"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sábado, 13 de agosto de 2011

A bolha (Não há moral da história)


Era uma vez uma menininha que construiu uma parede de água e sabão a sua volta, como uma bolha. Ela era muito, muito feliz as vezes, sorria e pulava como as outras crianças e quem não prestasse muita atenção não reparava na bolha, que a tornava intocável. Ela tentava agir como se fosse normal, mas sabia que a bolha a fazia diferente. Aos poucos as pessoas foram percebendo que havia algo de errado com ela, quando a bolha se tornava turva e ninguém conseguia ver o que se passava lá dentro, quando ela temia a aproximação física das pessoas, quando sentava sozinha no sol e o reflexo da luz fazia tudo ficar colorido e ela não sorria. Quando se isolava cada vez mais e seus olhos se tornavam cada vez mais escuros e profundos. Havia algo de errado.

A bolha, quando ela era pequena, era bonita e transparente, mas a medida que a menina foi crescendo e se tornando cada vez mais sozinha, foi escurecendo e ficando opaca. Até que se tornou impossível que o mundo a visse e que ela visse o mundo. As poucas pessoas que sabiam que a garota existia se perguntavam porque ela não rompia a bolha, porque havia construído isso a sua volta e porque não deixava que ninguém a tirasse daqui, parecia estupidez, parecia suicídio. Mas ela ouvia tudo isso que as pessoas diziam como se estivessem bem distantes e ignorava, ela abraçava suas próprias pernas e sorria. As pessoas não entediam que o fato dela não se sentir normal não era porque havia construído uma bolha a sua volta, não entendiam que construir a bolha havia sido a saída que ela havia encontrado para se sentir segura e que se a consequência disso fosse ela viver sozinha para sempre e morrer assim, ela não se importava... Porque não conseguia enfrentar a vida sem isso, porque não tinha coragem nem vontade para fazer diferente, porque a vida que conhecia lá fora era ruim de mais para que ela acreditasse que estaria mais feliz fora da bolha.

Era uma vez uma menininha que construiu uma bolha a sua volta. E viveu sozinha para sempre, inventando uma vida de faz de conta para não enlouquecer. Ela sempre sorriu bastante, sempre chorou muito e possui o olhar mais profundo e pesado que eu conheço. Ela vai morrer, sufocada com seu próprio ar e ninguém vai ver. Mas ela está feliz, ninguém a está vendo porque não há como a ver... O que é melhor que do não ser vista mesmo podendo ser vista. Ela está feliz porque agora as pessoas podem dizer indiferentes que não são culpadas pela tragédia que se tornou sua vida, as pessoas podem viver como se ela nunca tivesse existido e ela nunca mais será um peso para ninguém. Ela está feliz.

Era uma vez uma menininha e ninguém quis ver o que se passava com ela, ninguém a ouviu chorar, ninguém a defendeu e príncipe nenhum a salvou de seu sofrimento, então ela construiu algo que a defendesse do mundo e morreu assim. E lição nenhuma foi aprendida.

Um comentário: