"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Minha luta, quanto mais penso em desistir.



Ela respirou fundo e me fez aquela pergunta de novo. Desistir ou lutar? Também respiro fundo, cansada.

Doutora, estou cansada... Quantas vezes você já me fez essa pergunta? Estou cansada. Doutora, eu nunca aprendo, eu nunca melhoro de verdade. Quando que essa tortura vai acabar? Quando que eu vou ficar bem? Não quero olhar para ela, não quero ouvir de novo tudo o que eu sei que ela vai falar. Sinto vontade de desistir, ameaço dizer que desisti. Ela tenta me animar, fala sobre o futuro, fala sobre sonhos que eu ainda posso realizar, fala de pequenas esperanças, fala que eu tenho capacidade. Sinto vontade de chorar, não sinto que eu vá melhorar. Há quanto tempo ela me diz isso? Por que eu sempre volto a piorar? E cada vez pior, cada vez pior... Sempre caindo, sempre caindo. Não aguento mais, quero dizer mas as palavras travam em minha garganta. Doutora, não tenho mais forças. Você vai insistir, eu vou concordar com você porque não sou boa com as palavras. Vou prometer que vou me esforçar, como sempre. Não vou desistir, pode deixar, vou procurar ajuda sim, quando precisar. Não vou comprar giletes, vou parar de mentir para você, vou parar de esconder coisas, vou parar de fazer mal para mim mesma.

É só que... Eu não consigo. Doutora, eu não consigo. Estou tentando, estou tentando. Estou cansada de não conseguir, estou cansada de perder para mim mesma. E você continua me dizendo que eu preciso me esforçar, se fosse tão simples assim... Se fosse tão simples assim eu não estaria onde estou. Há um tempo atrás eu tinha medo de ser internada, hoje em dia quando pioro eu quase imploro para o ser. Eu preciso que alguém segure minha mão quando eu estiver com uma gilete entre os dedos, preciso que alguém me controle, preciso disso. Não consigo sozinha, não adianta, não consigo. Minha psicóloga tenta me manter o mais independente possível, mas dia após dia eu reajo de forma pior frente a situação mais simples. Parece que pouco a pouco tudo foi se tornando cada vez mais difícil. Até as tarefas mais simples hoje exigem um tremendo esforço, entro em pânico só com a ideia de que preciso fazer alguma coisa, por mais simples que seja, como levantar de manhã, ir para a faculdade, cumprimentar alguém, etc.

O que eu posso fazer doutora? Estou tão cansada. Preciso de um tempo, preciso de um tempo de ser eu mesma. Não aguento ser eu mesma, não suporto tudo isso. Estou o tempo inteiro tensa, o tempo inteiro assustada e acuada. Tudo me estressa, tudo me machuca. Como eu posso suportar tudo isso? Dia após dia... Quando a única coisa que parece me aliviar de verdade é a lâmina em minha pele, um tiro na minha cabeça, uma corrida em direção a morte. Algo que faça a dor parar, para sempre. Uma solução. Preciso de uma solução, rápida, eficiente, permanente. Não aguento mais doutora. Você me diz com olhos tristes que minha vida vai ser sempre assim, que eu vou ter que sempre lutar, que nunca vai ser fácil. Não consigo aceitar que sou uma defeituosa, não consigo aceitar que minha vida vai ser sempre assim. Ela não pode ser sempre assim, se o for, não a quero viver. De jeito nenhum, eu nunca concordei com isso, eu nunca pedi por isso. Por favor doutora, me ajude, por favor. Me diga que existe uma solução, por favor, me diga que um dia eu vou ficar bem de verdade, que um dia eu vou ser normal, que um dia as coisas vão ser mais fáceis, que um dia que terei controle sobre minhas próprias mãos e mente. Por favor, preciso disso, preciso disso para querer viver. Preciso de uma esperança, uma que me convença, uma que seja falsa o bastante para me fazer sorrir. Só uma.

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