"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Desaparecendo



É meio estranho ter brancos de memória. É como se o filme em sua cabeça estivesse todo picotado e embaralhado, dou saltos no tempo e no espaço e vira e mexe tem alguém me contando algo que fiz e eu não fazia ideia que tinha feito. As coisas começam a se tornar cada vez menos reais com o tempo. Afinal, como eu vou saber o que fiz e o que não fiz se não consigo me lembrar das coisas? E em todo o tempo em que eu fico "apagada" o que que eu faço? Perde-se o controle, o ponto de referência, o contato com a realidade. Não existe nada mais incerto do que uma folha em branco e isso me assusta. Qualquer coisa poderia ser pintada nessa folha, eu poderia fazer qualquer coisa nessas lacunas na minha memória, eu poderia sentir qualquer coisa, eu poderia acreditar em qualquer coisa e falar qualquer coisa, não é assustador? E o mundo parece irreal, minha vida parece irreal, tento apalpar essa realidade, qualquer coisa que me dê segurança e não a impressão de estar desaparecendo como minhas memórias, mas ela me escapa pelos dedos. Não consigo sentir a vida, não consigo sentir que existo.

Meus problemas de fuga da realidade e ideias fantasiosas começam ai. Não consigo sentir que estou viva e então a realidade pode ser qualquer realidade. E qualquer coisa pode ser real, como meu monstro por exemplo. Meu monstro sempre é real para mim, mas há coisas relacionadas a ele que variam conforme o grau de percepção que eu tenho da realidade "certa". Por exemplo, em um dia onde eu estou mais confusa e assustada eu posso acreditar que se fechar os olhos meu monstro vai sair de dentro do meu corpo de algum jeito e me atacar, ou então eu posso simplesmente achar que ele vai surgir do nada ou que vai começar a controlar meu corpo contra a minha vontade. Eu também me amarro a ideias concluídas a partir de um raciocínio que para mim é racional mas na verdade é totalmente irracional. Essas ideias são bem difíceis de se livrar porque elas fazem muito sentido para mim. Como a ideia de que, em algum momento eu vou ver meu monstro, ele vai se materializar. Eu o sinto com tanta certeza aqui dentro que às vezes quando fecho os olhos, quase posso sentir sua respiração e presença ao meu lado. É assustador.

Me pergunto como posso saber se estou realmente vivendo o que estou vivendo, me pergunto se não estou só dormindo ou se o que estou vivendo agora amanhã já não estará mais em minha memória. Como eu posso saber? Como eu posso saber o que é certo para todo mundo e para mim é tão incerto? Eu estendo minhas mãos e tento alcançar o que não é palpável. A vida... Você consegue sentí-la? Às vezes eu queria passar um dia vendo a vida a partir dos olhos de outra pessoa, assim eu poderia entender como eles enxergam as coisas, como podem se sentir tão seguros frente a algo tão improvável. Eu só queria um pouquinho mais de segurança e certeza, o suficiente para convencer meu cérebro de que eu não estou desaparecendo. E sim que estou aqui e agora, de verdade, o tempo todo, e que eu não vou a lugar algum.

2 comentários:

Miss Danielle de Barbarrac disse...

Oii, realmente é incrível como a gente pode pensar tão parecido com pessoas que nunca conhecemos...
Já estou seguindo vc!

Unknown disse...

Muito obrigada!! Fico feliz que tenha se identificado. Também estou seguindo seu blog.