Rótulos - Onde está a verdade?

Sou Borderline, sou gay, sou intensa, falsa e verdadeira, mentirosa, exagerada, má. Sou um monstro. Me destruo aos pouquinhos... Me cortando em cada vez mais pedaços até que não sobre mais nada. Luto. Pensando em desistir. Desisto. Disposta a lutar. Sou a contradição, a confusão, o limite da loucura. Sou egoísta, fechada em minha dor. E altruísta, sofrendo e me culpando pelo que não fiz. Quero ajudar e atrapalho, quero ser boa e não sei demonstrar. Quero alguém que cuide de mim e não quero. Quero ficar sozinha, mas tenho medo da solidão. Eu não sei o que eu quero na verdade.

Não! Eu sei. Quero a liberdade. Corro em sua direção, enroscada no arame enfarpado que eu sou, sem nunca alcançá-la. Então eu paro, cansada. Respirar doi. Me deixe em paz, por favor, me deixe em paz. Faça a dor parar, por favor. O que eu fiz... o que eu faço e sou, é tão errado assim para que cada dia seja um castigo? Ei Deus... Você realmente deve me odiar, né? Me desculpe se nunca fui uma boa filha. Me desculpe por ter tentado a vida inteira ser perfeita. Me desculpe... Eu nem sei mais pelo que eu me desculpo. Me desculpe por ter nascido assim. Assim está bom? Me desculpe por não poder ser como todos querem que eu seja. Me desculpe por... meu cérebro não funcionar. Me desculpe pelo que eu passei... Eu deveria ter lutado mais? Deveria ter sido mais forte? Deveria ter gritado todas as vezes que alguém encostou a mão em mim? Quem iria me ouvir Deus? Quem? Quem poderia ter me tirado daquela? Ninguém. Eu estava sozinha e precisava ter sido forte por mim mesma. Mas eu não fui.

Eu nunca fui forte... Pequena, submissa, tímida e indefesa, sempre fui um alvo fácil, não é? Quase que pedindo para sofrer.

Não... Eu não sou fraca! Não, não sou. Eu me faço de fraca, me enganando como sempre. Não... Eu sou forte, muito mais forte do que você imagina. Você não me conhece, você nunca passou pelo que eu passei, você nunca viu o mundo pelos meus olhos. Você não me entende. Não diga que me conhece! É mentira. Eu também não te conheço, eu não vejo o mundo pelos seus olhos, eu nunca disse que te entendia. Por que então todos fazem questão de dizer que sabem como eu me sinto? Não... Você nunca olhou para as próprias mãos ensanguentadas e sentiu tanto medo que pensou que fosse morrer ali mesmo, você nunca sentiu tanto ódio de si mesma que sentiu prazer em se machucar, você nunca se sentiu como se sua essência tivesse morrido e só sobrasse um monstro a comandar suas ações. Você nunca teve tanto medo que seria capaz de qualquer loucura só para não ficar sozinha.

Eu sou triste? Não, não sou. Sou feliz? Também não. Sou agressiva, simpática, mal-educada, amável, sou leal, inconstante, atenciosa e desinteressada. Ei... Eu sou só eu. Não me diga que eu não estou sendo eu mesma, não me diga que eu mudei. Não, não mudei, só deixei aflorar o que eu sempre fui, só estou tentando ser sincera comigo mesma. E sabe... de certo modo... Por mais perdida que talvez eu pareça estar, no fundo eu sinto estar me encontrando. Já ouviu falar que para se encontrar é preciso se perder? Então... Acho que o que eu sou está um pouco mais claro para mim agora.

Não me coloque rótulos por favor. Não me diga nunca mais que "Borderlines fazem isso e aquilo"... Só para desconsiderar o que eu sinto. Cara, isso é tão covarde. Não é porque eu sou assim que eu não tenho direito de sentir, certo? Não é por causa disso que minha dor é menos "verdadeira" e "justificável" do que a sua. É um pouco injusto você pensar assim não acha? Quero dizer... Então tudo o que fizeram para mim, tudo o que eu passei, não fui nada? A culpa foi minha, porque eu que exagerei tudo? Cara... Cala a boca, de boa. Como eu já disse, você não está na minha pele. Não foi você que ouviu o que eu ouvi, nem viveu o que eu vivi. Não diminuia o que eu sou por favor. Não me resuma a isso. Não é verdade.