"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sábado, 29 de dezembro de 2012

Tontura e sensações



Me sinto tonta, de novo. Do nada, sem explicação, como meus sentimentos e sensações sempre parecem aos meus olhos. Não sei ao certo se as coisas não possuem razão ou se sou eu que não consigo identificá-la. De qualquer jeito me sinto estranha. Fecho os olhos, ralho comigo mesma e os abro assustada, olho para minhas mãos involuntariamente, ralho comido mesma de novo e as mantenho fora do meu campo visual, olho para o copo de suco na minha frente. Vidro. Posso sentir minha alma, ou seja lá como se chama essa coisa, minha personalidade, tudo o que eu sou ou reconheço como sendo meu, saindo de meu corpo. Vidro. Minha cabeça gira. Me sinto Alice quando ela cai na toca do coelho, rumo ao pais das maravilhas. Caindo, caindo, caindo. No meu caso caindo para cima, voando sobre minha cabeça, me abandonando. É de vidro o copo. Está aí algo importante. Permito que minhas mãos voltem para meu campo de visão para que eu possa segurar o copo, não ligo muito para o fato dessas mãos não parecerem minhas e que pouco a pouco o que elas fazem parece se tornar cada vez mais desconectado. É bonito esse copo de vidro. Me lembro do caco de vidro que eu mantinha escondida na minha gaveta, só para o caso de uma emergência. A gente nunca sabe quando vai precisar de um não é mesmo? Costumava me manter segura, esse pedaço de vidro. Mas um dia em que eu estava mais forte minha psicóloga conseguiu me convencer a jogá-lo fora.

Às vezes ainda me arrependo. Não tanto pela auto-mutilação, mas só pela sensação de segurança que ter algo cortante me proporcionava. Isso soa estranho? De qualquer jeito fiquei olhando o copo, ainda me sentindo estranha, com minha cabeça rodando, e com a imagem do maldito copo se movendo de forma familiar, como se eu estivesse embaixo d'água ou coisa assim. Eu conheço tudo isso muito bem. Eu poderia quebrar o copo, poderia me agachar e fazer o que eu tanto tenho vontade, o que eu tanto luto todos os dias para não voltar a fazer, poderia. Seria fácil. Não tinha ninguém ali. Virei o resto de suco que tinha no copo, mesmo não querendo tomá-lo, e me sentindo mais esquisita do que nunca o coloquei de volta na mesa e sai correndo para meu quarto, para sentar aqui e escrever. Por que, apesar de tudo, mesmo eu tendo diminuído e muito a frequência de meus textos, ainda acredito que eles são a janela para que eu não enlouqueça. Me sinto um pouco mais viva enquanto meus dedos digitam qualquer coisa aqui, me sinto um pouco mais presente. É verdade que quase nada se iguala a sensação de ter uma lâmina na minha pele e não me importo se isso soa masoquista, só estou sento sincera. Não se pode fazer trocas, eu já tentei trocar muitas coisas pela automutilação mas essas trocas nunca duraram muito tempo. Acredito que é preciso aceitar primeiro que isso é sim uma parte muito importante de você, mesmo que seja muito ruim, e que nada vai substituir isso. Por que você pode passar a vida procurando sentir a mesma coisa fazendo outras coisas, mas isso sempre irá te levar para caminhos ruins, como drogas, álcool e sexo totalmente não seguro. É um vício, não se troca um vício pelo outro, isso não é construtivo.

Um vício precisa ser combatido ele por ele mesmo. Um viciado sempre vai sentir vontade de voltar a fazer ou usar seu vício, isso é fato, não adianta negar. Eu ainda tenho vontade de me cortar, como hoje, mas é só uma vontade e eu a combati e ganhei, deixando o copo exatamente onde ele estava e ignorando minhas sensações estranhas. Enquanto eu puder fazer isso, está tudo bem. Faz parte de mim, mas eu estou sob controle, mesmo que às vezes não pareça muito. Mas eu realmente acho que agora, ao menos agora, eu estou sob controle e é isso que mais importa.

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