"A vida é aquilo que você faz daquilo que te fizeram"

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O que eu sou, o que querem que eu seja, o que eu já fui


Acho que se posso dizer de algo realmente útil quanto a mim mesma que aprendi nesses dois últimos anos foi a me aceitar. Não completamente, óbvio. Na verdade acho que nem existe isso, se aceitar plenamente e toda essa baboseira, acho que aceitação é algo como um processo interminável. De qualquer jeito, imagino que falo por todos aqueles que de alguma forma não se encaixam no padrão de normalidade determinado pela sociedade quando digo que existem poucas coisas tão difíceis quanto olhar para seu reflexo no espelho e gostar do que vê, seja esse espelho real ou não. É muito difícil não se esconder atrás de roupas largas, cabelo comprido e uma personalidade passiva, tímida e anti-social. É assustador não ser o que seus pais sempre sonharam ou o que se pensa sobre você. Existe uma pressão enorme camuflada em todos os ambientes onde você pisa, uma pressão para que você pareça sempre feliz, seja comunicativo com todos, simpático com todos, seja magro, bonito, educado, se vista "bem", pareça inteligente, tenha confiança, seja engraçado, se sinta sempre bem, seja sempre o mesmo. Escondido mais profundamente nessa casca de politicamente correto, esse discurso de que você só precisa ser "você mesmo", existe a expectativa de que você seja heterossexual, a qual eu vou me focar um pouco mais aqui.

Ninguém espera que você seja gay, ninguém. A não ser que você já deixe isso bem claro desde sempre, mas se você agir como uma pessoa "normal", se você se vestir como uma pessoa "normal" e se comportar do mesmo jeito, ninguém vai desconfiar de que você não seja "normal". Podemos seguir o mesmo raciocínio quanto a doenças, ninguém espera que alguém seja doente se não apresentar nenhum "sintoma". Dessa forma, existe uma pressão enorme em cima dos homossexuais que permanecem no armário, se você não parece ser, você não é. Quando eu tive certeza quanto minha sexualidade, a pouquíssimo tempo para falar a verdade, foi também quando eu saí do armário, foi um turbilhão de acontecimentos descontrolados e minha felicidade era tamanha que eu nem me importei em esconder das pessoas a minha volta minha descoberta, eu não pensei em nenhum momento o que isso poderia me trazer de consequências ruins, também não pensei nas pessoas a minha volta, não pensei em nada, e para ser sincera fico feliz de não ter racionalizado em momento algum. Por alguns meses eu quase que perdi todos meus amigos, ninguém esperava que eu fosse gay, ninguém aceitou me ver de mãos dadas com outra garota, perdi as contas de quantas vezes ouvi que estava sendo idiota, que minha namorada estava me manipulando, que eu não estava sendo "eu mesma", que eu iria me arrepender, e tantas outras coisas. As pessoas não conseguiam sentir a alegria que eu sentia, foi um enorme passo esse que eu dei, meu mundo, que sempre esteve de ponta-cabeça, foi realmente desvirado. Pela primeira vez na minha vida eu consegui me entender, eu consegui olhar para o espelho e entender o que eu via e mais do que isso... Gostar do que via.

Acho que eu sempre senti tanta pressões ao longo da vida, acho que eu fui TANTO o que se esperava de mim, que quando finalmente consegui quebrar uma corrente, quebrei todas de uma vez e saí correndo loucamente agarrando toda a liberdade que eu podia. Eu passei tanto tempo me importando com o que pensavam de mim, em quem eu deveria ser (e não quem eu era) que descobrir uma pequena parte de meu ser como eu realmente era me fez transformar todas as condições. De repente eu não ligava mais para ninguém, de repente não me importava com o que pensavam de mim, de repente tudo, finalmente, parecia fluir com tanta naturalidade que eu não conseguia entender os obstáculos que todos colocavam a minha volta. Foi uma época tão boa quanto ruim e de todas as coisas que eu aprendi, acho que a maior delas foi me aceitar. Como já disse, é muito difícil gostar de quem você é, quando você é tudo menos o que as pessoas a sua volta querem ou esperam. Meus pais tem vergonha de me apresentarem para qualquer pessoa como sendo filha deles, e não são só eles que tem vergonha de dizer que me conhecem... Mas eu estou feliz de ser quem sou, de ter cabelo curto, usar as roupas que eu uso e falar do jeito que eu falo.

Mas é difícil ter que se afirmar a todo o instante, e continuar dizendo para as pessoas que você é assim mesmo e que não vai mudar para o que elas esperam ou querem. As pessoas se incomodam de mais com a vida alheia, isso me irrita. De qualquer jeito, quando penso que sai de uma coisa confusa e sem definição para o que eu sou agora, me sinto muito feliz, por mais que eu ainda tenha MUITOS problemas, fico muito aliviada desse ser um a menos.

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