"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

quarta-feira, 7 de março de 2012

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Engraçado. Não seguro mãos de garotos, nada pessoal, não me sinto a vontade. Mas se eu conseguir só me concentrar nessa mão, por alguns instantes, ela é só uma mão. Não preciso ter medo, não deveria ter medo. É difícil, a verdade é que eu nunca confio, nunca permito, sempre que possível, que alguém chegue perto demais. É o meu espaço, é meu mundo, meus pesadelos. Aqui não cabe mais ninguém além de mim mesma e meus monstros. Mas é só uma mão, certo? Como quando você cai e um estranho na rua te estende o braço oferecendo ajuda. Geralmente a gente aceita, é só uma mão. Eu não aceito. Quando caio, me encolho no chão, cega e surda de qualquer ajuda. É meu espaço, minha derrota. Até posso confiar por alguns momentos em algumas mãos. Mãos, não pessoas. Nada de pessoas. Todas indo embora mais rápido que camundongo assustado. Não, nada de pessoas. É difícil a convivência com quem quer que seja. Não, não confio, não me abro, não falo. Sinto que ele, agora segurando minha mão, é um pouco assim também, mas posso estar enganada, nunca se sabe. É difícil segurar uma mão, uma pessoa, o que quer que seja. Não sou muito boa nisso.

Mas deveria ser só uma mão, deveria. Pessoas gostam de pessoas, de apoio, de jogar conversa fora, de serem vistas e ouvidas, de palcos e falsas tragédias. Eu sou uma tragédia verdadeira, daquelas difíceis de engolir, daquelas que são ignoradas por não se saber falar sobre. O inominável. Pessoas gostam de conforto, não de lâminas afiadas como eu. Elas gostam de entrar em contato com uma pele macia e quente. Enquanto toda a pele para mim é como uma faca. Eu quero, eu quero, claro que quero. Mas é tudo meio estranho, assustador, terrível. São facas. A gente não confia em facas. Deveria ser só uma mão, mas não é. É tudo, é tudo o que eu sou e já fui em alguns segundos, são todas as minhas lágrimas condensadas, é tudo. Não, não, não é uma boa idéia. Não me sinto bem, já disse. Não é por mal, é por medo, e não se pode fazer muito quanto a isso. Vai por mim, eu já tentei. Mas é engraçado, ser obrigada a fazer essas coisas as vezes, por conta de um ou outro motivo maior... Me faz pensar um pouco o quanto eu estou perdendo.

E eu vou continuar perdendo. Porque pessoas gostam de tragédias falsas e palcos e luzes. Não há luz na verdadeira tragédia, não há final feliz, não há moral da história, não há absolutamente nada. E isso as pessoas não conseguem suportar. É sempre preciso tirar uma conclusão, é sempre preciso se chegar a algum lugar, é o que elas sentem. A verdade é que não há lugar para se chegar, não há conclusão. Esse limbo, esse nada, essa escuridão constante, essa é a vida, essa é a verdade. A minha verdade. E é meu mundo, minha derrota, meu monstro, ninguém tem nada com isso. Não, não. Ninguém deve entrar, ninguém pode entrar. Está tudo tão vazio que não se cabe mais nada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Sah, vc tem celular, pra trocarmos sms... mando o meu por email, se vc gostar da idéia, claro! abraço!