"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 4 de março de 2012

Café.



Café, café, café. Pernas tremulas, mãos nervosas, tiques nervosos. Alguém está bem atrás de mim me olhando, posso sentir, posso sentir. Olho para trás, nada, para os lados, pessoas e mais pessoas. Elas estão olhando para mim, elas estão olhando para mim. Uma delas ri, tenho certeza, ela ri de mim. Ri sem parar. Por que está rindo de mim? Alguém faça ela parar, pelo amor de Deus, alguém faça ela parar. Posso ver pelo reflexo da janela do metro que ela continua me observando e rindo. Ora. Mas que falta de educação. A velocidade com que eu balanço minhas pernas aumenta. Meu coração dispara de vez em quando, o ar se torna pesado. Preciso me concentrar me minha respiração, em minha respiração. Mas fica difícil me concentrar em qualquer coisa com tantas coisas passando pela minha cabeça e na velocidade com que elas passam. Eu só quero que ninguém ali perceba que estou surtando, que o mundo aos meus olhos está começando a ficar em câmera lenta e que eu sinto minha alma se desprender de meu corpo. A única coisa que eu preciso que é ninguém repare em mim, preciso ser invisível, isso resolveria tudo. Ninguém pode tocar em mim também. Me retraio toda, o tempo todo. Não toque em mim, não toque em mim, não toque em mim.

Tomo calmantes em cima de calmantes, me corto, dou risada e brigo com alguém de vez em quando. E fumo que nem uma chaminé, é claro, sempre fumando. Gosto de parar de comer de tempos em tempos também. Gosto da sensação de passar fome, de controlar meu corpo nesse sentido. A fome... A fome me mantem um pouco mais presa a realidade. Assim como me cortar. Tem sido um perigo maior do que normalmente era segurar uma lâmina entre meus dedos. De um tempo para cá... A vontade aumenta, a cada corte, mais vontade eu tenho de cortar, é algo tão forte que é realmente muito difícil não abrir minha pele até ver meus ossos de vez em quando. Ah! E as coisas que não existem. O que eu interpreto errado. Nunca ser se o que eu estou vendo está realmente lá ou não. As vezes vejo monstros no metro. Quero dizer, não monstros de verdade, mas pessoas com caras monstruosas, me encarando. Dura só alguns segundos, mas eu tenho certeza de ter visto. É assustador. E tem meu próprio monstro interior. Querendo toda hora fazer coisas horríveis e destrutíveis. Não sei ao certo por quanto tempo poderei mantê-los sobre esse fraco e incerto controle.

E tem as pessoas, todas elas exigindo tantas coisas de mim. Tanto papo furado e pequenos problemas irritantes. Quero que vá tudo para o inferno. Não sou boa nessas coisas. Prefiro minha solidão, tão tranquila quanto absurdamente agitada. É difícil e cansativo de mais tentar me comunicar corretamente com elas, tudo ofende, tudo está errado, tudo isso, tudo aquilo. Mas que merda. Vou tomar mais um café. Por que as pessoas não param de reparar em mim? Que vão tudo para o inferno. Não gosto de pessoas. Gosto de livros, de comutadores, de lápis e papel, do meu gato e de vez em quando de alguma boa alma por aí.

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