"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 30 de dezembro de 2012

O border e a autoimagem



Estou lendo um livro sobre meu transtorno, pensei que seria bom, me conhecer melhor e aprender a lidar melhor com minhas dificuldades. Mas parece que não. A cada página que eu leio, mais desesperada eu fico. Eu pensei que já tivesse aprendido a conviver pacificamente com meu diagnóstico. Mas também parece que não. Eu simplesmente leio e leio e penso que não posso ser assim. Consigo enxergar como e onde eu me encaixo no diagnóstico mas quando leio as histórias de outros borders, eu simplesmente tenho vontade de me atirar de uma ponte. Eu não quero ser assim. Isso tudo é simplesmente horrível de mais, escuro de mais, sem esperança, sem nada remotamente positivo. E eu não quero ser assim. E se eu não puder evitar, eu não quero que ninguém saiba que eu sou assim. Eu não quero meus defeitos exagerados expostos por aí, por essas malditas cicatrizes em meus braços, pelo meu comportamento ou o que quer que seja. Sinto vontade de sumir, de desaparecer. Quero bater minha cabeça na parede até rachá-la no meio por ter contado para as pessoas a minha volta quem eu sou assim tão facilmente. Imagina se alguém lê esse livro ou um site qualquer que fale sobre o transtorno, não é preciso muito cérebro para entender que é melhor ficar o mais longe possível desse tipo de pessoa, de mim.

Eu odeio esse tipo de pessoa. E nem chega a ser irônico porque eu me odeio abertamente há um bom tempo. Tenho medo de olhar no espelho porque geralmente só isso é o suficiente para me fazer chorar por horas e começar a querer me machucar o bastante até que nada mais importe. Odeio espelhos. E no entanto não consigo parar de olhar meus reflexos, sentindo as ondas de raiva me tomando, me perguntando o que, droga, há de tão errado comigo, quem sou eu, porque não me sinto, onde estou... E há meu monstro. Um professor meu uma vez me disse que todos nós possuímos monstros dentro de nós. Acho que ele não entendeu o que eu quis dizer. Quando eu digo que há um monstro dentro de mim, não é uma metáfora, algo que tenha um significado profundo ou sei lá o que. Realmente existe um monstro dentro de mim, entendem? Posso sentir sua respiração, seus movimentos, quando ele se liberta das amarras que eu crio para contê-lo, posso sentí-lo tomando conta do meu corpo e me obrigando a fazer coisas que eu não quero, a sentir coisas que eu não entendo. Minha psicóloga não gosta que eu fale de meu monstro, nem meu médico eu acho. Acho que eles me acham meio psicótica ou fantasiosa. Mas o que eu posso fazer? Eu posso até não falar, mas sentir eu sinto. Meu monstro faz parte de mim. E talvez seja por isso que eu me odeie tanto.

Não gosto das coisas que ele pensa, sente e faz. Minha psicóloga diz que tudo isso que ele pensa, sente, faz, sou eu pensando, sentindo e fazendo. Pensando racionalmente eu entendo o que ela quer dizer, mas não é isso que eu sinto. Alias há sempre uma guerra dentro de mim entre a razão e a emoção. E a emoção geralmente ganha. De qualquer jeito... Eu não consigo aceitar quem eu sou. Assim como quando eu leio as histórias dos outros borders e eu sinto repulsa pelos mesmos. Quando eu leio histórias de pessoas com qualquer outro problema eu sinto compaixão... Mas com os borders não. Por que eu não tenho compaixão para comigo mesma, logo, não consigo ter para com aqueles que lembram a mim de mim mesma. Não sei... Mas talvez eu devesse parar de julgá-los tão duramente. Mas é difícil... Se você lesse acho que você entenderia o que eu quero dizer. Não somos exatamente flor que se cheire.

Um comentário:

Unknown disse...

Olá Sabrina. Eu entendo plenamente o que vc quer dizer sobre a repulsa por outros bordes, é difícil ler alguma coisa ou ver alguém que lembra o que vc tanto tenta esconder. Sinto isso também! Também entendo sobre seu monstro, tenho um dentro de mim também. Eu sinto quando ele está tomando o controle de uma situação e quando não consigo detê-lo, quando "acordo" já é tarde demais. Ele é tão real pra mim quanto o ar que eu respiro. Eu não aceito ser assim, de maneira alguma, como vc também não. Mas aí já não depende de nós!!