"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quarta-feira, 6 de junho de 2012

De onde eu vim, a que lugar pertenço.



Ele segurou minha mão com força, olhando bem fundo em meus olhos. Quem é você? É um pouco difícil manter esse olhar, fico repetindo em voz alta que está tudo bem, não sei ao certo se tentando convencer você ou eu mesma dessa mentira descarada. Não está nada bem, nunca está, está? Não sei. Quem é você? Me diga um pouco mais, me conte suas histórias dessa vez, me deixe te ouvir, me deixe entrar em sua alma. Quem é você? Você me ouviu como poucas pessoas o fizeram, assim, sem querer, sem esperar por isso, mas ouviu. Eu te disse tudo, te revelei tudo, você percebeu? Por trás de metaforas, por trás do verniz das palavras, do cuidado na construção das frases, esta sou eu, totalmente despida de mentiras, inteira e clara em minha escuridão quebradiça. Sua vez. É sua vez, me conte, me diga, converse comigo. Quero saber tudo, quero tudo. Não mude de assunto, não segure as lágrimas, não repreenda o que sente em prol de uma imagem. Quem é você? O que viveu? Por que você parece me entender? Por que tanta compreensão e tristeza? Por favor, me salve, me conte o que você sabe sobre isso, o que você viveu que eu te lembro tanto. Me de um filete de luz, uma esperança. O final é feliz? Ou é só mais uma tragédia? Há um universo inteiro por trás desse olhar, estou curiosa, me deixe entrar. Me diga que tudo vai ficar bem, que você já passou por isso e tem uma carta vital na manga. Estou sonhando muito alto, talvez. Mas por que não?

Desde o primeiro momento que te vi, desejei de toda a minha alma que você gostasse de mim, que me amasse de forma infantil e idiota. Você pode me adotar? Pode passar a mão em minha cabeça e dizer que tudo vai ficar bem? Eu nunca tive isso, sou uma adulta já e nunca tive a oportunidade de sentir a segurança que as crianças deveriam sentir. Me de um chão, por favor. Um lar para o qual eu posso voltar, um abraço, um beijo de boa noite... Tudo isso me faz uma falta extrema. Estudo as pessoas falando sobre suas famílias, sobre o quão são sortudas e feliz e sinto vontade de me matar. Eu não sei como é isso, não sinto isso, não recebi isso, algo deu terrivelmente errado no meio do caminho. Ou talvez desde o começo mesmo. Mas você me entende, não entende? Agora mesmo, em duas frases eu te revelei minha história inteira. Você parece entender, isso enxe meu coração de alegria e tristeza ao mesmo tempo. Olha... Eu te fiz chorar! Me desculpe, me desculpe, me desculpe. Eu só me sinto um pouco sozinha de mais, eu não me encaixo aqui nem em lugar nenhum, não me sinto bem, não me sinto parte de coisa alguma, não consigo me integrar, não consigo me apegar. Mas você é diferente, são poucas as pessoas que passaram na minha vida que foram realmente diferentes, mínimas as que eu realmente confio, geralmente eu sou só uma mentira ambulante, escondida atrás de sorrisos falsos e getilezas planejadas. Mas você é diferente. Você segurou minha mão e por mais que isso tenha me assustado (por que todo o contato físico me assusta em um primeiro momento), eu gostei, você não teve medo de se aproximar de mim, de perguntar se eu estava bem, se eu recebia a ajuda que minha condição necessitava.

Eu sorri triste em sua direção, nervosa. Estou bem professor, está tudo bem, está tudo bem. Não, não está tudo bem. Eu preciso tanto de ajuda... Não aguento mais, há muito tempo não aguento mais. Você pode me abraçar? Meu corpo vai, involuntariamente, se esquivar do seu, mas por favor não tome isso como uma rejeição da minha parte, é só meu instinto de preservação, meus medos e traumas. Eu gostaria de ter tido um adulto na minha vida como você. Eu gostaria de ter tido um pai de verdade. Eu gostaria de ter tido alguém em quem eu pudesse me espelhar, alguém que me desse tudo o que eu preciso. Eu gostaria de poder falar para a classe que tenho sorte e uma família perfeita como todo mundo, mas eu permaneço quieta em meu lugar. Esse discurso positivo me irritada, me machuca. É triste se comparar com as outras pessoas, com a vida que os outros levam, me sinto uma idiota, mais desencaixada do que nunca. Aqui não é o meu lugar. Nunca foi, nunca será.

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