia que seu nome na verdade era Michel e que seus pais haviam cometido um engano. Ele odiava suas festas de aniversários e natais desde que se entendia por gente. Porque, por algum motivo estranho, sempre lhe davam bonecas e coisas rosas, e ele chorava de raiva. Tudo o que queria era ganhar carrinhos e bolas como os outros garotos! Por que ninguém entendia? Ele chorava também quando a mãe tentava forçá-lo usar saias e vestidos e tantas outras coisas. Quando seus pais se recusavam a cortar seu cabelo, ele roubava uma tesoura de algum lugar e cortava sozinho... Uma dessas vezes acabou cortando a testa. Gostava da cicatriz que havia ficado, podia mostrar orgulhoso para os outros garotos e dizer que havia sangrado muito. Por causa dessas aventuras com a tesoura seu cabelo estava sempre curto, ainda bem, ficava arrepiado só de pensar em ter um cabelo cumprido como as garotas, já bastava as roupas que as vezes era obrigado a usar!
Ele não gostava da maioria das pessoas, principalmente os adultos. Parecia que todos tinham armado um plano maligno para tentar convencê-lo de que ele era uma menina. Mas isso era um absurdo! Forçar alguém a usar saia não faz dessa pessoa uma garota. Como podiam ser tão idiotas e teimosos? Ele sabia que era um garoto, ninguém iria enganá-lo.
Um dia Michel comoçou a ir à escola. Lá ele obviamente usava o banheiro masculino, mas tinha o cuidado de entrar lá só quando os adultos não estavam olhando. Uma dessas vezes um garoto da idade dele estava fazendo xixi com a porta aberta, e ele estava... estranhamente... em pé! Michel coçou a cabeça confuso. Como ele fazia isso? Perguntou para o garoto, que subiu as calças antes de se virar. Ora, todos os homens fazem xixi em pé, ele disse, as mulheres fazem sentado, essa é a diferença. Então era isso! Ele ainda não havia aprendido a fazer xixi em pé! Era por isso que os adultos pensavam que ele era uma garota! Michel pediu para que o garoto lhe ensinasse. Como assim ensinar? Ele abaixou as calças e segurou o pênis entre as mãos. É só você segurar assim e mirar! Michel arregalou os olhos para o que o menino segurava. O que era aquilo?? Eu não tenho isso! Ele exclamou assustado. Como assim você é um menino sem pinto?? Posso ver? Michel olhou para baixo envergonhado e saiu correndo do banheiro.
Então ai é que estava o problema de verdade... Alguém havia cortado seu pinto fora. Tudo para tentar transforma-lo em garota! Será que seus pais queriam tanto assim uma filha?? Algumas pessoas riam dele na escola agora, o chamavam de "garoto sem pinto" ou de "menininha", Michel batia em todos eles. As vezes apanhava também, mas era a unica forma que podia se defender. Ele não desistiu de usar o banheiro masculino, pensava que com o tempo as pessoas iriam perceber que ele era um garoto se não desistisse. Mas um dia alguns garotos mais velho o pegaram lá, abaixaram suas calças e enfiaram os dedos em um buraco que ele não sabia que existia, o chamaram de aberração e disseram que era isso que acontecia com meninas que usavam banheiros masculinos. A partir daquele dia Michel nunca mais usou um banheiro fora de casa.
As coisas se tornavam mais difíceis. Seu pai batia nele quase sempre, irritado com os comentários da vizinhança, sua mãe não olhava em seus olhos, dizia que ele não era a filha que ela sempre quis, dizia estar arrependida de ter engravidado. Michel estava sempre confuso. Não sabia porque havia nascido tão errado assim. Insistia em usar roupas masculinas e em gostar das mesmas coisas que outros garotos gostavam, colocava meias dentro da calçinha e fingia que tinha o que nunca poderia ter.
Um dia os mesmos garotos que o haviam pegado no banheiro, o encurralaram em um beco. Michel tinha apenas 10 anos, estava assustado com as mudanças que via acontecendo nas garotas da sua sala, estava com medo que o mesmo acontecesse com ele. Aquela noite no beco os garotos enfiaram mais do que os dedos nele. Michel voltou para casa sangrando, cambaleando. Não deixou que os pais descobrissem... Mas depois daquele dia, estranhamente, uma vez por mês ele sangrava. Talvez fosse uma maldição, para lembrar-lhe daquela noite para sempre. Depois daquele dia Michel passou a se recusar a sair de casa... E de casa, passou a se recusar a sair do quarto. E do quarto, passou a se recusar a sair da cama.
De noite sempre tinha pesadelos. Gostava de se bater, bater a cabeça contra a parede, se arranhar... E principalmente se cortar. Cortes fundos e frenquentes pelo corpo todo. Seus pais não sabiam o que fazer, brigavam o tempo todo, um jogando a culpa no outro.
Michel odiava seu corpo, odiava todas as pessoas do mundo e odiava Deus.
O que ele havia feito para merecer tudo isso?? Por que Deus, que se diz tão perfeito, havia cometido um erro tão grande quanto esse?
Michel saiu de casa aos 14 anos. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu com ele, alguns dizem que se transformou em um homem, outros dizem que vive perambulando poraí, fantasiado de homem, enganando lésbicas e héteros (pois Michel não é nem um homem completo nem uma mulher). Há quem diga que se matou, que não sobreviveu. Há quem diga que Michel aprisionou o homem dentro de si e vestiu a máscara que por tanto tempo se exigiu dele... E agora finalmente é uma garota.
Essa é a história de um garoto que a vida transformou em mulher. Ou de uma mulher que transformou o mundo e se tornou homem. Depende do seu ponto de vista.

Arrheton


Minha psióloga pediu para que eu escrevesse uma lista de coisas que eu gostaria de dizer para meus pais, minha avó, etc... Quando ela disse isso não pude deixar de lembrar daquela aula de lógica na faculdade em que o professor nos contou sobre o Arrheton, aquele lugar na alma que está em silêncio, onde está os sentimentos que não podem ser traduzidos e só com o olhar você pode descrever.
Para algumas pessoas eu não tenho nada a dizer. Como o professor disse: "Quando alguém te machucar tanto que nem lágrimas nem palavra nenhuma puder descrever... Lembre-se do arrheton e olhe para essa pessoa, só olhe. Ela entenderá o recado."

Se eu quero?



Se eu quero passar a vida ao seu lado? Eu sorriu para você divertida, tentando decifrar suas palavras, seus olhares... Quanto tempo eu busquei alguém que me perguntasse exatamente isso? Até desistir. Aperto os olhos desconfiada. Ora... Você me conhece. Você sabe. Estou tão longe de ser a pessoa perfeita. Você me pergunta se eu vou te agüentar com todos seus defeitos, exatamente como naquele primeiro dia lembra? Você disse para eu pensar bem, que você não era exatamente a melhor pessoa do mundo. Nesse dia eu falei que você é que devia pensar bem e repito, também não sou a melhor pessoa do mundo. Mas você me conhece. Você sabe... Eu te amo.
Se eu quero passar a vida ao seu lado?

Sabe o que eu quero? Quero viver todos seus domingos cinzentos e tediosos, quero as segundas-feiras sonolentas e mau-humoradas, quero o alívio das tuas sextas. Quero nossas brigas semanais por coisinhas idiotas que vão acabar na cama, embaixo dos lençóis, você me entende. Quero as risadas de piadas que só nós entendemos, quero nossa cama desarrumada e aconchegante, quero dormir ouvindo sua respiração tranqüila, quero te ver cozinhando, animada de uma lado para o outro (exatamente como aquele dia), absolutamente perfeita. Quero te atrapalhar enquanto cozinha, te abraçando por trás e te distraindo. Quero te provocar quando sentir vontade e te irritar, só para ver você se fingir de brava e poder te abraçar bem forte. Quero também me fingir de brava para que você me abrace. Quero sentar do seu lado enquanto assiste TV e fazer absolutamente nada. Quero fazer surpresas brilhantes nos seus aniversários. Quero que você me perdoe todas as datas e horários que eu vou esquecer, porque eu tenho certeza que vou esquecer (não porque eu não as ache importantes! Mas porque minha cabeça as vezes realmente não funciona).

Quero discutir sobre o trabalho com você. Quero agüentar todos os seus dias de TPM e toda a sua teimosia quanto aos remédio quando ficar doente. Quero te abraçar e dizer que te amo sempre, sem medo, sem remorso. Quero sim vestir aquele vestido se você quiser... Porque ninguém nunca fez eu me sentir tão mulher quanto você. E eu gosto dessa sensação estranha. Quero gerar um filho com você, quem sabe não é? Digo gerar... Porque quero passar aqueles dolorosos 9 meses ao seu lado (e você terá que me agüentar!), quero dar a luz a um filho que será nosso e só nosso. Você despertou esse desejo em mim, eu percebi. Dá para acreditar? Quero revezar com você os dias que vou buscá-lo na escola. Quero brigar com você por ser muito dura com ele, por ser um mau exemplo, por ser muito exigente... Por tudo. Porque eu imagino que se tem ser humano na face da terra que eu vou amar tanto quanto você vai ser nosso filho.
Quero ouvir você reclamando comigo pela minha desorganização, quero rir da sua nóia e tentar arrumar mais as coisas. Quero olhar para você, enquanto estiver concentrada em alguma coisa e me pegar apaixonada de novo. Quero saber todas suas manias e frescuras. Quero trocar a lâmpada para você quando a antiga queimar. Quero que você me tire de meu mundo quando eu simplesmente desligar. Quero sentir seu cheiro quando pisar em casa e ficar tranqüila só por esse fato.

Se eu quero passar a vida do teu lado? Ora... Você me conhece. Você sabe.

Sim, eu quero.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Pais, aceitação e família - GLBTTs



Semana passada as dedilhadas (um canal no youtube) postou um video com uma mensagem para os pais de GLBTTs, segue-se aqui o link -> http://www.youtube.com/watch?v=H5d0lMaCU0g&feature=feedu. Adorei a iniciativa.
Provavelmente todos os gays sofrem com a possibilidade se seus pais descobrirem um dia sua homossexualidade, ou então sofrem porque eles já sabem e não reagem nada bem a isso. É um assunto complicado, muita gente fala que os adolescentes precisam se abrir com seus pais, mas não é tão simples assim. Existem pais e pais. Se seus pais são do tipo que te proibiriam de viver, tirariam tudo de você por você ser gay e infernizariam sua vida... Óbvio que o melhor seria você esperar sair de casa, ter sua vida e independência para contar para eles. Mas as vezes não temos escolhas, somos pegos no ato, alguém conta ou a desconfiança é grande, não importa... Eles descobrem.
E ai as coisas começam a desmoronar. Você não é o filho que eles queriam ou esperavam, é pecado, é só uma fase, você não pode ser alguém assim... O que as pessoas vão pensar? Nunca formará uma "família" (mentira), nunca poderá ter filhos (novamente mentira). Nunca poderá contar isso para ninguém, nunca poderá se orgulhar ou apresentar um companheiro(a) como namorado(a), etc, etc e etc. Seus pais estão assustados, irritados, procurando culpados, querendo soluções. É uma doença. O que fizeram com você para você ter se tornado isso? Você foi abusado? Você é tão novo! Só está confuso, você não pode ter certeza. Você nunca foi assim! O que aconteceu?
Precisamos ser pacientes. A reação no começo quase nunca vai ser boa. Precisamos respiar fundo e fazer de tudo para que eles nos entendam. Não é uma escolha, ninguém tem culpa, não podemos mudar isso. Simplesmente somos o que somos. E precisamos de seu amor. Precisamos que vocês nos aceitem, precisamos de uma abraço e um "vai ficar tudo bem".
Vai se duro enfrentar o mundo, vamos sim sofrer muito com isso... Mas se dentro de casa nós nos sentirmos amados, pode ter certeza que aguentaremos. Precisamos desse apoio. Temos que lidar com tanta coisa, não precisamos de uma guerra dentro de casa também. É isso que os pais precisam entender. Somos seus filhos. Parem de tentar nos mudar, de lutarem contra isso, pode ter certeza que se pudessemos nunca iriamos decepcionar vocês... Se o que vocês realmente querem para nós é o melhor, então nos amem como nós somos. Nós não seremos infelizes por sermos homossexuais, seremos infelizes se vocês não nos aceitarem como somos.
Dane-se a homofobia, dane-se os "amigos" que viraram as costas para nós, dane-se se somos alvo de piadas e agressões. Nós vamos lutar pela nossa felicidade. Queremos poder chegar em casa e receber um abraço, um ombro amigo, alguém que nos diga que nos ama haja o que ouver. Isso com certeza é essencial. É uma pena que tão poucos de nós consegue ter isso.

domingo, 6 de março de 2011

Lembra quando era nós contra o mundo?




Lembra quando você me abraçava e dizia que eu podia contar com você? Ou quando você corria atrás de mim quando eu insistia em fugir dos meus problemas? Lembra quando sentava comigo e me fazia acreditar que as coisas não eram tão horríveis e sem solução quanto pareciam? Ou de todas as vezes que enchugou minhas lágrimas e pediu para que eu explicasse o que nem eu podia entender? Era só eu e você... Ali... Você forçando a entrada para dentro de meu mundo, andando comigo e me analisando. E eu pensava "Por que ela está fazendo isso? Por que tenta me ajudar?", eu nunca nem um sorriso sincero havia lhe dado, eu nunca se quer havia imaginado a possibilidade de te chamar de amiga. Você parecia tão diferente de mim. Como alguém tão segura de si e forte como você poderia entender alguém como eu? Não fazia sentido.

Um dia eu te perguntei porque você me ajudava, lembra? Você me disse que via quem você era em mim. Eu não te disse, mas fiquei orgulhosa com o que você disse. Orgulhosa de você algum dia ter sido tão fraca como eu e ter sobrevivido sozinha. De qualquer jeito, você me dava forças e vontade de continuar em frente.

Era eu e você, lembra? Contra meus amigos, nossos pais, o colégio, o mundo. Nunca teria aguentado sem você do meu lado.

Mas agora é diferente. Não me sinto mais tão fraca. Não te vejo mais todos os dias, nem todas as semanas, nem todos os meses... Não preciso mais tanto de você quanto precisava antes. Mas estranhamente ainda te quero. Tanto quando antes.

Fico lembrando daquela época com saudade, apesar de quase tudo ter dado errado. Sinto sua falta.

sábado, 5 de março de 2011

Luto



Na última sexta-feira um garoto da minha faculdade foi morto em um assalto.

As pessoas não sabem lidar com a morte. Elas olham assustadas umas para as outras com a notícia, levam a mão a boca e fingem que se importam. Fingem que estão de luto e que sentem muito pela pessoa que morreu. Elas não sentem. Óbvio que não sentem, como você pode estar de luto por alguém que nunca nem viu na vida? Ora... Pelo amor de Deus! Se fosse pra ficar de luto por qualquer pessoa que morresse no mundo, então que fique de luto todo o santo dia.
Um garoto da sua faculdade morreu, ótimo. Poderia ser você? Claro que poderia. Mas no mesmo instante outras tantas milhares de pessoas também devem ter morrido e continuam morrendo e todas elas poderiam ser você. Por que não? Por que você sente muito por esse em especial? Só porque ele tinha algumas coisas parecidas com você? Ou porque as pessoas pensam que você devia se importar com um "colega" que nunca viu na vida então você finge que se importa?
Não, eu não estou de luto. Não gosto de hipocresia, não vou fingir que me importo quando na verdade não ligo. É horrível? É claro que é. Mas há coisas piores acontecendo nesse exato momento e não estou vendo você triste por elas. Não seja ingênuo. O mundo não se resume a sua casa e a faculdade. Não é tão assustador assim alguém que vive no mesmo universo que você ter morrido. Acontece. Simplesmente acontece. Se você se dá ao trabalho e ao esforço inútil de se fingir triste por alguém que não conhece, então finja para todas as pessoas do mundo, ok? Não entendo porque esse garoto merece mais sua atenção do que as outras trocentas crianças e adolescentes no mundo morrendo de todas as piores formas possíveis.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Um outro lado do borderline


Borderline é um transtorno relativamente conhecido... Alguns dizem que é como se fosse uma bipolaridade "mais fraca", outros dizem que são pessoas impulsivas e destrutivas... Enfim. Hoje em dia se banaliza muito transtornos psiquiátricos. Quantas vezes você já ouviu alguém falando que pensa que é bipolar? Ou que todo mundo tem depressão? Ou que é esquizofrênico? Bom... Então eu vou dizer ela infinitésima vez... Não, você não tem um transtorno psiquiátrico, sinto muitissimo por te decepcionar.
Você fica feliz e depois fica triste?? Olha que coisa... É normal! As pessoas sentem sabe... E elas não estão sempre felizes, elas ficam tristes as vezes, acontece. Sem pânico.
Não gosto de pessoas usando o nome de transtornos psiquiátricos como se fossem "frescuras", como se todo mundo fosse "um pouco" bipolar ou esquizôfrenico, por exemplo. É um absurdo... Vou usar o Borderline como exemplo, porque obviamente é o que eu conheço mais... Se você é impulsivo, auto-destrutivo, tem picos de humor em intervalos muito pequenos... sim! isso tudo se encaixa no transtorno de personalidade Limítrofe. Mas não é só isso. Borderline não é só uma pessoa que se apresenta como agressiva e impulsiva. Borderline é uma pessoa encolhida no escuro tendo um ataque de pânico pela possibilidade (real ou imaginária) de ser abandonada, borderline é alguém que perde a capacidade de sentir e se corta, ou se atira na frente de um carro, ou se mata, só para sentir que estava viva. Borderline é uma pessoa suando frio, com os olhos fechados com força e as unhas fincadas nos braços, sofrendo uma alucinação sensorial. Borderline é alguém que machuca uma pessoa por amá-la. Borderline é aquela pessoa que em um segundo passa da alegria extrema para a depressão, borderline é aquela pessoa que perde todas as referencias de personalidade e se perde dentro de si mesma, se fragmentando em diversas "faces", perdida. Borderline é aquela pessoa que um dia se apresenta como sendo totalmente passiva, obediente e com medo, e no outro como sendo totalmente o oposto, teimosa e agressiva.
Borderline é alguém como eu... Que acredita ter um estranho morando dentro de si, carinhosamente chamado de monstro, que tem problemas para lidar com sentimentos, que se diminui e continua pensando que as pessoas estão sempre contra ela, que imagina coisas, que se machuca absurdamente fácil, que chora por nada e por tudo, que perde a noção da realidade, que sofre crises de pânico e ansiedade, medo, ou seja lá como se chame isso, principalmente quando está sozinha. Alias sou alguém que geralmente não pode ficar sozinha, alguém que ainda pensa que precisa se cortar para se sentir melhor, alguém que pensa que merece se castigar, alguém que as vezes sente de mais e a vezes perde essa capacidade de sentir... Enfim... Alguém que faz terapia comportamental e toma remédios.
Ah sim! Alguém que acabou de sofrer sua primeira alucinação sensorial... E está, obviamente, com muito medo.
Enfim... Pense um pouco antes de dizer que você tem algum transtorno psiquiatrico. Não, você
não tem. Você não tem a mínima idéia do que é isso. E infelizmente eu não posso te mostrar como é.

Um certo olhar


Ele é um garoto incrível, ele sorri e brinca com todo mundo, é inteligente, divertido e carinhoso... Mas ele não olha em seus olhos tão facilmente. Ele sorri, mas seu olhar é tão triste.

O que fizeram com você?

Que monstros te perseguem? Que pessoas horríveis tiraram o brilho do seus olhos? Será que você também chora de noite? Será que você tem medo de ficar sozinho como eu? Será que você me entende? Será que eu também te entendo?

Sabe, eu não acredito que choro nenhum do mundo consiga expressar a dor por trás desse seu olhar, essa sua alma escura... Me pergunto se quem olha para mim consegue enxergar minha dor também... Alias se alguém vê algo a mais do que só as marcas em meu corpo.

Cicatrizes... Isso não quer dizer nada, tenho vontade de dizer. O pior de cada um de nós não está visível aos olhos nem pode ser descrito em palavras (por mais que eu tente). Não... O pior de nós, nossa ferida mais profunda e os choros mais desesperados... Tudo isso está enterrado dentro de nós. Para sempre.

O que fizeram com você?

É uma pergunta assustadora né? Uma daquelas que não precisam ser respondidas. Uma daquelas que carregam o peso do mundo. Não está tudo bem, eu sei que não. Mas sabe... Vamos esquecer um pouco isso. Vem, vamos procurar razões para viver, vamos nos agarrar a elas, vamos tentar tornar esses seus olhos um pouco menos tristes. Você não faz idéia do quanto é incrível. Posso caminhar ao seu lado?