"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

segunda-feira, 12 de março de 2012

Entre drogadas



Muito bem, obrigada. Um objeto, um nada, tudo, uma confusão de sentimentos confusos. Perdi o controle esses dias, durantes alguns minutos, me machuquei, não lembro de nada. Só por alguns momentos. Tudo bem, tudo ótimo. Há muito sinto que não estou vivendo, que não existo, que o mundo não existe, que ninguém existe. A realidade com seus traços incertos deslizam pelos meus olhos, nunca sei o que faz parte da minha imaginação e o que realmente acontece e aconteceu, impossível dizer, tenho brancos de memória e períodos em que eu me lembro tanto que sei os mínimos detalhes de coisas que nunca aconteceram. É assim que as coisas são. A vida, não a sinto. Me matar? Não, não... Já estou morta, não consegue ver? Não tenho controle sobre quase nada, a cada dia que passa pior se torna meu quadro, e pior e pior... Até que um dia eu feche os olhos para nunca mais abri-los de verdade, até que chegue um dia em que eu passe a viver inteira e totalmente em meu mundinho, sem saída, sem cura, sem jeito, sem ninguém, sem nada.

Há momentos na vida em que tudo muda. Como se uma luz se acendesse e nada nunca mais voltasse a ser como antes. Eu senti isso naquele dia, você sabe do que eu estou falando, você viu em meus olhos, em minha alma. Por dentro, fazia muito tempo que eu não sangrava tanto. Algo se quebrou ali. E agora? Você volta, age como se não fosse nada, tudo bem, tudo ótimo. As pessoas me parecem há cada dia mais insensíveis, mais monstruosas, mais absurdas... Não tenho paciência para essas coisas, ou melhor, tenho, tenho porque gosto de sofrer, porque tudo o que tem potencial de me machucar seriamente me atrai, mas não deveria ter, não deveria. Eu deveria sair correndo sem nunca olhar para trás. Mas eu olho, eu paro, eu penso e me pergunto o quão machuca eu sairia se tentasse de novo, se confiasse um pouquinho mais nas pessoas, se me abrisse um pouco mais. Geralmente o medo me domina e eu me escondo como um camundongo, mas às vezes eu corro riscos, geralmente nos piores momentos possíveis. E me fodo. Eu estou constantemente me fodendo, tenho dom para isso. Mas tudo bem, é assim que as coisas são, é assim que sempre foram. E lá vem você de novo, a mesma ladainha, do mesmo jeitinho, o mesmo tudo. É tão fácil prever o futuro.

E no entanto... Eu adoro. Adoro ouvir cada palavra, cada frase, cada respirada sua. Como se eu já não soubesse tudo por de trás de cada frase, como se eu não soubesse todas as suas artimanhas de manipular e se deixar ser manipulada. É tudo uma velha história, se repetindo em círculos sem fim onde a única coisa que muda é meu grau de sanidade e a disposição das peças no tabuleiro. Nós duas sabemos onde isso vai dá. Me sinto uma viciada. A droga mata, a gente sabe, mas nem por isso deixa de correr atrás dela, de desejá-la, de fazer de tudo para morrer com ela circulando em suas veias.

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