"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

terça-feira, 12 de junho de 2012

Opostos e complementares



Eu olho para essa pessoa tão pequena e frágil e sinto um certo aperto no peito. Não sei se a amo ou se a odeio. Algo nela me irrita, algo nela me dá vontade de chorar. Quero abraçá-la, quero sufocá-la, não sei direito.  Acho que deveria protegê-la, mas adoro machucá-la, é um sentimento viciante de poder. O que posso fazer? Há uma certa beleza em seu olhar triste, cheio de ódio, profundo. Há uma certa monstruosidade na forma como ela sorri, um sorriso perfeito, uma infâmia frente a tanta tragédia. Vergonhoso. Ela foge de mim, ela se esconde, ela fala baixo, ela desvia os olhos, ela abaixa a cabeça e desliza silenciosamente pela casa tentando se fundir a parede e desaparecer para sempre. Uma linda garotinha. Adoraria destruí-la, adoraria protegê-la para sempre. Gosto de forçá-la a fazer coisas que não quer, é divertido, todo o conflito é divertido, o sofrimento, a dor, a confusão.

Lá está ela, crescendo, se tornando alguém diferente. No fundo tudo igual, sempre igual, a mesma criança assustada. Olá de novo, sou eu de novo. Me dói te ver, te dói me ver. É uma espécie de valsa terrível, amaldiçoada. Não deveríamos estar aqui. Você aí, eu aqui. Juntos para sempre, separados como nunca. Onde estou? Onde está? Aqui, bem aqui. Posso apunhalar seu coração, embaralhar seu cérebro, controlar suas mãos. Pobre criança, me deixe abraçá-la, me deixe protegê-la até não sobrar mais nada. Quem é você? Quem sou eu? Posso sentir seu sorriso queimando minha pele, escurecendo meus olhos. Uma perfeita garotinha saltitante, escondendo atrás de cada passo a tragédia de um universo inteiro, as lágrimas de uma geração, a tristeza do mundo. Ninguém importante, só continue e continue. Nada demais, só continue, vamos lá. Um pouco mais fundo, um pouco mais doído, um pouco mais de força, um pouco mais de sangue.  Tão frágil, tão frágil. Um caco de vidro sujo, uma tragédia a menos ou a mais, tanto faz.

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