Eu vi um filme. Havia duas crianças nele e mesmo depois de crescidas, ainda assim, crianças. Paradas no tempo, naquele tempo, há muito tempo atrás em que tudo o que havia nelas foi morto. Tanto tempo e enfim, crianças. Crianças, tão sozinhas, perdidas. Parece que alguém aprendeu que super heróis não existem, que seus pais não podem te proteger de tudo, que o mundo é mais feito de monstros do que de pessoas. Finais felizes não existem e há coisas que nunca poderão ser concertadas. Dói ver esse lado da história de um(a) prostituto(a). É mais fácil julgar, é mais fácil dizer que eles escolheram esse caminho ou que isso é uma punição por algo que eles possam ter feito, ou pior ainda, é mais fácil falar que eles gostam dessa "profissão" e não querem sair dessa vida. Eu só acho que não podemos julgar, nunca, alguém sem antes conhecer sua história, seu passado, o que fez dela ser o que é hoje. Não estou negando que existam pessoas que digam gostar disso, mas estou querendo dizer que quando você não conhece a possibilidade de poder ter uma vida melhor, muitas vezes você se contenta com o que tem e pode inclusive a chegar a se enganar a ponto de dizer que aquela vida é boa.
É engraçado como as pessoas se comovem quando veem crianças se prostituindo ou sendo abusadas, mas quando veem o adulto prostituto ou o adulto que é abusado, todo o peso se volta para essa pessoa, para a vítima! De repente, esquece-se que aquela mulher ou homem um dia foram crianças muito assustadas, abandonadas, roubadas. Esquece-se que ela não teve escolha, que nunca houve a possibilidade de qualquer defesa ou fuga. Esquece-se, assim, fácil. Apontam para essas pessoas já tão destruídas pela vida e dizem que elam merecem o lugar onde se encontram, que elas querem continuar vivendo do jeito que estão, assim ninguém precisa pensar nelas, ninguém precisa se incomodar com seus passados tão cheios de tabus. Assim tudo fica bem e não se fala mais nisso. Enquanto as crianças nunca forem crianças, enquanto ninguém se lembrar disso, enquanto os adultos errados continuarem sujos e cheios de culpas que não são suas. Não se fala mais nisso.
Transforma-se aqui também, assim como em outras situações, um problema que é público em algo privado. A culpa é dele ou dela, não da sociedade que cria carrascos, estupradores e pedófilos. A pobreza também, a falta de educação sexual nas escolas, há inúmeros motivos que não dizem respeito a pessoa que foi prostituída. E ainda assim, tapa-se os olhos para todos eles. Eu sugiro, antes de julgar alguém que você não conhece, você tentar imaginar como foi e é a vida daquela pessoa. Onde ela cresceu? Como cresceu? O que vivenciou? Por que foi parar nessa situação? Há um ser humano por trás dessa muralha de preconceito, um ser humano exatamente como você, quer você acredite ou não.
2 comentários:
te achei em um comentário no blog da wally e vim conferir o blog. achei ótimo. são oito e meia da manhã e eu acordei de madrugada com martim miando frenéticamente. não estou com cabeça para ler mais coisas mas certamente voltarei pois achei os temas muito interessantes. serei só mais uma pessoa a dizer que você tem talento para escrever. não deixe de atualizar pois agora tem mais um admirador :) beijo, cuide-se.
Muito obrigada pela visita e pelos elogios! =] Espero que continue gostando dos textos.
Até a próxima,
Sah.
Postar um comentário