"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

domingo, 25 de dezembro de 2011

Obrigada: para alguém tão próxima e tão distante



Tem pessoas que vem e vão de nossas vidas, tem pessoas que vem e nunca mais voltam, tem pessoas que deveriam vir, mas não vem e, finalmente, tem pessoas que vem e nunca voltam. Apesar de tudo isso fazer parte de seu trabalho, para mim isso não diminui seu valor ou importância, ao contrário do que muitas pessoas dizem. Temos dias bons e ruins e só você sabe o quão bons e o quão ruins, e apesar de você me ver nua e crua como ninguém, naquela rápida hora, mais ou menos a cada três dias, você sempre esteve ao meu lado e nunca deixou de acreditar em mim. Não importa o quão mau eu estivesse, lá estava você, trabalhando incansavelmente em busca de dias melhores, de uma Sabrina melhor, perdida nessa floresta de espinhos que é minha vida.

Você já me viu chorando um mar de lágrimas, já viu minha pele aberta e meu sangue escorrendo, já me viu mais inquieta do que nunca, já foi alvo da minha raiva ilógica e da minha dependência, já me viu perder as correntes que me prendiam a realidade, já meu viu recuperá-las, já me viu no fundo do poço e já acompanhou minhas subidas e minhas diversas caídas, já ouviu meu raciocínio impecavelmente lógico e já ouviu minha fala falhar e se tornar confusa e sem sentido, já viu meus melhores sorrisos e minhas dores mais profundas, você esteve presente em todos meus melhores e piores momentos.

Foram pouquíssimas, se não nenhuma, as pessoas em minha vida que conquistaram minha confiança como você. É verdade que ainda existem algumas barreiras entre nós, mas me sinto segura para falar com você sobre a maioria dos assuntos, quase não minto para você, é impossível mentir para você e se você me pede alguma coisa, quase não tem como eu não me esforçar o máximo possível para realizá-la. Algo em você me dá forças para que eu consiga me esforçar mais quando eu acho que não tem mais solução. Já perdi as contas de quantas vezes pisei em seu consultório disposta a falar que desisti e saí com a certeza que ainda havia algo pelo que lutar, como você faz isso? Há poucas coisas que eu goste tanto quanto te deixar orgulhosa. Eu espero que um dia eu consiga te deixar o mais feliz e orgulhosa possível.  Muito obrigada por ser tão forte e constante, por permanecer ao meu lado apesar de tudo, por nunca, de forma alguma, se ofender com minhas atitudes, por continuar acreditando em mim em situações onde ninguém mais acreditaria, por não deixar com que nenhuma, por menor que seja, vitória minha passe sem a devida comemoração e reconhecimento. Ninguém sabe o quão difícil é para mim dar o mais simples dos passos e o quanto ouvir um parabéns e ver seu sorriso me dão forças. Obrigada doutora, eu nunca chegaria onde estou agora sem você e todo o seu apoio e suporte. Você não sabe, mas nas primeiras vezes que pisei em seu consultório eu tive a certeza que seria sua pior paciente... Espero um dia sair dele, sabendo que fui uma das suas melhores.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Eu não sou um bichinho de estimação



Quer dizer que você sabe lidar comigo? Quer dizer que você sabe o que faz bem para mim? Quer dizer que você tem a fórmula para me controlar? E entende cada um dos meus comportamentos e detalhes? Sinto-lhe dizer que você não é minha mãe e que nem minha mãe consegue me entender ou adivinhar qual a direção dos furacões dentro da minha mente. Não aja com a certeza de que tudo está sob seu controle, não aja como se eu fosse seu bichinho de estimação e obedecesse todo comando pronunciado por seus lábios com toda a alegria do mundo. Não, você está enganada. Eu sou um ser humano, por incrível que pareça, e tenho necessidades maiores do que seu cachorro. Se ao menos você conseguisse me ver como uma pessoa normal você entenderia. É simples... É questão de respeito, de consideração, de crescer. É preciso mudar para que daqui alguns anos eu não olhe para trás arrependida dos anos que terei passado ao seu lado, imagino que o arrependimento seja um dos piores sentimentos que possamos sentir. Eu preciso viver, do que para mim é, o melhor jeito possível. E o melhor jeito possível, que eu enxergo hoje, é ao seu lado, realmente ao seu lado, não como amiga, não como algo que você possa usar só de vez enquanto, mas como companheira. É isso que eu quero. Não trabalhamos com meio termos. O morno machuca mais do que o congelante, é ali, no morno, que mora a indiferença, a não existência, a falta de vontade, a não ação, tudo o que eu mais odeio.

Você responde mais à minha raiva do que ao meu amor. Você me valoriza mais quando estou próxima a te deixar do que quando te abraço forte dizendo que te amo. É engraçado como as pessoas são contraditórias e confusas. Tem-se medo de perder o que possuí, mas assim que se sentem seguros, o que possui vai perdendo o valor gradativamente. O quintal do vizinho é muito mais verde, certo? Um 'eu te amo' perde a magia com o tempo, um abraço, um dar de mãos. Esses dias dei a mão para um amigo e me senti tão segura, eu costumava me sentir assim quando segurava sua mão, agora só andamos de braços dados, para que dar as mãos? Simplesmente porque dar as mãos faz eu me sentir melhor... Só por isso. Há quanto tempo você não segura minha mão? Quando sentávamos lado a lado e você conversava com alguém, em nenhum momento você tirava a mão da minha perna, mostrando que estava ali comigo o tempo inteiro, apesar de não estar conversando comigo, lembra? Lembra do quanto você estava disposta a enfrentar por mim? Lembra que você enfrentou sua mãe, seu pai e sua irmã falando que estávamos juntas? E a consequência nem foi tão ruim assim quanto você imaginou. Agora você só se esconde. Agora você não enfrenta nada por mim, nenhum esforço, nada. Se der para nos vermos foi por sorte, só por isso. Algumas mentiras convenientes, mas nada que seja realmente por mim. Você mente exatamente igual para passar a noite bebendo. Eu não sou um copo de cerveja. Onde está você nesse relacionamento? Onde esta seu esforço? Não basta dizer 'eu te amo', é preciso provar. Palavras são só palavras. Não querem dizer nada. Amor para mim é mover o mundo para ser feliz junto àquela pessoa. Amar é ter coragem.

Sinto, mas estou cansada de ouvir só palavras vindas de você. Quando eu vou ser alguém na sua vida? Quando você vai ser orgulhar de me ter ao seu lado não importa o que houver? Quando você vai enfrentar tudo o que for possível para me ter ao seu lado? Quando estarei entre suas prioridades? Quando? Se não for agora, então há muito estamos perdendo tempo.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Blá-blá-blá



As coisas perdem o sentido... Um dia você simplesmente se vê correndo de um lado para o outro sem saber do que está atrás. E todos aqueles sonhos? E todas aquelas palavras que acreditei fielmente? Quer dizer que eu entendi tudo errado? Quer dizer que acabei por fantasiar de novo? Quer dizer que as coisas nunca foram desse jeito? Me sinto uma idiota. Mais idiota do que o normal. Onde estou? Quem é você? Meu peito dói como nunca e você está tão distante que parece deixar de existir a cada dia que passa. Parece que a única coisa que eu recebo em resposta é esse seu silêncio absurdo, gritando em meus ouvidos até me deixar surda. Quem sente falta faz de tudo para aliviá-la. Então onde está você agora? Estou tão cansada de desculpas, de ser jogada para trás, de ficar em segundo plano, ser ignorada, desvalorizada e trocada por qualquer coisa. Você nem percebe. Todos a sua volta percebem, menos você. E aqui estou eu, esperando e esperando, como uma retardada, como sempre, sempre disposta, sempre capaz de fazer qualquer sacrifício só para olhar em seus olhos de novo, nem que seja por pouco tempo, tudo bem. Mas de repente, eu perdi o interesse, né? De repente isso não é mais o suficiente. Tudo bem, minhas aulas de filosofia me avisaram sobre isso, todos falam sobre isso o tempo inteiro. Eu só pensei que com nós seria diferente, como todo o idiota apaixonado e iludido.

Estou cansada de pessoas entrando e saindo da minha vida, cansada de despedidas, de brigas e tantas frescuras. As pessoas passam a vida inteira tentando se dar bem e no fim acabam todas fodidas e mais solitárias que bicho de intestino. Vá atrás do seu dinheiro, vá. Vá atrás de todas as mulheres das baladas, de sexo fácil, tanto faz, mas ASSUMA sua atitude de vez. Assuma suas escolhas e permaneça do seu lado do planeta, obrigada. Não entre em nenhuma sombra de relacionamento se você não sabe o que é um relacionamento, se você não quer saber, se você está pouco se fodendo, se você não acredita no amor ou sei lá o que. Porque tem pessoas retardadas como eu, que podem se enganar e não é legal. E se você é confuso de mais, não sabe o que quer da vida, cresça, decida-se. Aprenda a fazer escolhas, aprenda que a porra de uma escolha implica em sacrifícios, muitos sacrifícios e consequências, assuma essas merdas de consequências como um adulto, de cabeça erguida e com toda a certeza e força do mundo. Porque senão, qualquer pequeno questionamento de qualquer idiota vai te destruir e balançar suas bases, então você vai se ver tremendo de insegurança e medo. EU tenho certeza do que eu quero, tenho certeza desde aquele primeiro dia. Você tem? Claro que não.

Eu abandonei uma vida inteira em nome disso, eu enfrentei minha mãe, meu pai, minha família inteira, Deus, minha avó, todos. Eu mesma. Eu nunca olhei para atrás, em nenhum momento me arrependo. Todos os dias eu me mantenho firme. Foi difícil impor respeito, foi difícil fazer com que as pessoas entendessem que eu sou assim, que isso me faz feliz, foi muito difícil. Eu que sempre obedeci todo mundo de cabeça baixa, eu que nunca tive coragem de nada, eu que sempre fui quieta, eu que sempre fui um carrasco de mim mesma. Eu fiz uma escolha. Escolhi por ser feliz do meu jeito, escolhi por ser quem eu quiser ser e não dar ouvidos a quem durante tanto tempo me manteve trancafiada em algum lugar obscuro. Cade suas atitudes? Cade seu orgulho, sua coragem? Eu cheguei ao fundo do poço para entender que precisava ser forte, se você for um pouco mais esperta pode aprender com meus erros. Que tal? Você está cansada de saber que se você fizer o que precisa ser feito eu estarei do seu lado o tempo inteiro. Mas as vezes parece que você simplesmente vive por inércia. Vai deixando que as coisas aconteçam, dificilmente se mexe para alguma coisa, dificilmente escolhe alguma coisa, dificilmente faz alguma coisa por escolha própria. Nada. Você só existe, não vive. Porque na minha humilde opinião, viver não se resume ao quão bêbada você pode ficar em uma balada deprimente qualquer.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Perfeitamente imperfeita.



Ela tem tanto medo de se sentir culpada que peca por excesso e por falta. Só se mexe quando corre o risco de receber a tal culpa e quando se mexe é movida pelo exagero e pela ânsia de tentar suprir a ausência causada pela indiferença; quando a noção de culpa parecia distante e irreal. Ela foge e deseja a fuga, mas sempre volta para o mesmo lugar. Tantos problemas e nada para aliviá-los. A máscara que ela veste é a da indiferença ou a da preocupação? As duas? Nenhuma? Perdida, confusa. O que ela quer? Para onde vai? O quanto está disposta a renunciar, sendo que escolher é renunciar, para conseguir o que quer? Tudo? Nada? Nem ela sabe.

Transita entre pessoas, festas, amizades, bebidas. Tantas em quantidade, quantas em qualidade? Presa se fazendo de livre, o que importa é parecer bem. Sonha ser útil, tendo a utilidade uma definição esquisita aos seus olhos, nada sabe, pouco faz, muito lamenta, muito se culpa, muitos medos e inseguranças. Que desaparecem assim que algo novo surge ou alguém novo entra em cena. O que importa vem dos olhos para fora, vem de uma nova amizade para uma nova amizade. Comunicativa, simpática, de aparente fácil convivência. Indiferença. Tanto faz. Claro que gosto de você. Desaparece mais rápido que qualquer coisa, líquida, inconstante, nada de compromissos, inconfiável. A culpa é sua, a culpa é minha. Vamos viver o hoje. Pensando no futuro de forma tão dolorosa quanto no passado.

Cortes e sangue entre nós, tragédias, traumas, coisas aprendidas, esforço nenhum para superá-las. Todo o esforço do mundo. Mude. Melhore. Desculpas e erros repetidos. Lágrimas. Conversas e não-conversas. O que posso fazer? Para mim ela é perfeita.


segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um adolescente qualquer em um lugar qualquer.



Em uma nação vigiada pelos olhos de Deus, um adolescente olhava-se no espelho do banheiro da sua casa. Seu olho roxo e inchado tornava seu rosto grotesco, sua mente povoada de xingamentos e provocações, nenhuma lágrima. Da onde estava podia ouvir seus pais discutindo na sala. Sua mãe estava preocupada com as constantes brigas que seu filho se metia na escola, seu pai dizia que elas eram boas porque fariam do garoto, um homem. Gritos e mais gritos, mais um vazo quebrado, nenhuma conclusão, nenhuma ação.

Lucas saiu do banheiro e se trancou em seu quarto. Ligou o computador e com os fones de ouvido ficou escutando todas as músicas escritas para ele. Tentou imaginar se existiam outros garotos como ele e o que eles estariam fazendo no momento. Não conseguiu imaginar nada, a não ser ele mesmo, sentado naquela cadeira patética, com o olho roxo e as mãos tremulas. Constantemente entrava em pânico por nada e quando tinha motivos reais para entrar em pânico ele simplesmente não sentia nada. Ele sabia, desde quando conseguia se lembrar, que havia algo de errado com ele, só não sabia dizer o que. As pessoas a sua volta confirmavam isso batendo nele, xingando-o e o excluindo de todas as maneiras. Desde quando conseguia se lembrar.

O que faz uma pessoa tão diferente que ela tenha que sofrer tudo isso por conta dessa diferença? Lucas não sabia dizer. Talvez ele fosse burro de mais para perceber, parecia que todo mundo sabia menos ele. Lucas achava injusto ninguém lhe contar o grande segredo que o tornava tão errado e tão diferente em relação aos outros. Quando pequeno havia perguntado isso para sua mãe, recebera um tapa e um "pare de atrapalhar os adultos com bobagens."

O garoto não chorava. Homens não choram. Dessa forma, recebia tudo o que lhe davam de ruim em silêncio, com a indiferença já citada. As vezes, enquanto apanhava, pensava em Deus e perguntava-lhe onde estava errando, o que o fazia merecedor disso. Nunca obtinha resposta alguma. Deus deveria estar muito ocupado com outras coisas, ou então também não gostava dele.

Lucas era um garoto muito solitário, porém não se sentia sozinho, pois nunca havia conhecido companhia alguma. Há algumas semanas havia roubado a arma que seu pai mantinha guardada no armário da garagem. Não sabia muito bem porque havia feito isso, mas gostava de sentir o peso dela em suas mãos. Havia desenvolvido uma espécie de jogo esquisito; toda a vez que apanhava, ele colocava uma única bala no tambor e o girava, então apontava a arma para a própria cabeça e apertava o gatilho. Tivera sorte até então, a bala nunca estava lá. Já havia brincado desse jogo hoje, mas decidiu se dar uma segunda chance. Ele se sentia vivo fazendo isso. Toda a vez que apertava o gatilho e nada acontecia, ele dizia para si mesmo que não chegara sua hora, que ainda restava esperança, que alguém, em algum lugar, olhava por ele. Estou vivo. Repetia para si mesmo. Algo me espera amanhã para que eu não tenha morrido hoje. E assim, ele conseguia sorrir por alguns segundos.

Pensando nisso ele apontou a arma para a própria cabeça e apertou o gatilho. Nada de novo. As lágrimas escorreram pelo seu rosto como não acontecia há muitos anos. Amanhã é outro dia. Não quero outro dia. Nada de novo me espera amanhã, não há esperança, só socos e palavras pesadas como pedras, não há nada, não há ninguém. Pressionou o gatilho e dessa vez ganhou o jogo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

O dia em que as despedidas não serão mais necessárias



Um aperto no peito, solidão  e perda de sentido. Há tantas coisas entre nós, tantos problemas, pessoas, proibições, regras, brigas. Pedras e mais pedras que me irritam terrivelmente. Eu não sei o que fazer, nem você, mas você tem infinitas válvulas de escapes, eu não. Minha dor é certa e sempre crescente, não sei lidar com ela, não quero lidar com ela. Sou especialista em fugas. Olho para os lados. E agora? Agora nada, não sei, não quero, não qualquer coisa. Preciso de direções, uma bússola, uma mão que me guie, alguém que me diga o que fazer, um amigo. Um amigo? O que significa amizade? A cada ano que passa mais eu desconfio dessa palavra, acho que nomeio as pessoas erradas com esses nomes e as certas se perdem em minha mente, em minha vida, há quilômetros de distância. Tenho dificuldade de lembrar da existência das pessoas quando elas parecem distantes aos meus olhos, assim, não peço ajuda, não converso, não faço nada. Todos parecem ter morrido e eu fiquei, ou eu morri e eles ficaram, algo assim.

Estou cansada de nada fazer, de tanto pensar e ter a vida a passar em algum lugar distante. Me sinto uma visitante de tudo isso, alguém que só existe de vez em quando, e quando existe, sente tudo a volta com estranheza de quem não pertence a esse lugar. Deixei parte de mim perdida em outro universo qualquer, ou outro universo qualquer roubou parte de mim, acho que é por isso que odeio despedidas. Sinto que a cada adeus, um pedaço de mim também me deixasse. Dessa forma vou sumindo todos os dias. Isso é no mínimo desconfortável. Tenho medo. Sou extremamente insegura quanto a tudo. Como você pode me garantir que nos veremos de novo? Preciso de provas, preciso de algo palpável, preciso sentir em minhas mãos que você vai voltar. Preciso que você deixe algo comigo, ao invés de ser eu sempre que deixe algo com você. O que é impossível.

As vezes vai, as vezes volta. Tudo imprevisível de mais. Todos os lugares me lembram ele, um amigo me disse. É... Todos os lugares me lembram ela. Dói lembrar. Porque o tempo não volta, as pessoas dificilmente voltam, e as dificuldades de hoje, serão as de amanhã e assim por diante por tempo indeterminado. Minha mulher tem mania de esperar de mais do ano que está por vir, ela pinta o futuro de uma forma que aos meus olhos parece brilhante. Tudo vai ficar mais fácil, você vai ver. Não sei dizer se as coisas ficaram mais fáceis, ou foram nós que aprendemos a contorná-las de forma mais eficiente. Estou mais para a segunda opção. Ainda espero o dia em que poderemos ser quem somos sem mascara nenhuma, sem medo e sem vergonha. Simplesmente duas meninas de mãos dadas. Nada que interesse aos outros passantes, nada de errado, nada de estranho. Só duas meninas. Sem família nenhuma a proibir coisa alguma, sem igrejas, sem deuses, sem regras sem sentido, sem brigas inúteis, sem gritos, sem lágrimas, sem grandes dramas, sem essa frescura toda irritante.

Para meu irmão, com o carinho que eu nunca consegui demonstrar



Ei, você... Tão perto e tão longe, uma porta de distância, dois universos se afastando infinitamente ao longo dos anos. Ei, você. Tão indiferente. Eu também pareço indiferente a seus olhos? Eu pareço fria e distante? Eu não sou, só queria poder te dizer, poder te olhar nos olhos e te abraçar, só isso. Eu te amo, queria que você soubesse, não só por dizer, assim da boca para fora, não. Eu te amo de toda minha alma, eu sempre te amei. O que houve entre nós? Você se lembra? Quando você me batia nós eramos mais próximos do que agora, bem mais próximos. Sabe, eu nunca pensei mas agora percebo que todas as vezes que você me viu quietinha em meu canto, brincando sozinha, alheia ao mundo e fechada e você veio até mim, arrancou o que me distraía das mãos, me bateu e me provocou... Todas essas vezes você estava tentando me salvar de uma forma ou outra. Eu não percebia que era você que todos os dias impedia que eu me fechasse para sempre, eu nunca percebi e hoje simplesmente escutei sua voz e entendi. Sua violência infantil era a única coisa que me tirava do meu pequeno e apertado universo. Você me obrigava a interagir, lembra? Eu não queria saber de nada, nem de ninguém, sempre sozinha, sempre quieta, sempre indiferente. Você não desistia de mim não é mesmo?

Lá estava você quebrando tudo que me mantinha fechada, me arrancando a força do meu universo, todos os dias. As vezes tínhamos um bom dia e eu brincava com você, na maioria das vezes eu só chorava e fugia. Sabe... Nunca ninguém tentou tanto quebrar o muro a minha volta quanto você. Por anos e anos você tentou. Eu sempre distante, sempre quieta, sempre indiferente. Você irritadiço e frustrado. Brinque comigo Sabrina. Não. Os anos se passaram e você desistiu. Agora meu silêncio é acompanhado pelo seu, minha indiferença pela sua, meu distanciamento pelo seu. Você me perdeu e eu nunca te tive. Me desculpe por ter sido uma péssima irmã... Você apanhava por tentar me salvar, e de uma forma que eu não conseguia entender na época, não havia lágrima mais doída que escorria pelos meus olhos do que aquelas por te ver chorando. Eu queria ter sido sua irmã mais velha, eu queria ter conseguido ser sua amiga, mas eu estava ocupada de mais me fechando em mim mesma. Me desculpe, me desculpe. O que eu fiz com você? Onde você está agora? Sinto sua falta, você nem imagina o quanto eu sinto sua falta. As vezes eu paro na porta do seu quarto, só pensando em como eu poderia entrar e conversar com você, mas eu não consigo. Você olha para mim assustado e pergunta o que foi, eu balanço a cabeça negativamente e volto para meu mundo. Sinto sua falta.

Obrigada por ter sido a melhor pessoa que eu já conheci, obrigada por ter me amado mais do que ninguém todos esses anos, obrigada por ter me salvado tantas vezes, obrigada por ter sido meu melhor amigo disfarçado de inimigo, obrigada... Me desculpe por todas as vezes que te ignorei, fui fria, distante e intocável, me desculpe por esse muro entre nós, me desculpe pelas lágrimas que você já me viu derramar, e pela culpa que você sentia por me machucar, eu sei que não era sua intenção, eu que sempre fui frágil de mais, me desculpe, me desculpe por ter tentado até desistir de mim, me desculpe por você ter que me ver todos os dias e aguentar minha loucura como uma estátua. Me desculpe por ser uma péssima irmã mais velha... Eu nunca te defendi como deveria, eu nunca cuidei de você, eu nunca fiz nada. E você fez todo o possível por mim. Por favor me desculpe. Por favor, me ajude a destruir esse muro, essa distância vem me matando a vida inteira e eu nunca tinha reparado como agora. Como eu consigo sobreviver com isso entre nós? Por que eu nunca fiz nada? Qual o problema comigo?

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Sempre atrás daquele algo a mais que não existe



Seguir em frente é sempre complicado demais, se eu fechar os olhos muito provavelmente meus pés andariam para trás. Os dias correm como se tudo não passasse de uma realidade inventada pela minha cabeça maluca, estou aqui e não estou, esperando por uma época em que esse buraco negro aqui dentro deixe de existir, esperando por um sorriso que não se apague tão facilmente, esperando e esperando. As pessoas ficam felizes quando eu não me corto, quando minha mente recupera sua lógica e minhas conquistas se tornam cada vez maiores, eu, porém, não consigo me alegrar, muito menos me orgulhar de mim mesma. Há esse algo sempre faltando. Nenhuma alegria dura o suficiente, nada dura o suficiente, a não ser as coisas ruins, claro.

Me sinto cercada de finais e o esforço necessário para começar algo novo me desanima por completo. Ao mesmo tempo, não consigo para de jeito nenhum, são tantas coisas e tão pouca vontade. Tudo o que eu faço precisa ser o mais perfeito possível. Eu faço, eu faço tudo, tentando desesperadamente provar para mim mesma que eu valho a pena, que eu não estou perdida.

Eu estou sempre perdida, nada que eu faça consegue me convencer. Não passo de uma pilha de frustrações e decepções. Tudo o que eu faço, faço repetindo para mim mesma que não vou conseguir, que eu sou horrível e burra, e quando eu consigo, a indiferença logo toma conta de mim. E daí? Grande coisa... Qualquer um conseguiria. Você é uma inútil. Eu sou uma inútil, invisível, ninguém, tanto faz.

E tem as pessoas, por todo o lado, com seus sorrisos, bons dias e vontade de criar intrigas. Quase todas, uma hora ou outra, me cansam. Sinto que cada vez mais gosto da solidão, apesar da mesma me destruir. De qualquer jeito, o que sou eu se não uma autodestrução ambulante? Está tudo sempre tão errado que eu já imagino como sendo certo. E aqui estou eu falando besteiras o tempo inteiro, reclamando sem parar e me mexendo na velocidade de uma lesma. Talvez eu não me canse das pessoas, mas sim do peso que faço da minha relação com elas, minha dependência problemática, minha necessidade absurda de aceitação. Quem sabe.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Colocando em palavras o intraduzível: Os dois mundos


Uma montanha russa não faz sentido por si só, não nos leva a lugar algum e não passa de um trajeto circular cheio de altos e baixos, viradas bruscas e surpresas assustadoras. Nunca podemos prever o quão grande será a próxima queda e o que nos espera na próxima curva.

Se permanecemos durante muito tempo a bordo de uma montanha russa, ela deixa de ser divertida ou assustadora e passa a ser angustiante. Aos poucos você decora seu trajeto, mas isso não te deixa aliviado de forma alguma, ao contrário. Você tem plena consciência para onde está indo e onde irá parar, porém a ausência de controle sobre sua própria vida te destrói por completo. Chega um dia que aquele carrossel se torna tão insuportável que você começa a se perguntar quando decidiu ali embarcar, o maldito dia que colocou os pés naquele vagão para nunca mais sair. Não existe respostas, não existe saída, objetivos ou coerência. Tudo não passa de altos e baixos, curvas bruscas e violentas sem sentido.

Agora imagine que exista dois mundos, o interno e o externo. Imagine que seu mundo interno seja essa vida a bordo de uma montanha russa sem fim e que seu mundo externo seja como o de todo mundo. Porém há um problema, esses dois mundos estão totalmente desconectados, o que acontece no mundo interno não se reflete no externo e vice versa, sentimentos estão não só fora de sintonia com a realidade, quanto estão de tamanhos desproporcionais e intensidades ilógicas. No mundo externo faz Sol e tudo vai bem, no interno você está em plena queda livre e assim por diante. Não há saída, não há forma alguma sincronizar os dois mundos, sua existência se resume na loucura que é viver duas vidas opostas e incoerentes e tentar trazer um pouco de racionalidade a tudo isso, não existe respostas fáceis, o choque dos dois mundos te prejudica, te atrasa, te machuca, te torna dependente, frágil, assustado e incapaz. Além de tudo você precisa disfarçar a existência quebradiça desses dois mundos, é preciso se controlar a cada instante, vigiar seus atos, falas e pensamentos, é preciso buscar equilíbrio em um solo que nunca viu algo parecido, é preciso lutar contra sua própria essência, é preciso vestir máscaras, armaduras, defesas, é preciso buscar saídas aceitas pelo mundo externo em meio a um caos descontrolado que é o mundo interno. E você nem sempre consegue... E cada pequena falha gera consequências terríveis.

É mais ou menos assim que eu me sinto.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Onde o sol sempre brilha, a luz nos cega - Clara e seus sorrisos


Era uma vez uma terra governada pelo Sol, que brilhava insistentemente em quase todos os momentos. As vezes, em dias de medo e escuridão, uma chuva torrencial assolava a terra inteira e, nesses dias, todas as pessoas que ali moravam eram muito bem instruídas para permanecerem em lugares protegidos. Entre as regras principais daquele planeta, uma delas era a proibição para qualquer pessoas de se molhar e dessa forma se contaminar com a água da chuva. Em uma terra onde o que reinava era a luz, toda e qualquer escuridão era vista com maus olhos.

De dentro de uma casa grande uma menininha observava a chuva se derramando rua abaixo, os pingos dançavam ao entrarem em contato com o chão e Clara tentava olhar todos ao mesmo tempo. Como todos os habitantes daquele lugar, a menininha também sentia repulsa pela chuva, porém havia outras coisas naquele mundo que a assustavam. Subindo as escadas de sua casa, escondido em um canto no andar superior, havia um armário gigante onde todos os segredos, problemas e erros eram colocados uns sobre os outros, trancados de forma desorganizada, a pequena Clara tinha certeza que a qualquer momento a tranca não suportaria e tudo voaria para fora daqui, infestando a casa inteira. As vezes, ao passar por esse armário em caminho de seu quarto, uma sombra de medo se escorregava para fora do armário e a seguia quarto adentro, permanecendo ali por tempo indeterminado. Talvez, você que mora na Terra, esperaria que uma criança avisasse os pais quando estivesse com medo de algo, lá as coisas não eram assim. Havia regras naquele planeta iluminado. Uma delas, além de permanecer longe da chuva, era de nunca falar sobre coisas ruins.

Outra regra muito importante era sempre sorrir. Sempre. Uma pessoa que parece feliz, se torna feliz, era o lema daquele povo. Clara se lembrou de sorrir e assim permaneceu por um tempo, sorrindo para a chuva enquanto suas mãos tremiam de medo e nervosismo. Clara tinha um amigo imaginário. O que também era proibido ali, exercitar a imaginação incentiva questionamentos que leva a desordem, ter um amigo imaginário não era uma boa idéia, porém a garotinha não tinha como evitar, seu amigo simplesmente existia e por mais que ela tentasse ignorar, não havia como. Era exatamente como a sombra do armário, ela estava lá, Clara não sabia como ou porque, mas ela estava.

De um jeito ou de outro, Max, o amiguinho imaginário de Clara, sorriu para ela enquanto a garota se esforçava para continuar sorrindo em direção a chuva. Clara gostava de Max porque seus sorrisos nunca eram falsos, Max sorria quando bem entendia e para quem ele quisesse. Ele era livre. A garotinha desistiu de sorrir e deixou seus braços penderem tristemente ao seu lado enquanto encarava o chão cansada. Porque diabos a chuva tinha que ser algo tão ruim e triste. Clara não gostava tanto assim do Sol, o Sol queimava, a luz cegava, não conseguia entender porque as pessoas estavam tão dispostas a obedecer-lhe. Ei Clara, porque você não sai para a chuva? Max disse. Aposto que a sensação de ter ela dançando pela pele deve ser ótima, não está vendo ela escorrendo pelo chão como é legal? Clara concordou com a cabeça. Não conseguia entender porque as coisas eram proibidas, coisas bonitas como a chuva. A garotinha respirou fundo, olhou para o andar superior estremecendo, abriu a porta de casa e saiu chuva afora gritando de alegria, com Max a seu lado.

Foi o dia mais feliz de sua vida, se sentiu livre como nunca, sem sol nenhum para vigiar sua nuca ou regras e segredos para prender-lhe o rosto em um sorriso frio e sem sentido. Acordou por alguns minutos em uma cama de hospital, a chuva é ácida, corrói a carne humana rapidamente. Existia um motivo para a proibição. Mas Clara escolheu a liberdade, morreu em uma manhã mais ensolarada do que nunca, pela primeira vez sentindo um sorriso verdadeiro em seus lábios maus acostumados.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Palavras vazias, meu muro, falsas expectativas



As malditas palavras travam na garganta e eu sinto como se voltasse a ter dois anos e estivesse aprendendo a falar de novo. Como posso responder essas perguntas, como posso me explicar. Não consigo, não sei. Tudo o que eu queria era poder conversar decentemente quando estivesse com problemas, mas eu não consigo, sempre que aqui dói eu guardo, eu seguro ou então expresso de formas estranhas que não envolvem falar. Não sei lidar com o incomodo, medo, dor ou qualquer outra coisa ruim. Não adianta... E sempre que consigo falar eu me arrependo, o que faz com que eu fale cada vez menos. Nunca estou preparada para enfrentar qualquer situação e acho que nunca vou estar, estou sempre o mais desarmada possível, o mais vulnerável possível. É um perigo ser idiota, sonhar acordada, esperar que as coisas vão dar certo porque não há como piorar (sempre há como piorar).

Estou com medo e insegura. Será que você sente o que eu sinto por você? Como serão as coisas no futuro? Será que um dia eu serei mais importante para você do que uma balada com seus amigos? Será que eu sempre me sentirei como um objeto, uma segunda opção, um cachorrinho? Há tantas coisas que eu gostaria de saber, há tantas coisas que eu gostaria de te dizer e te perguntar, mas tenho medo das respostas... Eu te conheço bem de mais para saber que não devo esperar nada de você. Mas simplesmente não consigo.

Tudo isso me lembra o começo, a insegurança terrível, a quase certeza que nada iria durar e que eu precisava aproveitar cada segundo com todo o meu ser, aquele medo, as lágrimas, o desespero e as infinitas preces para que você mudasse ou para que eu mudasse e você me visse de uma forma diferente, me tratasse diferente, qualquer coisa que fizesse com que você entendesse o que eu estava sentido e pudesse sentir isso também. Quais eram as chances para dar certo? Nenhuma, eu entendia isso bastante bem... Porém, aos trancos e barrancos, as coisas foram indo e continuam indo. Você mudou, eu mudei. Crescemos, certo? Muito mais do que eu esperava, mais rápido do que eu esperava também. Mas no momento me sinto de volta ao colégio, o que é assustador.

Bom... que se foda. Estou cansada de pensar, os calmantes me ajudam a manter minha cabeça no lugar, odeio todos os outros remédios, mas gosto dos calmantes agora. Vira e mexe eu tenho vontade de desistir do tratamento, tipo agora, posso parar de tomar meus remédios, juntar todos eles durante uma semana e tomar tudo de uma vez, o que será que acontece? É tão fácil... Sempre penso que posso fazer isso quando meu psiquiatra aumenta meus remédios, cara, é tão fácil. Será que ele é burro mesmo de deixar tudo isso na minha mão ou será que ele confia em mim? Não faço ideia. Estou irritada desde ontem porque estourei meu elástico em meu pulso e perdi ele, procurei em todo o lugar para tentar amarrar as duas pontas e continuar a usar mas não achei. Bom, de qualquer jeito a dor do elástico só faz cocegas em mim agora, eu só uso quando eu não tenho MESMO outra forma de me acalmar e caso tenha alguém por perto e eu queira ser discreta, se não eu meto a cabeça na parede mesmo, ou me corto, obviamente.

Ah... mas essa falha de comunicação. Se eu pudesse ou conseguisse gritar por ajuda a cada vez que meu mundo começasse a despedaçar diante de meus olhos, se eu pudesse fazer um sinal que seja a cada vez que meu peito doesse de forma insuportável, se meus olhos denunciassem claramente meus medos, se de alguma forma eu pudesse falasse qualquer coisa. Mas eu não falo, não sei como se pede ajuda, todas as conversas são monólogos que eu escuto de um lugar distante em meio a minha tempestade emocional, as frases soltas queimam minha pele mas não consigo responder a elas, deixo com que elas se aproximem a vontade e façam o que bem entende. As pessoas me acusam de construir um muro ao meu redor e por isso não conseguir criar relações fortes o bastante... Eu nunca estive ciente da construção desse muro, se ele realmente existe, pelo amor de deus, delicadamente, vamos derrubá-lo juntos, você do lado de lá, eu do lado de cá. Cuidado com as pedras, se você tentar derrubá-lo muito rapidamente, elas podem me sufocar do lado de cá, é preciso tirar uma por uma com cuidado. Sinto que estou sempre morrendo do lado de cá, sufocada, assassinada, de cansaço, de todas as formas, preciso me mexer devagar, com alma, sempre atenta e com todas as minhas forças, qualquer movimento em falso, bruto, distraído ou errado pode ser o fim. Sinto como se andasse sobre um lago parcialmente congelado, sobre aquela fina camada de gelo, absolutamente pronta para se partir a qualquer momento. E eu sinto tanto medo quanto indiferença.

Sempre um fim de mundo


Um pequeno acontecimento faz minha vida inteira perder o sentido. Me sinto um cego em pleno tiroteio. E agora? Não faça disso o fim do mundo, as pessoas me dizem e em seguida listam soluções. Não, vocês não entendem, tenho preguiça de me explicar. As palavras são inúteis de mais, não sei usá-las de forma correta. Se é que alguém sabe. Estou sempre perdida de mais e nunca sou boa o bastante para minhas próprias exigências. As vezes não sei se o mundo corre de mais para que eu consiga acompanhá-lo ou se sou eu que corro de mais para que o mundo consiga me acompanhar. Talvez os dois, talvez nenhum deles. Tanto faz. Me sinto vazia de mais para chorar, me importar ou o que quer que seja, mas há cinco segundos atrás eu estava tão cheia de sentimentos que pensei que nunca mais pararia de chorar, isso confunde minha cabeça.

E lá está ela, bêbada e se divertindo de mais para perceber que as férias estão chegando e que provavelmente esta tenha sido a última vez em meses que a gente conseguiu passar uma noite juntas. Algumas frases ditas ontem continuam ecoando terrivelmente em minha cabeça dolorida (bati ela ontem na parede com toda a minha força), talvez eu as tenha entendido errado, não sei... Mas o fato é que elas estão aqui diante de mim e eu não sei o que diabos eu fiz de errado para merecê-las, estou cansada, como sempre. Não, não estou cansada, estou indiferente, o que é pior. Faça o que você quiser, certo? Faça o que você quiser comigo, com você, com nós... Tanto faz. Como sempre, vou agradecer os dias de sorte, quando você notar que eu existo e quiser ficar comigo e vou lamentar os dias de azar, quando eu for ninguém aos seus olhos, quando seus beijos se resumirem a alguns segundos frios e distantes e eu perceber que implorar por atenção não adianta de nada. Tanto faz.

Todo o esforço que eu faço todos os dias é completamente inútil. Estou confusa, tem algo de errado, não tem? Tem algo bastante errado. As pessoas estão o tempo inteiro exigindo de mim melhores atitudes e tantas outras coisas, e eu nunca exigi nada de ninguém... Porque não pode ser eu quem dita as regras? Porque? Porque só eu preciso melhorar e parar de fazer coisas? Isso não faz sentido. Ah sim... Eu tenho um rótulo na minha testa, que permite com que eu leve bronca a vontade e não tenha "moral" para pedir nada à ninguém. Tudo certo e muito justo, claro.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Desabafos de uma garota errada no caminho certo - Só mais uma idiota revoltadinha


(Me perdoem a agressividade e uso indevido de palavrões)

Todas essas pessoas que sempre foram ricas não se importam de mais com o dinheiro, é exatamente o oposto, elas NÃO se importam com o dinheiro, isso nunca foi um problema, nunca faltou nem nada parecido. Elas simplesmente entram na loja que querem, a hora que querem e compram o que querem, é um movimento natural. Nada de mais.

Vamos viajar para a Europa? Vamos. Vamos almoçar em tal restaurante super caro? Vamos. Vamos isso, vamos aquilo. Porque não? Estão todos tão acostumados com esse tipo de vida que não conseguem enxergar que nem todos ao seu redor vivem da mesma forma, também não entendem que seus convites acabam excluindo aqueles que não são como eles, que toda a vez que contam o que fazem e como vivem isso quase que ofende aqueles que possuem vidas "normais".

O problema dessa faculdade é que eu me sinto vivendo em outro planeta. Eu realmente não quero vivem em um mundo onde um universitário gastar 30 reais almoçando seja normal, onde roupas de grife sejam normais, onde pessoas tenham motoristas particulares e onde sair para se divertir significa gastar no mínimo do mínimo 50 reais por noite. Me desculpem, não é nada pessoal, é só que meu bom senso não para de entrar em pane.

Não me sinto nada confortável entre todas essas patricinhas tão iguais que me deixam tonta. O que diabos eu estou fazendo aqui? Mercado de luxo é o caralho, publicitários é o caralho, marketing é o caralho. Odeio televisão, odeio consumismo, odeio gente metida. Tudo o que eu queria fazendo publicidade era escrever e ser ouvida, fazer as pessoas chorarem vendo um comercial, tocá-las de alguma forma. Não quero vender porra nenhuma, essa é a verdade. Não quero comprar porra nenhuma também (a não ser um buraco onde eu possa dormir em paz e livros). E tudo fica muito pior quando eu lembro que estou pagando por isso. E tudo fica insuportável quando percebo que ano que vem a mensalidade desse negócio vai aumentar 10% (10!!!!) e não tem nem meia dúzia de gatos pingados dispostos a protestar contra isso.

De novo: O que diabos eu estou fazendo aqui?

A única coisa que me mantem aqui é minha iniciação científica e os professores maravilhosos que me inspiram cada vez mais. Me enoja quanto os alunos dessa faculdade não valorizam os mestres incríveis bem diante de seus olhos. Alias, eles não valorizam porra nenhuma. Como podem? De verdade, como? As vezes me sinto tão frustrada que tenho vontade de dar um tapa na cara de cada um. Pelo amor de deus, acordem! Tenho vontade de vomitar só de pensar que o que meus pais gastam com a mensalidade dessa merda elitista é maior que o salário de MUITA gente. Não é possível que todos se sintam tão confortáveis com isso. Me diga, o que diabos VOCÊ fez para ter tudo o que tem? Nada, olha que coisa, você simplesmente nasceu. Onde isso pode ser certo ou normal? Desculpem, eu não entendo.

E mais uma vez: O que eu estou fazendo aqui?

Olhando para trás, porque nenhum ano é igual ao anterior


Esse ano eu pensei muito em meu passado, foi um ano longo e sofrido, talvez o pior da minha vida, mas não sei afirmar com certeza. Perdi as contas de quantas vezes minhas lágrimas se confundiram com meu sangue e eu pensei que fosse morrer, perdi as contas de quantas vezes eu fechei os olhos, sentindo tanta dor aqui dentro que eu não poderia descrever e tive certeza que não poderia aguentar mais um dia, mais uma hora ou um segundo se quer.

As vezes ainda penso que vou enlouquecer, que não há forma alguma de continuar em frente, mas admito que meu corpo e mente me surpreendem frequentemente, a cada dia que eu acordo e simplesmente consigo levantar da cama já é uma vitória. A cada novo corte cicatrizado, quando a última casquinha cai e não há um novo corte do lado, ou no outro braço ou perna para me preocupar... Isso é incrível. Deveria existir um grupo anônimo idiota de pessoas que se auto-mutilam compulsivamente, onde eu pudesse ir e falar: "Oi, meu nome é Sabrina e eu estou a três dias sem me cortar". Olá Sabrina. Deve existir em algum lugar, tem de tudo nesse mundo.

É engraçado o quanto as pessoas se acostumam, sempre que apareço com uma nova cicatriz ou um novo curativo ninguém se surpreende mais, ninguém se importa, já virou "normal". Lembro do quanto as pessoas se assustavam no colégio... Agora não é mais assim, até minha psicóloga e meu psiquiatra precisam se esforçar para não verem isso como normal em mim.

Estava certo quem dizia que a vida é uma caixinha de surpresas, eu nunca sei onde vou parar, em um dia eu posso simplesmente acordar, não aguentar minhas lembranças, meus traumas e medos e fim. Giletes, hospitais, internação, morte. Fim. Que seja.

Na verdade isso pode acontecer com qualquer um, mas imagino que comigo seja mais provável.

E aqui estou eu, sobrevivendo apesar de tudo, quem diria. Eu nem virei uma drogada maluca destinada de todas as formas a fugir da realidade, não... Me contento com meus cortes, cigarros, cerveja e calmantes. Está tudo ótimo. As vezes os calmantes demoram de mais para fazer efeito, um passo em falso e está tudo acabado, minha mão escorrega, o alívio encobre qualquer dor e sem querer eu passei um pouco dos limites. De novo. Tudo bem, tem gente muito pior do que eu, mais remédios, discursos, brigas, broncas, decepções e ameaças. Sim senhor, sim senhora. Não vou fazer de novo, meu braço dói tanto que eu nem consigo mais segurar a gilete, vou me esforçar, não vou beber, não vou fumar. Eu vou melhorar, por favor não me internem!

As brigas me perseguem, os problemas, os gritos e os dedos apontados em minha direção me acusando voltam esporadicamente como fantasmas. Eu não sinto mais nada. Será que resta algo dentro de mim que ainda não foi quebrado? As vezes tenho sonhos ruins, onde sou levada para um lugar e entregue nas mãos de homens que irão me violentar. As vezes tenho tanta certeza que esse sonho irá acontecer que basta só alguém me olhar nos olhos para que eu abaixe a cabeça e queira fazer tudo o que me mandam. Na verdade eu tenho certeza que isso ainda irá acontecer, não sei porque, eu só tenho. É algo que me persegue.

E apesar de tudo aqui estou eu, sobrevivi a mais um semestre. Quanto tempo mais eu ainda vou durar? Sempre me pergunto isso. Sempre me surpreendo com as respostas.

Eu sou a pessoa azarada mais sortuda que conheço, o fato de eu estar suportando uma faculdade até agora e indo bem ainda por cima é ótimo, é mais do que ótimo. É legal quando eu consigo pensar positivo dessa forma... É verdade que desde meu diagnóstico eu venho piorando, é verdade que existe uma tendência perigosa em minha trajetória... Mas hoje eu simplesmente não ligo, estou feliz que o ano esteja terminando.