Quero contar uma história. Preciso contar uma história. Ela está bem aqui, entalada em minha garganta por anos e anos. Eu simplesmente preciso. As lembranças doem e eu nunca vou conseguir me livrar delas, não importa o quão bem eu esteja, elas sempre voltam. Mas não são só essas lembranças que eu preciso contar. Há essa sensação que eu nunca contei para ninguém, essa sensação de que ainda existem enormes lacunas na minha memória, coisas que eu ainda não tenho acesso. Desconfio que seja porque elas são dolorosas de mais para serem lembradas. Mais dolorosas ou não, eu quero conhecê-las, preciso saber. Preciso conseguir colocar minha história em uma mesa, clara e limpa bem diante de meus olhos, e contá-la em alto e bom som, nua e crua. Eu preciso. As palavras embolam em minha garganta só de pensar. Mas eu sou uma bagunça, tudo o que eu lembro é meio confuso, as situações se embaralham entre si, há os espaços em branco, são poucas as lembranças claras e certas. É tudo um pouco líquido de mais. E eu preciso saber, não sei como, mas preciso. As mesmas memórias ou pedaços dela continuam a me voltar em mente, e isso não me leva a nada, eu quero a história inteira, quero saber, quero entender. Talvez só assim eu consiga superar, seguir em frente. É, talvez.
Quero contar uma história para vocês. E no fim acho que venho tentando fazer isso desde meus 8 anos, com meus diários, com esse blog também, mais recentemente. Me sinto constantemente como uma estranha dentro de mim mesma, também me sinto uma estranha no mundo a minha volta, não me encaixo, tenho dificuldade para me sentir parte de qualquer coisa. Isso tudo é porque estou quebrada por dentro, pedaços enormes de meu ser sumiram na escuridão que é a minha mente. E eu preciso resgatá-los nessa missão suicida. Faz sentido? Eu só queria poder me sentir inteira, sentir que eu existo e que isso faz diferença. Queria poder um dia encontrar conforto em mim mesma, ao invés de só encontrar dor e mais dor. Queria poder olhar para meu passado e mesmo que doa, ao menos poder ter certeza que ele existiu, que eu existi e que aquilo ficou no passado e não me tornou uma pessoa marcada para sempre. E quando as pessoas perguntarem, todas aquelas perguntas que me deixam tão desconfortável, quando eu me sinto invadida como já aconteceu tantas vezes... Eu quero conseguir olhar em seus olhos e dizer quem eu sou e quem eu fui, sem vergonha, sem a sensação de ser inferior por isso.
Quero contar uma história. Quero me orgulhar da minha história. Estou cansada de ter medo de monstros que não deveriam existir. Quero me orgulhar de quem eu sou, quero saber quem eu sou e mesmo sabendo de tudo, ainda assim me amar. É possível? Quero me orgulhar por tudo o que eu passei, por cada lágrima derramada e por cada cicatriz em meu corpo, porque todas elas estão cicatrizadas e meu sangue não está mais sendo desperdiçado.
Quero contar uma história. Uma história um pouco diferente daquelas que vocês estão acostumados a ouvir imagino. E assim que eu conseguir fazer isso, sinto que algo em minha vida vai mudar profundamente. Todas as histórias terminam com um ponto final. Está na hora de eu colocar o meu ponto final na minha, acredito que só assim vou poder começar uma nova. Ponto final.
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