"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Os pesadelos



Os sonhos se repentem de forma torturante, como se andassemos eternamente em um único círculo. Passo as noites me vendo de longe, acontecimentos confusos, dolorosos e sem lógica e de novo, de novo e de novo. Mas esse dia foi diferente, foi muito diferente. Não era um pesadelo como eu normalmente o tenho. Não... Dessa vez tudo foi tão real, mas tão real, que mesmo depois de acordada eu ainda poderia jurar que aquilo tinha acontecido de verdade. Demorou um bom tempo para eu perceber que o fato não poderia ter acontecido... Na verdade poderia sim ter acontecido, mas seria no mínimo improvável eu acho. Sou muito confusa no quesito sonho/realidade. É difícil separar o que minha cabeça problemática inventa durante minhas longas noites e o que realmente aconteceu. Porém, das minhas memórias medonhas tenho totalmente certeza que no mínimo uns 50% realmente aconteceram, outros 50% são muito incertos e nebulosos para eu ter certeza. De qualquer jeito, não há como eu provar nada, nem para mim mesma. E de qualquer jeito também, sendo essas lembranças reais ou não, elas me perseguem de forma insuportável e dolorosa.

Normalmente nesses sonhos ou lembranças que eu quero de todas as formas fugir ou negá-las, eu me vejo desconectada de meu corpo, às vezes observando as coisas por trás de meus próprios olhos ou então do teto, flutuando em algum lugar alto e imperceptível pelos personagens do sonho. Dessa vez não foi assim, dessa vez o sonho inteiro foi em primeira pessoa, em todo o momento eu era eu e só eu. Eu não só vi as coisas exatamente como eu veria se elas acontecessem de verdade, como reagi exatamente como reagiria e aconteceu o que aconteceria. Eu senti toda a dor, toda a dor, completa e única, como nos velhos tempos. Lá estava eu, com a idade exata que eu tenho agora e ainda agindo como uma criaçinha indefesa, como sempre. Eu obedeço, obedeço tudo, até porque eu sempre pensei que colaborar ajuda a dor a terminar mais rápido. Eu dificilmente deixo escapar um lágrima, não... A gente não pensa, a gente não sente e a única coisa que denuncia o quão gravemente nossa alma esta sangrando ao fazer aquilo são os tiques nervosos e o tremor involuntário que toma conta de nosso corpo até que tudo esteja acabado.

Revivi tudo isso da pior forma possível essa noite, como a muito tempo não me acontecia. Me sinto meio em transe ainda, está cada vez mais difícil entender meus sentimentos ou reconhecê-los, nem mesmo a dor, nem mesmo a tristeza. Nada. A única coisa que tenho conciência de sentir é esse nervosismo e inquietação, o pânico leve e constante de algo ilógico e inexistente. Todo o resto se mistura em minha mente ao acaso, fazendo com que do nada, sem motivo algum eu sinta uma vontade absurda de chorar, e do nada também, frente a algo que normalmente me machucaria, eu sinto vontade de rir. Tenho vergonha de reagir de forma errada aos estimulos a minha volta, se eu não estivesse o tempo inteiro me controlando religiosamente, com certeza as pessoas não se sentiriam muito a vontade de estar ao meu lado. Mas é engraçado... Eu tenho muito medo de ficar sozinha, muito mesmo, e ao mesmo tempo, cada vez eu suporto menos a companhia das pessoas, a cada dia parece que se relacionar se torna mais pesado e irritante. Eu sou, inegavelmente, um poço de contradições. E não importa para onde eu vá, será com tanto exagero e tão perto das fronteiras da normalidade e da loucura que eu estarei perdida, como sempre. Sinto o tempo todo que não existe solução, que não existe escapatória, por mais que minha psicóloga repita, dia após dia, que existe sim e que eu vou conseguir. Se a saida existe, não deve ser maior do que a cabeça de uma agulha à meus olhos, no meio de uma tempestade enorme e incansável.

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