"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O que eu vejo, como eu vejo.


Eu não sei ao certo se o clima condiz com meu estado de espírito ou se é meu estado de espírito é que condiz com o clima, mas o fato é que quase sempre, quando estou andando pelas ruas, meu humor e o clima parassem estranhamente sincronizados. Ou talvez não seja o clima de fato... mas o jeito como eu olho o mundo. Quero dizer, se estou feliz, por mais que o dia não seja dos mais bonitos... para mim ele estará lindo, a chuva será linda, as nuvens pretas no céu também, o vento não irá castigar meu rosto e sim afagar, se estiver sol então! Mesmo se for aquele sol fraquinho, clima de mormaço, para mim o céu estará esplêndido, e o sol incrível. Mas se eu estou triste... Tudo parece mais cinza, mais feio... o sol é pesado a meus olhos, a chuva me irrita, como se zombasse de mim, o céu preto ou limpo, não importo, parece sem vida. Por isso digo, quando estou triste o clima parece feio, quando estou feliz o clima parece maravilhoso. Mas não é o clima, sou eu.

O tempo é a primeira coisa que eu noto ao andar sozinha pelas ruas, a segunda coisa que eu noto sou eu mesma. Eu nunca sou a mesma. Eu me observo divertida de algum lugar distante dentro ou fora de mim, não sei ao certo, depende. E lá estou eu... Meu andar é naturalmente ansioso eu imagino, ando meio que na ponta dos pés, meio pulando, quando estou feliz meu corpo vibra e eu preciso me segurar muito para não caminhar saltitando (eu gostava quando eu era menor e não precisava me segurar... Eu só andava saltitando), dependendo do grau da minha agitação e alegria eu também preciso me segurar para não sair correndo e pulando feito doida. Eu sou muito boa em me reprimir, apesar de as vezes não parecer... Eu realmente me esforço para sempre reagir e parecer o mais normal possível, mas dentro de mim as emoções fervem insanamente.

Quando estou triste... minhas costas se curvam, meu andar é lendo e arrastado, quase como se alguém estivesse me obrigando a andar (no caso eu mesma), foco meus olhos no chão... E o pouco contato que eu mantenho com o mundo a minha volta desaparece, principalmente se eu estiver sozinha. Quando alguém está comigo eu me esforço para prestar atenção nessa pessoa e não mergulhar no meu inferno particular, e eu falo também, ou tento falar, falar sempre me mantém... aqui. Se é que vocês me entendem. Mas as vezes eu não consigo falar, se eu não estiver entendendo o que eu estou sentindo eu dificilmente vou conseguir falar alguma coisa. Quando estou triste eu não percebo absolutamente nada a minha volta, caminho quase feito cega, me desviando de quem aparece na minha frente com impaciência. Eu odeio tudo a minha volta quando estou triste. Me irrita. Eu quero só ficar sozinha, em algum lugar quieto e sem ninguém, mas é difícil eu ter esses momentos sozinha... Ninguém mais me deixa sozinha. É irônico eu dizer isso na verdade, quando ainda sinto a solidão me assolando na maior parte dos meus dias. O fato é que estar com alguém por perto não significa que você não irá se sentir sozinha, isso é muito relativo. Mas com certeza significa que você não irá conseguir pegar um faca e enfiar em seus braços confortavelmente (e isso é o que realmente importa para muitas pessoas).

De qualquer jeito... Passamos para minha visão. A terceira coisa que eu reparo, e a mais incerta, é no que eu vejo, o mundo a minha volta. As pessoas, a rua, os carros... É difícil eu prestar atenção nessas coisas. Como já disse, se eu estou mau, não presto atenção em nada mesmo, mas se eu estiver relativamente bem, bom... Eu normalmente também não presto atenção, mas é diferente... Quando estou mau eu afundo em mim mesma e o mundo desaparece, quando estou bem... minha cabeça voa... Histórias e eventos, realidade e ficção se misturam... até que eu me pego vivendo a vida de um dos meus personagens, em um dos muitos fragmentos de histórias, fatos, etc, que existem na minha cabeça. Eu realmente não sei quem eu sou... E a partir dessa incerteza, tudo o que eu vivo e acredito passa a se tornar duvidoso. Quero dizer... Se eu nem ao menos sei se aquela pessoa ali sou eu, como posso saber se o que aconteceu foi real? Se as vezes eu sinto que não sou eu mesma, como posso saber se o que eu estou vivendo, sou eu que estou vivendo ou é outra pessoa? Dentro de mim... Quero dizer... é confuso. Na minha cabeça faz sentido essas dúvidas, mas aqui no papel acho que eu não sei fazer com que vocês me entendam.

Eu li um livro uma vez... Em que a personagem principal também não sabia o que era real e o que era sonho, o que a cabeça dela inventava. Se parece um pouco com o que ela descreve, mas não exatamente... Eu não sonho... Eu só tenho dúvidas, eu só não sei onde me apoiar para ter certeza de mim mesma.

Bem... quando minha mente não está vagando, geralmente quando eu estou mais agitada, eu olho mais, não o olhar distraído, o olhar curioso... O que não só registra automaticamente as coisas, mas o que realmente para e observa o que lhe chamou atenção. A primeira coisa que me chama a atenção são as pessoas, em especial as mulheres e as crianças. Não importa se for uma senhora ou uma moço perfeita, eu olho para as mulheres automaticamente. Eu lembro quando eu estava tentando me convencer que era hétero, quero dizer, na época em que uma parte de mim já (a palavra certa acho que seria ’ainda’) estava preocupantemente reconhecendo que talvez o que eu estive sentindo com aquela amiga fosse mais que amizade, eu me lembro como eu me esforçava e me policiava para reparar nos homens... Reparar neles era uma tarefa trabalhosa e cansativa, sinceramente muitos poucos atraiam minha atenção, geralmente só os mais diferentes mesmo... Que atraiam minha atenção justamente por serem diferentes, gays por exemplo, alguns chamam bastante atenção (e despertavam em mim um sentimento reconfortante... sempre foi muito com a cara dos gays). Enfim... Meu olhar segue as mulheres, até quando eu estou distraída, andei percebendo. O fato é que me sinto segura com elas, talvez seja por isso. Também gosto de crianças... Tenho paixão por crianças. O maior sonho da minha vida é abraçar um criança minha, um filho... De verdade. Não consigo não sorrir para elas, é impossível. Despertam em mim um sentimento tão grande de proteção e carinho...

Poucas coisas me incomodam... A pior delas... Obviamente são os homens de novo. Odeio passar perto de homens, a maioria quase sempre faz comentários, tenta mexer com a gente... Não é sempre que eu entendo o que eles falam e eu nem preciso entender, posso sentir seu olhar. É fácil presumir homens, eles são realmente simples de entender, a grande maioria. Alias eu andei percebendo que quanto mais eu ando com roupas masculinizadas, menos eles mexem comigo... Isso é ótimo! Pena que alguns ainda insistem, apesar da minha óbvia aparência gay. É uma pena... Mas outra coisa ruim é que alguns tendem a mexer mais com você, quase como que querendo te mostrar que ele é que é homem de verdade, não você... Você é só uma garotinha. Eles parecem dizer. Patética e fraca.

Passar por eles e sustentar seus olhares nunca é fácil. Gosto das mulheres... Elas são adoráveis... interessantes, misteriosas, distraídas, preocupadas, sorrindo ou franzindo as testas, falando ou levando a mão a boca enquanto pensa, mordendo os lábios e inclinando a cabeça em direção a seus companheiros que nunca parecem reparar a mulher incrível que eles tem ao lado. Não me sinto como sendo igual a elas... Isso sempre foi um sentimento muito solitário e inexplicável para mim... A primeira vez que eu me senti como sendo uma mulher foi beijando uma.

É engraçado... Ainda experimento com estranhamento a palavra mulher na minha boca se referindo a mim mesma. Mas eu gosto... e não gosto. Não sei explicar. Gosto de ser mulher, mas acho que prefiro pensar na pessoa em meus braços como sendo mulher do que pensar em mim mesma. Mulher se refere a algo bonito, e eu não me sinto bonita dessa forma, não gosto do meu corpo. Mas é reconfortante a sensação de que a pessoa em seus braços é igual a você. Reconfortante e certo, direito, como as coisas devem ser, sabe? Ao menos pra mim. Todo esse papo que hétero fala, os preconceituosos... Que ser hétero é direito, é certo e blá-blá-blá, eu entendo esse sentimento! Claro que entendo... Mas eu sinto isso em relação a homossexualidade... e sabe, nem por isso eu saio falando para você ser gay. É questão de respeito, você vê o mundo a sua maneira, eu vejo a minha, podemos conviver juntos sim. Porque não? Você faz com você mesmo o que você acha certo e eu também, nada de mais. Ninguém tem direito de tentar impor sua visão em ninguém... A única coisa que se exige é respeito. Fim.

Sem drama certo?

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