"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Freud e as lembranças afogadas



As piores lembranças são aquelas que não conseguimos ter acesso. Isso me veio em mente enquanto lia o livro sobre Freud que eu ganhei hoje de um professor muito querido meu. Fico repetindo a frase para mim mesma, como se uma luz tivesse se acendido em minha mente e, por mais que eu tenha notado algo de diferente, ainda não sei dizer o que, como nem onde. Tenho medo da minha mente e não sei até onde isso é considerado normal. Nunca perguntei para alguém, como quem não quer nada, você tem medo da sua mente? Isso seria entranho. De qualquer jeito, tenho medo. Imagino meu cérebro como um lugar em caus completo, cheio de rachaduras, sujeiras, labirintos e becos. E há as lembranças, espalhadas para todo o lado, algumas mais desgastadas outras ainda novas. Entre essas lembranças há aquelas que eu não gosto de olhar ou entrar em contato de jeito nenhum, mas o que mais me assusta não é a existência dessas lembranças e sim há existência das lembranças que, justamente, eu não consigo acessar. Como se existisse um inferno secreto, mais fundo do que meu inferno atual, no qual coisas piores e mais assustadoras existem.

Você nunca teve essa sensação? Ao tentar se lembrar de algo, de que algum pedaço do que quer que você esteja tentando se lembrar é simplesmente impossível de ser recuperado? Como se alguém tivesse queimado um período de lembranças da sua mente ou como se existisse uma barreira entre você e elas, uma barreira intransponível. Eu tenho muito essa sensação. Me pergunto o que poderia ser, guardado tão bem guardado desse jeito. É difícil até chegar perto disso, é como se queimasse, destruindo qualquer coisa a sua volta, eu simplesmente não consigo. Lembro da época em que estive internada e o psicólogo da clínica tentava arrancar algo de mim. Doía muito, eu chorava muito... Mas não cheguei nem um pouco perto de descobrir o que eu guardo tão profundamente dentro de mim. E ele sabia, de alguma forma que eu não consigo entender, que eu guardava muitas coisas e que eu precisava vomitá-las antes que elas me destruíssem. De qualquer jeito, eu não fiz muitos avanços na clínica a esse respeito.

Mas talvez não seja coisa alguma. Talvez as pessoas precisem fingir que guardam algo, bem lá no fundo, por que admitir sua superficialidade seja algo chato e fora de moda de mais. E se assim for eu posso respirar aliviada, já que essa é uma tremenda prova de que eu sou igual e normal. Mas talvez não, talvez Freud tenha razão e bem lá no fundo, passando todas as barreiras, há algo mal resolvido que pode explicar e resolver todos os meus problemas atuais. Se realmente fosse possível atenuar meus sintomas só recuperando esse espaço perdido em minha mente, eu colocaria a mão no fogo.

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