"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Sara



Sob seus pés, seu destino. Em seu coração a paz de quem já não luta e na cabeça todos os medos ausentes de tanto sentir. Tudo termina, mas nem sempre em seu tempo certo. Tempo certo? Quem julga quando as coisas devem terminar ou não? A dor de quem assiste nunca se compara a dor de quem sente na pele. Talvez o personagem principal não tenha os poderes em mãos para gritar basta quando estiver em seu limite, mas com certeza ele tem o mínimo de consciência para perceber que algo vai errado. Mas e então? Quem vai gritar basta para ele? Quando sua voz falhar e suas forças acabarem, quem estará lá? Sara sabia há muito tempo que ninguém nunca aparecia. Ela, parada ali, sentindo o vento bagunçando seus cabelos mal cortados e levantando sua saia, tinha certeza que há muito aquilo deveria ter terminado, mas não terminava. Dia após dia, a mesma coisa, 16 anos exatamente iguais. Aquilo nunca terminaria.

Desde pequena Sara ouvia de seu avô (que nada sabia de toda aquela situação que ela se encontrava) que existiam duas regras essenciais para se viver bem: Saber esperar e saber agir. Há pessoas que agem demais e esperam de menos, há pessoas que esperam demais e se esquecem de agir. O segredo estava no equilíbrio. Sara passara a vida inteira esperando aquele algo que ela não poderia explicar acontecer, esperando alguém aparecer, alguma coisa mudar, qualquer coisa, mas o tempo de esperar havia terminado, era hora de agir, finalmente. Ela se sentia melhor do que nunca, com a vida passando diante de seus olhos e a certeza de que nenhuma daquelas cenas voltariam para assombrá-la. O vento era bom, o Sol queimando seus braços pálidos sem que ela se desse conta. Tudo era lindo e perfeito daquele ponto de vista. Nada mais doía, nem tapas, nem gritos, socos, lágrimas, nada.

Toda aquela sujeira, Sara sorria, escorrendo pelo seu corpo afora. Carícias aos avessos, palavras sussurradas, ameaças. Nunca mais, nunca mais. Sara não sabe o que significa amor, não tem importância. Amor? Nunca vi, nunca senti, só ouvi falar, certo? Mentiras, um sonho, pesadelos. Nunca mais. Me deixe em paz. Uma multidão de pessoas vazias, uma multidão de vazios, nenhuma pessoa. Sara se esconde, mas nunca mais. Sara mente, mas nunca mais. Sara apanhou tanto que foi diagnosticada como doente mental, nunca mais. Ela já fez muitas coisas ruins, mas nunca mais precisaria fazer nada.

Agora tudo estava bem, em seu devido lugar, o vento brincava com sua pele e ela sentia que finalmente tinha o controle de sua vida em mãos. Sara pulou da ponte. E se seu destino foi um lugar pior do que aquele, tanto faz, ela havia agido e isso, ao menos para ela, a tornava livre para sempre.

6 comentários:

Anônimo disse...

O que será que há do outro lado?
Acredito(me fizeram acreditar)no céu e no inferno..não gostaria que fosse assim, não sei porque acredito, não sei de nada... só queria ser livre como a "Sara" ...

bjs sah, te acompanho sempreeeeeee!

Unknown disse...

Também não faço ideia do que há no outro lado. Sempre acreditei em céu e no inferno, mas quando consegui parar de ir na igreja (que sempre foi uma tradição mto forte na minha família) parei de pensar nessas coisas... Seja lá o que nos espere quando morrermos isso não muda nada como nossa vida é aqui e agora. Sara também não pensava nisso, seu objetivo era acabar com a situação a qual ela esteve presa a vida inteira e foi essa a forma que ela encontrou. De certa forma admiro sua coragem de fazer algo, são tantas as pessoas que morrem sem moverem um músculo para mudarem suas vidas, ao menos ela foi diferente.

Obrigada por me acompanhar! Fico muito feliz com suas visitas.

Bjos,
Sah.

Unknown disse...

Por outro lado... Sara não deixa de ser uma medrosa também... Enfim, a interpretação fica nas mãos dos leitores =]

Anônimo disse...

Sim, medrosa ou corajosa, ela fez sua escolha =)

Unknown disse...

ADOREI! Tou sem palavras pra dizer o quanto esse texto me arrepiou e me deixou surpresa!

Lindo! Parabéns! =)

Unknown disse...

nossa obrigada! Fico muito feliz que tenha gostado! *-*

volte sempre,
Sah.