"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

terça-feira, 19 de junho de 2012

Um sonho idiota



Pensei em me tornar escritora. De novo. É um sonho muito antigo e idiota. Acho que começou a ser construído lá atrás, quando ganhei meu primeiro diário aos 7 anos de idade. Desde então escrevo. O que? Perguntei para a babá do meu irmão quando ela me deu meu primeiro diário. Qualquer coisa, ela me disse, o que você quiser, as coisas que acontecem com você, na escola, em casa, sua vida, tudo o que você quer contar mas não tem a quem. Olhei para aquele caderninho vermelho com um cadeado e me senti muito feliz, foi o melhor presente que eu já ganhei. Lembro que fiquei olhando para as páginas em branco sem saber direito o que fazer, então escrevi os presentes que havia ganhado naquele aniversário. Depois contei que tinha duas amigas na escola e que elas brigavam entre si e que eu não gostava disso. Até hoje escrevo diários, além desse blog que eu criei há dois anos atrás. Escrever se tornou parte do que eu sou, se tornou a forma de uma grande parte de mim se conectar com o mundo exterior. É por meio das palavras digitadas aqui ou escritas em uma folha em branco que minha alma quebradiça pode respirar. Sempre que sento em algum lugar e começo a escrever sinto que estou me encontrando com um velho amigo, alguém que sempre me ouve, alguém com quem eu posso falar sobre qualquer coisa, quantas vezes eu quiser e da forma que eu quiser. Posso me esconder atrás das palavras, posso me escancarar por meio delas, posso atirá-las contra o mundo ou em minha própria direção. Posso construir uma saída temporária do meu inferno, posso me afundar mais ainda. Meu universo gira em torno delas, eu dependo delas. Às vezes sinto que enquanto eu puder escrever eu vou suportar a vida, por mais que pense em desistir, por mais que às vezes até deseje desistir, quando escrevo me sinto viva, me sinto conectada à algum lugar, à alguma coisa.

Escritora... Por quê não? Eu amo escrever, mais do que qualquer atividade que eu já tenha feito na vida. Às vezes penso que minha história deveria ser contada, que eu deveria contar minha história. É uma pena que minha mente me pregue peças, que a realidade e os pesadelos se confundam e que muitas coisas sejam simplesmente impronunciáveis. Talvez por isso mesmo contar. Ou não. Talvez confundir meu leitor da mesma forma que minha mente me confunde, trazê-lo para meu universo particular e líquido, escuro e assustador. Fazê-lo sentir uma fração do que eu sinto.

Me arrepia ouvir alguém dizer que meus textos doem de ler, é exatamente isso que eu quero. Que as pessoas, ao me lerem, sangrem comigo, chorem ao meu lado, consigam me entender, viver um pouco na pele o que eu passo todo dia. É, eu poderia ser escritora. Isso me deixaria feliz... É um bom sonho para se correr atrás. Pena que eu sempre desisto dessas coisas, pena que me perco em meio de tanta dor e me esqueço que a vida pode ter um sentido, que sonhos existem e esperanças também. Pena que são tão poucas coisas que bastam para mim. Um dia meu amigo disse que tudo que eu toco quebra. Eu realmente me sinto assim, nada parece durar muito em minhas mãos. Pessoas, sentimentos, sonhos, esperanças, estabilidade, saúde... Mas eu devia parar de reclamar, as pessoas vivem me dizendo. "Pare de perder tempo reclamando e vá fazer algo para ficar melhor". Como se eu não passasse o tempo inteiro atrás desse "algo" para ficar melhor.

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