Dói. Eu não sei o que fazer. Tento controlar as lágrimas, sou obrigada a me encolher cada vez mais porque o buraco que se abre em meu peito é simplesmente grande de mais. Eu vou sumir. É o que eu sinto, eu vou morrer, desaparecer... Quem me dera se fosse só isso. Dói tanto que parece que alguém está abrindo meu peito com uma furadeira, não, não estou exagerando. Quero chorar mas não há lugar para as minhas lágrimas em lugar algum. Tento conversar, tento fazer com que alguma alma me entenda, tento ter amigos... Não colegas, não pessoas que eu tenho medo de desaparecerem a qualquer momento, mas gente que é capaz de diminuir minha dor sempre que eu precisar. Isso existe? Dói... As pessoas me dizem que eu estou indo bem, que eu estou melhor, que eu cresci... Mas no fundo eu sempre volto a me sentir só uma garotinha patética. Um pouco sozinha de mais, um pouco desapegada de mais, um pouco de raiva e ódio acumulado. Eu simplesmente não sei o que fazer. Eu estou tentando com todas as minhas armas seguir em frente, mas não importa o que eu faça meus pés escorregam na lama e eu nunca saiu do lugar. Sorrio para as pessoas a minha volta enquanto a dor me mata. Obrigada pelos elogios, obrigada por achar que eu estou melhor, obrigada por achar que eu sou capaz, que eu vou sair dessa... Obrigada por esperarem tanto de mim.
Por que todo mundo espera tanto de mim? Minhas mãos tremem muito enquanto eu tento ser o mais normal possível, e ser aceita, e ser amada... Tudo isso é muito importante para mim, extremamente importante. Mas não importa muito o que eu faça, ou o quanto eu me esforce, eu continuo enxergando o mundo de um ângulo um pouco estranho, como se nunca estivesse realmente fazendo parte de algo. Sou uma telespectadora de mim mesma, da minha vida, dos passos que eu nunca dou. As poucas coisas que fazem eu me sentir realmente viva mesmo quando estou sozinha são me cortar ou me machucar de alguma forma e escrever, nessa ordem de eficiência. Quando a dor é forte de mais e eu sou pega desprevenida, dificilmente eu vou conseguir ficar sentada na minha cadeira escrevendo. O sofrimento é dilacerante, incapacitante, extremamente destrutivo, acredito que só pessoas de alguma forma perturbadas conseguem sentir algo parecido, porque se pessoas normais sentissem isso elas também não suportariam continuar suas vidas normalmente. É impossível. Então normalmente eu acabo fazendo algo de ruim, não consigo evitar... E a missão de parecer sempre o mais normal possível vai por água abaixo com tantas cicatrizes, ataduras e sangue para esconder ou justificar.
Eu só gostaria de não ter que ser eu, nem se fosse só por um dia, e não ter que viver minha vida. Eu gostaria de férias de mim mesma. Eu gostaria que minhas mãos não tremessem quando eu estivesse me esforçando muito para parecer normal, e bem, e controlada. Gostaria de não entrar em pânico quando vejo que não está dando certo, porque isso só piora as coisas. Gostaria de não sentir vontade de sair correndo das pessoas, só por medo do que elas podem falar, ou fazer, ou perguntar, ou pensar. Gostaria de me sentir bem dentro do meu próprio corpo, gostaria que esse monstro não existisse, gostaria de não olhar mais desconfiada para o mundo, sempre na defensiva como se todos estivesse contra mim. Gostaria que essa dor sumisse... E que as pessoas parassem de desaparecer. Gostaria de ter uma mão que eu pudesse segurar, ou um ombro no qual eu pudesse me apoiar, e nunca ter vergonha por precisar disso, ou por ser um pouquinho diferente das outras pessoas, ou por ter meus braços mutilados, ou por tomar tantos remédios... É, eu gostaria de nunca ter vergonha de mim mesma, porque está tudo bem, não está? Em ser assim. É o que eu sempre prego para os outros, que não tem nada de errado com suas diferenças, e no entanto eu me julgo sempre tão duramente, como se eu não fosse merecedora de amor e compreensão como qualquer outra pessoa. Por que eu faço isso? Eu sou só mais uma no meio de uma multidão e o que eu preciso aprender é que eu não preciso me esforçar para estar ali, ninguém precisa.
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