"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Eu, eu mesma e meu tratamento.



Houve um tempo em que eu ria mais, houve um tempo em que eu podia esconder cada lágrima atrás de um sorriso perfeito de tão falso, houve um tempo em que falar era um pouco mais fácil e natural, houve um tempo em que se dividir em pessoas diferentes era fácil e natural para mim. Era fácil ser uma pessoa em casa, outra na escola, outra no prédio. Eram mundos diferentes e os problemas em cada um desses lugares não afetava o outro. Eu poderia passar a noite chorando em casa, mas quando pisasse na escola, no meu rosto só veriam um sorriso, porque ali não importava o que me acontecia em casa, não importava da onde eu vinha, não importava nada. Eu era só mais uma aluna maravilhosamente anônima. Eu sofria uma coisa ou outra ali, era difícil, mas suportável. Tudo era suportável porque eu conseguia separar cada problema em minha mente e guardá-los em compartimentos diferentes. Não me achava azarada, não, me achava muito sortuda. Não julgava minha vida como uma vida ruim. Não... Minha vida era boa aos meus olhos. Quando os problemas estão ali desde muito cedo, a gente se acostuma, a gente acredita que tudo aquilo é normal e justo e que é nossa obrigação aguentá-los.

Mas as coisas mudam. Sinto que a cada ano que passa, mais difícil a vida vai se tornando. Começou a ser difícil parecer feliz e bem o tempo inteiro, depois, começou a ficar difícil falar, difícil manter amizades, difícil enfrentar problemas, difícil permanecer calma, difícil comer, difícil sair, difícil se concentrar, difícil se controlar, difícil tudo. Me sinto cada vez pior frente a problemas cada vez menores. Tudo parece conspirar para um fim, não é possível que não exista um fim. Não é possível que eu continue piorando e piorando infinitamente. Deve existir algum momento no futuro em que isso irá se romper de um jeito irreparável, de uma vez por todas. Me sinto muito estranha de uns dias para cá. As coisas acontecem e desacontecem muito rápido. Me sinto nervosa com a falta de controle que eu tenho do mundo e das pessoas a minha volta, como se isso não fosse natural. A vida é assustadora. Estar vivo é assustador. Tudo me incomoda, um cheiro, um barulho um pouco mais alto, muitas pessoas, calor, tudo. As vezes penso que gostaria de viver dentro de um quarto seguro e bonito, onde eu pudesse ter tudo o que eu preciso sem grandes perigos ou surpresas desagradáveis, por outro lado o tédio me mata. Odeio um dia igual ao outro, odeio as mesmas coisas repetidas dia após dia. Não, não. Não suporto. Gosto de coisas novas, gosto de coisas diferentes. Um lado da minha cabeça treme de medo enquanto o outro estremesse de prazer. É uma eterna briga sem fim. Não é de se espantar que eu esteja sempre tensa, tudo o que eu faço ou deixo de fazer sempre ofende parte dos meus sentimentos e desejos, é sempre contra alguma coisa dentro de mim.

Talvez isso seja normal, é, acho que isso é normal. A única diferença é que enquanto os cérebros das outras pessoas conseguem chegar a decisões de forma pacifica na maioria das vezes, o meu é teimoso e instável de mais para conseguir chegar a qualquer conclusão sem que uma guerra se instale. Eu estou sempre na fronteira entre dois lados em plena batalha. A razão e a emoção. A loucura e a sanidade. O controle e o descontrole. Felicidade e tristeza. Mania e depressão. Amor e ódio. Parece que quanto mais o tempo passa, mais difícil se torna sobreviver no meio de toda essa guerra, e também mais eu aceito que simplesmente sou assim, não importa quantos remédios eu tome, eu vou voltar a ser o que eu provavelmente nasci para ser. É assustador, até meu nome parece prever isso. Sabrina... A ninfa da fronteira. Fronteira... Fronteiriça... Limite. Transtorno de personalidade limítrofe. Borderline. É algo que eu carrego até no nome.

Sim... Estou aceitando... Mas aceitar parece trazer consigo a desistência... Penso muito em desistir. Às vezes me pergunto o que aconteceria comigo se eu parasse de tomar todos meus remédio, o que eu me tornaria, quem eu seria? Por outro lado... Aceitar não implica em desistir do tratamento. Não... Aceitar é meio como: "Ok... eu sou assim, nada vai mudar isso. Porém, apesar disso, como posso me tornar uma pessoa melhor ou melhorar minha qualidade de vida?". Se tornar uma pessoa melhor não significa mudar quem você é. Significa simplesmente melhor. Digo isso porque as vezes me sinto frustrada, tenho a impressão que me esforçar no tratamento significa negar quem eu sou. O que não é verdade. Preciso enfiar na cabeça que não é verdade. No momento consigo entender que não é verdade mas não consigo explicar porquê. Preciso entender o porquê de forma clara para que mesmo quando eu esteja mal eu não possa pensar desse jeito. É complicado... De qualquer jeito... No momento não importa muito o quanto eu estou me esforçando. Continuo piorando e piorando sem parar. Continuo lutando contra mim mesma em primeiro lugar e em segundo, contra tudo de bom a minha volta. É sempre assim. Meu monstro sempre volta, eu sempre pioro.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Os pesadelos



Os sonhos se repentem de forma torturante, como se andassemos eternamente em um único círculo. Passo as noites me vendo de longe, acontecimentos confusos, dolorosos e sem lógica e de novo, de novo e de novo. Mas esse dia foi diferente, foi muito diferente. Não era um pesadelo como eu normalmente o tenho. Não... Dessa vez tudo foi tão real, mas tão real, que mesmo depois de acordada eu ainda poderia jurar que aquilo tinha acontecido de verdade. Demorou um bom tempo para eu perceber que o fato não poderia ter acontecido... Na verdade poderia sim ter acontecido, mas seria no mínimo improvável eu acho. Sou muito confusa no quesito sonho/realidade. É difícil separar o que minha cabeça problemática inventa durante minhas longas noites e o que realmente aconteceu. Porém, das minhas memórias medonhas tenho totalmente certeza que no mínimo uns 50% realmente aconteceram, outros 50% são muito incertos e nebulosos para eu ter certeza. De qualquer jeito, não há como eu provar nada, nem para mim mesma. E de qualquer jeito também, sendo essas lembranças reais ou não, elas me perseguem de forma insuportável e dolorosa.

Normalmente nesses sonhos ou lembranças que eu quero de todas as formas fugir ou negá-las, eu me vejo desconectada de meu corpo, às vezes observando as coisas por trás de meus próprios olhos ou então do teto, flutuando em algum lugar alto e imperceptível pelos personagens do sonho. Dessa vez não foi assim, dessa vez o sonho inteiro foi em primeira pessoa, em todo o momento eu era eu e só eu. Eu não só vi as coisas exatamente como eu veria se elas acontecessem de verdade, como reagi exatamente como reagiria e aconteceu o que aconteceria. Eu senti toda a dor, toda a dor, completa e única, como nos velhos tempos. Lá estava eu, com a idade exata que eu tenho agora e ainda agindo como uma criaçinha indefesa, como sempre. Eu obedeço, obedeço tudo, até porque eu sempre pensei que colaborar ajuda a dor a terminar mais rápido. Eu dificilmente deixo escapar um lágrima, não... A gente não pensa, a gente não sente e a única coisa que denuncia o quão gravemente nossa alma esta sangrando ao fazer aquilo são os tiques nervosos e o tremor involuntário que toma conta de nosso corpo até que tudo esteja acabado.

Revivi tudo isso da pior forma possível essa noite, como a muito tempo não me acontecia. Me sinto meio em transe ainda, está cada vez mais difícil entender meus sentimentos ou reconhecê-los, nem mesmo a dor, nem mesmo a tristeza. Nada. A única coisa que tenho conciência de sentir é esse nervosismo e inquietação, o pânico leve e constante de algo ilógico e inexistente. Todo o resto se mistura em minha mente ao acaso, fazendo com que do nada, sem motivo algum eu sinta uma vontade absurda de chorar, e do nada também, frente a algo que normalmente me machucaria, eu sinto vontade de rir. Tenho vergonha de reagir de forma errada aos estimulos a minha volta, se eu não estivesse o tempo inteiro me controlando religiosamente, com certeza as pessoas não se sentiriam muito a vontade de estar ao meu lado. Mas é engraçado... Eu tenho muito medo de ficar sozinha, muito mesmo, e ao mesmo tempo, cada vez eu suporto menos a companhia das pessoas, a cada dia parece que se relacionar se torna mais pesado e irritante. Eu sou, inegavelmente, um poço de contradições. E não importa para onde eu vá, será com tanto exagero e tão perto das fronteiras da normalidade e da loucura que eu estarei perdida, como sempre. Sinto o tempo todo que não existe solução, que não existe escapatória, por mais que minha psicóloga repita, dia após dia, que existe sim e que eu vou conseguir. Se a saida existe, não deve ser maior do que a cabeça de uma agulha à meus olhos, no meio de uma tempestade enorme e incansável.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Como tudo sempre foi e será.



Eu costumava ser frágil, costumava acreditar que não havia maldade no mundo e que tudo tinha uma explicação boa e justa para existir. Eu costumava ser fraca, porém independente e criativa, em meu pequeno mundo particular. Era bom, era suportável. Meus melhores amigos não existiam e minhas maiores aventuras não saiam de meu cérebro distraído. Não importava o que me acontecesse, não importava quem estivesse ao meu lado, nada importava. Era fácil virar as costas e mentir, inventar coisas, pessoas, situações, ou torná-las irreais, era fácil. Apagar a memória como que por extinto. Tudo era possível.

Ou ao menos era o que eu pensava. Em algum momento as coisas começaram a ficar complicadas. Não sei dizer quando nem nada do tipo. Mas aos poucos as pessoas começaram a se tornar ameaçadoras, cada vez mais intimidadoras e más. Eu tentava acreditar que a maldade não existia (porque a maldade para mim, naquela época, só tinha forma de bruxas ou lobos), mas as pessoas continuavam a me dar medo. Não foi difícil acreditar que a culpa era minha, que a errada era eu, que era eu quem era a má da história. Afinal era só eu que parecia ver o mundo de forma tão errada como eu via, havia algo de errado comigo. De um jeito ou de outro, eu sempre me afastei do mundo, sempre vivi meio que a parte, meio desconfiada, meio inquieta, meio nervosa, meio que com um medo secreto de tudo e todos.

Dizem que as coisas mudaram, dizem que eu não preciso mais dessa defesa toda. Dizem que eu sou forte, dizem tantas coisas... Só dizem. A verdade óbvia é que ninguém sabe o que se passa na cabeça de ninguém, além da sua própria (às vezes nem isso). No meu caso, me sinto constantemente dividida. Me sinto confortável aqui dentro, protegida pelo grosso muro construido a minha volta. Porém sinto uma pressão grande para cruzá-lo, para destruí-lo... É confortável, mas também muito solitário. Terrivelmente solitário. Nunca, em nenhum momento da minha vida, eu permiti que alguém estivesse ao meu lado sem que eu estivesse com alguma defesa. Não, eu sempre tenho defesas, sempre, eu sempre me escondo, sempre. O que eu considero intimidade não é o que a maioria das pessoas considera intimidade. Eu sou boa em fugir, tanto que na maioria das vezes não preciso nem pensar para fazer isso. O problema começa quando eu tento não fugir, quando eu tento falar, quando eu tento de alguma forma sair do meu casulo, ai as coisas complicam. É uma guerra interna tão forte que fica até difícil formular palavras, tipo, qualquer palavra. Eu simplesmente paro de falar. Teve algumas vezes que fui obrigada a continuar falando mesmo quando meu cérebro já tinha me impossibilitado de abrir a boca. Cada palavra parece pesar mais do que uma pedra enorme, arranhando sua garganta ao sair, transbordando pelos seus olhos. Pareço um retardado falando, pausadamente, com dificuldade, quase sempre sem seguir uma lógica compreensiva. Eu me esforço... Quando acho importante ou vital. Mas quase sempre não vale a pena, quase sempre acabo desistindo. É preciso paciencia. Muita paciencia. Coisa que anda em falta e algo impossível de se esperar de alguém. Não. Ninguém tem paciencia o suficiente para me aguentar por muito tempo. Sei disso, posso ser retardada em muitos aspectos, mas não sou burra. Tudo bem. Não faz mal. Meu casulo é confortável, meus muros e defesas. Vou sobrevivendo por enquanto assim, até o dia em que perder o controle sobre meus gestos. As coisas vão perdendo o sentido aos poucos, primeiro os sonhos, depois algumas pessoas, depois a faculdade, depois tudo o que você costumava gostar... Logo a única coisa que vai te manter vivo será a necessidade de traçar os planos para se matar. Só isso. Depois nada.

Não essa noite.



Eu não costumo postar outros textos se não os redigidos por mim mesma. Porém esse texto, escrito para mim, por minha amiga Lilian Eloy, é tão sensível e tão condizente com minha realidade que simplesmente não pode passar em branco. Espero que gostem tanto quanto eu:

Perspectiva


Morte. É assim que, geralmente, tudo termina. Mas não hoje.
Hoje, tudo começa pela morte.
Bem, não exatamente a morte, mas a quase-morte. Minha quase-morte.

Nunca fui uma dessas pessoas que facilmente fazem amigos, que tem um prazer enorme em falar tudo que há para ser dito sobre ela mesma.
Sou uma pessoa “difícil”.

Engraçado como foi fácil conseguir comprar Novocaína na farmácia. Apenas tive que simular uma dor de dente, a atendente nem desconfiou.

O ruim de ser uma pessoa difícil é que, por mais que eu me esforce, por mais que eu saiba que é bom para mim, por mais que o mundo grite “Não é bom estar sozinho!”, eu não consigo deixar as pessoas se aproximarem de mim.
Não é algo seletivo, não é como se eu acordasse esporadicamente e resolvesse ignorar todos a minha volta, não. Eu apenas não consigo.
Talvez seja medo, medo de decepcionar alguém, medo de dar a falsa impressão de que eu sou amigável.
Já tentei ser, até consegui por alguns momentos, momentos que não duraram muito.

O ruim de tentar se matar é que você quase sempre se arrepende pouco antes de ser tarde. E se arrepender de tentar se matar depois de quase conseguir é uma dureza, meus não-amigos.
Já passei por essa situação algumas (muitas) vezes. A adrenalina, a certeza de estar fazendo algo para seu bem, para o bem daqueles a sua volta, aaah, eu seria uma heroína, tinha certeza disso.

A Novocaína já estava fazendo efeito, eu não queria sentir, não queria sentir meu heroísmo. Eu sabia que ele iria me machucar. Já havia machucado tanto antes...

As vozes daquelas pessoas ecoavam na minha mente. Todos aqueles rostos cheios de piedade. Aquilo só aumentava a dor. Ter dó, ter pena, é uma facada que eu deixo de dar em mim mesma, mas dói do mesmo jeito.
Eu queria muito acreditar nelas, aquelas pessoas gentis, amáveis.

“Talvez se eu me desse mais uma chance....”, pensei com meus botões... “Não seja estúpida! Vai ser a mesma coisa, quem você quer enganar?”, é tão fácil sermos persuadidos por nós mesmos.

Eu podia sentir meu coração acelerar. A expectativa... Ia tudo terminar, ia ficar tudo bem, eu já não me sentiria como uma inútil. Sorri diante dessa perspectiva.

É tão fácil, tão fácil atravessar a barreira entre a vida e a morte. Apenas um pulso firme e um pouco mais de pressão. A precisão não era importante, o estrago seria grande.

De repente, ouço um miado.
Meu gato arranhava a porta do quarto. Queria entrar para, como de costume, dormir comigo.

Saí daquela minha perspectiva e comecei a chorar.
Minhas lágrimas escorriam pelo meu rosto e molhavam o chão.... Meu gato miava mais alto.
Seria possível? Será que ele sabia das minhas intenções?
Aquele pequeno ser, há tão pouco em minha vida, já sabia mais que muitas outras pessoas.
Eu não deveria me culpar, mas a culpa era minha, eu me afastei de todos e me entreguei à melancolia. E ela me acolheu tão bem...

Eu começava a questionar minha lógica, meu ladro negro que sempre dizia que tudo iria passar se eu não estivesse mais entre os vivos.

Eu tenho 19 anos, estou confusa. Não sei mais pelo que lutar.
A verdade é que é muito difícil lutar pela nossa própria vida quando a luta é contra nós mesmos.
É difícil achar motivos pelos quais lutar quando eu mesma não me permito acreditar que esses motivos existem.

O que eu posso fazer? Como eu posso fazer? Como matar algo que sempre foi tão natural pra mim? Como fazer isso sem matar a mim mesma?

Eu vou me dar outra chance, todos merecem perceber que o mundo é mais que atos heróicos cometidos individualmente.
Meu sangue não vai redimir a podridão do mundo.
Não essa noite.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Dizem que onde há desejo, há vida.



Minhas pernas inquietas não param. Sinto uma vontade quase insuportável de agitar os dedos diante de meus olhos ou torcê-los contra os da outra mão, mas sei que isso seria esquisito, então tento me controlar. Pensar no dia seguinte me assusta, que dirá no futuro. Quero morrer. Quero acabar com tudo. No entanto a vida não dá trégua. Os altos e baixos continuam totalmente indiferentes aos meus planos e pensamentos. Às vezes imagino que permanecer pior para sempre é melhor do que a tortura do redemoinho inconstante que é chegar ao fim do poço a cada piora. Seguida de uma melhora só para da próxima vez sofrer a mesma queda, dia após dia a mesma tragetória, como se fosse a primeira vez. Inferno, céu, inferno, céu, inferno, céu, inferno. É uma montanha russa sem fim. Estou tão cansada de dizer que não aguento mais. De que adianta? A vida continua, indiferente, como sempre.

Me sinto em meio a um mar agitado, sem saída, sem energias, sem nada a vista. Não tenho rumo, não tenho objetivo, nem razão para permanecer viva, nada. Eu só sou arrastada de um lado para o outro, só. E agora? E agora? O pânico vem e vai esporadicamente, sem grandes motivos. Minha cabeça dificilmente consegue permanecer muito tempo na superfície. Ela afunda, em um mundo molhado, frio e esquecido, inexistente. E não há nada que eu possa fazer. Às vezes dou algumas braçadas, quando consigo juntar forças o suficiente para tal, mas logo elas se mostram inúteis. Não adianta uma criatura tão pequena e frágil como eu lutar contra um oceano inteiro. Não adianta. Aos poucos o universo secreto do mar me atrai. Talvez o mundo ali embaixo seja melhor do que o lá em cima, quem sabe? Quem sabe ali embaixo nada terrível aconteça? Quem sabe ali eu possa ser livre? O ser humano tem o péssimo hábito de estar sempre atrás de esperanças mesmo quando tudo está claramente acabado. Então, no fundo do poço, até a morte é uma fonte de esperanças, até isso. Nada escapa. Você sorri para ela, tolamente, acreditando ter achado a resposta, quando aquilo não passa de um fim, frio, insignificante e triste.

Eu não ligo. Não consigo deixar de gostar da idéia. Nada é pior do que sobreviver, do que se ver obrigada a aguentar dia após dia esse inferno. Já se passaram tantos anos e no entanto ainda me vejo obrigada a aguentar minhas lembranças e resquícios daqueles momentos terríveis. Não aguento mais. Eu preciso gritar, preciso fazer algo, realmente preciso. Mas a única coisa que consigo fazer eficientemente é bater minha cabeça na parede e abrir minha pele com qualquer coisa cortante que me cair em mãos. É patético. Onde irei parar dessa vez? O quão longe irei? Será o fim dessa vez, afinal? Espero que sim, torço para tal, rezo, desejo. Dizem que onde há desejo, há vida. Quem sabe...

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A diferença entre chorar lágrimas, chorar sangue e não chorar



Sentir dor, não conseguir parar de chorar e por isso se autoagredir, na esperança de distrair sua mente e aliviar a dor emocional, é diferente de se autoagredir simplesmente por se autoagredir ou perder o controle sem motivo, ou sentir coisas que não existem, perder a referência da realidade, se dividir em duas personalidades opostas entre outros sintomas preocupantes. A dor não é boa, não é nada boa... Sentir angustia no nível que eu sinto não é fácil, porém não tem nada pior do que se perder em um mundo de mentiras, se afastar da realidade e sentir o quão distante as coisas estão ficando. Não só sentir o quão perdida você está ficando, mas também perceber que não há nada que você possa fazer, nada a mais do que você já esta fazendo. Andava pensando seriamente em acabar com tudo, finalmente acabar com tudo. Mais uma vez minha psicóloga me trouxe, não sei da onde, vontade de tentar mais um pouquinho, só mais um pouquinho. Fico repetindo pateticamente para mim mesma. Não desista. Não desista. Não desista. Enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto e o mundo se derrete diante de meus olhos.

Eu já não lembro mais qual a diferença entre estar bem e estar mau, fica difícil para mim perceber quando eu preciso de um calmante, fica difícil julgar o que é dor e o que é felicidade, é tudo tão confuso. Eu estou aqui, sei que estou, mas quando olho para minhas mãos sinto que elas não me pertencem. Esse corpo não é meu, eu não estou fazendo isso, não estou falando isso, não sou eu, não sou eu. Gostaria de poder dizer que não sinto que existe um monstro aqui dentro, mas eu sinto, eu tenho certeza. Não consigo evitar. Durante um tempinho pensei que essas sensações não voltariam tão rápido. Mas aqui estou eu de novo, sentindo uma vontade terrível de chorar e vendo o rosto se contorcer em um sorriso ao invés disso, perdendo o controle dos meus membros, vendo minhas manias voltar com toda a força, sentindo medo de fechar os olhos porque a qualquer momento meus corpo pode aumentar ou diminuir de tamanho, ao sabor da minha mente inquieta e instável. Daqui a pouco são as paredes que irão começar a se mexer, depois disso não sei mais.

Me machucar me mantem presa a realidade e ao mesmo tempo que me afasta dela. Não sei explicar. Mas sinto que preciso disso, realmente preciso. Porém encostar a lâmina na minha pele, com o tempo, se torna cada vez mais perigoso. É extremamente fácil deixar o pulso escorregar e fazer um estrago grande de mais, é extremamente fácil. Não posso confiar no meu autocontrole nesse momento, porém venho confiando e confiando, me arriscando cada vez mais. Não posso desistir... Isso é desistir, minha psicóloga me disse. Eu continuo achando que me cortar é simplesmente não escolher, o que é diferente de desistir. Eu gostaria de não precisar escolher, de não precisar me esforçar tanto, de não precisar caminhar tanto contra a correnteza. Queria não ter um monstro dentro de mim, de não ter passado a vida inteira mentindo para mim mesma, fingindo que estava tudo bem quando não estava. Queria poder viver como todo mundo, sem precisar me preocupar com o quão desconectada anda minha cabeça.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Reflexos de um espelho fragmentado



Ele está sempre lá, sempre. Às vezes dormindo de forma inquieta, às vezes rosnando impacientemente entre suas grades. Ele quer sair, ele quer sair. Faz força para afastar as grades precárias que o envolvem, é óbvio que ele vai conseguir. É óbvio que vai voltar com toda a força. Você sabe que ele nunca foi embora, você sabe. Vira e mexe o mundo muda de cor, de jeito, de velocidade e parece que não são mais seus olhos que estão a ver e sim os de outra pessoa. É ele. Quantas coisas você se vê impulsionada a fazer mesmo sem querer, quantas vezes você se olha no espelho e sente vontade de chorar. Onde eu fui parar? Você se pergunta sentindo as forças dele fazendo seu corpo tremer. Ele precisa disso, ele precisa fazer isso, você não pode impedí-lo. Você pode até tentar redirecionar sua violência para outro alvo, mas não pode contê-la. No fim, de um jeito ou de outro, o alvo é sempre você mesma. Tanto faz. Nós duas já sabemos que você não é uma pessoa que vale a pena se esforçar para salvar.

Você já faz bastante mal para si mesma mesmo sem ele por perto, mas ele não se contenta só com isso, ele quer mais. Como se você tivesse que pagar os pecados do mundo com seu corpo, como se você já não tivesse pago infinitas vezes. Você continua repetindo para si mesma que tem algo de errado, andando em círculos, nós sabemos que tem algo errado, sempre teve, mas você sempre entra em pânico quando sente que as coisas vão voltar. Você já deveria ter se acostumado, já deveria ter aprendido a lidar com isso, aceitar isso, qualquer coisa. Mas não, você é fraca. Você chora, você não para de se mexer, de correr atrás de tudo e nada ao mesmo tempo. Nada disso pode te salvar, eu sei disso, você sabe disso, seu monstro sabe disso. A real resposta nós já conhecemos desde a época que tínhamos que decorar a tabuada, lembra? Sua vida vai culminar nisso, cedo ou tarde. Não importa o quanto você decida adiar.

Ou é agora, ou é daqui a um tempo, internada talvez, perdendo o controle da gilete, algo do tipo. Eu só estou te pedindo para não ser burra de novo, para não se dar mais uma chance inútil, para não me fazer sofrer mais uma vez. Esta brincadeira há muito vem me aborrecendo. E ele vai voltar, ele também está aborrecido. Por favor, não chegue ao fim do poço de novo, não espere isso acontecer para finalmente acabar com tudo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Cortejando a morte



Ando acumulando medos, tantos que nem consigo saber para onde eles estão apontados, tantos que acabo tendo que vencê-los todos os dias simplesmente fazendo o que eu sempre faço. Porém, vencer um medo uma vez, ou sobreviver a ele, não significa que ele vá desaparecer. Não... O medo não some, não é 'superado', ele permanece bem ali, latente, pronto para te dominar na primeira fraqueza. Vencer isso, todos os dias, é um exercício mental extremamente cansativo. É preciso se lembrar sempre que o medo é irracional, e que se você respirar bem fundo e conseguir pensar com um pouco de racionalidade que seja, vai ver que tudo o que te faz tremer e chorar como uma criança não passa de coisas tão irreais, improváveis e sem motivo quanto um amigo imaginário ou um monstro no armário.

Apesar de tudo, o medo existe. Tenho vários. Tenho medo de pessoas, de contato físico indesejado, de lugares cheios, da solidão, de mim mesma, de homens, de pensamentos, de ser abandonada, da faculdade, do futuro, do passado, do presente, de tomar decisões, de me abrir, de viver, de tudo. Estou sempre me perguntando como eu continuo vivendo, ou sobrevivendo, seria a palavra mais certa. Tenho a impressão que se tivesse real controle sobre a própria vida, eu já teria acabado com ela. São tantas coisas me atormentando, tantos motivos para dar errado, tantas lágrimas para serem derramadas, tanta dor para ser sentida. Por que eu estou aqui? Por que eu continuo andando como um zumbi para cima e para baixo? Não há nada para mim aqui ou em lugar algum, não há mais nada. Eu tenho muito mais medo da vida do que da morte... Na verdade acho que nunca tive medo da morte. A morte sempre me atraiu, atiçou minha curiosidade, fez meu coração bater mais rápido com aquela ansiedade de quem quer e não tem.

Ando dando voltas, cortejando-a, experimentando-a, pensando nas possibilidades, nas chances, nas consequências, nos motivos. Pensar nisso; fazer isso, me deixa feliz, me anima. Não me importo o quanto os que são da vida achem isso idiota. Acho que só alguém que pense como eu para entender. Olho para trás e a única coisa que eu vejo são anos e anos de sofrimento calado, escondido atrás de mentiras, sorrisos e manias. Nada faz sentido, nada segue uma lógica, nenhuma dessas lágrimas foram transformadas em algo 'construtivo' como as pessoas costumam se referir a algum evento ruim. Não... Tudo não passa de anos desperdiçados, jogados fora sem se pensar duas vezes, arrancados sem dó. Acontecimentos horríveis transformados em coisas piores ainda. Sentimentos empilhados displicentemente em forma de vulcão. Nada útil, nada reaproveitável, nada. Nenhuma lembrança, nenhuma pessoa do jeito que eu preciso, nada. Não preciso de mais uma chance para saber qual vai ser o resultado, já vivi tempo suficiente para saber, para entender que não existe saída. A única coisa que eu preciso no momento é de um bom plano.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Uma criança qualquer.



Eu não estou aqui, isso não está acontecendo. Eu não estou aqui, isso não está acontecendo. Eu não estou aqui, isso não está acontecendo. Posso até sorrir. Acredito nisso, tudo não passa de uma mentira ruim que meu cérebro inventou para eu me sentir mau. Eu não estou aqui, isso não está acontecendo. Meu coração bate no ritmo que eu repito essas palavras para mim mesma, no silêncio da minha mente vazia. Eu não estou aqui, isso não está acontecendo. Também posso acreditar que sou invisível, desde que eu não me mexa ou faça qualquer barulho. Ninguém vai me ver, vou passar por isso, vai acabar logo. Eu não estou aqui, isso não está acontecendo. Permaneço sorrindo para mim mesma por ter esse poder. É tão bom não existir. É tão bom ter controle sobre o próprio corpo desse jeito. Eu não estou aqui, isso não está acontecendo. Está tudo bem. O mundo é bom e bonito. Um ótimo lugar para se viver. Desde que eu não esteja aqui e isso não esteja acontecendo. Me sinto sempre pequena demais, frágil demais, mas as vezes também me sinto grande demais para meu corpo, como se minha alma fosse explodir, como se meu cérebro fosse grande demais para caber em minha cabeça. Eu não estou aqui, isso não está acontecendo. Quando me olho no espelho me sinto estranha, feia, desengonçada, errada, suja. Mas eu tenho certeza que eu não estou aqui e que isso não está acontecendo. Meu cérebro deve ter vindo com defeito, tenho certeza que tem algo de errado comigo, algo muito errado. Eu não estou aqui, isso não está acontecendo.

Gosto de imaginar coisas, mas as vezes imagino coisas ruins. Me sinto mau por isso. Ninguém pode saber que imagino essas coisas, elas são feias e erradas. Isso não está acontecendo. Eu não estou aqui. Isso não está acontecendo. Apesar de tudo os adultos me elogiam, falam que eu sou uma boa menina, isso faz eu me sentir pior ainda, porque não sou uma boa menina, sou má e suja, sou uma mentirosa. Isso não está acontecendo, isso não está acontecendo. Eu não estou aqui. Eu engano todo mundo, faço todos acreditarem que sou normal e boa, quando não sou. Isso não está acontecendo, isso não está acontecendo. Não entendo porque tenho que ser assim, não entendo porque dói tanto, porque essa sensação me persegue. Isso não está acontecendo, eu não estou aqui. Eu nunca peço ajuda, não gosto de dar trabalho para as pessoas, preciso permanecer fingindo que sou uma menina boazinha, preciso fazer o que os adultos querem. Quero ser amada, preciso ser amada. Eu não estou aqui, isso não está acontecendo. Eu não sei como se chama essa sensação, mas é tão horrível. Só sei que mereço isso, porque sou uma péssima menina. Isso não está acontecendo, isso não está acontecendo. Por que? Por que? Isso não está acontecendo, eu não estou aqui, eu não estou aqui. Vai ficar tudo bem, é só uma coisa da minha cabeça. Isso não está acontecendo, isso não está acontecendo. Eu não estou aqui.

Pessoas ruims precisam morrer. É por isso que eu não estou aqui, não estou aqui. E isso não está acontecendo, não está acontecendo, não está acontecendo. Eu já morri, acabou, acabou. Por favor, acabe com isso, por favor, por favor. Isso não está acontecendo, isso não está acontecendo. Por favor.

De novo, de novo, de novo.



O tempo passa, erros se repetem, pessoas vivem me decepcionando o tempo inteiro. Pequenas desculpas, pequenas mentiras, eu sorrio enquanto tenho certeza que dificilmente algo ou alguém vale a pena. Claro que aceito todas essas desculpas inúteis, o que mais posso fazer afinal? Está sempre tudo ótimo, eu adoro me fingir de idiota enquanto sinto minha alma se tornar cada vez mais escura e distante. Está tudo bem. Nada que eu já não esperasse. As vezes me pergunto o que as pessoas pensam de mim. Quero dizer, não é só porque eu tenho dificuldades em mostrar o que eu sinto que isso signifique que eu não tenha sentimentos. Sei que é difícil perceber, mas eu não sou um brinquedinho que você possa tirar da estante e brincar quando bem entende.

No fim sempre tenho a impressão que me esforço para nada, que passo a vida dando chance para as pessoas erradas. Não sei. Não sei o que fazer. A verdade é que não importa o que aconteça ou como eu me mostre por fora, aqui dentro eu continuo a mesma, sempre a mesma. Passei a vida inteira cercada de mentirar, e quando pensei ter me livrado delas, entrei em outra, por quase um ano e meio acreditando que uma pessoa poderia me salvar, me mudar, me dar forças. É ridículo. Nenhuma pessoa tem esse poder, eu sei disso, a não ser, em tese, a própria pessoa quando diz respeito a ela mesma. No meu caso nem isso. E aqui estou eu, empurrando toda minha dor para dentro do armário no fundo da minha mente, como sempre, só para ver ele explodir um dia. Um dia qualquer, tanto faz. Por enquanto estou adiando a dor, as lágrimas, enquanto é possível, enquanto outras coisas me distraem. É tudo incerto de mais, instável de mais. Outro dia pensei que seria feliz mesmo frente a todas essas minha dificuldades, então minha psicóloga perguntou se eu realmente estava bem em viver assim instável, assim incerta, assim meio sem nada, sem objetivo, razão, qualquer coisa. Não... Não está tudo bem. É óbvio que não está tudo bem.

Estou cansada. Não que isso seja novidade. Está claro em minha mente que algo se foi, algo muito valioso, algo que eu demorei muito tempo para conquistar... E não há muita coisa que eu possa fazer. As pessoas são cruéis, as pessoas não se importam, pisam uns nos outros como animais. Tenho certo medo delas, certo receio. Está difícil para mim continuar, assim, desse jeito, sem coisa alguma. Não sei onde estou, para onde vou, nada. Insisto que preciso de alguém, que preciso de ajuda, aqui, calada em meu canto, enquanto não movo um músculo para meu próprio bem, em meio a essa pilha de contradições e lágrimas. Nada parece certo. Tenho medo. Quando isso vai terminar? Quando poderei levantar da cama sem o medo de não saber se continuarei a mesma até me deitar de novo? Nunca, provavelmente. Quanto tempo dura o nunca? Quanto tempo? Eu realmente preciso de algo, aqui e agora. Sabe-se lá o que, só algo que me mantenha inteira, de algum jeito.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Perder o controle, os motivos, a razão. Acontece.



Acontece, das paredes do meu quarto se fecharem a minha volta, de tudo perder o sentido, dessa solidão me consumir viva e dessa vontade de enfiar uma faca em meu peito me dominar. Estou cercada de alternativas para me controlar, para não fazer o que tanto minha mente implora, para não me render a mim mesma, mas eu estou sempre a espreita, sempre esperando uma desculpa, sempre atenta a qualquer dor, qualquer pedra no caminho, sempre disposta a me empurrar o mais para baixo possível. Me controlar é como querer controlar um monstro por meio de uma coleira frágil e fina, é perigoso, é incerto, a qualquer momento você sabe que não consiguirá mais detê-lo. As vezes é tão difícil respirar, fazer minha mente funcionar, qualquer coisa, tudo dói, uma dor sem sentido, incontrolável, destrutível. E eu me pergunto como posso continuar. Como posso simplesmente continuar andando como se nada tivesse acontecido, como se eu fosse normal, como se eu fosse sobreviver, como se eu tivesse forças para suportar o peso que é estar viva. Eu sou uma mentirosa, passei minha vida inteira mentindo para mim mesma, para as pessoas a minha volta, para estranhos, tanto faz. Uma mentira atrás de outra, é ridículo.

Nunca sei para onde estou indo, me sinto sempre meio morta, meio hesitante, meio perdida. Gostaria só de sentar em algum lugar tranquilo e ter tempo suficiente para organizar toda minha mente e finalmente conseguir me sentir bem comigo mesma e com minha vida, mas nada para, ninguém espera. Essas pessoas a minha volta, tão incertas quanto eu, indo e vindo o tempo todo. Acabam quase sempre me atrapalhando mais do que ajudando, não todos, mas muitos deles. Preciso deles, preciso de amor, de alguém que seja forte e teimoso o suficiente para conseguir me tirar desse meu mundinho escuro e assustador, preciso de tantas coisas. Mas provavelmente esperar isso é egoísmo, ou burrice, tanto faz. Eu preciso me ajudar, eu preciso me tirar desse inferno sozinha, eu, eu e eu. Não me anima a idéia de fazer qualquer coisa, não quero me salvar, não quero me ajudar, não quero nada. Ao mesmo tempo, não quero permanecer parada, não quero andar em círculos como agora, andar pela vida vendo-a passar de forma totalmente passiva. Nada o que eu faça é suportável por muito tempo, nada muda, nada melhora, nada está bom.

Eu me odeio por isso. Pela minha inutilidade, minha burrice, minha incapacidade de melhorar, esse meu jeito de sofrer, de chorar, de sangrar. Minha fragilidade e alta dependência... Tudo me cansa, tudo me irrita, tudo me machuca. Sinto que quanto mais eu me fecho, mais os espinhos, dessa floresta de rosas que é a vida, me espetam e me destroem. É difícil dizer se eu sou frágil de mais para sobreviver ou se eu sou burra de mais para aprender a viver como todo mundo. Me sinto sozinha, poucas vezes me senti tão sozinha quanto agora. É um perigo a solidão para alguém como eu, é quase impossível sobreviver só por mim mesma, a vida valer a pena só por mim mesma. Eu gosto da solidão, gosto de ter meu espaço, mas não suporto essa sensação, essa dor. É tão fácil a vida perder o sentido.