"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Eu, eu mesma e meu tratamento.



Houve um tempo em que eu ria mais, houve um tempo em que eu podia esconder cada lágrima atrás de um sorriso perfeito de tão falso, houve um tempo em que falar era um pouco mais fácil e natural, houve um tempo em que se dividir em pessoas diferentes era fácil e natural para mim. Era fácil ser uma pessoa em casa, outra na escola, outra no prédio. Eram mundos diferentes e os problemas em cada um desses lugares não afetava o outro. Eu poderia passar a noite chorando em casa, mas quando pisasse na escola, no meu rosto só veriam um sorriso, porque ali não importava o que me acontecia em casa, não importava da onde eu vinha, não importava nada. Eu era só mais uma aluna maravilhosamente anônima. Eu sofria uma coisa ou outra ali, era difícil, mas suportável. Tudo era suportável porque eu conseguia separar cada problema em minha mente e guardá-los em compartimentos diferentes. Não me achava azarada, não, me achava muito sortuda. Não julgava minha vida como uma vida ruim. Não... Minha vida era boa aos meus olhos. Quando os problemas estão ali desde muito cedo, a gente se acostuma, a gente acredita que tudo aquilo é normal e justo e que é nossa obrigação aguentá-los.

Mas as coisas mudam. Sinto que a cada ano que passa, mais difícil a vida vai se tornando. Começou a ser difícil parecer feliz e bem o tempo inteiro, depois, começou a ficar difícil falar, difícil manter amizades, difícil enfrentar problemas, difícil permanecer calma, difícil comer, difícil sair, difícil se concentrar, difícil se controlar, difícil tudo. Me sinto cada vez pior frente a problemas cada vez menores. Tudo parece conspirar para um fim, não é possível que não exista um fim. Não é possível que eu continue piorando e piorando infinitamente. Deve existir algum momento no futuro em que isso irá se romper de um jeito irreparável, de uma vez por todas. Me sinto muito estranha de uns dias para cá. As coisas acontecem e desacontecem muito rápido. Me sinto nervosa com a falta de controle que eu tenho do mundo e das pessoas a minha volta, como se isso não fosse natural. A vida é assustadora. Estar vivo é assustador. Tudo me incomoda, um cheiro, um barulho um pouco mais alto, muitas pessoas, calor, tudo. As vezes penso que gostaria de viver dentro de um quarto seguro e bonito, onde eu pudesse ter tudo o que eu preciso sem grandes perigos ou surpresas desagradáveis, por outro lado o tédio me mata. Odeio um dia igual ao outro, odeio as mesmas coisas repetidas dia após dia. Não, não. Não suporto. Gosto de coisas novas, gosto de coisas diferentes. Um lado da minha cabeça treme de medo enquanto o outro estremesse de prazer. É uma eterna briga sem fim. Não é de se espantar que eu esteja sempre tensa, tudo o que eu faço ou deixo de fazer sempre ofende parte dos meus sentimentos e desejos, é sempre contra alguma coisa dentro de mim.

Talvez isso seja normal, é, acho que isso é normal. A única diferença é que enquanto os cérebros das outras pessoas conseguem chegar a decisões de forma pacifica na maioria das vezes, o meu é teimoso e instável de mais para conseguir chegar a qualquer conclusão sem que uma guerra se instale. Eu estou sempre na fronteira entre dois lados em plena batalha. A razão e a emoção. A loucura e a sanidade. O controle e o descontrole. Felicidade e tristeza. Mania e depressão. Amor e ódio. Parece que quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna sobreviver no meio de toda essa guerra, e também mais eu aceito que simplesmente sou assim, não importa quantos remédios eu tome, eu vou voltar a ser o que eu provavelmente nasci para ser. É assustador, até meu nome parece prever isso. Sabrina... A ninfa da fronteira. Fronteira... Fronteiriça... Limite. Transtorno de personalidade limítrofe. Borderline. É algo que eu carrego até no nome.

Sim... Estou aceitando... Mas aceitar parece trazer consigo a desistência... Penso muito em desistir. Às vezes me pergunto o que aconteceria comigo se eu parasse de tomar todos meus remédio, o que eu me tornaria, quem eu seria? Por outro lado... Aceitar não implica em desistir do tratamento. Não... Aceitar é meio como: "Ok... eu sou assim, nada vai mudar isso. Porém, apesar disso, como posso me tornar uma pessoa melhor ou melhorar minha qualidade de vida?". Se tornar uma pessoa melhor não significa mudar quem você é. Significa simplesmente melhor. Digo isso porque as vezes me sinto frustrada, tenho a impressão que me esforçar no tratamento significa negar quem eu sou. O que não é verdade. Preciso enfiar na cabeça que não é verdade. No momento consigo entender que não é verdade mas não consigo explicar porquê. Preciso entender o porquê de forma clara para que mesmo quando eu esteja mal eu não possa pensar desse jeito. É complicado... De qualquer jeito... No momento não importa muito o quanto eu estou me esforçando. Continuo piorando e piorando sem parar. Continuo lutando contra mim mesma em primeiro lugar e em segundo, contra tudo de bom a minha volta. É sempre assim. Meu monstro sempre volta, eu sempre pioro.

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