O vazio me consome. Tem algo de muito errado comigo... Eu sinto, eu sei. Eu não estou bem, não estou nada bem. Não consigo me sentir aqui, não consigo, é como se eu já estivesse morta. Quis tanto me matar ontem, tanto... Eu nunca cheguei tão perto. As lágrimas escorriam, meu monstro sorria de dentro da escuridão do meu ser. Ele estava no controle, ele poderia ter acabado com tudo, tão facilmente. Meu corpo tremia e eu apertava minha cabeça com as mãos, com medo de perdê-la a qualquer momento. Uma dor aguda em meu braço, cortes novos que insistem em continuar sangrando, o vermelho escandaloso. Pensamentos horríveis dançavam ao meu redor. Queria implorar, implorar para isso parar, mas implorar para quem? Tentava olhar a minha volta, qualquer coisa que pudesse me salvar, qualquer coisa em que eu pudesse me agarrar. Mas nada, a única coisa que passava pela minha cabeça eram jeitos que eu poderia me matar. Eu estou cansada, profundamente cansada de visitar o inferno diariamente. Eu quero acreditar que as coisas podem melhorar, eu realmente quero... Eu quero ter esperança, mas não é isso que a realidade me diz. A verdade é que já faz mais de três anos que eu venho lutado contra tudo o que eu sou, com todas as minhas forças... E as "melhoras" nunca duram tempo suficiente, nunca compensam as pioras... Eu estou cansada de lutar e receber tão pouco de volta.
Eu venho me esforçando tanto... Mas a Sabrina não responde. Eu olho para ela quando paro na frente de um espelho e seus olhos são tão vazios às vezes, que eu me pergunto se ela ainda existe. Eu ainda estou aqui? Eu estou vivendo? Isso não me parece ser uma vida... Ninguém me disse que a vida seria assim, ninguém me preparou para isso. Essa dor, esse vazio, essa incerteza, esses pensamentos terríveis, esse monstro... Há tanta coisa errada. Eu dou um tapa na cara do meu reflexo e ele me devolve um sorriso distante. Ela não vai melhorar, eu sei que não vai, é óbvio que não vai. Então por que continuo lutando? Essa pergunta me vem constantemente em mente e quase nunca consigo respondê-la. Não há motivos fortes o suficiente... Mesmo quando penso em meus amigos, imagino que eles estariam muito melhor sem mim, ou então que não faria a menor diferença. É... às coisas estão perdendo o sentido gradativamente, pouco a pouco eu estou perdendo meu lado saudável, meu lado normal, meu lado feliz, meu lado alegre e despreocupado, pouco a pouco... Está cada vez mais difícil conversar pessoalmente com alguém, principalmente com estranhos, está mais difícil controlar os tremores, o pânico, as crises, os pensamentos paranoicos, as lágrimas, os cortes. Está cada vez mais difícil acompanhar a faculdade, mesmo eu fazendo só metade da carga horária dos outros alunos... Minha psicóloga está sempre me parabenizando pelas minhas pequenas vitórias, como conseguir conversar com alguém, controlar meus impulsos autodestrutivos, tentar não fugir do mundo inteiro... Mas são vitórias tão pequenas aos meus olhos, tão patéticas... Todo mundo faz o que eu faço com tanto esforço, com a maior naturalidade do mundo.
Eu quero essa naturalidade, essa facilidade para encarar a vida, essa leveza. Eu quero isso... Existir, para mim, me dói terrivelmente, me pesa, me incomoda. A única coisa que eu quero é ter um lugar no mundo assim como todo mundo. Eu quero caminhar sozinha, quero poder ser eu, quero poder não ter medo de mim mesma... Mas não existe essas alternativas para mim. Quando penso que serei escrava da minha doença o resto da minha vida, eu me pergunto seriamente se é essa a vida que eu quero para mim, e não é. Me desculpe, eu não sou uma daquelas pessoas doentes que encontram força e esperança em sua doença e se tornam fonte de inspiração para meros mortais. Isso é uma besteira, uma mentira. Não há absolutamente nada de heroico em doença alguma, só há dor e sofrimento, que não ensinam absolutamente nada, a não ser a chorar, se desesperar e perder qualquer medo da morte, chegando ao ponto de desejá-la muito mais que a vida. Só.
2 comentários:
Esse foi um dos posts que mais me identifiquei!
Espero que tudo melhore Sá, pois assim como você, sinto que eu apenas "existo". Aparece que tudo seria melhor sem mim e sinto que meu corpo e minha mente não respondem mais aos tratamentos.
Boa Sorte e Parabéns pelo blog!
Sinto muito por você ter se identificado com esse post... Não desejo isso para ninguém. Espero que você consiga melhorar! E se encontrar... Também espero isso para mim.
Obrigada pelo comentário! Abraços e muita força.
Sah.
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