- O que fizeram com você?
Acendi um cigarro, sem pressa para responder. As mãos dela tremiam enquanto ela tentava se cortar com a gilete que eu havia lhe dado. Tirei a gilete de suas mãos e com o cigarro pendurado no canto da boca abri um pequeno corte em seu braço. Ela respirou fundo e sorriu.
- Obrigada.
- De nada... Mas não se acostume, você se enfiou nessa porque quis. A culpa não é minha se você é uma idiota facilmente influenciável.
Ela deu de ombros indiferente. Levantei a manda da minha própria blusa e fiz três cortes seguidos, bem mais fundos do que o que eu havia feito nela. A garota estendeu um pano sujo para estancar meu sangramento.
- Deixe sangrar, uma hora para sozinho.
Afastei o braço de meu corpo para não sujar minhas roupas e fiquei observando as gotas que escorriam do meu sangue sujando o chão.
- E então? Não vai me contar o que fizeram com você? - insistiu ela chegando mais perto.
- Ninguém fez nada comigo. Eu simplesmente sou assim.
- Você não confia em mim?
- Não.
Ficamos em silêncio por alguns instantes. Ela começou a chorar. Eu odeio gente chorona.
- O que foi? Quer que eu minta?
Ela fez que não com a cabeça ainda chorando baixinho. Joguei o cigarro pela janela, de repente fiquei excitada com sua dor, me curvei sobre ela e a beijei com violência. Limpei suas lágrimas, peguei a gilete e fiz três cortes em seu braço, dessa vez tão fundos quanto os meus. Ela voltou a chorar, empurrei-a contra a cama e prendi seus pulsos finos com uma de minhas mãos, enquanto a outra entrava por dentro de sua calça e a penetrava sem cerimônia. Isso fazia eu me sentir melhor. Tão frágil, tão vulnerável... Eu poderia fazer o que quisesse com ela que ela continuaria a me "amar", com seu suposto amor cego e patético.
Em algum momento ela parou de chorar. Me olhava com seus olhos grandes e tristes e nem eu e nem ela conseguíamos entender o que se passava dentro de nós, entre nós.
- Eu quero te ajudar - disse ela rouca.
- Acho que quem precisa de ajuda aqui é você... Eu vou te destruir da mesma forma que me destruí.
- Não me importo.
Senti minhas mãos tremendo, saí de cima dela e me afastei. Ela me seguiu. Como podia ser tão idiota? Dei um tapa em seu rosto com toda a força que tinha, ela cambaleou, mas permaneceu onde estava. Bem na minha frente. Não chorava dessa vez. Acariciei seu rosto, que começava a ficar vermelho e inchado.
- Você gosta disso, não gosta? Por que mais estaria comigo aqui?
- Por que eu te amo talvez?
- Você não me ama. Você ama a dor. Você implora por dor.
Silêncio.
- Bem-vinda ao inferno, meu amor.
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